Título: Jards Macalé ao vivo
Artista: Jards Macalé
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2
♪ É justo que os nomes de Luiz Melodia, Thaís Gulin e Zeca Baleiro apareçam em relevo nas capas do CD e do DVD Jards Macalé ao vivo, lançados neste mês de julho de 2015 com distribuição da gravadora Som Livre. Nobre e benevolente, o cantor e compositor carioca abre generosos espaços para seus convidados neste seu primeiro registro audiovisual de show. Sim, embora o formato audiovisual venha imperando no mercado fonográfico brasileiro nos últimos 15 anos, Macalé nunca tinha lançado até então um DVD com a gravação de show - no caso, feita em 30 de abril de 2014 em apresentação do artista no imponente Theatro São Pedro, em Porto Alegre (RS). Já tinha DVD com documentário sobre Macalé e com making of de disco do artista. Mas Jards Macalé ao vivo oferece, pela primeira vez, a oportunidade de ver um show de Macalé em casa - o que por si só já agrega importância ao produto fonográfico. Por isso mesmo, o excesso de generosidade do anfitrião com seus convidados acaba sendo um fator negativo. Afinal, entre os 18 números do DVD, há solos vocais protagonizados pelos convidados. Que o cantor e compositor carioca Luiz Melodia sole Farrapo humano - música de seu autoria lançada por Macalé em 1972 - ainda vá lá. Mas qual o sentido do solo vocal de Melodia em Decisão (Luiz Melodia e Sergio Mello, 1987), música nunca associada à obra de Macalé? Seja como for, o número de maior interação entre Macalé e Melodia - cantores e compositores irmanados nos anos 1970 pela maldição que lhes foi jogada pela indústria do disco - é Negra melodia (Jards Macalé e Waly Salomão, 1977), um dos primeiros reggaes compostos no Brasil. Cantora curitibana que esboçou seguir trilha marginal em seu primeiro álbum, Thaís Gulin sola com propriedade duas músicas do repertório de Macalé, Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda, 1970) e o xote roqueiro Revendo amigos (Jards Macalé e Waly Salomão, 1977). Já Zeca Baleiro sola a balada bluesy Mal secreto (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971), canta seu hit inicial À flor da pele (Zeca Baleiro, 1997) - emendado com Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971), música que Baleiro já citava em sua composição, na voz de Macalé - e cai com o anfitrião no samba (de breque) Na subida do morro (Geraldo Pereira, Moreira da Silva e Ribeiro Cunha, 1952), lançado pelo cantor carioca Moreira da Silva (1902 - 2000) e revivido por Macalé há 14 anos, em dueto com o próprio Baleiro, no álbum Macalé canta Moreira (Lua Music, 2001), dedicado ao repertório de Kid Morengueira. Em que pese a relevância dos convidados, o grande mérito do DVD - que exibe imagens captadas sob a direção da cineasta Rejane Zilles - é apresentar Macalé em ação. Na companhia da banda Let's Play That, batizada com o nome da música de 1972 que abre o roteiro, Macalé rebobina no toque de seu violão músicas como Farinha do desprezo (Jards Macalé e José Carlos Capinam, 1972). Com sua voz rouca, embebida em doses bem combinadas de melancolia e (fina) ironia, Macalé alcança grande momento como intérprete com a introspecção cool que pauta Dona do castelo (Jards Macalé e Waly Salomão, 1974), balada repleta de morbeza romântica conduzida pelo piano de Ricardo Rito e pontuada por intervenções do trompete de Leandro Joaquim. No fim, a leitura literal de Canalha (Walter Franco, 1980) - com Macalé de pé, lendo a letra da música do maldito Walter Franco regravada recentemente pelo grupo paulista Titãs no álbum Nheengatu (Som Livre, 2014) - injeta certa imprevisibilidade em show marcado por alguma linearidade, embora a pegada da banda Let's Play That nunca deixe o som desandar. No fim, os convidados amigos voltam para curtir e cantam o samba Coração do Brasil (Jards Macalé, 1998), resumido no DVD a um verso-refrão repetido exaustivamente. Mesmo quando não há muito o que dizer, Macalé dá o recado. E, para bom entendedor, basta um verso...
