Título: Ser humano
Artista: Zeca Pagodinho
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2
♪ Ser humano é típico álbum de Zeca Pagodinho. No 23º título de sua discografia oficial, o cantor e compositor carioca se junta e se mistura mais uma vez com seu povo - Almir Guineto, Arlindo Cruz, Nelson Rufino, Rildo Hora, Sombrinha, Trio Calafrio e Zé Roberto, entre outros nomes recorrentes nas fichas técnicas dos CDs do artista - sem a preocupação de reinventar a roda do samba. Pagodinho até amplia sua turma, dialogando musicalmente no disco com Marcos Valle, o humorista Pedro Bismark e Pepeu Gomes. Mas continua o mesmo sambista que iniciou sua carreira solo há 30 anos com sua adesão no projeto coletivo Raça brasileira (RGE, 1985), pedra fundamental do pagode que deu o tom no mundo do samba na segunda metade dos anos 1980. E isso é um trunfo do disco produzido por Rildo Hora com a habitual competência. Disponível no mercado fonográfico a partir de hoje (21 de abril de 2015), Ser humano reitera os valores da vida e do samba de Pagodinho. Amor pela metade (Dunga e Gabrielzinho do Irajá) abre o CD com toque rural que evoca o universo do calango fluminense. "Não vem com essa não... É tudo ou nada!", dá a decisão o cantor, na introdução falada dessa faixa vivaz que cai no suingue, inflada com as cordas características das orquestrações do maestro Rildo Hora. Na sequência, o samba-título Ser humano (Claudemir, Marquinho Índio e Mário Cleide) perfila sujeito boa-praça sem dar nome ao boi. Mas é fácil identificar Pagodinho como o muso inspirador dos versos. Da lavra de Nelson Rufino, Mangas e panos é belo samba melódico cujo arranjo de cordas ao estilo sinfônico dilui (sem excluir) a manemolência do samba da terra do compositor baiano. Os versos relativizam altos e baixos da gangorra romântica. Já A Monalisa (Adilson Bispo e Zé Roberto) pinta o retrato de mulher de "beleza absurda". A cor atípica do quadro é o toque da guitarra de Pepeu Gomes, ora menos hendrixiana para manter a harmonia da paisagem musical. Etc. e tal (Fred Camacho, Dudu Nobre e Marcelinho Moreira) faz ode a um amor de tonalidade mais sensual sem fazer jus ao histórico autoral de seu trio de compositores bambas. Em tom mais majestoso, Perdão, palavra bendita (Monarco e Mauro Diniz) ostenta nobreza na melodia e nos versos que honram a dinastia da Velha Guarda. Monarco faz intervenções no samba, solado por Zeca, que bisa o bom padrão vocal de seu último disco de inéditas, Vida de minha vida (Universal Music, 2010), lançado há cinco anos. Iguaria do repertório inédito, Samba na cozinha (Serginho Meriti, Serginho Madureira e Claudinho Guimarães) tempera o disco com a descontração dos pagodes, tomando partido da malandragem sadia. Os versos fazem analogia do samba com ingredientes usados no fogão. Cria do Trio Calafrio, Mané, rala peito (Barbeirinho do Jacarezinho, Luiz Grande e Marcos Diniz) agrega Carlinhos Pandeiro de Ouro e o humorista mineiro Pedro Bismark, que reaviva sua personagem mais famosa, Nerso da Capitinga, para fazer intervenções (sem a esperada graça) na história machista do mané que mexeu com a mulher errada "do cara da favela". Sem chegar de fato a empolgar, Só na manha (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Brasil do Quintal) põe dengo romântico no terreirão do samba ao narrar outra briga de casal. Já Foi embora - samba dolente que expia a saudade da mulher amada que partiu - sobressai no repertório, reafirmando a inspiração entrosada de Arlindo Cruz, Sombrinha e Zeca Pagodinho, compositores do bonito samba. Também alçando voo melódico em alto nível, Nas asas da paixão é outro samba que valoriza Ser humano. Parceria de compositor associado à Bossa Nova (Marcos Valle, cujo piano adorna a faixa) com bamba da geração projetada na quadra do bloco Cacique de Ramos ao longo dos anos 1980, Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), Nas asas da paixão faz inventário poético de amor desfeito. De nostalgia mais feliz, Tempo de menino põe em cena Juninho Thybau, parceiro de Kiki Marcellos no samba que recorda em tom humanista e positivista os dribles infanto-juvenis nas diversidades da vida. Tratada com cordas, A santa garganta (Almir Guineto e Adalto Magalha) louva na sequência a voz e o dom de cantar. Por fim, Boca de banzé - parceria de Efson (1944 - 2014), compositor recentemente falecido, com Paulinho Rezende - fecha o disco com humor espirituoso, mandando - em tom de gafieira - recado para quem se mete na vida alheia. No todo, por mais que seu (bom) repertório inédito nunca acenda a centelha da novidade, Ser humano se revela mais um coerente disco de Zeca Pagodinho, facho positivista de luz e inspiração em tempos sombrios.
