Resenha de livro
Título: Geraldo Vandré - Uma canção interrompida
Autor: Vitor Nuzzi
Editora: Scortecci / Fábrica de livros
Cotação: * * * *
♪ Livro fabricado de forma artesanal, ainda à espera de edição comercial
♪ O jornalista Vitor Nuzzi soube fazer a hora. O livro que acaba de lançar, Geraldo Vandré - Uma canção interrompida, é um dos acontecimentos mais relevantes do mercado editorial na área musical porque repisa e investiga os (des)caminhos seguidos pelo cantor, compositor e músico paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, nascido em 1935, em João Pessoa (PB). A caminho dos 80 anos, a serem completados em 12 de setembro de 2015, Geraldo Vandré - como o Brasil o conheceu nos anos 1960 - é um dos enigmas mais indecifráveis da história da música brasileira. Contudo, Nuzzi - mesmo sem o apoio do biografado na redação do livro, fabricado de forma artesanal, com 100 exemplares de distribuição dirigida pelo autor - ajuda a decifrar os enigmas que cercam Vandré. O temperamento arisco, forte, enraizado em suas convicções nacionalistas, dificulta a apresentação de respostas claras e objetivas sobre os (des)caminhos seguidos por Vandré. Mas Nuzzi, com o faro dos bons repórteres, apura fatos que ajudam a entender o que aconteceu - e o que não aconteceu - com o artista. E, quando não consegue somente uma versão para os fatos, apresenta todas as possíveis versões, dando credibilidade à narrativa de seu fundamental livro. Pelos relatos alinhados por Nuzzi em seu livro, Vandré não foi torturado e tampouco enlouqueceu. Mas parece ter criado uma personagem na qual a loucura pode ser uma vestimenta ocasional e providencial se for do interesse do artista. É fato, entretanto, que a canção de Vandré foi mesmo interrompida. Por ironia, o último show do artista como músico profissional no Brasil foi realizado em ginásio de Anápolis (GO) no dia da promulgação do Ato Institucional nº 5, o terrível AI-5, em 13 de dezembro de 1968. Naquela altura, Vandré já era um dos alvos preferenciais do regime militar instaurado à força no Brasil em 1964 por conta de sua canção Pra não dizer que não falei de flores, mais conhecida como Caminhando. Lançada em 1968 no III Festival Internacional da Canção (FIC), a música de meros dois acordes, mas de versos poderosos, tinha despertado a ira de parte dos militares. Alvo de inflamada disputa com Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) naquele histórico festival de 1968, em trama detalhada por Nuzzi em todos seus meandros, Pra não dizer que não falei de flores pôs Vandré na mira dos homens. A saída foi o exílio para países como Chile e França, no qual gravou em 1970 seu último álbum, Das terras de benvirá, editado no Brasil em 1973 pela gravadora Phonogram, companhia ligada à Philips. Parceiro de Theo de Barros em Disparada (1966), música que levou a música ruralista adiante em passo descontinuado por outras vozes do universo sertanejo, Vandré de fato correu o risco de ser preso ou mesmo morto. Em um dos capítulos mais interessantes do livro, Uma ajuda inesperada, Nuzzi relata como a inusitada intervenção de um general, Estevão Taurino de Rezende Netto (1900 - 1982), livrou Vandré da prisão (e de uma possível tortura) pelo fato de o militar ter ido resgatá-lo pessoalmente no aeroporto, em 1973, quando o artista voltou do exílio. Por iniciativa de uma amiga em comum, o general acompanhou Vandré no primeiro depoimento oficial do artista aos inquisidores do regime militar, impedindo sua prisão. Mas o fato é que Vandré - que jamais aceitou ser anistiado por entender que jamais cometera crime algum contra o Brasil - continuou na mira dos homens. Na sequência, sua participação em programa do apresentador de TV Flávio Cavalcanti (1923 - 1986) acabou vetada pela censura da época. E Vandré, desde então, se tornou uma pessoa arredia, que, nas raras entrevistas que concedeu, mais confundiu do que explicou. O livro de Nuzzi mostra que, na medida do possível, Vandré é um sujeito normal, radicado na cidade de São Paulo (SP). Sua canção permanece interrompida, mas o compositor (sobre)vive, em paz com sua consciência, e de acordo com seus (rígidos) princípios musicais e civis.
