segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Disco com trilha nacional de 'A regra do jogo' tem Anas, Banda do Mar e Fafá

No ar pela TV Globo a partir das 21h de hoje, 31 de agosto de 2015, a novela A regra do jogo tem sua trilha sonora nacional editada em CD programado para chegar às lojas já na primeira quinzena de setembro, em edição da gravadora Som Livre. As cantoras Alcione, Ana Cañas, Ana Carolina e Fafá de Belém estão presentes na seleção musical. Alcione dá voz ao tema de abertura da novela, o samba Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973). Ana Cañas figura com Tô na vida (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes), música que batiza seu quinto álbum, lançado neste mês de agosto de 2015. Ana Carolina - uma das recordistas de gravações incluídas em trilhas de novelas da TV Globo - comparece com seu recente registro de Coração selvagem (Belchior, 1977). Por sua vez, Fafá de Belém vai ser ouvida com Nuvem de lágrimas (Paulo Debétio e Paulinho Resende, 1989), rasqueado lançado pela cantora paraense há 26 anos em gravação dividida com a dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó. Com 17 faixas, o CD A regra do jogo alinha também fonogramas da Banda do Mar (Dia clarear - Marcelo Camelo, 2014), Dream Team do Passinho (De ladin - Rafael Mike, Rene, Breder e Lellêzinha, 2015), Gang do Eletro (Só no charminho - Maderito e Waldo Squash, 2013), Mosquito (Papel de bobão - Mosquito, 2015) e Paulinho da Viola (Para um amor no Recife - Paulinho da Viola, 1971), entre outros nomes da (diversificada) música brasileira.

Arnaldo lança 'Já é', álbum produzido por Kassin, com participação de Marisa

Décimo sétimo título da farta discografia de Arnaldo Antunes pós-Titãs, o álbum Já é chega ao mercado fonográfico brasileiro em setembro de 2015, com distribuição da gravadora Sony Music. Produzido por Kassin, o disco autoral alinha 15 músicas inéditas e tem a participação de Marisa Monte - parceira de Arnaldo - na faixa Peraí, repara. Algumas músicas foram feitas pelo cantor e compositor paulistano em recente viagem à Índia. Carlinhos Brown, Cezar Mendes, Dadi Carvalho, Davi Moraes Domenico Lancellotti, Jaques Morelenbaum, Pedro Sá, Marcelo Jeneci, Stephane San Juan e Zé Miguel Wisnik são músicos que figuram na ficha técnica do disco. Antes, Aqui onde está, As estrelas sabem, As estrelas cadentes, Azul e prateado, Dança, Na fissura, Naturalmente, naturalmente, Óbitos, O meteorologista, Põe fé que já é, Saudade farta, Se você nadar e Só solidão são as músicas que compõem o repertório inédito do disco Já é com a citada Peraí, repara. A capa (foto) tem direção de arte e fotografia de Marcia Xavier. O design gráfico é de Anna Turra. Eis, na ordem do CD, as 15 músicas (e os respectivos compositores) gravadas por Arnaldo em Já é:

1. Põe fé que já é (Arnaldo Antunes, André Lima e Betão Aguiar)
2. Antes (Arnaldo Antunes)
3. Naturalmente, naturalmente (Arnaldo Antunes, Dadi Carvalho e Marisa Monte)
4. Se você nadar (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier)
5. Peraí, repara (Arnaldo Antunes, Dadi Carvalho e Marisa Monte) - com Marisa Monte
6. Óbitos (Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes)
7. O meteorologista (Arnaldo Antunes)
8. Dança (Arnaldo Antunes e Marisa Monte)
9. Saudade farta (Arnaldo Antunes)
10. As estrelas sabem (Arnaldo Antunes e Zé Miguel Wisnik)
11. As estrelas cadentes (com Ortinho)
12. Na fissura (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar e Chico Salem)
13. Azul e prateado (Arnaldo Antunes)
14. Só solidão (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier)
15. Aqui onde está (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier)

'Dio & Baco' agrega as entidades musicais de Eugenio Dale e Suely Mesquita

Lançado de forma independente neste mês de agosto de 2015, o álbum Dio & Baco amalgama as personalidades musicais dos cantores e compositores cariocas Eugenio Dale e Suely Mesquita - como já indica a engenhosa capa criada por Francine Talina a partir de fotos de Daryan Dornelles. A festiva entidade Dionísio - Deus grego identificado como Baco na mitologia romana - pauta o disco produzido e arranjado por Dale, tendo inspirado as duas músicas mais antigas do repertório. Pactocombaco, de Dale, foi lançada na voz da cantora Paula Lima em disco de 2003. Já Zona e progresso - parceria de Suely com Arícia Mess e Pedro Luís - foi feita nos anos 1990 para Arícia cantar em shows, mas acabou lançada em disco por Pedro Luís e a Parede, dando nome ao álbum lançado pelo percussivo coletivo carioca em 2001. Em que pesem eventuais composições assinadas solitariamente por um ou outro integrante do duo, como o belo fado Bora (Eugenio Dale), solado por Dale, Dio & Baco apresenta músicas compostas pelos dois artistas em parceria que já ultrapassa uma década. Entre elas, há os sambas Fulana e Saudade, saudade (este caracterizado pela dupla como um "rock fingindo que é samba"). Quase todas as parcerias são inéditas em disco, mas há exceções. A canção De repente te amo foi lançada em 2004 em álbum da cantora Grace Venturini. Já A vela e a chama ganhou registro fonográfico da cantora Marianna Machado no disco Coisas bonitas (Independente, 2013). Em contrapartida, Até que chova dinheiro - música eleita o single do álbum, com direito a clipe dirigido por Rodrigo Sellos - e Cortina de fumaça são títulos da parceria dionisíaca de Dale e Mesquita que ganham seus primeiros registros oficiais em Dio & Baco.

Da modinha ao rock, (quase) tudo vibra no sentido dado por Cida a 'Soledade'

Resenha de CD
Título: Soledade
Artista: Cida Moreira
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * * 1/2