6 comentários:
♪ Ser humano é típico álbum de Zeca Pagodinho. No 23º título de sua discografia oficial, o cantor e compositor carioca se junta e se mistura mais uma vez com seu povo - Almir Guineto, Arlindo Cruz, Nelson Rufino, Rildo Hora, Sombrinha, Trio Calafrio e Zé Roberto, entre outros nomes recorrentes nas fichas técnicas dos CDs do artista - sem a preocupação de reinventar a roda do samba. Pagodinho até amplia sua turma, dialogando musicalmente no disco com Marcos Valle, o humorista Pedro Bismark e Pepeu Gomes. Mas continua o mesmo sambista que iniciou sua carreira solo há 30 anos com sua adesão no projeto coletivo Raça brasileira (RGE, 1985), pedra fundamental do pagode que deu o tom no mundo do samba na segunda metade dos anos 1980. E isso é um trunfo do disco produzido por Rildo Hora com a habitual competência. Disponível no mercado fonográfico a partir de hoje (21 de abril de 2015), Ser humano reitera os valores da vida e do samba de Pagodinho. Amor pela metade (Dunga e Gabrielzinho do Irajá) abre o CD com toque rural que evoca o universo do calango fluminense. "Não vem com essa não... É tudo ou nada!", dá a decisão o cantor, na introdução falada dessa faixa vivaz que cai no suingue, inflada com as cordas características das orquestrações do maestro Rildo Hora. Na sequência, o samba-título Ser humano (Claudemir, Marquinho Índio e Mário Cleide) perfila sujeito boa-praça sem dar nome ao boi. Mas é fácil identificar Pagodinho como o muso inspirador dos versos. Da lavra de Nelson Rufino, Mangas e panos é belo samba melódico cujo arranjo de cordas ao estilo sinfônico dilui (sem excluir) a manemolência do samba da terra do compositor baiano. Os versos relativizam altos e baixos da gangorra romântica. Já A Monalisa (Adilson Bispo e Zé Roberto) pinta o retrato de mulher de "beleza absurda". A cor atípica do quadro é o toque da guitarra de Pepeu Gomes, ora menos hendrixiana para manter a harmonia da paisagem musical. Etc. e tal (Fred Camacho, Dudu Nobre e Marcelinho Moreira) faz ode a um amor de tonalidade mais sensual sem fazer jus ao histórico autoral de seu trio de compositores bambas. Em tom mais majestoso, Perdão, palavra bendita (Monarco e Mauro Diniz) ostenta nobreza na melodia e nos versos que honram a dinastia da Velha Guarda. Monarco faz intervenções no samba, solado por Zeca, que bisa o bom padrão vocal de seu último disco de inéditas, Vida de minha vida (Universal Music, 2010), lançado há cinco anos.
Amanhã to comprando
Que samba LINDO esse Mangas e Panos! Salve Nelson Rufino!!! Depois da ausência do saudoso e inesquecível Roberto Ribeiro, encontra em Zeca o porta voz das suas poesias!
Ps: samba de reconciliação! Vão por mim! Rss
Enfim chegou salve Zeca agora é começar a ouvir o disco pra levar pras rodas de samba !!
Escutei o disco mais de uma vez, confesso que fiquei decepcionado. O Rildo Hora vem pasteurizando os discos do Zeca pra agradar o mercado e acaba atrapalhando sua evolução! Acredito que o Zeca deveria arriscar mais (fazer um disco de volta às origens), enfim, se reciclar, sair do trivial. Ele tem bala na agulha pra isso, o som dele tem tempo que soa na mesmice.
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