Resenha de CD
Título: Partir
Artista: Fabiana Cozza
Gravadora: Agô Produções
Cotação: * * * * 1/2
♪ Com seu quinto álbum, Partir, Fabiana Cozza faz o movimento mais ousado de sua discografia. No seu álbum anterior de estúdio, Fabiana Cozza (Agô Produções, 2011), a cantora paulistana suavizou seu canto para pisar no terreiro carioca em disco produzido por Paulão Sete Cordas. Gravado após a turnê de show dedicado ao repertório da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983), criterioso tributo perpetuado no CD ao vivo e DVD Canto sagrado (Independente, 2013), Partir conduz Cozza por rota que a leva à Bahia e, de lá, evoca a mãe África com escala na latinidade centro-americana de Borzeguita (Leandro Medina), faixa que embute referência a Cuba. Trata-se de disco de conceito ambicioso, arquitetado por Cozza com Swami Jr. (eficaz produtor do álbum) e Marcelino Freire. Dez anos após sua estreia no mundo do disco com o CD O samba é meu dom (Eldorado, 2005), Cozza apresenta álbum coerente com sua trajetória fonográfica, mas que expande seu universo musical, ainda que a África - já mote do segundo álbum da artista, Quando o céu clarear (Atração Fonográfica, 2007) - seja o fio condutor de Partir. Seja a África entranhada nos congados de Minas Gerais, representada pela bela regravação de Velhos de coroa (Sérgio Pererê, 2012) em que sobressai a percussão de Felipe Roseno, seja a África que rege a Bahia de todos os Santos em cujas águas Partir se banha. O que dá sentido às inclusões de duas parcerias dos compositores baianos Roberto Mendes e Jorge Portugal, Orixá (2007) - poema de Portugal em homenagem à ialorixá baiana conhecida como Mãe Stella de Oxossi musicado por Mendes - e Voz guia (1996). A presença dominante de Roberto Mendes no disco, assinando cinco das 14 músicas de Partir, é fruto de show feito por Cozza com o compositor, em São Paulo (SP), em outubro de 2011. No roteiro desse show, concebido como projeto especial para o Teatro do Sesi, já estavam músicas que reaparecem em Partir, casos de Teus olhos em mim (Roberto Mendes e Nizaldo Costa) e Não pedi (Roberto Mendes e Nizaldo Costa, 2014), dois temas de cepa romântica, sendo que o último é um samba - lançado em disco pela cantora baiana Jurema no ano passado - que deságua nas águas do Recôncavo Baiano. A viagem de Partir é conduzida pelo produtor Swami Jr. com elegância. A própria Fabiana mantém a suavidade do canto experimentada no disco de 2011. Mas nem por isso abre mão dos floreios operísticos que adornam a interpretação de Entre o mangue o mar (Alzira E e Arruda), inédita canção que tem algo das mornas de Cabo Verde e que, por isso mesmo, se avizinha com a música que a sucede na rota afro-baiana do disco, Chicala (João Cavalcanti), tema baseado no universo musical de Angola. Com narrativa cinematográfica de Paulo César Pinheiro, autor dos versos musicados por Vicente Barreto, a épica Roda de capoeira evoca os afro-sambas dos anos 1960. Na sequência, Le Mali chez la carte invisible (2014) - canção em francês (lançada por Jurema no ano passado) de autoria de Tiganá Santana, compositor baiano de quem Cozza também regrava Mama Kalunga, música que deu título ao recém-lançado quinto álbum da cantora Virginia Rodrigues em gravação de tom mais sublime - poetiza a invisibilidade social da África aos olhos do resto do mundo. Com sua voz "lisa e clara", como conceitua Maria Bethânia no texto do encarte em que saúda Partir, Cozza dá voz ao samba Fim da dança (Vidal Assis e Moyseis Marques) e ao otimismo que rege É do mar (canção menos sedutora de Gisele de Santi). No fim da viagem, Seu moço - parceria de Roberto Mendes com Hermínio Bello de Carvalho, lançada por Mendes em 1996 - conduz Partir a Santo Amaro da Purificação, terra sagrada, um epicentro da baianidade nagô que move Cozza na rota inesperada de seu disco. Citando versos de Chicala, Fabiana Cozza desenterra no CD Partir o ouro da alma afro-brasileira e molda uma joia.
