Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 16 de junho de 2015

Iluminada à meia-luz, Gadú inventa a sua esperança na trilha do show 'Guelã'

Resenha de show
Título: Guelã
Artista: Maria Gadú (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Castro Alves (Salvador, BA)
Data: 13 de junho de 2015
Cotação: * * * *
 Show em cartaz no Circo Voador, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 4 de julho de 2015

As duas canções escolhidas por Maria Gadú para o bis de seu show Guelã - Sonhos roubados (João Nabuco, Antonio Villeroy e Eugênio Dale), música gravada pela artista paulistana para a trilha sonora do homônimo filme brasileiro de 2009, e Semi-voz (Maria Gadú, Maycon Ananias e James Mccollun, 2015) - dão a pista do pleno momento artístico de Gadú. Guelã, o show, segue com fidelidade a trilha radical traçada pela cantora e compositora no álbum lançado em maio pelo selo Slap, da gravadora Som Livre. Aliás, o show - que estreou em São Paulo (SP) em 5 de junho de 2015 e chegou a Salvador (BA) na noite do último sábado, 13 de junho - é ainda mais radical do que o disco. É um show sem hits, sem luz (convencional) - a cantora e banda ficam recuados no fundo do palco, na penumbra, na maior parte da apresentação - e sem um mínimo toque de trivialidade. Tudo soa original, novo, em cena. Até as eventuais músicas antigas como Bela flor (Maria Gadú, 2009), que desabrocha dentro do clima  introspectivo da sonoridade livre de Guelã. Parafraseando versos de Sonhos roubados, Gadú inventa a sua esperança e segue seu ousado movimento musical ao traçar trilha que ignora os apelos do sucesso massivo conhecido pela cantora logo em seu primeiro álbum, Maria Gadú (Slap / Som Livre, 2009), de cujo repertório a artista desconstrói Lounge (Maria Gadú, 2009), o samba Altar particular (Maria Gadú, 2009) - o que pede para apagar a luz - e a canção Escudos (Maria Gadú, 2009). Iluminada na penumbra com sua guitarra, Gadú se amalgama em cena com o trio que a acompanha no show Guelã - Bianca Godói (bateria), Federico Puppi (cello turbinado fora do tom camerístico) e Lancaster Pinto (baixo) - e se mostra feliz. Por isso, o encerramento do bis com Semi-voz é também uma chave para o entendimento do momento feliz da artista. Fecho dessa música, "Você me faz feliz" é o último verso que se ouve no show Guelã, encerrado pela cantora e seus músicos em clima de farra adolescente. Contudo, antes de chegar ao bis, Gadú apresenta todas as dez músicas do álbum Guelã em ordem mais ou menos similar à do disco, abrindo com Suspiro (Maria Gadú, 2015) e fechando o show - antes do bis - com Aquária (Maria Gadú, 2015). É um repertório íntimo, pessoal e, sobretudo, feminino - como explicitam músicas como Ela (Maria Gadú, 2015) e Trovoa (Maurício Pereira, 2007), cantadas por Gadú para sua musa Lua Leça, cocriadora da arte gráfica do CD Guelã. Tal feminilidade se expande em Tecnopapiro (Maria Gadú, 2015), carta de amor de uma filha da era cibernética para uma mãe dos tempos analógicos. Tal repertório se desvia de trilhas radiofônicas, sendo pautado pela estranheza. De todo modo, músicas como (Maria Gadú, 2015) ampliam seu poder de sedução em cena dentro da atmosfera radical do show. Fora da seara autoral e do cancioneiro de Guelã, Gadú reabre Livros (1997) - música de Caetano Veloso que não fazia parte do roteiro do show dividido pela artista com o cantor e compositor baiano - e dá voz a um tema forrozeiro do compositor paulista Miltinho Edilberto - Anjo tentador, lançado pelo grupo paulistano Bicho de Pé em seu primeiro álbum, Com o pé nas nuvens (Paradoxx, 2001), disco do qual a cantora pesca a pérola Conselho aos meninos (Janaína Pereira, 2001), lustrada em clima rocker pela artista com seu trio. Mesmo com o polimento da banda, os temas forrozeiros parecem meio fora do clima do show, inclusive pelos versos mais simples. Em contrapartida, Paracuti (Maria Gadú e Luiz Murá, 2010) e, sobretudo, Axé a capella (Luisa Maita e Dani Black, 2011) se ajustam ao tom intencionalmente estranho de Guelã. Mas é a interpretação desesperada, demolidora, arrasadora e arrebatadora de Ne me quitte pas (Jacques Brel, 1959) que se impõe como o grande momento do show, apontando a longa distância entre a Gadú mais palatável de 2009 - a canção do belga Brel figura no primeiro álbum da artista - e a Gadú mais destemida, livre e pessoal de Guelã. Mesmo no escuro, Maria Gadú se ilumina e se engrandece ao traçar a trilha esperançosa do lindo show Guelã.