Título: Carbono
Artista: Lenine
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * *
♪ "O que eu sou / Eu sou em par / Não cheguei sozinho", ressalta Lenine nos versos finais de Castanho, parceria sua com o sueco de vivência pernambucana-carioca Carlos Posada que abre o álbum de inéditas Carbono nos toques ruralistas das violas de Ricardo Vignini. Tais versos sintetizam a química deste disco em que o cantor e compositor pernambucano abre e expande parcerias. Em alquimia com seus pares, Lenine evolui e se renova na atmosfera densa de Carbono. Disco "inteiro, e ainda assim partido. Doído, e ainda assim contente", para citar versos da poesia pura da letra de O universo na cabeça do alfinete (Lenine e Lula Queiroga), uma das mais bonitas músicas dentre a safra inteiramente autoral e inédita de Carbono. Trunfo do repertório, a canção foi gravada com o toque delicadamente majestoso das cordas e sopros holandeses da Martin Fondse Orchestra. É outro exemplo de como os pares e parceiros de Lenine contribuíram decisivamente para o grandioso resultado final do disco, com o devido destaque para a química perfeita entre o trio de produtores de Carbono. Bruno Giorgi, JR Tostoi e Lenine chegaram juntos a uma sonoridade estupenda que valoriza cada uma das 11 faixas do CD. Isoladamente, em outro contexto, parte das 11 músicas de Carbono talvez até passasse despercebida face ao cancioneiro pregresso de Lenine. Contudo, na obra deste artista, a forma adquirida pela música no estúdio é tão importante quanto a música em si. Como essa forma atinge a perfeição em Carbono, o álbum logo se impõe como um dos pontos mais altos da discografia solo de Lenine. Cada faixa tem um elemento diferente que altera a química do disco, lhe conferindo diversidade dentro de uma unidade. O impossível vem pra ficar combina a levada da música de Lenine com a batida funkeada do grupo paulistano 5 a Seco, integrado por Vinicius Calderoni - parceiro de Lenine na composição - e por Tó Brandileone, coprodutor e músico da faixa. À meia-noite dos tambores silenciosos (Lenine e Carlos Rennó) ilumina - no toque dos sopros e percussões da baiana Orkestra Rumpilezz - a forte carga de ancestralidade e negritude embutida neste evento sagrado do Carnaval do Recife, derramando lágrimas brancas sobre a pele e os sons escuros. Em Cupim de ferro (Lenine, Pupillo, Dengue, Lucio Maia e Jorge Du Peixe), a química é com a Nação Zumbi, parceira e convidada de Lenine nesta música cuja letra faz alusões a versos de famoso frevo do compositor pernambucano Capiba (1904 - 1997), Madeira que cupim não rói, composto em 1963 para o bloco Madeira do Rosarinho. O amálgama de pulsações do som de Lenine e da Nação é azeitado. É rock, mas não só. Já A causa e o pó (Lenine e João Cavalcanti), de cuja letra saiu o título Carbono, expõe a fragilidade humana no caldo das estrelas em arranjo árido que fricciona guitarras, violino e flauta. Banhada em atualidade e em efeitos atordoantes, Quedé água? (Lenine e Carlos Rennó) segue o seco no contraste entre a escassez nordestina e a concretude urbana das metrópoles sedentas de tudo em sua atmosfera cinzenta e carbonada. Balada melodiosa de Lenine com Dudu Falcão, Simples assim é pausa para o respiro, desanuviando e oxigenando o disco com levadas mais serenas. É a Paciência (Lenine e Dudu Falcão, 1999) de Carbono. Em Quem leva a vida sou eu (Lenine), música que é (também) samba, mas não só, o artista desmente a filosofia de um dos sambas mais famosos do repertório de Zeca Pagodinho - Deixa a vida me levar (Serginho Meriti e Eri do Cais, 2002) - com a autoridade de quem já frequentou os quintais do Cacique de Ramos nos anos 1980. Grafite diamante (Lenine e Marco Polo) é noise, roqueira, e traz outros versos definidores de Carbono ("A gente se junta / E dança na diferença"). Tema instrumental que fecha o disco, Undo (Lenine, Pantico Rocha, Gulla, JR Tostoi e Bruno Giorgi) prova que o rico universo musical de Lenine pode caber na cabeça de um alfinete, no caso de uma faixa que roça os três minutos e que parece ter sido criada no estúdio. Carbono também é calado, e ainda assim intenso.