♪ Com seu quinto álbum, Partir, Fabiana Cozza faz o movimento mais ousado de sua discografia. No seu álbum anterior de estúdio, Fabiana Cozza (Agô Produções, 2011), a cantora paulistana suavizou seu canto para pisar no terreiro carioca em disco produzido por Paulão Sete Cordas. Gravado após a turnê de show dedicado ao repertório da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983), criterioso tributo perpetuado no CD ao vivo e DVD Canto sagrado (Independente, 2013), Partir conduz Cozza por rota que a leva à Bahia e, de lá, evoca a mãe África com escala na latinidade centro-americana de Borzeguita (Leandro Medina), faixa que embute referência a Cuba. Trata-se de disco de conceito ambicioso, arquitetado por Cozza com Swami Jr. (eficaz produtor do álbum) e Marcelino Freire. Dez anos após sua estreia no mundo do disco com o CD O samba é meu dom (Eldorado, 2005), Cozza apresenta álbum coerente com sua trajetória fonográfica, mas que expande seu universo musical, ainda que a África - mote do segundo álbum da artista, Quando o céu clarear (Atração Fonográfica, 2007) - seja o fio condutor de Partir. Seja a África entranhada nos congados de Minas Gerais, representada pela bela gravação de Velhos de coroa (Sérgio Pererê) em que sobressai a percussão de Felipe Roseno, seja a África que rege a Bahia de todos os Santos em cujas águas Partir se banha. O que dá sentido às inclusões de duas parcerias dos compositores baianos Roberto Mendes e Jorge Portugal, Orixá (2007) - poema de Portugal em homenagem à ialorixá baiana conhecida como Mãe Stella de Oxossi musicado por Mendes - e Voz guia (1996). A presença dominante de Roberto Mendes no disco, assinando cinco das 14 músicas de Partir, é fruto de show feito por Cozza com o compositor, em São Paulo (SP), em outubro de 2011. No roteiro desse show, concebido como projeto especial para o Teatro do Sesi, já estavam músicas que reaparecem em Partir, casos de Teus olhos em mim (Roberto Mendes e Nizaldo Costa) e Não pedi (Roberto Mendes e Nizaldo Costa), dois temas de cepa romântica, sendo que o último é um samba que deságua nas águas do Recôncavo Baiano. A viagem de Partir é conduzida pelo produtor Swami Jr. com elegância. A própria Fabiana mantém a suavidade do canto experimentada no disco de 2011. Mas nem por isso abre mão dos floreios operísticos que adornam a interpretação de Entre o mangue o mar (Alzira E e Arruda), canção que tem algo das mornas de Cabo Verde e que, por isso mesmo, se avizinha com a música que a sucede na rota afro-baiana do disco, Chicala (João Cavalcanti), tema baseado no universo musical de Angola. Com narrativa cinematográfica de Paulo César Pinheiro, autor dos versos musicados por Vicente Barreto, a épica Roda de capoeira evoca os afro-sambas dos anos 1960. Na sequência, Le Mali chez la carte invisible - canção em francês de autoria de Tiganá Santana, compositor baiano de quem Cozza também regrava Mama Kalunga, música que deu título ao recém-lançado quinto álbum da cantora Virginia Rodrigues em gravação de tom mais sublime - poetiza a invisibilidade social da África aos olhos do resto do mundo. Com sua voz "lisa e clara", como conceitua Maria Bethânia no texto do encarte em que saúda Partir, Cozza dá voz ao samba Fim da dança (Vidal Assis e Moyseis Marques) e ao otimismo que rege É do mar (canção menos sedutora de Gisele de Santi). No fim da viagem, Seu moço - parceria de Roberto Mendes com Hermínio Bello de Carvalho - conduz Partir a Santo Amaro da Purificação, terra sagrada, um epicentro da baianidade nagô que move Cozza na rota inesperada de seu disco. Citando versos de Chicala, Fabiana Cozza desenterra no CD Partir o ouro da alma afro-brasileira.
