Título: Inusitado - Anitta, Arlindo Cruz e Arnaldo Antunes
Artistas: Anitta, Arlindo Cruz e Arnaldo Antunes (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Teatro de Câmara - Fundação Cidade das Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de julho de 2015
Cotação: * * *
♪ Show com transmissão ao vivo agendada pelo Canal Bis para as 21h de 8 de julho de 2015
♪ Ela desatinou... Assim poderiam pensar a priori os detratores de Anitta ao saber que a musa do pop funk carioca decidiu cantar sozinha um samba trava-língua de Chico Buarque no show do projeto Inusitado que a juntou com Arlindo Cruz e Arnaldo Antunes no palco do Teatro de Câmara da Fundação Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de ontem, 7 de julho de 2015. Pois Anitta encarou Pelas tabelas - samba que Chico lançou em álbum de 1984 e que Roberta Sá reviveu há dez anos em seu primeiro álbum, Braseiro (MP,B Discos, 2005) - em clima de gafieira e se saiu bem. Jamais se atrapalhou com a letra e ainda caiu num suingue todo seu ao fim do número. Os números individuais de Anitta foram os toques realmente inusitados do show mais arriscado da terceira edição do projeto idealizado pelo executivo André Midani. Com voz juvenil, Anitta não é grande cantora. Falta-lhe ainda, sobretudo, expressividade em interpretações de músicas fora de seu universo musical. Mas o show deixou nítidos o empenho, a evolução e o esforço de Anitta para progredir. Justiça seja feita: ela jamais saiu do tom em seus números individuais. Cantou com correção Me deixa em paz (Monsueto Menezes e Aírton Amorim, 1952), samba escolhido com sagacidade porque, de certa forma, os versos têm o mesmo tom imperativo e a mesma atitude das composições de Anitta. Na sequência, reviveu a saga de Zé do Caroço (Leci Brandão, 1985) com afinação, mas também com a imaturidade de quem ainda precisa se esforçar mais na interpretação para passar todo o recado (político, no caso) de uma música. Faltou também um toque maior de sensualidade à abordagem de Smooth operator (Sade Adu e Ray St. John, 1984), um dos maiores sucessos da cantora nigeriana Sade. Mas - verdade seja dita - o cover foi correto. À vontade no dueto com Arnaldo Antunes na canção seresteira De mais ninguém (Arnaldo Antunes e Marisa Monte, 1994), Anitta puxou o trio no fim do show, ao interpretar a canção tribalista Velha infância (Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown, 2002), e ainda pôs o ex-titã no seu Ritmo perfeito (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares, 2014), música que deu título ao seu segundo álbum de estúdio. Mas aí quem cantou foi ela. Ele se limitou a fazer jogo de cena e a recitar trecho da letra de Abraça o meu abraço (Arnaldo Antunes e Aldo Brizzi, 2003). A propósito, Arnaldo é dono de um cancioneiro primoroso e tem boa presença de palco, mas seu canto está cada vez mais desleixado em cena. Tal descuido vocal ficou evidente na maior parte de suas intervenções no show. Que começou com interpretação tensa do samba Tô voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1979), abordado pelo trio com compreensível nervosismo. Até Arlindo Cruz - o samba em pessoa - somente se soltou no seu primeiro número solo, feito com seu banjo e com medley de partidos altos dos anos 1980 e 1990. O dueto de Arlindo com Arnaldo em Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973) soou apático. Arlindo e Arnaldo, aliás, jamais saíram da zona de conforto em seus sets, montados com hits habituais, em que pese o inédito Samba inusitado, marco inaugural da parceria dos dois, cuja letra metalinguística versa justamente sobre o encontro em cena de um nome do funk (Anitta) com um ícone do samba (Arlindo) e um representante do rock (Arnaldo, ainda que sua obra extrapole o escaninho roqueiro). Parceria inusitada à parte, os números de Anitta e com Anitta foram os únicos momentos que fizeram jus ao conceito do projeto. Reduzida a um grupo de tom roqueiro nos solos de Arnaldo, a big-band que dividiu o palco com o trio tinha formação de um conjunto de samba, ritmo predominante no roteiro encerrado com a reunião do trio e com a lembrança de Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci, 1978), hit de Beth Carvalho que tem o tom decidido dos pop funks de Anitta. O roteiro, alias, carece de ajustes. Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004), número solo de Arnaldo, está deslocado no fim do show, dissociado do set individual do ex-titã. Os artistas entram e saem a todo momento. Os duetos de Anitta com Arlindo - no samba O bem (Arlindo Cruz e Délcio Luiz, 2011) e no medley que agregou Música de amor (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares, 2014) com Trilha de amor (Xande de Pilares, André Renato e Gilson Bernini, 2008), sucesso do Grupo Revelação regravado por Arlindo com Caetano Veloso no CD e DVD Batuques do meu lugar ao vivo (Sony Music, 2012) - poderiam ter sido alocados em sequência para diminuir o entra-e-sai do trio, por exemplo. De todo modo, o saldo foi positivo. Goste-se ou não de Anitta,o fato é que a artista se mostrou empenhada, com coragem para sair de seu quintal.