♪ O jornalista Vitor Nuzzi soube fazer a hora. O livro que acaba de lançar, Geraldo Vandré - Uma canção interrompida, é um dos acontecimentos mais relevantes do mercado editorial na área musical porque repisa e investiga os (des)caminhos seguidos pelo cantor, compositor e músico paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, nascido em 1935, em João Pessoa (PB). A caminho dos 80 anos, a serem completados em 12 de setembro de 2015, Geraldo Vandré - como o Brasil o conheceu nos anos 1960 - é um dos enigmas mais indecifráveis da história da música brasileira. Contudo, Nuzzi - mesmo sem o apoio do biografado na redação do livro, fabricado de forma artesanal, com 100 exemplares de distribuição dirigida pelo autor - ajuda a decifrar os enigmas que cercam Vandré. O temperamento arisco, forte, enraizado em suas convicções nacionalistas, dificulta a apresentação de respostas claras e objetivas sobre os (des)caminhos seguidos por Vandré. Mas Nuzzi, com o faro dos bons repórteres, apura fatos que ajudam a entender o que aconteceu - e o que não aconteceu - com o artista. E, quando não consegue somente uma versão para os fatos, apresenta todas as possíveis versões, dando credibilidade à narrativa de seu fundamental livro. Pelos relatos alinhados por Nuzzi em seu livro, Vandré não foi torturado e tampouco enlouqueceu. Mas parece ter criado uma personagem na qual a loucura pode ser uma vestimenta ocasional e providencial se for do interesse do artista. É fato, entretanto, que a canção de Vandré foi mesmo interrompida. Por ironia, o último show do artista como músico profissional no Brasil foi realizado em ginásio de Anápolis (GO) no dia da promulgação do Ato Institucional nº 5, o terrível AI-5, em 13 de dezembro de 1968. Naquela altura, Vandré já era um dos alvos preferenciais do regime militar instaurado à força no Brasil em 1964 por conta de sua canção Pra não dizer que não falei de flores, mais conhecida como Caminhando. Lançada em 1968 no III Festival Internacional da Canção (FIC), a música de meros dois acordes, mas de versos poderosos, tinha despertado a ira de parte dos militares. Alvo de inflamada disputa com Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) naquele histórico festival de 1968, em trama detalhada por Nuzzi em todos seus meandros, Pra não dizer que não falei de flores pôs Vandré na mira dos homens. A saída foi o exílio para países como Chile e França, no qual gravou em 1970 seu último álbum, Das terras de benvirá, editado no Brasil em 1973 pela gravadora Phonogram, companhia ligada à Philips. Parceiro de Theo de Barros em Disparada (1966), música que levou a música ruralista adiante em passo descontinuado por outras vozes do universo sertanejo, Vandré de fato correu o risco de ser preso ou mesmo morto. Em um dos capítulos mais interessantes do livro, Uma ajuda inesperada, Nuzzi relata como a inusitada intervenção de um general, Estevão Taurino de Rezende Netto (1900 - 1982), livrou Vandré da prisão (e de uma possível tortura) pelo fato de o militar ter ido resgatá-lo pessoalmente no aeroporto, em 1973, quando o artista voltou do exílio. Por iniciativa de uma amiga em comum, o general acompanhou Vandré no primeiro depoimento oficial do artista aos inquisidores do regime militar, impedindo sua prisão. Mas o fato é que Vandré - que jamais aceitou ser anistiado por entender que jamais cometera crime algum contra o Brasil - continuou na mira dos homens. Na sequência, sua participação em programa do apresentador de TV Flávio Cavalcanti (1923 - 1986) acabou vetada pela censura da época. E Vandré, desde então, se tornou uma pessoa arredia, que, nas raras entrevistas que concedeu, mais confundiu do que explicou. O livro de Nuzzi mostra que, na medida do possível, Vandré é um sujeito normal, radicado na cidade de São Paulo (SP). Sua canção permanece interrompida, mas o compositor (sobre)vive, em paz com sua consciência, e de acordo com seus (rígidos) princípios musicais e civis.
ResponderExcluirAhhhhhhhh....Um Box "EM CD" com toda a obra REMASTERIZADA do Vandré, que sonho! Será um sonho delirante ?? ou um dia chegamos lá ?
ResponderExcluirVandré foi vítima de sua própria rigidez musical.Se tivesse aberto sua musicalidade a novas influências como fez Gilberto Gil,talvez tivesse continuado sua carreira com sucesso.
ResponderExcluirUma pena o Vandré não estar mais na mídia, por decisão própria. O cara é um gênio, criou letras memoráveis...
ResponderExcluirOnde se acha pra vender esse livro ??????
ResponderExcluirUly, por ora em lugar nenhum, pois o livro ainda não ganhou edição comercial, como está explicado no texto da resenha. Abs, MauroF
ResponderExcluirEste é um dos livros necessários para a compreensão da história recente do país.O que está em jogo não é apenas a figura de Vandré e tampouco sua importância para a MPB,mas um pedaço do período de trevas que precisa ser desvendado.Uma pena as editoras não se interessarem por uma obra tão importante .Assisti a uma entrevista com o autor no Programa Metropolis e fiquei com água na boca,porém rápido veio a decepção,quando foi dito,que o livro não seria comercializado.É uma pena.
ResponderExcluirComo assim não está em edição comercial ainda? A história do Brasil (não só da música brasileira) precisa desse livro...
ResponderExcluirAbração,
Denilson
Uma pena o livro ainda não ter ganhado edição comercial. Editoras, acordem!!!
ResponderExcluirSe vocês esperam comprar o livro e se comover com alguma declaração do Vandré à respeito de uma possível perseguição do governo, musica de protesto. ESQUEÇAM! O próprio Vandré nega que foi perseguido pelo governo militar, diz que nunca vez musica de protesto. A ultima entrevista dele foi tão frustante que nem vinculada na TV aberta foi. O Caetano veloso mesmo disse que ouviu isso dos militares: Se a gente pegar o Vandré, ele morre! Ai vem o próprio dizer que nunca foi perseguido e muito mesmo fez música de protesto.
ResponderExcluiré um absurdo um livro dessa natureza sair com 100 exemplares que não nem vendidos
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