Resenha de disco
Título: Mar azul - Sons de Minas Gerais vol. 1
Artista: vários
Gravadora: Slap
Cotação: * * * 1/2
Gravações disponíveis também em formato audiovisual no canal da TocaVídeos no YouTube
♪ Quatro dias após o lançamento do disco
Mar azul - Sons de Minas Gerais vol. 1 nas plataformas digitais através do selo Slap, em 8 de junho de 2015, a inesperada saída de cena do compositor mineiro Fernando Brant (1946 - 2015) - o mais importante letrista do cancioneiro do Clube da Esquina - causou impacto na cena musical brasileira, influenciando inevitavelmente a audição deste projeto capitaneado por Fernando Neumayer e Luís Martino para a empresa TocaVídeos. Onze artistas da cena contemporânea dão vozes a músicas associadas aos compositores do clube mineiro em registros acústicos calcados em violão e/ou em piano, filmados - com fotografia de Thiago Britto - para clipes disponibilizados no canal da TocaVídeos no
YouTube simultaneamente com a edição digital do disco. Brant é o autor de somente três das 11 músicas. Mas a poesia fraterna, forte e brava do mineiro banha
Mar azul, amplificando a saudade deste gigante da MPB. Quando a cantora fluminense Júlia Vargas embarca com segurança em
Canoa, canoa (Nelson Ângelo e Fernando Brant, 1977),
Mar azul reitera a força de versos que expuseram a solidão e a coragem de homens brasileiros em era de trevas. Quando a cantora mineira Michele Leal desenha
Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant, 1972), com fidelidade à arquitetura do registro original do álbum duplo de 1972 que oficializou a existência do Clube da Esquina, bate também a saudade já eterna deste mensageiro natural de coisas estranhamente naturais que aconteciam naqueles tempos de cores mórbidas e homens sórdidos. A presença de Brant paira ao longo do disco, mas
Mar azul também está mergulhado nos versos de outros poetas. O fluminense Ronaldo Bastos tem os versos de
Nada será como antes (1972) - uma de suas mais emblemáticas parcerias com o carioca de alma mineira Milton Nascimento, sócio majoritário do Clube - jogados com frescor nos céus das bocas dos integrantes do grupo vocal carioca Ordinarius, em arranjo de Augusto Ordine. Mesmo sem uma releitura antológica,
Mar azul joga na beira da praia quem ainda está (quase) submerso em mercado fonográfico cruel e cada vez mais estruturado em nichos. Radicado no Rio de Janeiro (RJ), o cantor e compositor mineiro César Lacerda se revela bom intérprete ao dar voz ao único tema obscuro da seleção,
Pedras rolando (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1979). Igualmente desenvolto, Pedro Luís bota seu bloco na rua com
Reis e rainhas do maracatu (Nelson Ângelo, Novelli e Fran, 1977). Já Maíra Freitas mostra domínio de seu piano - de toque ora percussivo, ora camerístico - enquanto põe seu tempero vocal em
Cravo e canela (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1971) em registro azeitado. Com seu violão, Moska mostra como o formato pop de
Quem sabe isso quer dizer amor (Márcio Borges e Lô Borges, 2002) - canção gravada por Milton em seu último antológico álbum de estúdio,
Pietá (Warner Music, 2002) - é redondo. Já
Um girassol da cor de seu cabelo (Márcio Borges e Lô Borges, 1972) mantém inicialmente seu tom no registro feito por Silva com violão, mas fica esmaecida com a entrada desnecessária da percussão eletrônica na segunda parte. Já
Travessia - pedra inaugural e fundamental da parceria de Milton com Brant - é feita por Dani Black em
beat ligeiramente mais acelerado, em registro de falsete. Mas aí, por mais que o artista tenha méritos ao procurar outro tom para a canção, faz-se noite no viver de quem ouviu
Travessia com Milton Nascimento. O que não tira o valor deste (bom) tributo minimalista aos sons, às canções e às esquinas de Minas Gerais.