4 comentários:
♪ "O que eu sou / Eu sou em par / Não cheguei sozinho", ressalta Lenine nos versos finais de Castanho, parceria sua com o sueco de vivência pernambucana-carioca Carlos Posada que abre o álbum de inéditas Carbono nos toques ruralistas das violas de Ricardo Vignini. Tais versos sintetizam a química deste disco em que o cantor e compositor pernambucano abre e expande parcerias. Em alquimia com seus pares, Lenine evolui e se renova na atmosfera densa de Carbono. Disco "inteiro, e ainda assim partido. Doído, e ainda assim contente", para citar versos da poesia pura da letra de O universo na cabeça do alfinete (Lenine e Lula Queiroga), uma das mais bonitas músicas dentre a safra inteiramente autoral e inédita de Carbono. Trunfo do repertório, a canção foi gravada com o toque delicadamente majestoso das cordas e sopros holandeses da Martin Fondse Orchestra. É outro exemplo de como os pares e parceiros de Lenine contribuíram decisivamente para o grandioso resultado final do disco, com o devido destaque para a química perfeita entre o trio de produtores de Carbono. Bruno Giorgi, JR Tostoi e Lenine chegaram juntos a uma sonoridade estupenda que valoriza cada uma das 11 faixas do CD. Isoladamente, em outro contexto, parte das 11 músicas de Carbono talvez até passasse despercebida face ao cancioneiro pregresso de Lenine. Contudo, na obra deste artista, a forma adquirida pela música no estúdio é tão importante quanto a música em si. Como essa forma atinge a perfeição em Carbono, o álbum logo se impõe como um dos pontos mais altos da discografia solo de Lenine. Cada faixa tem um elemento diferente que altera a química do disco, lhe conferindo diversidade dentro de uma unidade. O impossível vem pra ficar combina a levada da música de Lenine com a batida funkeada do grupo paulistano 5 a Seco, integrado por Vinicius Calderoni - parceiro de Lenine na composição - e por Tó Brandileone, coprodutor e músico da faixa. À meia-noite dos tambores silenciosos (Lenine e Carlos Rennó) ilumina - no toque dos sopros e percussões da baiana Orkestra Rumpilezz - a forte carga de ancestralidade e negritude embutida neste evento sagrado do Carnaval do Recife, derramando lágrimas brancas sobre a pele e os sons escuros. Em Cupim de ferro (Lenine, Pupillo, Dengue, Lucio Maia e Jorge Du Peixe), a química é com a Nação Zumbi, parceira e convidada de Lenine nesta música cuja letra faz alusões a versos de famoso frevo do compositor pernambucano Capiba (1904 - 1997), Madeira que cupim não rói, composto em 1963 para o bloco Madeira do Rosarinho. O amálgama de pulsações do som de Lenine e da Nação é azeitado. É rock, mas não só. Já A causa e o pó (Lenine e João Cavalcanti), de cuja letra saiu o título Carbono, expõe a fragilidade humana no caldo das estrelas em arranjo árido que fricciona guitarras, violino e flauta. Banhada em atualidade e em efeitos atordoantes, Quedé água? (Lenine e Carlos Rennó) segue o seco no contraste entre a escassez nordestina e a concretude urbana das metrópoles sedentas de tudo em sua atmosfera cinzenta e carbonada. Balada melodiosa de Lenine com Dudu Falcão, Simples assim é pausa para o respiro, desanuviando e oxigenando o disco com levadas mais serenas. É a Paciência (Lenine e Dudu Falcão, 1999) de Carbono. Em Quem leva a vida sou eu (Lenine), música que é (também) samba, mas não só, o artista desmente a filosofia de um dos sambas mais famosos do repertório de Zeca Pagodinho - Deixa a vida me levar (Serginho Meriti e Eri do Cais, 2002) - com a autoridade de quem já frequentou os quintais do Cacique de Ramos nos anos 1980. Grafite diamante (Lenine e Marco Polo) é noise, roqueira, e traz outros versos definidores de Carbono ("A gente se junta / E dança na diferença"). Tema instrumental que fecha o disco, Undo (Lenine, Pantico Rocha, Gulla, JR Tostoi e Bruno Giorgi) prova que o rico universo musical de Lenine pode caber na cabeça de um alfinete, no caso de uma faixa que roça os três minutos e que parece ter sido criada no estúdio. Carbono também é calado, e ainda assim intenso.
É um álbum com o pé direito no Grammy latinoé nos melhores do.ano aqui no blog ..partiu baixar o disco
O disco de Lenine é excepcional porque ele se volta para si. Carbono é o principal elemento da composição química orgânica. É um disco de sua matriz pernambucana, arrodeado de seus sons de maracatus, frevos e cirandas, e do recente mangue beat. A mistura desses elementos todos pelo olhar sensível de Lenine só poderia mesmo resultar em algo grandioso.
Eu adorei Carbono. Entre os melhores discos do Lenine!
A volta da sonoridade banda sem deixar de lado o Lenine experimental dos últimos anos. Nota 10!
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