6 comentários:
♪ É justo que os nomes de Luiz Melodia, Thaís Gulin e Zeca Baleiro apareçam em relevo nas capas do CD e do DVD Jards Macalé ao vivo, lançados neste mês de julho de 2015 com distribuição da gravadora Som Livre. Nobre e benevolente, o cantor e compositor carioca abre generosos espaços para seus convidados neste seu primeiro registro audiovisual de show. Sim, embora o formato audiovisual venha imperando no mercado fonográfico brasileiro nos últimos 15 anos, Macalé nunca tinha lançado até então um DVD com a gravação de show - no caso, feita em 30 de abril de 2014 em apresentação do artista no imponente Theatro São Pedro, em Porto Alegre (RS). Já tinha DVD com documentário sobre Macalé e com making of de disco do artista. Mas Jards Macalé ao vivo oferece, pela primeira vez, a oportunidade de ver um show de Macalé em casa - o que por si só já agrega importância ao produto fonográfico. Por isso mesmo, o excesso de generosidade do anfitrião com seus convidados acaba sendo um fator negativo. Afinal, entre os 18 números do DVD, há solos vocais protagonizados pelos convidados. Que o cantor e compositor carioca Luiz Melodia sole Farrapo humano - música de seu autoria lançada por Macalé em 1972 - ainda vá lá. Mas qual o sentido do solo vocal de Melodia em Decisão (Luiz Melodia e Sergio Mello, 1987), música nunca associada à obra de Macalé? Seja como for, o número de maior interação entre Macalé e Melodia - cantores e compositores irmanados nos anos 1970 pela maldição que lhes foi jogada pela indústria do disco - é Negra melodia (Jards Macalé e Luiz Melodia, 1977), um dos primeiros reggaes compostos no Brasil. Cantora curitibana que esboçou seguir trilha marginal em seu primeiro álbum, Thaís Gulin sola com propriedade duas músicas do repertório de Macalé, Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda, 1970) e o xote roqueiro Revendo amigos (Jards Macalé e Waly Salomão, 1977). Já Zeca Baleiro sola a balada bluesy Mal secreto (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971), canta seu hit inicial À flor da pele (Zeca Baleiro, 1997) - emendado com Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971), música que Baleiro já citava em sua composição, na voz de Macalé - e cai com o anfitrião no samba (de breque) Na subida do morro (Geraldo Pereira, Moreira da Silva e Ribeiro Cunha, 1952), lançado pelo cantor carioca Moreira da Silva (1902 - 2000) e revivido por Macalé há 14 anos, em dueto com o próprio Baleiro, no álbum Macalé canta Moreira (Lua Music, 2001), dedicado ao repertório de Kid Morengueira. Em que pese a relevância dos convidados, o grande mérito do DVD - que exibe imagens captadas sob a direção da cineasta Rejane Zilles - é apresentar Macalé em ação. Na companhia da banda Let's Play That, batizada com o nome da música de 1972 que abre o roteiro, Macalé rebobina no toque de seu violão músicas como Farinha do desprezo (Jards Macalé e José Carlos Capinam, 1972). Com sua voz rouca, embebida em doses bem combinadas de melancolia e (fina) ironia, Macalé alcança grande momento como intérprete com a introspecção cool que pauta Dona do castelo (Jards Macalé e Waly Salomão, 1974), balada repleta de morbeza romântica conduzida pelo piano de Ricardo Rito e pontuada por intervenções do trompete de Leandro Joaquim. No fim, a leitura literal de Canalha (Walter Franco, 1980) - com Macalé de pé, lendo a letra da música do maldito Walter Franco regravada recentemente pelo grupo paulista Titãs no álbum Nheengatu (Som Livre, 2014) - injeta certa imprevisibilidade em show marcado por alguma linearidade, embora a pegada da banda Let's Play That nunca deixe o som desandar. No fim, os convidados amigos voltam para curtir e cantam o samba Coração do Brasil (Jards Macalé, 1998), resumido no DVD a um verso-refrão repetido exaustivamente. Mesmo quando não há muito o que dizer, Macalé dá o recado. E, para bom entendedor, basta um verso...
Mauro gastou seu latim e não falou de Ghotan city, número pra mim fundamental nessse dvd
Super importante esse DVD do Jards Macalé. Enfim um registro audiovisual a altura desse gênio da MPB.
Mauro, salve! Só uma correção: “Negra Melodia” (do disco Contrastes, 1977) foi co-escrita com Waly Salomão (quando ainda assinava Waly Sailormoon). Em 1982, Itamar Assumpção regrava no seu 2º álbum, “Às próprias custas”. Uma joia!
O DVD deve estar muito bom. Abc, V.
oi, Valnei, claro, tem toda razão. Já consertei o texto. Grato pelo toque. Abs, MauroF
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