Título: Inusitado - Chantant enchantée
Artista: Alcione (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Teatro de Câmara - Cidade das Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de abril de 2015
Cotação: * * * 1/2
♪ Show em cartaz até 8 de abril de 2015 no Teatro de Câmera da Cidade das Artes (RJ)
♪ Très chic à sua moda dentro dos vistosos figurinos vermelhos assinados pelo Atelier Silvia Bevilaqua, Alcione cantou até um samba em francês na estreia do show Chantant enchantée. Música gravada pelo cantor francês Charles Aznavour há 40 anos, Je t'aime (Charles Aznavour e Guy Bontempelli, 1975) virou um samba ambientado em clima de boate no arranjo do pianista Alexandre Menezes, diretor musical do show. Foi - como a própria Marrom fez questão de ressaltar para o público que foi ao Teatro de Câmera da Cidade das Artes na noite de 7 de abril de 2015 - o único samba do roteiro do show em que ela canta 12 músicas compostas em francês sob a direção geral de Solange Dias Nazareth. Não, Alcione não é uma cantora qualquer. Foi diplomada na escola da noite carioca, onde cantou de tudo a partir de 1969. Inclusive músicas em francês. Na primeira apresentação deste show criado para a terceira edição do projeto Inusitado, ideia do executivo André Midani, a Marrom exibiu bom domínio do idioma francês ao interpretar essas 12 chansons com certa desenvoltura, apesar de ter lido no teleprompter boa parte das letras de músicas como Idiote, je t'aime (Charles Aznavour e Georges Garvarentz, 1972). Na estreia, a voz grave da cantora esteve o tempo todo em ótima forma - o que garantiu abordagens seguras de canções já ouvidas em escala mundial em diversas vozes. O inusitado do projeto em francês de Alcione - a ser gravado pelo Canal Bis na apresentação de hoje, 8 de abril de 2015, para transmissão ao vivo e para edição de CD e DVD previstos para 2016 - residiu menos no idioma e mais na ambiência do show. Foi como se a Marrom estivesse voltando num tempo anterior a 1975, quando ainda não tinha sido transformada n'A voz do samba pelo próprio Midani e por Roberto Menescal, ambos então no comando da gravadora Philips. Ao cantar Comme ils dissent (Charles Aznavour, 1972), sentada em poltrona também très chic, Alcione de certa forma fez renascer a cantora da noite que mostrava que tinha gogó nas boates cariocas ao lado do então também iniciante Emílio Santiago (1946 - 2013), cantor citado na abertura do show no texto lido em francês - e repetido, na sequência, em português - em que a Marrom rememorou os flertes que teve com a cultura musical francesa desde antes da fama. Libelo contra o preconceito dirigido aos homossexuais, em especial aos travestis, Comme ils dissent é um dos grandes hits da discografia do já nonagenário Charles Aznavour, nome recorrente no curto roteiro do show. São de Aznavour nada menos do que seis das 12 músicas de Chantant enchantée, sendo três em parceria com Georges Garvarentz (1932 - 1993), compositor francês que, como Aznavour, tinha origem armênia e escrevia melodias que se ajustavam com perfeição às letras do cantautor. Uma delas, Les plaisirs démodés (Charles Aznavour e Georges Garvarentz, 1972), teve sua melodia reconhecida pelo público como sendo a do sucesso mundial The old fashioned way, música gravada por Aznavour em 1973, em inglês. Mas a versão original é a escrita em francês, lançada um ano antes e ora ouvida com Alcione. Com a Banda do Sol reduzida a um quinteto formado por músicos como o baixista Ricardo Cordeiro e o baterista Paulo Bogado, Alcione pôs sua poderosa voz de contralto e tocou um mini-pistom em Les feuilles mortes (Jacques Prévert e Joseph Kosma, 1946), em arranjo pautado pela mesma elegância detectada no sopro quente de Luizão Ramos que bafeja L'été 42 (Michel Legrand e Jean Dréjac). O clima foi de show mais íntimo, o que propiciou o suingue jazzy de La mer (Charles Trenet, 1946) e valorizou o número de voz e piano feito por Alcione com Alexandre Menezes em Ne me quites pas (Jacques Brel, 1959), repetido no bis a pedido do público. Um dos maiores sucessos da cantora francesa Edith Piaf (1915 - 1963), Non, je ne regrette rien (Charles Dumont e Michael Vaucaire, 1956) também se destacou naturalmente no roteiro, mas surtiu menor efeito para quem ainda traz viva na memória a apoteótica interpretação da canção feita por Maria Bethânia no show comemorativo de seus 50 anos de carreira. No fim, emoldurada pelo cenário inspirado pela obra do pintor francês Toulouse Lautrec (1864 - 1901), a Marrom arrematou o show - com a sensação de dever cumprido - com a primeira música que aprendeu a cantar em francês, La bohème (Jacques Plante e Charles Aznavour, 1965). Mesmo cantando em francês, Alcione jamais deixou de falar a língua de seu povo no palco do Teatro de Câmara. Suas tiradas espirituosas - e sempre inusitadas - entre um número e outro fizeram a alegria de seu público. As chansons entraram no tom da Marrom. Até porque, em última instância, canções francesas e brasileiras - e as de qualquer outro idioma - falam a língua universal do amor, idioma recorrente no repertório mais popular de Alcione.
