Mauro Ferreira no G1

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domingo, 28 de junho de 2015

Cenário de Carvalho valoriza show em que Salmaso eleva Guinga e Pinheiro

Resenha de show
Título: Corpo de baile
Artista: Mônica Salmaso (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Tom Jobim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de junho de 2015
Cotação: * * * * *
 Show em cartaz no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), até 28 de junho de 2015

A ruptura de Guinga com Paulo César Pinheiro, nos anos 1980, transformou a obra lapidar dos compositores cariocas em fonte abandonada. São músicas feitas nas décadas de 1970 e 1980 que, em parte, jazem em baú de joias a que a cantora paulistana Mônica Salmaso teve acesso há cerca de dez anos. Em 2014, parte do tesouro desse baú veio a público em álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino, Corpo de baile, que logo se impôs como o melhor de Salmaso e como um dos melhores discos do ano passado por conta da perfeição das interpretações e dos arranjos assinados por Dori Caymmi, Luca Raele, Nailor Azevedo Proveta, Nelson Ayres, Paulo Aragão, Teco Cardoso e Tiago Costa. No show Corpo de baile, que chegou na noite de 27 de junho de 2015 à cidade do Rio de Janeiro (RJ) após estrear em São Paulo (SP), Salmaso bisa a perfeição do disco, dividindo o palco com a maior parte dos músicos e arranjadores do CD. Além da cantora, são nove músicos em cena: Teco Cardoso (nos sopros e na direção musical), Nailor Proveta (clarinete e saxofones), Paulo Aragão (violão), Nelson Ayres (piano e acordeom), Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e os músicos que manuseiam com virtuosismo as cordas do Quarteto Carlos Gomes, formado por Adonhiran Reis (violino), Alceu Reis (cello), Cláudio Cruz (violino) e Gabriel Marin (viola). Para abrilhantar ainda mais a cena, um majestoso vídeo-cenário criado pelo cineasta Walter Carvalho - diretor de cinema que já havia trabalhado com a cantora no registro audiovisual do show Alma lírica brasileira que gerou o DVD editado em 2012 - engrandece o show com projeções veiculadas em tela de tule alocada à beira do palco, entre a cantora e a plateia. As imagens projetadas por Carvalho funcionam como telas que traduzem visualmente o universo das músicas do disco e que enquadram a cantora e os músicos dentro dessas telas, criando inebriantes efeitos visuais. É, de certa forma, como se o espectador estivesse assistindo a vários curtas-metragens com música tocada ao vivo. E a música em si é sublime. A obra de Guinga e Paulo César Pinheiro tem formato clássico que alude a um Brasil antigo cuja trilha sonora era formada por modinhas, valsas e canções. Mas, dentro desse formato tradicional, Guinga embute a modernidade de sua obra, plenamente entendida por Salmaso. Desde o primeiro número, o choro-canção Fim dos tempos (inédito até ser gravado em 2014 pela cantora em Corpo de baile), até o bis, dado com a modinha Senhorinha (1986), única das 15 músicas do roteiro ausente do disco por já ter sido gravada por Salmaso no álbum Voadeira (Eldorado, 1999), o que se vê e ouve é uma cantora em estado de graça, totalmente segura na interpretação de cancioneiro denso que exige rigor estilístico e técnica apurada. Salmaso jamais sai do tom, seja mergulhando no além-mar do fado Navegante (uma das seis inéditas que somente chegaram ao disco em Corpo de baile), no pântano de mágoas e solidão em que está imerso Bolero de Satã (1976), na tribo indígena de Curimã (2014), no universo afrancesado da valsa Nonsense (1989) e no salão vintage em que roda a valsa com ar de modinha Sedutora (2014), número em que sobressai o toque límpido do piano de Nelson Ayres. À vontade dentro do universo camerístico do show, Salmaso segue Procissão de padroeira (2010), marcha pelo Rancho das sete cores (2014) - guiada pelo arranjo e clarinete de Nailor Proveta - e se embrenha na floresta caipira em que Quadrão (1980) propaga ecos dos cancioneiros de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959)  no toque da viola caipira de Neymar Dias. O coco de passo embolado Violada (1992) também ressoa sons desse Brasil caboclo. No seu salão virtuoso, Mônica evolui majestosa e dá baile como cantora ao som de valsas como Noturna (1989) e Corpo de baile (2014). E tudo é sedutor, como sentencia verso da música-título do show. Valorizado pelo vídeo-cenário de Walter Carvalho, composto de retratos de um Brasil tão antigo quanto atemporal, todo o corpo de baile envolve o espectador neste show sublime - e memorável - de Mônica Salmaso.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ A ruptura de Guinga com Paulo César Pinheiro, nos anos 1980, transformou a obra lapidar dos compositores cariocas em fonte abandonada. São músicas feitas nas décadas de 1970 e 1980 que, em parte, jazem em baú de joias a que a cantora paulistana Mônica Salmaso teve acesso há cerca de dez anos. Em 2014, parte do tesouro desse baú veio a público em álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino, Corpo de baile, que logo se impôs como o melhor de Salmaso e como um dos melhores discos do ano passado por conta da perfeição das interpretações e dos arranjos assinados por Dori Caymmi, Luca Raele, Nailor Azevedo Proveta, Nelson Ayres, Paulo Aragão, Teco Cardoso e Tiago Costa. No show Corpo de baile, que chegou na noite de 27 de junho de 2015 à cidade do Rio de Janeiro (RJ) após estrear em São Paulo (SP), Salmaso bisa a perfeição do disco, dividindo o palco com a maior parte dos músicos e arranjadores do CD. Além da cantora, são nove músicos em cena: Teco Cardoso (nos sopros e na direção musical), Nailor Proveta (clarinete e saxofones), Paulo Aragão (violão), Nelson Ayres (piano e acordeom), Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e os músicos que manuseiam com virtuosismo as cordas do Quarteto Carlos Gomes, formado por Adonhiran Reis (violino), Alceu Reis (cello), Cláudio Cruz (violino) e Gabriel Marin (viola). Para abrilhantar ainda mais a cena, um majestoso vídeo-cenário criado pelo cineasta Walter Carvalho - diretor de cinema que já havia trabalhado com a cantora no registro audiovisual do show Alma lírica brasileira que gerou o DVD editado em 2012 - engrandece o show com projeções veiculadas em tela de tule alocada à beira do palco, entre a cantora e a plateia. As imagens projetadas por Carvalho funcionam como telas que traduzem visualmente o universo das músicas do disco e que enquadram a cantora e os músicos dentro dessas telas, criando inebriantes efeitos visuais. É, de certa forma, como se o espectador estivesse assistindo a vários curtas-metragens com música tocada ao vivo. E a música em si é sublime. A obra de Guinga e Paulo César Pinheiro tem formato clássico que alude a um Brasil antigo cuja trilha sonora era formada por modinhas, valsas e canções. Mas, dentro desse formato tradicional, Guinga embute a modernidade de sua obra, plenamente entendida por Salmaso. Desde o primeiro número, o choro-canção Fim dos tempos (inédito até ser gravado em 2014 pela cantora em Corpo de baile), até o bis, dado com a modinha Senhorinha (1986), única das 15 músicas do roteiro ausente do disco por já ter sido gravada por Salmaso no álbum Voadeira (Eldorado, 1999), o que se vê e ouve é uma cantora em estado de graça, totalmente segura na interpretação de cancioneiro denso que exige rigor estilístico e técnica apurada. Salmaso jamais sai do tom, seja mergulhando no além-mar do fado Navegante (uma das seis inéditas que somente chegaram ao disco em Corpo de baile), no pântano de mágoas e solidão em que está imerso Bolero de Satã (1979), na tribo indígena de Curimã (2014), no universo afrancesado da valsa Nonsense (1989) e no salão vintage em que roda a valsa com ar de modinha Sedutora (2014), número em que sobressai o toque límpido do piano de Nelson Ayres. À vontade dentro do universo camerístico do show, Salmaso segue Procissão de padroeira (2010), marcha pelo Rancho das sete cores (2014) - guiada pelo arranjo e clarinete de Nailor Proveta - e se embrenha na floresta caipira em que Quadrão (1980) propaga ecos dos cancioneiros de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) no toque da viola caipira de Neymar Dias. A moda de passo agalopado Violada também reverbera sons desse Brasil caboclo. No seu salão virtuoso, Mônica evolui majestosa e dá baile como cantora ao som de valsas como Noturna (1991) e Corpo de baile (2014). E tudo é sedutor, como sentencia verso da música-título do show. Valorizado pelo vídeo-cenário de Walter Carvalho, composto de retratos de um Brasil tão antigo quanto atemporal, todo o corpo de baile envolve o espectador neste show sublime - e memorável - de Mônica Salmaso.

william disse...

Disco maravilhoso de Salmaso, com canções soberbas de Guinga! e P.C. Pinheiro! ( que, pessoalmente, considero o maior letrista brasileiro, juntamente com Aldir Blanc! - que tb foi parceiro do Guinga). Pena que "Alma Vazia" ( que vi num show de Guinga e Paula Santoro em BH )não fez parte do repertório do disco. Tomara que Mônica Salmaso faça um "Corpo de Baile vol.2", os fãs de Guinga agradeceriam.

Anônimo disse...

Excelente texto, Mauro. Salmaso incrível e segura, projeções incríveis, banda e repertório incríveis.
Show que deveria ser registrado em DVD.

Tyrone Medeiros.

Unknown disse...

Show maravilhoso, músicas lindíssimas. Paulo César Pinheiro e Guinga letristas de primeira! Monica Salmaso que técnica, que sensibilidade... Fã de carteirinha!! Precisa vir mais ao Rio!! Nota mil para todos!
Níobe Carvalho

Ju Oliveira disse...

Vi esse show em SP. Maravilhoso! Um dos melhores que já vi na vida. Tomara que volte pra cá.

noca disse...

No topo,no auge....Suprema!!!

Luca disse...

Mauro ama Mônica, é sempre a mesma ladainha

Anderson disse...

Realmente um espetáculo. Memorável!

saberes tempo integral disse...

Será que teremos Corpo de Baile em DVD???