Mauro Ferreira no G1

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domingo, 24 de maio de 2015

Cosentino desbota poesia em carne viva de 'Amarelo' com melodias frígidas

Resenha de CD
Título: Amarelo
Artista: Bruno Cosentino
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * 

Cantor e compositor carioca, Bruno Cosentino conceitua seu primeiro álbum solo, Amarelo, como "um disco de amor e erotismo". Quatro anos após lançar álbum à frente da banda Isadora, A eletrônica e musical figuração das coisas (Independente, 2011), o artista lança disco em que o amor e o erotismo ardem em carne e cores vivas nas letras embebidas na poesia urbana de Amarelo. Mas toda a quentura de versos como "O sexo respira entre a gente / Podemos morrer pela cintura / Podemos viver sem aventura" - contidos na letra de Respira, uma das nove músicas inéditas de Amarelo assinadas solitariamente por Cosentino - logo se dilui diante da frigidez das melodias do repertório autoral alinhado pelo compositor neste disco produzido por Bartolo. Em Tarde, tema que abre Amarelo com o toque da guitarra de Arto Lindsay, ruídos e efeitos deixam entrever somente um fragmento de melodia. Esse forte contraste entre músicas e letras desbota Amarelo, porque o pulso pulsa firme na poesia que embute angústias e inquietudes desencapadas no fio do novelo do amor erótico do cotidiano, mas essa poesia não encontra abriga seguro na música. Os versos de músicas como Amor a quanto obriga e Preciso aprender a não ser indicam um cantautor com algo a dizer, mas sem meios para dizer isso a contento. Talvez seja preciso procurar um outro tipo de música - ou de veículo - para dizer tudo que jorra nos versos. O dueto com Ana Claudia Lomelino - vocalista do grupo carioca Tono - em Sem pecado preserva Amarelo em uma temperatura amena que não dá conta de passar todos os questionamentos de Por que (Otto, 2001), única regravação do repertório. A banda-base - formada por músicos cariocas como o guitarrista Pitter Rocha, o percussionista Thomas Harres e o baixista Pedro Dantas - contribui a favor do disco, criando sonoridade sedutora para envolver, por exemplo, uma música de somente quatro versos como Pra que perder tempo?, exemplo do reiterante contraste entre as temperaturas das músicas e e das letras. Mas o disco sempre desbota, embora Amarelo ganhe alguma cor em Este lugar, música adornada com a guitarra slide de Bartolo e o piano de Rubinho Jacobino, entre cordas (violino, cello e viola). No fim, Dois - música-vinheta gravada no estilo voz e baixo (o de Pedro Dantas) - reitera que Bruno Cosentino deve buscar outros parceiros musicais (com pendores de melodistas) para esquentar seu jogo poético de amor e erotismo. Tal como o sexo, a música pode ser feita sozinha, mas geralmente é melhor a dois,  com a cumplicidade de um parceiro afim.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Cantor e compositor carioca, Bruno Cosentino conceitua seu primeiro álbum solo, Amarelo, como "um disco de amor e erotismo". Quatro anos após lançar álbum à frente da banda Isadora, A eletrônica e musical figuração das coisas (Independente, 2011), o artista lança disco em que o amor e o erotismo ardem em carne e cores vivas nas letras embebidas na poesia urbana de Amarelo. Mas toda a quentura de versos como "O sexo respira entre a gente / Podemos morrer pela cintura / Podemos viver sem aventura" - contidos na letra de Respira, uma das nove músicas inéditas de Amarelo assinadas solitariamente por Cosentino - se dilui diante da frigidez das melodias do repertório autoral alinhado pelo compositor neste disco produzido por Bartolo. Em Tarde, tema que abre Amarelo com o toque da guitarra de Arto Lindsay, ruídos e efeitos deixam entrever somente um fragmento de melodia. Esse contraste entre músicas e letras desbota Amarelo, porque o pulso pulsa firme na poesia que embute angústias e inquietudes desencapadas no fio do novelo do amor erótico do cotidiano, mas essa poesia não encontra abriga seguro na música. Os versos de músicas como Amor a quanto obriga e Preciso aprender a não ser indicam um cantautor com algo a dizer, mas sem meios para dizer isso a contento. Talvez seja preciso procurar um outro tipo de música - ou de veículo - para dizer tudo que jorra nos versos. O dueto com Ana Claudia Lomelino - vocalista do grupo carioca Tono - em Sem pecado preserva Amarelo em uma temperatura amena que não dá conta de passar todos os questionamentos de Por que (Otto, 2001), única regravação do repertório. A banda-base - formada por músicos cariocas como o guitarrista Pitter Rocha, o percussionista Thomas Harres e o baixista Pedro Dantas - contribui a favor do disco, criando sonoridade sedutora para envolver, por exemplo, uma música de somente quatro versos como Pra que perder tempo?, exemplo do reiterante contraste entre as temperaturas das músicas e e das letras. Mas o disco sempre desbota, embora Amarelo ganhe alguma cor em Este lugar, música adornada com a guitarra slide de Bartolo e o piano de Rubinho Jacobino, entre cordas (violino, cello e viola). No fim, Dois - música-vinheta gravada no estilo voz e baixo (o de Pedro Dantas) - reitera que Bruno Cosentino deve buscar outros parceiros musicais (com pendores de melodistas) para esquentar seu jogo poético de amor e erotismo. Tal como o sexo, a música pode ser feita sozinha, mas geralmente é melhor a dois, com a cumplicidade de um parceiro afim.

Luca disse...

Mauro é muito apegado a um conceito de melodia de mpb que já deu

Rhenan Soares disse...

Adoro sua versão maroto, Mauro! "Melodias frígidas" é muito bom. Mas espero que o rapaz supere.