Décimo álbum da digna discografia de Cida Moreira, Soledade é disco aguardado com grande expectativa pelo seleto público da cantora paulistana, dama dos cabarés mais marginais. Afinal, trata-se do primeiro álbum da intérprete desde A dama indigna (Joia Moderna, 2011), trabalho que revitalizou a carreira (e a agenda) da artista. Batizado com o nome de cidade encravada no sertão da Paraíba, Soledade transita por trilhas de um Brasil ilógico em rota que vai da modinha ao rock. "Havia manhãs e havia quintais naquele tempo", lembra Cida na abertura do disco, antes de começar a destilar a melancolia poética embutida em Viola quebrada (Maroca), tema de 1928 da lavra musical do poeta paulistano Mário de Andrade (1893 - 1945). Cida canta a modinha sertaneja com o toque virtuoso da viola de Paulo Freire. Sem a preocupação de ser moderna, a cantora se eterniza ao dar voz grave - já com menor extensão na escala musical, mas com alcance cada vez maior do sentido dos versos que interpreta - a canções que parece recolher no ar. Como Moreninha, tema de domínio público ambientado em clima de seresta ruralista no arranjo do violonista Omar Campos, diretor musical - em função dividida com a própria Cida - deste álbum concebido pela cantora com o jornalista Eduardo Magossi. Soledade tem tom predominantemente caipira nesse trilho inicial em que Cida também pega no ar de um Brasil de tempos idos uma esquecida canção assinada por Nana Caymmi com Gilberto Gil, Bom dia, de 1967. Com os toques da viola de Omar Campos e do acordeom de Mestrinho, Cida louva em tom interiorano o alvorecer e o trabalho. Mas sombras também podem encobrir o raiar do sol e a existência humana, como lembra Um gosto de sol (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972), música na qual a cantora embute trecho de outra parceria de Milton com Bastos, Trastevere (1975). A interpretação maturada de Um gosto de sol - com a exposição de todas as intenções dos versos de Bastos - exemplifica a grandeza do canto atual de Cida. "Que importa o sentido, se tudo vibra?", questiona a intérprete no poema-vinheta de Alice Ruiz inserido no disco após Forasteiro (Thiago Pethit e Hélio Flanders, 2010), a angustiada balada folk contemporânea do repertório do cantautor Thiago Pethit que ganha maior dimensão no tom preciso do canto de Cida, em arranjo no qual sobressai a guitarra de Faiska Borges. Detalhe: na gravação ao vivo de Forasteiro, lançada em clipe, ouve-se somente a voz e o piano de Cida, o que realça a precisão da interpretação da artista. Pois, quase sempre, basta um piano para essa saloon singer nativa mostrar todo o poder de sedução de seu canto lapidado nos palcos e salões. É somente com um piano - o de Lincoln Antonio - que Cida desfolha o Poema da rosa (Jards Macalé e Augusto Boal, 1970, a partir de poema de Bertolt Brecht), instante menos vibrante de Soledade porque os versos acalentadores do poema soam mais fortes do que a música que lhe foi posta. Em clima de cabaré, Oitava cor (Luis Felipe Gama e Tiago Torres da Silva) também brilha com menor intensidade no arco-íris de Soledade pelo mesmo motivo. Introduzida pela voz grave do cantor paraense Arthur Nogueira, a vinheta Preciso cantar (2013) reproduz trecho de tema composto por Nogueira com o poeta Dand M (não creditado no encarte, na primeira tiragem do disco), abrindo caminho para a trilha mais contemporânea e roqueira seguida por Soledade em sua rota final. Música levada pelo piano autossuficiente de Cida, Feito um picolé ao sol (Nico Nicolaiewski, 1985) reconduz a dama do cabaré e o disco à sua melhor forma, reconectando Cida ao viés marginal que pauta seu canto desde os anos 1970. No mesmo clima de cabaré, a dama afia os agudos da voz para retratar a cortante Outra cena (1976) exposta por Taiguara (1945 - 1996) há quase 40 anos para denunciar o lado podre do sertão e do Brasil. Na sequência, Soledade atinge ponto alto de vibração com o arranjo demolidor de Construção (Chico Buarque, 1971) criado por Arthur de Faria com cordas que evocam o passo passional do tango. Com pausas estratégicas, o canto de Cida evidencia a tensão que pauta os últimos momentos da personagem épica da canção de Chico. No mesmo patamar alto, A última voz do Brasil (Tico Terpins, Zé Rodrix, Armando Ferrante Jr. e Próspero Albanese, 1985) - música do grupo paulista Joelho de Porco - ecoa o barulho do rock para destilar finas ironias sobre o país da barriga vazia e dos Carnavais dos hospitais. Com coro e guitarras (de Faiska Borges e Omar Campos), A última voz do Brasil repõe em cena a atriz, a dama indigna, com direito à breve citação do Hino Nacional Brasileiro (Francisco Manoel da Silva e Osório Duque Estrada, 1822) ao fim do arranjo. O Brasil está na U.T.I., mas o pulso ainda pulsa, como lembra Cida na arrasadora releitura de O pulso (Arnaldo Antunes, Marcelo Frommer e Tony Bellotto, 1989). Com sagaz citação de A queda (André Frateschi, 2014), o rock do grupo Titãs tem seus versos recitados por Cida em arranjo nervoso e ruidoso, formatado com a eletrônica dos teclados de Ricardo Severo. Mas a marcha As pastorinhas (Noel Rosa e João de Barro, 1934) - alocada como vinheta no fecho de Soledade - sinaliza que, mesmo com as misérias humanas e sociais, o Brasil ainda é capaz de fazer o seu Carnaval. Enfim, (quase) tudo vibra no sentido dado por Cida Moreira a Soledade, grande disco dessa dama capaz de pegar canções pelo ar para dar nova dimensão a elas com seu canto maturado, orgulhosamente marginal.

domingo, 30 de agosto de 2015

Manuela Rodrigues recria rock de Gil e canta com Machete no terceiro álbum

 Depois de retiro necessário para parir, amamentar e acalentar seu primeiro filho, a cantora e compositora baiana Manuela Rodrigues volta à cena e se prepara para lançar, em novembro de 2015, seu terceiro álbum, Se a canção mudasse tudo, sucessor de Uma outra qualquer por aí (Garimpo Música, 2011), um dos melhores discos brasileiros de 2011. Gravado com patrocínio obtido no projeto Natura musical, o disco Se a canção mudasse tudo tem repertório basicamente autoral, como a artista já havia sinalizado há dois anos ao lançar no iTunes, em agosto de 2013, Ôxe, ôxe, ôxe! (Manuela Rodrigues e Álvaro Lemos), a primeira música do disco formatado por um time de produtores que inclui André T, Gustavo Di Dalva, Luciano Salvador Bahia, João Milet Meirelles (autor da foto que ilustra este post) e Tadeu Mascarenhas. A cantora carioca Silvia Machete figura numa das onze músicas da lavra de Manuela, Amor de carne e de osso. Também convidado do disco, João Cavalcanti dá voz à parceria sua com a artista, Nenhum homem é uma ilha. Embora o repertório seja essencialmente autoral, a cantora regrava Extra II (O rock do segurança) - música de seu conterrâneo Gilberto Gil, lançada pelo cantor e compositor baiano no álbum Raça humana (Warner Music, 1984) - e apresenta parceria inédita dos compositores paulistanos Clima e Romulo Fróes, Vai que eu desembeste. Já Risos é de autoria de Ronei Jorge, mentor da banda baiana Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta. Manuela Rodrigues assina a direção artística do disco, mixado por André T no estúdio T, em Salvador (BA), e masterizado por Carlos Freitas no estúdio Magic Master, em São Paulo (SP). Eis, na ordem do CD independente, as 14 músicas e respectivos compositores, produtores e convidados do álbum Se a canção mudasse tudo:

1. Lista (Manuela Rodrigues) - Produção de Tadeu Mascarenhas
2. Bagagem (Manuela Rodrigues) - Produção de Gustavo di Dalva
3. Amor de carne e de osso (Manuela Rodrigues) - Produção de Gustavo Di Dalva

    - com Silvia Machete
4. Rede social (Manuela Rodrigues) - Produção de Luciano Salvador Bahia
5. Desejo batuque (Manuela Rodrigues e Lara Belov) - Produção de André T
6. Qualquer porto (Manuela Rodrigues) - Produção de Tadeu Mascarenhas
    - com Nicolas Krassik
7. Ventre (Manuela Rodrigues) - Produção de Tadeu Mascarenhas e João Milet Meirelles
8. Vai que eu desembeste (Romulo Fróes e Clima) - Produção de João Milet Meirelles
9. Extra II (O rock do segurança) (Gilberto Gil, 1984) - Produção de Tadeu Mascarenhas
10. Marcha do renascimento (Manuela Rodrigues) Produção de André T
11. Risos (Ronei Jorge) - Produção de André T
12. Ôxe, ôxe, ôxe! (Manuela Rodrigues e Álvaro Lemos) - Produção de Manuela Rodrigues e 
      Tadeu Mascarenhas
13. Nenhum homem é uma ilha (Manuela Rodrigues e João Cavalcanti) - Produção de Gustavo
      Di Dalva -com João Cavalcanti
14. Lista 2 (Manuela Rodrigues) - Produção de João Milet Meirelles

Disco quente, com pegada e baladas, 'LOV' soa à altura da voz de Toni Platão

Resenha de álbum digital
Título: LOV
Artista: Toni Platão
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * * *
♪ Disco disponível por ora somente em edição digital

Dono de uma das vozes mais potentes da geração roqueira projetada no universo pop brasileiro dos anos 1980, Toni Platão - nome artístico de Antônio Rogério Coimbra, cantor e compositor carioca revelado naquela década como vocalista da banda carioca Hojerizah - merecia ter tido uma carreira solo de maior reconhecimento popular e artístico. Em carreira solo desde 1994, Platão seguiu receitas estragadas de gravadoras, lançou discos esporádicos e, quando ameaçou fazer real sucesso com o CD Negro amor (Som Livre, 2006), descumpriu a promessa, embora esse belo álbum tenha gerado DVD requintado, Pros que estão em casa (EMI Music, 2008), filmado em estúdio (em preto e branco) e batizado com o nome da música mais conhecida do grupo Hojerizah. Decorridos sete anos, Platão reaparece de surpresa no mercado fonográfico neste mês de agosto de 2015 com LOV, álbum produzido por Berna Ceppas que conecta Platão a alguns dos melhores músicos da cena musical carioca, como o baixista carioca Dadi Carvalho, o guitarrista Pedro Sá e os bateristas Marcelo Callado e Stephan San Juan (na percussão), entre outros virtuoses. A surpresa é grande porque LOV - álbum batizado com sigla da expressão em latim Labor omnia vincit (O trabalho tudo vence) - se impõe como o melhor e o mais coeso título da espaçada discografia de Platão. LOV é um disco quente, de pegada que não se dilui ao longo de suas breve nove músicas. A produção musical de Berna Ceppas valoriza as canções - de linguagem simples e direta, como enfatiza Platão - com arranjos cheios de vigor e energia concentrada. Com metais em brasa, orquestrados por Felipe Pinaud, a inédita Dias estranhos (Toni Platão) já dá a pista certa da temperatura aquecida do disco exemplarmente mixado no estúdio Monoaural, no Rio de Janeiro (RJ), por Daniel Carvalho (a masterização de Ricardo Garcia também contribuiu para manter o brilho do som). Na sequência, a também inédita Magia negra (Donni Araújo) mantém LOV no mesmo ponto de fervura com predomínio de sons orgânicos, ainda que a faixa embuta beats programados por Ceppas. LOV é um disco de pegada e de baladas. Duas delas, também inéditas, merecem menções honrosas. Gravada com adesões da bateria de João Barone e do acordeom de Rodrigo Ramalho, Deve ser isso que se chama amor é uma das canções mais inspiradas da lavra de Alvin L - um hit em potencial se entrar em rotação na trilha sonora de uma novela. Com o mesmo poder de sedução, Já é tarde (2014) é power balada de autoria do compositor Márvio dos Anjos, integrante da banda indie carioca Cabaret. Parceria inédita de Cabelo com Platão, Você não sabe o que te espera dialoga com a linguagem popular do cancioneiro de artistas como o cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013) com o requinte caloroso do disco. Os metais do arranjo evocam o universo mariachi da música mexicana. Em sintonia com esse universo da canção popular, Platão tira do baú uma joia rara do repertório do cantor capixaba Paulo Sérgio (1944 - 1980), Agora quem parte sou eu, composição do paulistano Demétrius, lançada por Paulo Sérgio em álbum de 1972 e revivida por Platão com arranjo moderno - no qual sobressai o órgão de Roberto Pollo - que jamais desfigura a arquitetura da canção. Na sequência, com mais reverência, Platão dá voz a uma das baladas mais conhecidas do repertório do cantor e compositor norte-americano Alice Cooper, I never cry (Alice Cooper e Dick Wagner, 1976), hit no Brasil por conta de sua propagação na trilha sonora da novela Duas vidas (TV Globo, 1976). Aos 52 anos, com a voz ainda em forma, Platão canta I never cry somente com o toque da guitarra de Pedro Sá. Mais ousada ainda é a recriação de Volta por cima (Paulo Vanzolini, 1962), samba que ganha metais e toques de soul e blues no registro demolidor de Platão. Por fim, tudo acaba em (algo de) samba, com molho tropical posto na versão em português da canção My cherie amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969), escrita por Ronnie Von para seu álbum A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais (Philips, 1969). Enfim, sem aviso prévio, Toni Platão lança seu melhor disco. LOV soa com a intensidade (e à altura) de sua voz ainda viçosa.

Cantado em português, CD 'Troco likes' faz Iorc falar a língua pop mais trivial

Resenha de CD
Título: Troco likes
Artista: Tiago Iorc
Gravadora: Slap
Cotação: * *

O título do quarto álbum de Tiago Iorc, Troco likes, já sinaliza que o cantor e compositor de origem brasiliense - criado entre Inglaterra e Estados Unidos - quer se conectar com o público jovem que vive nas redes sociais. A capa do disco - inusitado desenho do artista, visto no traço do ilustrador argentino Nestor Canavarro - corrobora a intenção de Iorc de chamar atenção para ser mais notado nas plataformas digitais. Tanto que Troco likes está sendo anunciado pelo selo Slap como o primeiro álbum inteiramente composto e cantado em português deste artista que debutou no mercado fonográfico com dois álbuns - Let yourself in (Som Livre, 2008) e Umbilical (Som Livre, 2011) - totalmente gravados em inglês. No álbum anterior, Zeski (Som Livre, 2013), Iorc já arriscou algumas faixas em português que, a rigor, nada acrescentaram ao cancioneiro do artista. Mas, desta vez, o mergulho na língua portuguesa é mais fundo - a ponto de a única música em inglês do disco, Till I'm old and gray (Tiago Iorc), estar alocada como faixa-bônus. De toda forma, Troco likes é álbum que fala essencialmente a língua pop de Iorc com approach mais popular. Só que, idiomas à parte, o disco - produzido pelo próprio Iorc com Alexandre Castilho - mostra que o fôlego autoral do compositor já se revela curto. Entre apáticas canções de amor como Amei te ver (Tiago Iorc), De todas as coisas (Tiago Iorc) e a confessional Eu errei (Tiago Iorc), há promissora parceria com o compositor paulistano Dani Black (Mil razões), mas o repertório inédito e essencialmente autoral destaca, sobretudo, Alexandria, feliz parceria de Iorc com Humberto Gessinger, mentor e vocalista do ora desativado grupo gaúcho Engenheiros do Hawaii. O refrão do tema ("Gente demais / Com tempo demais / Falando demais / Alto demais") é especialmente pegajoso. E por falar em conexão com artista dos Pampas, o compositor gaúcho Duca Leindecker - partner de Gessinger no duo Pouca Vogal - assina Bossa (1998), única composição do disco sem a assinatura de Iorc. Trata-se de regravação de música do repertório do grupo gaúcho Cidadão Quem, abordada por Iorc com energia bissexta no álbum. Troco likes dilui o acento folk da obra inicial de Iorc em favor de trivial linguagem pop radiofônica - como já dera a entender o single Coisa linda (Tiago Iorc e Leo Fressato), canção tão apaixonada quanto Cataflor (Tiago Iorc). Enfim, Tiago  Iorc já mostrou em seus discos iniciais que domina linguagens musicais menos fáceis.

'Ziriguidum' de Calixto balança entre odes ao samba e temas afro-brasileiros

Resenha de CD
Título: Meu ziriguidum
Artista: Aline Calixto
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * 1/2

Cantora nascida no Rio de Janeiro (RJ), mas criada em Belo Horizonte (MG), Aline Calixto foi revelação superestimada quando abraçou o samba e lançou seu primeiro álbum, Aline Calixto (Warner Music, 2009). Mas desabrochou com Flor morena (Warner Music, 2011), disco no qual se refugiou nos quintais cariocas. Terceiro álbum da artista, lançado de forma independente em julho de 2015, Meu ziriguidum também busca abrigo e avais nas rodas do Rio, mas com naturais incursões pelo samba made in Minas. Transitando nessa ponte Rio-BH, o disco balança entre odes nem sempre originais ao samba e temas de acento afro-brasileiro como Lendas das matas (João Martins e Raul Di Caprio, 2015) - samba que versa sobre o universo do folclore brasileiro - e Ibamolê (Serginho Beagá, 2015), misto de samba e ijexá que sobressai no repertório. O acento afro justifica a inclusão da regravação de Conto de areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1974), sucesso de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora mineira que abriu alas no samba para a saudação dos orixás. Mas Conto de areia perde parte de seu encanto no registro - feito em 2013 para lembrar os 30 anos de morte da Guerreira - em que Calixto insere rap do paulistano Emicida. Talvez porque falte energia à voz afinada e límpida de Calixto. Entre odes ao samba, Eu sou assim (2015) - outra boa contribuição do compositor mineiro Serginho Beagá ao repertório do disco - é carta de intenções que soa mais interessante do que o autorretrato moldado pela artista no samba-título Meu ziriguidum, parceria de Calixto com Gabriel Moura que sinaliza na abertura do CD um viés feminino - reiterado em Musas (Arlindo Cruz e Rogê, 2015), samba lançado por Diogo Nogueira em seu recente CD Porta-voz da alegria (Universal Music / EMI, 2015) - que não se sustenta na regravação de Papo de samba (Carlos Caetano, Moisés Santiago e Flavio da Silva Gonçalves, 2001), pois esta composição que batizou álbum lançado há 14 anos pelo grupo Fundo de Quintal versa sobre universo explicitamente masculino. E por falar no quintal carioca, ele dá bons frutos em Meu ziriguidum. O compositor Leandro Fregonesi fornece um dos melhores sambas inéditos do álbum, Entre você e eu, tema que ganha o toque nordestino do acordeom de Christiano Caldas no arranjo de Thiago Delegado, cantor, compositor e (exímio) violonista mineiro que assina a produção do álbum ao lado de Paulão Sete Cordas. Já Zeca Pagodinho é o convidado que divide com Calixto o balanço de No pé miudinho (Moacyr Luz e Délcio Luiz), outra celebração do samba, assunto que deixa o disco por vezes repetitivo. Compadre de Zeca, Arlindo Cruz comparece em Toda noite, samba de cadência romântica que compôs em parceria com Maurição e que cedeu para Calixto alicerçar o ziriguidum dela. Reforçado por Pedreira, bom samba de Fabinho do Terreiro e Ricardo Barrão, Meu ziriguidum eventualmente balança, mas não cai, sustentando o samba de Aline Calixto na ponte que liga o populoso terreirão carioca aos quintais ainda pouco explorados de Minas Gerais.

sábado, 29 de agosto de 2015

Cheio de soul, o álbum de 1971 já vale a primeira das duas caixas de Vanusa

Resenha de caixas de CDs
Título: Vanusa vol. 1 (1967 - 1973)
Artista: Vanusa
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * * *

Na segunda metade dos anos 1960, a soul music exportada pelos Estados Unidos para o universo pop daquela década ecoou na música brasileira, influenciando a discografia de cantores importantes como Elis Regina (1945 - 1982) e Roberto Carlos. Projetada em 1967, ainda no reino da Jovem Guarda, a cantora Vanusa Santos Flores - paulista criada em cidades do interior de Minas Gerais - também encorpou seu som com a alma do soul. A viagem pelo soul começou no seu segundo álbum - o psicodélico Vanusa (RCA-Victor) de 1969 - e prosseguiu no até então raríssimo álbum Vanusa (RCA-Victor) de 1971. A reedição deste Vanusa de 1971 valoriza a primeira das duas caixas com reedições de álbuns da cantora, produzidas pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para as duas caixas lançadas simultaneamente neste mês de agosto de 2015 pelo selo Discobertas. A caixa Vanusa vol.1 (1967 - 1973) embala reedições - com faixas-bônus - dos quatro primeiros álbuns da cantora. Três já tinham sido reeditados em CD. A exceção é justamente o Vanusa de 1971, álbum que traz breve resquício de psicodelia - em sintonia com sua capa - na faixa Ponte aérea: 15 horas (Wilson Miranda e Messias) - mas que é essencialmente pautado pelo espírito do soul. O disco é primoroso. Nele, Vanusa canta a então atualíssima 1971 (Antonio Marcos e Mário Marcos), dá voz a uma boa (e esquecida) canção soul de Ivan Lins com seu parceiro inicial Ronaldo Monteiro de Souza (O dia e a hora), recria com energia o standard norte-americano Unchained melody (Alex North e Hy Zaret, 1955) e apresenta uma de suas melhores composições (Vai). Com sua voz potente e expansiva, Vanusa mostra em Talvez (Maybe) (Richard Barrett, 1958, em versão em português de Wilson Miranda, 1971) - canção de doo wop que ela encharcou de soul e r & b - que também tinha se diplomado na escola da Motown. O álbum Vanusa de 1971 marca também a aparição do cantor e compositor paulista Antonio Marcos (1945 - 1992) na discografia da artista, com quem a cantora se casaria. Marcos faz dueto com sua parceira na vida e na música em Agora eu sei, versão em português de Where are you going to my love? (Billy Day, Tony Hiller e Mike Leslie, 1970), soul gravado por Vanusa e Marcos no estilo do som ensolarado do musical Hair, sucesso no Brasil naquele ano de 1971. Pelo seu ineditismo no formato de CD e também pelo vigor do repertório, o álbum Vanusa de 1971 já vale aquisição da primeira das duas caixas da cantora. Trata-se do melhor disco da artista na sua fase na gravadora RCA, iniciada em 1967 com a edição de compacto do qual Marcelo Fróes insere o raro lado B O geguege (Il geguege) (Canfora e Wertmuller em versão de Vanusa, 1967) como faixa-bônus do álbum Vanusa de 1968, mais voltado para os rocks e baladas que imperavam na era da Jovem Guarda. A faixa-bõnus valoriza a reedição, já que os álbuns de 1968 e 1969 - ambos intitulados Vanusa - já tinham sido reeditados em 2001 pela gravadora BMG na série 2 LPs em um CD. Da mesma forma, o álbum Vanusa de 1973 - disco que marcou o ingresso da cantora na gravadora Continental, estourando nas rádios a faixa Manhãs de setembro (Vanusa e Mário Campanha, 1973) - já tinha sido relançado no formato de CD em 2006 pelo pesquisador musical Rodrigo Faour na série As divas. Mesmo assim, a inclusão de bônus como a gravação do tema de abertura do programa Fantástico - composto por Guto Graça Mello com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e gravado por Vanusa em 1973 para a então nova revista semanal exibida pela TV Globo nas noites de domingo - incrementa a atual reedição do álbum de 1973 nesta oportuna caixa do selo Discobertas que mostra Vanusa em estágio inicial, cheia de soul, alma e voz.

Gomes descortina mundo encantador para (velhas) fãs em 'Eternas canções'

Resenha de CD
Título: Eternas canções
Artista: Márcio Gomes
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * 1/2

Nos últimos anos, o cantor carioca conquistou na cidade do Rio de Janeiro (RJ) séquito fiel de fãs entre o público da chamada terceira idade. Majoritariamente feminino, esse público tem lhe garantido plateias lotadas para seus shows. É para essas fãs que Gomes direciona seu quarto álbum, Eternas canções, produzido por Thiago Marques Luiz. Trata-se de disco voltado para gente que cultua a música do passado em suas formas mais tradicionais, como já anuncia o título Eternas canções. Feita dentro dessas tradições, com arranjos de cordas em boa parte das faixas, a produção de Marques Luiz corrobora as intenções do álbum de repertório poliglota que inclui o standard norte-americano When you wish upon a star (Leigh Harline e Ned Washington, 1940), o bolero cubano Contigo en la distancia (César Portillo de la Luz, 1946) - cantado no original em espanhol - e a canção italiana  Dio come ti amo (Domenico Modugno, 1966). Cantor de fartos dotes vocais, Gomes baixa acertadamente os tons na maioria das interpretações das 11 músicas de Eternas canções sem perder seu estilo empostado - como fica claro em Nossa canção (Luiz Ayrão, 1966). Estilo que, no caso do artista, está em perfeita sintonia com a sua identidade como intérprete associado aos cantores da fase pré-Bossa Nova. Não é por acaso que Angela Maria - cantora fluminense com quem Gomes já anda fazendo shows - é a convidada do disco, fazendo dueto com o cantor na música mais bonita do repertório de Waldick Soriano (1933 - 2008), Tortura de amor (1962), composição da lavra do próprio Soriano. Dentro desse universo conservador, a passionalidade do tango brasileiro Carlos Gardel (Herivelto Martins e David Nasser, 1954) se alinha com o tom flamenco de Granada (Agustín Lara, 1932). Mas é no fado Canoas do Tejo (Joaquim Frederico de Brito, 1972) que Eternas canções atinge seu instante mais belo pelo acerto do tom do poético fado. Em tons mais ou menos altos, Márcio Gomes é a voz que, para suas velhas fãs, descortina um mundo encantador, para parafrasear verso de Paz do meu amor (1963), música de Luiz Vieira, entrelaçada na abertura do correto disco com outro grande sucesso do compositor pernambucano, Prelúdio pra ninar gente grande (Menino passarinho), canção de 1962 que tem sua eternidade reforçada por Márcio Gomes neste disco indicado para quem ama o som do passado.

Com Boldrin e Xangai, Chico Lobo rebobina suas cantigas de violeiro em CD

A um ano de completar duas décadas de carreira fonográfica, iniciada em 1996 com a edição independente do álbum No braço dessa viola, o cantor, compositor e violeiro Chico Lobo - mineiro de São João Del Rei - reafirma sua alma caipira com o lançamento, via Kuarup, da compilação Cantigas de violeiro, CD que apresenta duas gravações inéditas entre fonogramas antigos. Na coletânea, o 15º título da discografia do artista, Lobo canta com o cantor e músico paulista Rolando Boldrin - outro incansável defensor das tradições da música caipira - na música Simpatia da cobra coral, tema de autoria do próprio Lobo. Simpatia da cobra coral é uma das duas inéditas musicas autorais do CD. A outra é Breu, gravada com a voz do cantor e compositor mineiro Tavinho Moura. Além de Boldrin e Moura, Lobo conta com as vozes de Pena Branca (1939 - 2010) e Xangai na coletânea. Pena Branca é ouvido em Tropa (Chico Lobo), fonograma de 2000, gravado originalmente para o terceiro álbum de Lobo, Reinado (Kuarup, 2000). Já Xangai é o convidado de Boi carreador (Chico Lobo), música que canta com Lobo em dueto lançado há dez anos no primeiro DVD do artista, Viola popular brasileira (Independente, 2005). Sob o rótulo de cantigas de violeiro, Lobo dá voz - com o toque virtuoso de sua viola - a modas, folias de reis, batuques, catiras, folguedos, bois e outros ritmos que fazem a bela trilha sonora do interiorano Brasil caipira.

Universal Music dissocia reedição do disco 'Legião Urbana' da volta do grupo

Em comunicado expedido no fim da tarde de ontem, 28 de agosto de 2015, a gravadora Universal Music anunciou que prepara, através de seu selo EMI, reedição comemorativa dos 30 anos do álbum Legião Urbana (EMI-Odeon, 1985), o primeiro da banda formada em Brasília (DF) em 1982 por Renato Russo (1960 - 1996), mas ressaltou que tal iniciativa está dissociada dos "projetos pessoais dos integrantes originais da banda ou de qualquer outra ação envolvendo a marca". O comunicado se refere veladamente à volta da Legião à cena a partir de outubro em show que vai percorrer o Brasil. Como recuperaram na Justiça o direito de usarem a marca Legião Urbana, após longo embate nos tribunais com Giuliano Manfredini, filho e herdeiro de Russo, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá vão fazer show como Legião Urbana com o cantor paulista André Frateschi no posto de vocalista da banda, ocupando a função de Russo (tal como o ator e cantor Wagner Moura fez em 2012 em controvertido projeto da MTV), mentor e cantor original do grupo. O show tem direção cênica do encenador de teatro Felipe Hirsch. Liminha - de boné na foto acima, postada por Bonfá no Facebook - cuida da produção musical. Lucas Vasconcelos (à esquerda) faz parte da banda que acompanhará Bonfá, Dado e Frateschi no palco - assim como o baixista Mauro Berman e o tecladista Roberto Polo. O comunicado da Universal Music sinaliza que a briga continua.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Rock de tom 'heavy' abafa melodias desiguais de Cañas no show 'Tô na vida'

Resenha de show
Título: Tô na vida
Artista: Ana Cañas (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de agosto de 2015
Cotação: * * * *

 Assim como o álbum Tô na vida (Guela Records / Slap, 2015) se impôs de imediato como o melhor título da discografia de Ana Cañas, o show Tô na vida se revela o melhor momento da artista paulistana nos palcos. Mesmo que o roteiro basicamente autoral recorra aos irregulares repertórios dos dois álbuns anteriores da cantora e compositora, sobretudo ao de Volta (Guela Records / Slap, 2012), o show resulta coeso porque a pegada heavy do power trio que divide o palco com Cañas - o guitarrista Lúcio Maia, o baterista Marco da Costa e, na estreia carioca do show, o baixista Rubens Farias - abafa e põe em segundo plano as melodias da compositora, de inspiração desigual. Tô na vida é um show de rock e, dentro dessa atmosfera roqueira, músicas como Diabo (Ana Cañas, 2012) - veículo para a cantora explorar os agudos de sua voz privilegiada - e Traidor (Ana Cañas, 2012) cresceram e reapareceram mais envolventes do que em shows anteriores, sendo que Traidor ganha um toque de blues, recorrente tanto no disco quanto no show. Urubu rei (Ana Cañas, 2012) - música que Cañas canta sentada, inicialmente de costas para a plateia - também nunca voou tão alto como no show Tô na vida. Em contrapartida, o show mais pesado da cantora desfavorece canções de armadura mais leve. A beleza da melodia da balada Esconderijo (Ana Cañas, 2012), por exemplo, se diluiu em cena porque a leveza da canção fica estranha na ambiência do show. Estranhezas à parte, a energia de Cañas é o combustível que abastece o show Tô na vida ao longo da execução do roteiro de 18 músicas. Em sua estreia carioca, em apresentação feita no Theatro Net Rio na noite de 26 de agosto de 2015, o show confirmou impressões deixadas pelo disco. Como o fato de a confessional música-título Tô na vida (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes, 2015) ser um dos títulos mais inspirados do cancioneiro autoral da compositora. E como o fato (esse mais incômodo...) e de o rock Mulher (Ana Cañas, 2015) parecer ser cópia dos rocks mais feministas de Rita Lee, cantora e compositora paulista que abriu alas cor-de-rosa choque no mundo machista do rock brasileiro. Portando eventualmente sua guitarra elétrica em cena, Cañas leva ao violão Hoje nunca mais (2015), balada que reitera a harmonia de sua parceria com o compositor e baixista carioca Dadi Carvalho. A propósito, outra balada de autoria da dupla, Será que você me ama? (2012), ganha peso neste show em que Cañas refaz o cover elétrico de Rock'n'roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant, 1971), tema do repertório do grupo inglês Led Zeppelin. Enfim, Ana Cañas parece ter se encontrado no rock após flertes eventuais com a MPB e com o pop romântico de Nando Reis. O álbum Tô na vida parece ser um desenvolvimento natural de Hein? (Sony Music, 2009), o segundo álbum da artista, produzido por Liminha e lançado em momento em que a carreira de Cañas ameaçou sair dos trilhos por conta de problemas pessoais da artista. Analisado em perspectiva, Volta foi o disco autoral de transição, que preparou o terreno e o clima para Tô na vida. Somente o tempo vai dizer se o abraço dado atualmente por Cañas no rock está sendo forte e verdadeiro o suficiente para manter a artista nesse trilho. Por ora, o que importa é que o show Tô na vida transpõe para o palco a coesão do álbum que o inspirou, confirmando o ótimo momento da artista.

Ana Cañas cita Hendrix e canta 'Rock'n'roll' do Led no seu show mais pesado

Ana Cañas suspendeu os Jardins da Babilônia (Rita Lee e Lee Marcucci, 1978) na estreia carioca de Tô na vida, show apresentado no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 26 de agosto de 2015. Originalmente no show, o sucesso da fase Tutti Frutti de Rita Lee saiu do roteiro no Rio, mas Rita foi evocada na letra feminista do rock Mulher (Ana Cañas), uma das músicas do recém-lançado quinto álbum de Cañas, Tô na vida (Guela Records / Slap, 2015), o mais azeitado título da discografia dessa cantora e compositora paulistana que abraçou o rock neste CD produzido pela própria Cañas com o guitarrista Lúcio Maia. Aliás, o guitarrista da Nação Zumbi integra - com o baixista Rubens Farias e o baterista Marco da Costa - o power trio que dividiu o palco do Theatro Net Rio com Cañas no show mais roqueiro e pesado da artista, que, além de cantar, se dividiu entre a guitarra elétrica e o violão eletroacústico. O que justificou que a cantora mantivesse em seu repertório Rock'n'roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant, 1971) - música da lavra do grupo inglês Led Zeppelin que Cañas gravou no álbum Volta (Guela Records / Slap, 2012) e que já cantava em seu show anterior, também intitulado Volta (2012) - e que citasse Voodoo child (Slight return) (Jimi Hendrix, 1968), tema do grupo The Jimi Hendrix Experience, ao fim do blues rock Madrugada quer você (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes, 2015), música do álbum Tô na vida. Eis o roteiro seguido em 26 de agosto de 2015  por Ana Cañas - em foto de Rodrigo Goffredo - na estreia carioca do show Tô na vida  no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro:

1. Existe (Ana Cañas, 2015)
2. Feita de fim (Ana Cañas, 2015)
3. Diabo (Ana Cañas, 2012)
4. Será que você me ama? (Dadi Carvalho e Ana Cañas, 2015)
5. Traidor (Ana Cañas, 2013)
6. Rock'n'roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant, 1971)
7. Volta (Ana Cañas, 2012)
8. Esconderijo (Ana Cañas, 2009) - com citação de Walk on the wild side (Lou Reed, 1972) /
9. Amor e dor (Ana Cañas, 2015)
10. Hoje nunca mais (Dadi Carvalho e Ana Cañas, 2015)
11. Tô na vida (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes, 2015)
12. Urubu rei (Ana Cañas, 2012)
13. Mulher (Ana Cañas, 2015)
14. O som do osso (Ana Cañas, Lúcio Maia e Pedro Luís, 2015)
15. Indivisível (Ana Cañas, 2015)
16. Madrugada quer você (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes, 2015)
      - com citação de Voodoo child (Slight return) (Jimi Hendrix, 1968)
Bis:
17. La vie en rose (Louiguy, Margerite Monnot e Edith Piaf, 1947)
18. Coisa Deus (Ana Cañas, 2015)

Roberta grava clipe da faixa-título de álbum e posta foto com Curumin e Davi

A IMAGEM DO SOM - Postada por Roberta Sá na sua página oficial no Facebook, a foto de Tainá Azeredo mostra a cantora potiguar em estúdio com o baterista Curumim e com o guitarrista Davi Moraes. Mas não se trata de flagrante da gravação do sexto álbum oficial de Roberta, Delírio, já no forno para ser lançado em edição da MP,B Discos a ser distribuída pela gravadora Som Livre (a artista inclusive já gravou o clipe da música-título Delírio). O trio se reuniu em estúdio para ensaiar número da  segunda temporada da série musical  Clubversão (HBO), dirigida por Fábio Pinczowski.

Matheus & Kauan fazem sua sinfonia pop sertaneja no CD e DVD 'Face a face'

Dois anos após Matheus & Kauan debutarem no mercado fonográfico brasileiro com a edição pela gravadora Som Livre do CD e DVD Mundo paralelo ao vivo (2013), gravados em show feito pela dupla sertaneja em Goiânia (GO), os irmãos - nascidos em Itapuranga (GO), cidade do interior de Goiás, em 1994 e em 1988, respectivamente - estreiam na gravadora Universal Music neste ano de 2015 com a edição de outra gravação ao vivo de show. No caso, um show gravado pela dupla - formada em 2010 e em atividade nos palcos nacionais desde 2011 - em 22 de novembro de 2014 no Villa Mix de Brasília (DF) com a participação da Orquestra Sinfônica Villa-Lobos e com produção de Eduardo Pepato. No mercado a partir deste mês de agosto, O CD e DVD Face a face apresenta 17 inéditas entre as 24 músicas do roteiro que inclui temas como Tô melhor solteiro e Abelha sem mel. Em que pesem os eventuais arranjos sinfônicos da Orquestra Villa-Lobos, Matheus & Kauan seguem a linha leve pop do gênero rotulado como sertanejo universitário, o que já lhes renderam comparações com Jorge & Matheus, dupla que, aliás, gravou músicas das lavras dos irmãos goianos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Alcione lança CD e DVD com compilação de encontros com estrelas da MPB

Alcione está lançando CD e DVD que compilam 17 encontros da Marrom com artistas como Diogo Nogueira, Emílio Santiago (1946 - 2013), Jorge Aragão, Leci Brandão, Lenine, Maria Bethânia, MV Bill e a dupla Victor & Leo, entre outros nomes. Alcione ao vivo em grandes encontros vai ser comercializado pela Marrom Music em parceria com a gravadora Biscoito Fino. A compilação rebobina encontros captados em shows, em sua maioria, mas há uns gravados em estúdio, como o trio formado com Djavan e Zeca Pagodinho no estúdio para os extras do DVD Eterna alegria ao vivo (Marrom Music / Biscoito Fino, 2014). A maioria dos fonogramas vem do projeto duplo Duas faces (Marrom Music / Biscoito Fino, 2011 e 2012) - dividido em dois volumes (Jam session e Ao vivo na Mangueira) lançados em 2011 e em 2012, respectivamente - e de Eterna alegria ao vivo. Eis, na ordem do DVD, as 17 faixas (e seus convidados) de Alcione ao vivo em grandes encontros:

1. Poder da criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1980) - com Diogo Nogueira
2. Ilha de maré (Carlos Roberto e Walmir Lima, 1977) /
    Roda ciranda (Martinho da Vila, 1984) - com Martinho da Vila
3. Verde e rosa (Silvio César, 1974) - com Leci Brandão
4. O samba me chamou (Sombrinha e Marquinho PQD, 2009) - com Grupo Revelação
5. Capim (Djavan, 1982) - com Djavan
6. Na mesma proporção (Jorge Aragão e Nilton Barros, 1984) - com Jorge Aragão
7. Evolução (José Cavalcante de Albuquerque) - com Lenine
8. Romaria (Renato Teixeira, 1977) - com Victor & Leo
9. Sem mais adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1963) - com Maria Bethânia
10. Sorriso de um banjo (Bira da Vila, Fidélis Marques e Melodia Café, 2012) - com Andreia Caffé
11. 40 anos (Altay Veloso e Paulo César Feital, 1992) - com Emílio Santiago
12. Parabéns pra você (Mauro Diniz, Sereno e Ratinho, 1985) - com Fundo de Quintal
13. Quem me levará sou eu (Dominguinhos e Manduka, 1978) /
      Contrato de separação (Dominguinhos e Anastácia, 1979) - com Cezzinha
14. Meu ébano (Neneo e Paulinho Rezende, 2005) - com MV Bill
15. Pela rua (Dolores Duran e Ribamar, 1959) - com Áurea Martins
16. Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952) / 
      Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951) - com Jamelão
17. Eh, eh (Djavan e Zeca Pagodinho, 2013) - com Djavan e Zeca Pagodinho

Joelma diz que fica até dezembro na Banda Calypso e anuncia a carreira solo

 Talvez tenha sido somente uma declaração passional motivada pela mágoa da recente separação de Chimbinha, mas o fato é que a cantora paraense Joelma anunciou em gravação de programa da TV Record - previsto para ir ao ar no próximo sábado, 29 de agosto de 2015 - que vai permanecer na Banda Calypso somente até dezembro e que, na sequência, vai iniciar uma carreira solo. A fala de Joelma pegou o guitarrista Chimbinha de surpresa a ponto de o músico preferir nada dizer sobre a questão naquele momento. Se efetivada, a saída de Joelma da Calypso vai abalar as estruturas da banda formada em Belém (PA) em 1999 e sustentada justamente pela união musical da cantora com o guitarrista. Joelma e Chimbinha celebraram os 15 anos dessa união com  a gravação ao vivo, em 2014, de show feito em Belém com a presença de convidados. O registro resultou no DVD e CD ao vivo Banda Calypso 15 anos, lançados em junho de 2015, com a distribuição da Radar Records.

Eis a capa de 'Sambarás', álbum que traz Klébi de volta ao mundo fonográfico

Com capa que expõe foto de Kriz Knack em projeto gráfico assinado por Joana Gudin, o sétimo álbum da cantora e compositora paulistana Klébi Nori, Sambarás, entrou esta semana em processo de fabricação. Entre setembro e outubro de 2015, o CD de Klébi vai chegar ao mercado fonográfico em edição da gravadora Dabliú Discos. Clique aqui se quiser conhecer o repertório autoral do disco.

Álbum em que Zélia canta sambas autorais já tem título e vai sair em outubro

Antes do mundo acabar é o título do álbum de inéditas autorais gravado por Zélia Duncan em estúdio. Inteiramente dedicado ao samba, o disco da cantora e compositora fluminense - vista em foto de Gal Oppido -  já está finalizado e tem seu lançamento programado para outubro de 2015. Caberá à gravadora Biscoito Fino distribuir o CD  Antes do mundo acabar no mercado fonográfico.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Estreia do show de Fafá é filmada para documentário sobre Manoel Cordeiro

Já existe um registro de imagem e som, com alta qualidade técnica, do show Do tamanho certo para o meu sorriso, estreado por Fafá de Belém - em foto de Caio Gallucci - no Teatro Itália, em São Paulo (SP), na noite de 25 de agosto de 2015. A filmagem foi feita para documentário sobre o guitarrista e compositor paraense Manoel Cordeiro, músico que toca ao lado de seu filho também guitarrista Felipe Cordeiro no espetáculo dirigido por Paulo Borges. Mas há a possibilidade de que o material filmado seja aproveitado para a edição de um provável DVD com o registro do ótimo show inspirado pelo -  recém-lançado - álbum  Do tamanho certo para o meu sorriso (Joia Moderna, 2015).

Coração brega de Fafá bate (bem) mais forte na cena chique de Paulo Borges

Resenha de show
Título: Do tamanho certo para o meu sorriso
Artista: Fafá de Belém (em foto de Caio Gallucci)
Local: Teatro Itália (São Paulo, SP)
Data: 25 de agosto de 2015
Cotação: * * * * *

O coração assumidamente brega de Fafá de Belém bate mais forte na cena chique armada pelo diretor Paulo Borges para a cantora paraense apresentar as músicas do recém-lançado álbum com que a artista comemora 40 anos de carreira fonográfica que andou adormecida na última década. Fafá voltou. E retornou com força com o disco Do tamanho certo para o meu sorriso, desde 20 de agosto no mercado fonográfico em edição da gravadora Joia Moderna. A retomada é solidificada pelo primoroso show que estreou ontem, 25 de agosto de 2015, no Teatro Itália, em São Paulo (SP), sob a direção de Paulo Borges. Além de consolidar a marca hi-tech de Borges (o todo-poderoso da São Paulo fashion week para quem  é estranho no ninho da moda) como diretor de espetáculos musicais calcados em projeções de imagens em vídeo-cenário de Richard Luiz (a mesma estética do show de Alice Caymmi), o show Do tamanho certo para o meu sorriso engrandece o que no disco soou menor do que o canto farto de Fafá. Todas as músicas do disco de tom tecnobrega - produzido por Manoel Cordeiro com Felipe Cordeiro - crescem e ganham sentido adicional no show. De tom popular, esse repertório - rechaçado por quem espera que Fafá somente dê ouvidos e voz às músicas de compositores associados à MPB dos anos 1960 e 1970 - se amalgama em cena, sem choques, com os maiores sucessos da cantora em seus 40 anos de carreira.  Os sucessos antigos reaparecem com arranjos novos, criados e tocados somente com as guitarras de Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro, únicos músicos em cena (tal como no disco). Símbolos de diferentes gerações e fases da cena musical do Pará, as guitarras de pai e filho choram em Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), a doída canção de separação que Fafá tomou para si em gravação de 1982, feita dois anos após os registros quase simultâneos de Ivan Lins e do grupo MPB-4. O canto de Fafá é alegre, mas também sabe expor os dramas afetivos de canções como Volta (Johnny Hooker, 2013), música que abre o show com Fafá de costas para a plateia. A virada estratégica, no meio da música, surte forte efeito cênico, sinalizando o domínio que a cantora tem do gestual teatral. Só que, sem deixar de ser Fafá, a cantora vista em cena no show Do tamanho certo para o meu sorriso soa mais refinada sem perda da intensidade de suas interpretações. Fafá fala menos - e, quando fala, diz somente o essencial - e canta mais. Canta muito, aliás, com a voz que conserva a potência e atinge os tons de outrora com naturalidade e uma energia que parece concentrada no palco. Por isso, no show, Pedra sem valor - inédita fornecida pela compositora paraense Dona Onete para o disco - brilha muito mais do que no registro do álbum. É como se Pedra sem valor retratasse, no roteiro, a volta por cima da personagem que rompe laços conjugais em Bilhete. Um dos pontos altos do show, Cavalgada (1977) - canção sensual de Roberto Carlos e Erasmo Carlos que volta e meia reaparece no repertório de Fafá - é interpretada com a cantora deitada em praticável que simula a cama de um motel. A intérprete se contorce entre almofadas para explicitar no canto e no corpo o gozo poeticamente retratado pelos autores na letra. No clímax, o praticável gira a partir do verso "Estrelas mudam de lugar"  em efeito cênico valorizado pela projeção de um céu no telão. É arrepiante! Com linguagem mais simples e direta, Quem não te quer sou eu (Firmo Cardoso e Nivaldo Fiúza, 2002) - sucesso local da banda paraense Sayonara - e o bolero Usei você (Silvio César, 1971) são músicas que reverberam a exteriorizada trilha sonora dos cabarés, boates e inferninhos de um interiorano Brasil de dentro que também pulsa nas ruas de Belém. Alocado no início do show, Asfalto amarelo (Manoel Cordeiro, Felipe Cordeiro e Zeca Baleiro, 2015)  é o convite de Fafá para que o público adentre o interior de seu Pará. Com três estilosos figurinos assinados pelo estilista Luis Claudio (da APTO 03), Fafá celebra o Pará e, em especial, sua Belém do Pará, retratada em Os passa vida (Osmar Jr. e Rambolde Campos, 2004), outro sucesso local da banda Sayonara que faz mais sentido no show Do tamanho certo para o meu sorriso, provocando o choro incontido da cantora. E por falar em figurinos, o vestido vermelho da segunda parte cai bem na personagem voluptuosa de Sedução (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977). Este número é o que apresenta o melhor efeito do vídeo-cenário de Richard Luiz. Tal efeito cria no espectador a ilusão de que Fafá está cantando Sedução na porta de uma das casas de Belém projetadas no telão. Outro efeito é o peixe que se delineia com nitidez, ao fim de Sereia (Lulu Santos e Nelson Motta, 1983), na imagem inicialmente difusa projetada ao longo do número. São marcas da direção de Paulo Borges em show que flui sem erros, sinalizando que Meu coração é brega (Veloso Dias, 2015) pode vir a se tornar hit popular, consolidando a trajetória de seu compositor, autor de Ex mai love (2012), sucesso na voz da paraense Gaby Amarantos. Meu coração é brega é outra música do disco que bate mais forte no show, pela força cênica e vocal de Fafá, intérprete moldada para músicas passionais como Abandonada (Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle, 1996), cantada com dramaticidade - no toque das guitarras de Manoel e Felipe Cordeiro - mas sem os exageros de shows anteriores. Sob medida (Chico Buarque, 1979) também ressurge sem tantas firulas. Já Vem que é bom (Manoel Cordeiro e Ronery, 1979) é convite à dança que tem vocais do mesmo Manoel Cordeiro que, no toque de sua icônica guitarra, cria introdução agalopada para o bolero Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977). No fim, O gosto da vida (Péricles Cavalcanti, 1982) - espécie de carta de intenções do canto da artista - faz o Carnaval continuado no bis com o samba Filho da Bahia (Walter Queiroz, 1975), marco inicial da trajetória fonográfica de Fafá, e com Este rio é minha rua (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1976). A conexão Bahia-Pará é feita com naturalidade pelas guitarras e pelo canto emotivo e solar da artista. Enfim, sob a direção chique de Paulo Borges, Fafá refina sua postura em cena sem deixar de ser a Fafá de sempre. Para quem vinha fazendo shows irregulares de conceito mais fluido e de menor apuro visual, o espetáculo Do tamanho certo para o meu sorriso supera o disco homônimo que o gerou e reforça a feliz sensação de que Fafá de Belém volta enfim a ocupar lugar que sempre foi dela.

 O blog Notas Musicais viajou à cidade de São Paulo (SP) a convite da gravadora Joia Moderna

Fafá põe 'Sereia' nas águas de Belém em show com inédito tema instrumental

SÃO PAULO (SP) - Música de Lulu Santos e Nelson Motta, lançada há 32 anos na voz de Fafá de Belém na trilha sonora do especial infantil Plunct plact zoom (TV Globo, 1983), Sereia cai nas águas de Belém (PA) em número do primoroso show que lança o disco comemorativo dos 40 anos de carreira fonográfica da cantora paraense, Do tamanho certo para o meu sorriso, no mercado desde 20 de agosto de 2015 em edição da gravadora Joia Moderna. No show que consolida a marca de Paulo Borges como diretor de espetáculos musicais, Fafá - em foto de Caio Gallucci - canta as 10 músicas do disco e revive sucessos dessas quatro décadas com novos arranjos, feitos somente com os toques das guitarras de Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro, pai e filho, expoentes da cena musical do Pará. Únicos músicos presentes no disco e no show, Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro ainda se deram ao luxo de apresentar inédito tema instrumental, Palácio dos bares, tocado pelos guitarristas durante a primeira das duas trocas de figurinos da cantora e composto para o show que teve estreia nacional na noite de ontem, 25 de agosto de 2015, no Teatro Itália, em São Paulo (SP), e que sai em turnê pelo Brasil. Eis o roteiro seguido por Fafá de Belém na estreia nacional do showDo tamanho certo para o meu sorriso:

1. Volta (Johnny Hooker, 2013)
2. Asfalto amarelo (Manoel Cordeiro, Felipe Cordeiro e Zeca Baleiro, 2015)
3. Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)
4. Pedra sem valor (Dona Onete, 2015)
5. Cavalgada (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1977)
6. Quem não te quer sou eu (Firmo Cardoso e Nivaldo Fiúza, 2002)
7. Usei você (Silvio César, 1971)
8. Palácio dos bares (Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro, 2015) - tema instrumental inédito
9. Sedução (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977)
10. Meu coração é brega (Veloso Dias, 2015)
11. Ao pôr do sol (Firmo Cardoso e Dino Souza, 1987)
12. Sereia (Lulu Santos e Nelson Motta, 1983)
13. Abandonada (Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle, 1996)
14. Sob medida (Chico Buarque, 1979)
15. Vem que é bom (Manoel Cordeiro e Ronery, 1990)
16. Os passa vida (Osmar Jr. e Rambolde Campos, 2004)
17. Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977)
18. Conexão Amazônia Caribe (Manoel Cordeiro, 2015) - tema instrumental
      - com citação de Alagados (Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, 1986)
19. O gosto da vida (Péricles Cavalcanti, 1982)
Bis:
20. Filho da Bahia (Walter Queiroz, 1975)
21. Este rio é minha rua (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1976)


 O blog Notas Musicais viajou à cidade de São Paulo (SP) a convite da gravadora Joia Moderna

Eis capa e músicas do álbum em que Catto canta Caetano, Gang 90 e Thalma

Música composta por Taciana Barros com Júlio Barroso (1953 - 1984) e lançada há 30 anos pelo grupo carioca Gang 90 no seu álbum Rosas e tigres (Opus Columbia / CBS, 1985), Do fundo do coração ganha a voz de Filipe Catto. Do fundo do coração é uma das 11 músicas que compõem o repertório de Tomada, segundo álbum de estúdio desse (ótimo) cantor e compositor gaúcho radicado em São Paulo (SP). Com design gráfico assinado pelo próprio Catto, o disco expõe na capa (acima) foto de Gal Oppido e vai ser lançado em 8 de setembro de 2015, primeiramente em edição digital (a edição física em CD chega às lojas a partir de outubro). Além da música do repertório da Gang 90, