♪ No mercado fonográfico a partir da próxima terça-feira, 9 de junho de 2015, o sétimo CD de Diogo Nogueira,
Porta-voz da alegria, vende alto astral já no título e na colorida arte gráfica da capa. Não chega a ser propaganda enganosa. Mas, além da felicidade encomendada do samba-título
Porta-voz da alegria (André Renato e Luiz Cláudio Picolé) e de outras eventuais faixas animadas, o disco embute também o
chororô amoroso dos pagodes românticos, como já sinalizara o
single Tenta a sorte (André Renato e Luiz Cláudio Picolé). Frustrante para quem esperava que a irregular discografia do cantor e compositor carioca mantivesse o salto qualitativo do exuberante
Bossa negra (Universal Music, 2014), estupendo álbum gravado por Diogo com o bandolinista Hamilton de Holanda com inspiração nos afro-sambas dos anos 1960,
Porta-voz da alegria se alinha com o último disco solo feito em estúdio pelo cantor,
Mais amor (EMI Music, 2013), trabalho produzido por Leandro Sapucahy e voltado para o ralo pagode romântico. Mas houve sutis mudanças. Em vez de Sapucahy, quem assumiu a produção é Bruno Cardoso e Lelê, da US3, grife do samba mais pop embalado para imediato consumo em larga escala. No caso de Diogo, além de triviais sambas românticos como
Eu tenho dúvida (Claudemir, Riquinho e André Renato) e
Pra que brigar (Adilson Bispo e Zé Roberto - este aquém do histórico dos autores), a receita também inclui temas que exploram a fina estampa do artista. Por mais que tenha evoluído muito como cantor, Diogo continua sendo um produto rentável por conta de sua imagem de galã do samba. O que explica a presença no disco de um samba-cantada como
A mil por hora (André Renato, Rhuan André, Gabriel Soares e Lucas Oliveira), de verso convidativo e explícito como
"Tô cheio de amor pra te dar". No todo,
Porta-voz da alegria carece de originalidade, soando
déjà vu.
Clareou (Serginho Meriti e Rodrigo Leite, 2014) remete à
Fé em Deus (Flavinho Silva, 2007) - sucesso do primeiro disco de Diogo - pela saudação ao divino. Embasada pela força dos tambores e das cordas orquestradas por Jota Moraes,
Grão de areia (Jorge Vercillo e Paulo César Feital) parece evocação pálida de Clara Nunes (1942 - 1983), embora não haja referência explícita à cantora mineira nos versos. A faixa sobressai em repertório que alinha sambas que deixam a impressão de terem sido compostos em escala industrial, seguindo um molde de samba de pegada mais pop e linguagem jovial - casos de
Não tô nessa (Fred Camacho, Leandro Fab e Pretinho da Serrinha) e de
O amor tem seu lugar (Xande de Pilares, Leandro Fab e Fred Camacho). Aparentemente fora dessa linha pré-fabricada, a melancolia impregnada em
Deixa eu ir à luta (Leandro Lehart, 2001) - samba lançado em 2001 pelo grupo de pagode Art Popular com a conjugação correta do verbo (
Deixe eu ir à luta) - soa como emoção mais real. Assim como a alegria posta na roda de partido alto que abre com
Pra amenizar teu coração (Dudu Nobre e Sombrinha, 2005) - de longe o samba mais bonito do disco, tendo sido lançado por Dudu Nobre há dez anos - e fecha com
Pra ninguém mais chorar (Dudu Nobre, Almir Guineto e Fred Camacho), samba gravado por Zeca Pagodinho no álbum
Uma prova de amor (Universal Music, 2008). Entre um e outro, há
Na boutique (Diogo Nogueira, Leandro Fab e Fred Camacho). Na sequência, o samba
Musas (Arlindo Cruz e Rogê) celebra as mulheres - público-alvo dos discos e shows de Diogo - com leve toque afro no arranjo orquestrado por Boris. Enfim,
Porta-voz da alegria segue a cartilha do samba jovem para faturar com a fama de Diogo. É disco aquém do potencial do artista, feito de acordo com a regra do jogo do mercado.