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ As duas canções escolhidas por Maria Gadú para o bis de seu show Guelã - Sonhos roubados, música composta pela artista paulistana para a trilha sonora do homônimo filme brasileiro de 2010, e Semi-voz (Maria Gadú, 2015) - dão a pista do momento artístico de Gadú. Guelã, o show, segue com fidelidade a trilha radical traçada pela cantora e compositora no álbum lançado em maio pelo selo Slap, da gravadora Som Livre. Aliás, o show - que estreou em São Paulo (SP) em 5 de junho de 2015 e chegou a Salvador (BA) na noite do último sábado, 13 de junho - é ainda mais radical do que o disco. É um show sem hits, sem luz (convencional) - a cantora e banda ficam recuados no fundo do palco, na penumbra, na maior parte da apresentação - e sem um mínimo toque de trivialidade. Tudo soa original, novo, em cena. Até as eventuais músicas antigas como Bela flor (Maria Gadú, 2009), que desabrocha dentro do clima introspectivo da sonoridade livre de Guelã. Parafraseando versos de Sonhos roubados, Gadú inventa a sua esperança e segue seu ousado movimento musical ao traçar trilha que ignora os apelos do sucesso massivo conhecido pela cantora logo em seu primeiro álbum, Maria Gadú (Slap / Som Livre, 2009), de cujo repertório a artista desconstrói Lounge (Maria Gadú, 2009), o samba Altar particular (Maria Gadú, 2009) - o que pede para apagar a luz - e a canção Escudos (Maria Gadú, 2009). Iluminada na penumbra com sua guitarra, Gadú se amalgama em cena com o trio que a acompanha no show Guelã - Bianca Godói (bateria), Federico Puppi (cello turbinado fora do tom camerístico) e Lancaster Pinto (baixo) - e se mostra feliz. Por isso, o encerramento do bis com Semi-voz é também uma chave para o entendimento do momento feliz da artista. "Você me faz feliz" é o último verso que se ouve no show Guelã, encerrado pela cantora e seus músicos em clima de farra adolescente. Contudo, antes de chegar ao bis, Gadú apresenta todas as dez músicas do álbum Guelã em ordem mais ou menos similar à do disco, abrindo com Suspiro (Maria Gadú, 2015) e fechando o show - antes do bis - com Aquária (Maria Gadú, 2015). É um repertório íntimo, pessoal e, sobretudo, feminino - como explicitam músicas como Ela (Maria Gadú, 2015) e Trovoa (Maurício Pereira, 2007), cantadas por Gadú para sua musa Lua Leça, cocriadora da arte gráfica do CD Guelã. Tal feminilidade se expande em Tecnopapiro (Maria Gadú, 2015), carta de amor de uma filha da era cibernética para uma mãe dos tempos analógicos. Tal repertório se desvia de trilhas radiofônicas, sendo pautado pela estranheza. De todo modo, músicas como Há (Maria Gadú, 2015) ampliam seu poder de sedução em cena dentro da atmosfera radical do show. Fora da seara autoral e do cancioneiro de Guelã, Gadú reabre Livro (1997) - música de Caetano Veloso que não fazia parte do roteiro do show dividido pela artista com o cantor e compositor baiano - e dá voz a um tema forrozeiro do compositor paulista Miltinho Edilberto - Anjo tentador, lançado pelo grupo paulistano Bicho de Pé em seu primeiro álbum, Com o pé nas nuvens (Paradoxx, 2001) - que parece fora do clima do show. Em contrapartida, Paracuti (Maria Gadú e Luiz Murá, 2010) e, sobretudo, Axé a capella (Luisa Maita e Dani Black, 2011) se ajustam ao tom intencionalmente estranho de Guelã. Mas é a interpretação desesperada, demolidora, arrasadora e arrebatadora de Ne me quitte pas (Jacques Brel, 1959) que aponta a longa distância entre a Gadú mais palatável de 2009 - a canção do compositor belga figura no primeiro álbum da artista - e a Gadú mais destemida, livre e pessoal de Guelã. Mesmo sob a sombra, Maria Gadú se ilumina e se engrandece ao traçar a trilha esperançosa do belo show Guelã.

Rafael disse...

Disco fraquíssimo, o show deve ser entediante...

Rafael disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rhenan Soares disse...

Uau! Curiosíssimo pra assistir!

Unknown disse...

Vamos aplaudir a viagem ególatra, pretensiosa e enfadonha da Gadu.
É bastante inovador abrir o cd copiando os acordes de Walk On The Wild Side do Lou Reed e escrever letras que parecem inspiradas nos textos do Pedro Bial em dia de eliminação do BBB.

Fernando disse...

Não consegui digerir este disco. Enfadonho.

Victor Lobo disse...

O disco é maravilhoso e o show provavelmente será no mesmo nível. Gadú tá emocionando e fazendo aquilo que sente. Esse é o ingrediente na minha opinião. Ingresso na mão e ansiedade no peito!