10 comentários:
♪ Ela desatinou... Assim poderiam pensar a priori os detratores de Anitta ao saber que a musa do pop funk carioca decidiu cantar sozinha um samba trava-língua de Chico Buarque no show do projeto Inusitado que a juntou com Arlindo Cruz e Arnaldo Antunes no palco do Teatro de Câmara da Fundação Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de ontem, 7 de julho de 2015. Pois Anitta encarou Pelas tabelas - samba que Chico lançou em álbum de 1984 e que Roberta Sá reviveu há dez anos em seu primeiro álbum, Braseiro (MP,B Discos, 2005) - em clima de gafieira e se saiu bem. Jamais se atrapalhou com a letra e ainda caiu num suingue todo seu ao fim do número. Os números individuais de Anitta foram os toques realmente inusitados do show mais arriscado da terceira edição do projeto idealizado pelo executivo André Midani. Anitta não é uma grande cantora. Falta-lhe ainda, sobretudo, expressividade em interpretações de músicas fora de seu universo musical. Mas o show deixou nítidos o empenho, a evolução e o esforço de Anitta para progredir. Justiça seja feita: ela jamais saiu do tom em seus números individuais. Cantou com correção Me deixa em paz (Monsueto Menezes e Aírton Amorim, 1952), samba escolhido com sagacidade porque, de certa forma, os versos têm o mesmo tom imperativo e a mesma atitude das composições de Anitta. Na sequência, reviveu a saga de Zé do Caroço (Leci Brandão, 1985) com afinação, mas também com a imaturidade de quem ainda precisa se esforçar mais na interpretação para passar todo o recado (político, no caso) de uma música. Faltou também um toque maior de sensualidade à abordagem de Smooth operator (Sade Adu e Ray St. John, 1984), um dos maiores sucessos da cantora nigeriana Sade. Mas - verdade seja dita - o cover foi correto. À vontade no dueto com Arnaldo Antunes na canção seresteira De mais ninguém (Arnaldo Antunes e Marisa Monte, 1994), Anitta puxou o trio no fim do show, ao interpretar a canção tribalista Velha infância (Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown, 2002), e ainda pôs o ex-titã no seu Ritmo perfeito (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares, 2014), música que deu título ao seu segundo álbum de estúdio. Mas aí quem cantou foi ela. Ele se limitou a fazer jogo de cena e a recitar trecho da letra de Abraça o meu abraço (Arnaldo Antunes e Aldo Brizzi, 2003).
A propósito, Arnaldo é dono de um cancioneiro primoroso e tem boa presença de palco, mas seu canto está cada vez mais desleixado em cena. Tal descuido vocal ficou evidente na maior parte de suas intervenções no show. Que começou com interpretação tensa do samba Tô voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1979), abordado pelo trio com compreensível nervosismo. Até Arlindo Cruz - o samba em pessoa - somente se soltou no seu primeiro número solo, feito com seu banjo e com medley de partidos altos dos anos 1980 e 1990. O dueto de Arlindo com Arnaldo em Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973) soou apático. Arlindo e Arnaldo, aliás, jamais saíram da zona de conforto em seus sets, montados com hits habituais, em que pese o inédito Samba inusitado, marco inaugural da parceria dos dois, cuja letra metalinguística versa justamente sobre o encontro em cena de um nome do funk (Anitta) com um ícone do samba (Arlindo) e um representante do rock (Arnaldo, ainda que sua obra extrapole o escaninho roqueiro). Parceria inusitada à parte, os números de Anitta e com Anitta foram os únicos momentos que fizeram jus ao conceito do projeto. Reduzida a um grupo de tom roqueiro nos solos de Arnaldo, a big-band que dividiu o palco com o trio tinha formação de um conjunto de samba, ritmo predominante no roteiro encerrado com a reunião do trio e com a lembrança de Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci, 1978), hit de Beth Carvalho que tem o tom decidido dos pop funks de Anitta. O roteiro, alias, carece de ajustes. Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004), número solo de Arnaldo, está deslocado no fim do show, dissociado do set individual do ex-titã. Os artistas entram e saem a todo momento. Os duetos de Anitta com Arlindo - no samba O bem (Arlindo Cruz e Délcio Luiz, 2011) e no medley que agregou Música de amor (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares, 2014) com Trilha de amor (Xande de Pilares, André Renato e Gilson Bernini, 2008), sucesso do Grupo Revelação regravado por Arlindo com Caetano Veloso no CD e DVD Batuques do meu lugar ao vivo (Sony Music, 2012) - poderiam ter sido alocados em sequência para diminuir o entra-e-sai do trio, por exemplo. De todo modo, o saldo foi positivo. Goste-se ou não de Anitta,o fato é que a artista se mostrou empenhada, com coragem para sair de seu quintal.
O problema da Anitta é a voz de menininha que ela tem, assim como Sandy e Xuxa. Caso tivesse uma puta voz eu compraria suas músicas.
Imagina que tortura ver ela acabar com "Smooth Operator".
De boas intenções o inferno tá cheio.
Então,
um dia foi Kelly Key
depois foi a Perla
agora Anitta
Aguardemos cenas dos próximos "inusitados" capítulos
Ricardo Sérgio
Eu a vi cantando com Lenine Todas Elas Juntas Num Só Ser e ela se saiu muito bem, cantou com convicção e interpretou bem. É analisar de maneira isenta como você fez e não ficar preso a um preconceito por causa do repertório de carreira dela.
Disse tudo, Jamari. Não vi essa apresentação com Lenine, mas ouvi falar bem dela. O ofício de crítico musical não pode ser um jogo de cartas marcadas, em que uns são sempre elogiados e outros são sempre atacados. Grato pela participação. Abs, Mauro Ferreira
Acho que 95% de um cantor é repertório. A Anitta podia ser uma Ná Ozzetti que cantando as coisas que ela costuma cantar continuaria sendo ruim. ACristina Buarque não tem voz nenhuma, mas faz muito melhor que muita gente que tem. E, na boa, vcs acreditam mesmo que cantar afinado em um show muda o status dessa moça?
Jamari foi sensato no que diz.
Na maioria dos comentários percebo a ligação direta com o estilo que da garota.
Não sou fã dela, e nem curto suas músicas, o que não impede de fazer um bom trabalho fora da seu habitat.
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