Título: Continuidade dos parques
Artista: Dônica
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2
♪ O lançamento do primeiro álbum da banda carioca Dônica - no mercado fonográfico a partir de hoje, 16 de junho de 2015, em edição da gravadora Sony Music - soa como anticlímax para quem já ouviu o ótimo EP digital lançado pelo quinteto em dezembro de 2014 com quatro das 11 músicas inéditas do álbum. Batizado com nome de conto publicado em 1964 pelo escritor belga (de vivência argentina) Julio Cortázar (1914 - 1984), o álbum Continuidade dos parques reitera a técnica virtuosa e as opções musicais do quinteto formado por André Almeida (bateria), José Ibarra (voz e piano), Lucas Nunes (guitarra), Miguel Guimarães, o Miguima (baixo), e Tom Veloso (composição). A presença de Tom Veloso - filho caçula de Caetano Veloso - na formação da Dônica tem aberto espaços generosos para a banda na imprensa musical, geralmente refratária a grupos que se desviam da receita hype da vez. A Dônica é uma banda que se criou longe da turma dos músicos cultuados pela mídia na cena indie carioca, por opção, pois a presença de Tom Veloso poderia ter conectado a Dônica a esses músicos, já que alguns tocam com seu pai. Só que a Dônica faz um som fora de sintonia com a cena contemporânea carioca. Lançada no EP, a música Macaco no caiaque (José Ibarra, Tom Velo e Matheus Gonçalve) sinalizou um groove mais jovial e atual com ecos do som do grupo mineiro Jota Quest. Só que, no contexto global do álbum produzido por Berna Ceppas e Daniel Carvalho, Macaco no caiaque é praticamente uma faixa alienígena. Mesmo pontuada pelas percussões contemporânea de Pretinho da Serrinha, a obra autoral da Dônica - alicerçada pela parceria de José Ibarra com Tom Veloso - reverbera essencialmente efeitos e sons dos anos 1970 neste álbum que explicita as assumidas influências do Clube da Esquina e do rock progressivo da década de 1970, embora abra com baticum psicodélico, É oficial (José Ibarra, Tom Veloso e Matheus Gonçalves), faixa com status de vinheta no álbum. Temas como 904 (José Ibarra e Matheus Gonçalves) seguem a trilha sinalizada por músicas como Casa 180 (José Ibarra e Tom Veloso) e Praga (José Ibarra e Tom Veloso), ambas previamente apresentadas no EP Dônica. Seja como for, o fato é que o álbum, embora ligeiramente menos coeso do que o EP, é bom e revela uma banda boa, formada por músicos que dominam a arte de tocar um instrumento, técnica reiterada nas longas passagens instrumentais dos temas e no tema instrumental Inverno (José Ibarra e Lucas Nunes) Com mais de seis minutos (mesma duração de Bicho burro e da já citada Praga), Carrossel (José Ibarra, Tom Veloso, Matheus Gonçalves e Lucas Nunes) gira com a voz de Dora Morelenbaum, com evocações poéticas da infância e com sonoridade que remete de imediato à produção de compositores do Clube da Esquina. A própria presença vocal de Milton Nascimento em Pintor (José Ibarra e Tom Veloso) - tema onírico que cita o pintor francês Renoir (1841 - 1919) ao falar da incapacidade de um amante lidar com as tintas da vida - faz todo o sentido neste disco que reverencia o som e a geração de Bituca. Seguidores das trilhas do rock progressivo vão se identificar com a rota viajante de Retorno para Cotegipe (José Ibarra e Tom Veloso) No fim, introduzida por um violão, a canção-samba Assuntos bons - assinada somente por Tom Veloso e gravada com a guitarra de Pedro Baby - sereniza o álbum em clima de paz e amor, como se os Novos Baianos estivessem entrando no Clube da Esquina. Contudo, é aos mineiros que a Dônica presta reverência neste bom álbum que ama o passado da bela música brasileira feita nas Geraes nos anos 1970. Pelo que já mostra neste primeiro álbum, a Dônica tem cacife para entrar no clube.
3 comentários:
Será que o disco da banda do filho do Caetano é tão interessante assim? Sei não...
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