♪ Quatro dias após o lançamento do disco Mar azul - Sons de Minas Gerais vol. 1 nas plataformas digitais através do selo Slap, em 8 de junho de 2015, a inesperada saída de cena do compositor mineiro Fernando Brant (1946 - 2015) - o mais importante letrista do cancioneiro do Clube da Esquina - causou impacto na cena musical brasileira, influenciando inevitavelmente a audição deste projeto capitaneado por Fernando Neumayer e Luís Martino para a empresa TocaVídeos. Onze artistas da cena contemporânea dão vozes a músicas associadas aos compositores do clube mineiro em registros acústicos calcados em violão e/ou em piano, filmados - com fotografia de Thiago Britto - para clipes disponibilizados no canal da TocaVídeos no YouTube simultaneamente com a edição digital do disco. Brant é o autor de somente três das 11 músicas. Mas a poesia fraterna, forte e brava do mineiro banha Mar azul, amplificando a saudade deste gigante da MPB. Quando a cantora fluminense Júlia Vargas embarca com segurança em Canoa, canoa (Nelson Ângelo e Fernando Brant, 1977), Mar azul reitera a força de versos que expuseram a solidão e a coragem de homens brasileiros em era de trevas. Quando a cantora mineira Michele Leal desenha Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant, 1972), com fidelidade à arquitetura do registro original do álbum duplo de 1972 que oficializou a existência do Clube da Esquina, bate também a saudade já eterna deste mensageiro natural de coisas estranhamente naturais que aconteciam naqueles tempos de cores mórbidas e homens sórdidos. A presença de Brant paira ao longo do disco, mas Mar azul também está mergulhado nos versos de outros poetas. O fluminense Ronaldo Bastos tem os versos de Nada será como antes (1972) - uma de suas mais emblemáticas parcerias com o carioca de alma mineira Milton Nascimento, sócio majoritário do Clube - jogados com frescor nos céus das bocas dos integrantes do grupo vocal carioca Ordinarius, em arranjo de Augusto Ordine. Mesmo sem uma releitura antológica, Mar azul joga na beira da praia quem ainda está (quase) submerso em mercado fonográfico cruel e cada vez mais estruturado em nichos. Radicado no Rio de Janeiro (RJ), o cantor e compositor mineiro César Lacerda se revela bom intérprete ao dar voz ao único tema obscuro da seleção, Pedras rolando (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1979). Igualmente desenvolto, Pedro Luís bota seu bloco na rua com Reis e rainhas do maracatu (Nelson Ângelo, Novelli e Fran, 1977). Já Maíra Freitas mostra domínio de seu piano - de toque ora percussivo, ora camerístico - enquanto põe seu tempero vocal em Cravo e canela (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1971) em registro azeitado. Com seu violão, Moska mostra como o formato pop de Quem sabe isso quer dizer amor (Márcio Borges e Lô Borges, 2002) - canção gravada por Milton em seu último antológico álbum de estúdio, Pietá (Warner Music, 2002) - é redondo. Já Um girassol da cor de seu cabelo (Márcio Borges e Lô Borges, 1972) mantém inicialmente seu tom no registro feito por Silva com violão, mas fica esmaecida com a entrada desnecessária da percussão eletrônica na segunda parte. Já Travessia - pedra inaugural e fundamental da parceria de Milton com Brant - é feita por Dani Black em beat ligeiramente mais acelerado, em registro de falsete. Mas aí, por mais que o artista tenha méritos ao procurar outro tom para a canção, faz-se noite no viver de quem ouviu Travessia com Milton Nascimento. O que não tira o valor deste (bom) tributo minimalista aos sons, às canções e às esquinas de Minas Gerais.
ResponderExcluirSei que a música evolui e, às vezes, anda em ciclos. Mas ando de saco tão cheio desse pessoal minimalista ao extremo. Todo mundo canta baixinho, com uma guitarrinha, um violãozinho, mas sem ritmo, sem ginga... só monótono. Me lembro de ter ouvido uma expressão sobre o pessoal: a turma do baixo Augusta, ou do baixo Leblon ou só lá de baixo. Chatérrimo!
ResponderExcluirTalvez não chegue a ser antológica, mas acho que Julia Vargas arrasa em "Canoa, canoa". Parabéns pela cobertura diária da música brasileira!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu gostei do disco... Não chega a ser memorável, mas vale a pena de se ouvir... Acabaram de serem lançados para download no Scream & Yell os discos "Mil Tom", em homenagem a Milton.
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