♪ No mercado fonográfico a partir da próxima terça-feira, 9 de junho de 2015, o sétimo CD de Diogo Nogueira, Porta-voz da alegria, vende alto astral já no título e na colorida arte gráfica da capa. Não chega a ser propaganda enganosa. Mas, além da felicidade encomendada do samba-título Porta-voz da alegria (André Renato e Luiz Cláudio Picolé) e de outras eventuais faixas animadas, o disco embute também o chororô amoroso dos pagodes românticos, como já sinalizara o single Tenta a sorte (André Renato e Luiz Cláudio Picolé). Frustrante para quem esperava que a irregular discografia do cantor e compositor carioca mantivesse o salto qualitativo do exuberante Bossa negra (Universal Music, 2014), estupendo álbum gravado por Diogo com o bandolinista Hamilton de Holanda com inspiração nos afro-sambas dos anos 1960, Porta-voz da alegria se alinha com o último disco solo feito em estúdio pelo cantor, Mais amor (EMI Music, 2013), trabalho produzido por Leandro Sapucahy e voltado para o ralo pagode romântico. Mas houve sutis mudanças. Em vez de Sapucahy, quem assumiu a produção é Bruno Cardoso e Lelê, da US3, grife do samba mais pop embalado para imediato consumo em larga escala. No caso de Diogo, além de triviais sambas românticos como Eu tenho dúvida (Claudemir, Riquinho e André Renato) e Pra que brigar (Adilson Bispo e Zé Roberto - este aquém do histórico dos autores), a receita também inclui temas que exploram a fina estampa do artista. Por mais que tenha evoluído muito como cantor, Diogo continua sendo um produto rentável por conta de sua imagem de galã do samba. O que explica a presença no disco de um samba-cantada como A mil por hora (André Renato, Rhuan André, Gabriel Soares e Lucas Oliveira), de verso convidativo e explícito como "Tô cheio de amor pra te dar". No todo, Porta-voz da alegria carece de originalidade, soando déjà vu. Clareou (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) remete à Fé em Deus (Flavinho Silva, 2007) - sucesso do primeiro disco de Diogo - pela saudação ao divino. Embasada pela força dos tambores e das cordas orquestradas por Jota Moraes, Grão de areia (Jorge Vercillo e Paulo César Feital) parece evocação pálida de Clara Nunes (1942 - 1983), embora não haja referência explícita à cantora mineira nos versos. A faixa sobressai em repertório que alinha sambas que deixam a impressão de terem sido compostos em escala industrial, seguindo um molde de samba de pegada mais pop e linguagem jovial - casos de Não tô nessa (Fred Camacho, Leandro Fab e Pretinho da Serrinha) e de O amor tem seu lugar (Xande de Pilares, Leandro Fab e Fred Camacho). Aparentemente fora dessa linha pré-fabricada, a melancolia impregnada em Deixa eu ir à luta (Leandro Lehart, 2001) - samba lançado em 2001 pelo grupo de pagode Art Popular com a conjugação correta do verbo (Deixe eu ir à luta) - soa como emoção mais real. Assim como a alegria posta na roda de partido alto que abre com Pra amenizar teu coração (Dudu Nobre e Sombrinha, 2005) - de longe o samba mais bonito do disco, tendo sido lançado por Dudu Nobre há dez anos - e fecha com Pra ninguém mais chorar (Dudu Nobre, Almir Guineto e Fred Camacho), samba gravado por Zeca Pagodinho no álbum Uma prova de amor (Universal Music, 2008). Entre um e outro, há Na boutique (Diogo Nogueira, Leandro Fab e Fred Camacho). Na sequência, o samba Musas (Arlindo Cruz e Rogê) celebra as mulheres - público-alvo dos discos e shows de Diogo - com leve toque afro no arranjo orquestrado por Boris. Enfim, Porta-voz da alegria segue a cartilha do samba jovem para faturar com a fama de Diogo. É disco aquém do potencial do artista, feito de acordo com a regra do jogo do mercado.
ResponderExcluirPoderia ter continuado trilhando o caminho de "Bossa Negra" do que esse sambinha ralo...
ResponderExcluirNa sexta-feira assistirei ao SamBRA. Triste ler uma resenha dessas e saber que o Diogo não segue os trilhos do João em qualidade de repertório. Está indo na carona da madrinha dele adotando a linha de sambregas.
ResponderExcluirE bem observado, Mauro! O Bossa Negra é ESTUPENDO mesmo, seria exigir demais uma continuidade. Abs
As vezes se fala demais o álbum nem saiu e vários reclamando
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