ResponderExcluirRelação de faixas do disco:
ResponderExcluir1. Velhos de Coroa (Sérgio Pererê)
2. Entre O Mangue E O Mar (Alzira Espíndola/Arruda)
3. Chicala (João Cavalcanti)
4. Roda de Capoeira (Vicente Barreto/Paulo César Pinheiro)
5. Le Mali Chez La Carte Invisible (Tiganá Santana)
6. Orixá (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
7. Teus Olhos Em Mim (Roberto Mendes/Nizaldo Costa)
8. Não Pedi (Roberto Mendes/Nizaldo Costa)
9. Fim da Dança (Vidal Assis/Moyseis Marques)
10. Mama Kalunga (Tiganá Santana)
11. Voz Guia (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
12. É do Mar (Gisele de Santi)
13. Borzeguita (Leandro Medina)
14. Seu Moço (Roberto Mendes/Hermínio Bello de Carvalho)
Nas melhores expectativas para ouvir o novo disco dessa sambista incrível...
ResponderExcluirBela análise, Mauro! Esse repertório promete!
ResponderExcluir"Fabiana Cozza, diva “afro-italobrasileira” de Sampa. Íntima dos orixás lucumís e jeje-nagôs, ela ultrapassa fácil a legião de cantoras que, em 2013, botaram um “adé” de conchas na cabeça e uma lei de incentivo debaixo do braço pra“saravá” Clara Nunes. Porque Fabiana não “sarava”; “mojuba”. E como “mojubar” não é simplesmente salvar, saudar e, sim, inclinar-se respeitosamente ante a grandeza infinita dos Ancestrais e Forças Espirituais que nos protegem e conduzem os destinos, ela saiu-se airosamente em seus objetivos."
(Nei Lopes)
10 anos de carreira, quinto disco e não emplacou nenhum sucesso? Que coisa! O Trio ABC do Samba com dez anos de carreira e no quinto disco já obtivera êxitos de vendagens e adquirido grandes sucessos no imaginário popular.
ResponderExcluirEstranho isso ainda mais em tempos de amplas divulgações, enfim.... coisas dos tempos atuais. A culpa deve ser apenas da pirataria. rs
Já comprei pelo iTunes. Estará disponível dia 13. Super ansiosa para ouvir... Valeu pela resenha, Mauro.
ResponderExcluirAh, e dias 18 e 19 tem show de lançamento no SESC Vila Mariana (Sampa).
Sou fã dessa mulher desde 2007 e ela só faz crescer, sem perder sua essência. Vambora, Fabi! Onde você for, eu vou atrás.
E pra ser bom precisa emplacar sucessos? No Brasil quem emplaca sucessos são os sertanejos, Anita, Ludimila... Melhor não emplacar e ser Fabiana Cozza, que até que surja outra é a melhor tradução para uma cantora de samba.
ResponderExcluirMarcelo, se atualiza! Trio ABC ficou no passado.Clara se foi, Alcione aderiu ao brega e Beth Carvalho estacionou no meio do caminho!
ResponderExcluirFabiana Cozza é a atualidade do samba!!!
Menos, Marcelo! As leis do mercado hoje em dia são bem diferentes do tempo de outrora!
ResponderExcluirOnde encontro esse disco? Procurei nas lojas online e ele não está sendo vendido. Procurei em uma loja de discos aqui no meu bairro e o vendedor disse que não tinha noticia que o disco iria chegar à loja. No Deezer o mesmo ainda não está no acervo. Quando ao Itunes. Eu não o tenho.
ResponderExcluirNo Spotify está disponível.
ResponderExcluirEsse disco é um acalanto afro pros meus ouvidos. Não canso de ouvir essa pérola negra ofertada. Um dos melhores do ano sem dúvidas!!!
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