6 comentários:
♪ Très chic à sua moda dentro dos vistosos figurinos vermelhos assinados pelo Atelier Silvia Bevilaqua, Alcione cantou até um samba em francês na estreia do show Chantant enchantée. Música gravada pelo cantor francês Charles Aznavour há 40 anos, Je t'aime (Charles Aznavour e Guy Bontempelli, 1975) virou um samba ambientado em clima de boate no arranjo do pianista Alexandre Menezes, diretor musical do show. Foi - como a própria Marrom fez questão de ressaltar para o público que foi ao Teatro de Câmera da Cidade das Artes na noite de 7 de abril de 2015 - o único samba do roteiro do show em que ela canta 12 músicas compostas em francês sob a direção geral de Solange Dias Nazareth. Não, Alcione não é uma cantora qualquer. Foi diplomada na escola da noite carioca, onde cantou de tudo a partir de 1969. Inclusive músicas em francês. Na primeira apresentação deste show criado para a terceira edição do projeto Inusitado, ideia do executivo André Midani, a Marrom exibiu bom domínio do idioma francês ao interpretar essas 12 chansons com certa desenvoltura, apesar de ter lido no teleprompter boa parte das letras de músicas como Idiote, je t'aime (Charles Aznavour e Georges Garvarentz, 1972). Na estreia, a voz grave da cantora esteve o tempo todo em ótima forma - o que garantiu abordagens seguras de canções já ouvidas em escala mundial em diversas vozes. O inusitado do projeto em francês de Alcione - a ser gravado pelo Canal Bis na apresentação de hoje, 8 de abril de 2015, para transmissão ao vivo e para edição de CD e DVD previstos para 2016 - residiu menos no idioma e mais na ambiência do show. Foi como se a Marrom estivesse voltando num tempo anterior a 1975, quando ainda não tinha sido transformada n'A voz do samba pelo próprio Midani e por Roberto Menescal, ambos então no comando da gravadora Philips. Ao cantar Comme ils dissent (Charles Aznavour, 1972), sentada em poltrona também très chic, Alcione de certa forma fez renascer a cantora da noite que mostrava que tinha gogó nas boates cariocas ao lado do então também iniciante Emílio Santiago (1946 - 2013), cantor citado na abertura do show no texto lido em francês - e repetido, na sequência, em português - em que a Marrom rememorou os flertes que teve com a cultura musical francesa desde antes da fama.
Tô curioso para saber como será o resultado disso tudo...
amo Alcione ...mas preocupado com sua saúde ...cada vez ela ta mais gorda ...Marron pelamor de Deus ...se cuida ...e não deixe o samba morrer heim !
Eu ainda não escutei as músicas mas já Parabenizo a Alcione, por este projeto tão diferente de tudo que ela já fez.
Tenho certeza que as interpretações devem estar em um tom bem particular e característico da Alcione. O disco "Duas Faces" é MARAVILHOSO!! E já é um pouco diferente também, mas este me surpreendeu em tudo! Quero logo escuta-lo!!! Grande cantara Alcione :)
Assisti ao show pelo canal bis e a cada dia me convenço do poder maior da voz e interpretação de Alcione, em qualquer língua, pois o seu ofício é desempenhado com toda a eficiência e magnitude que a profissão exige. Viva a Marrom. Maravilhosa na sua arte de ser e viver.
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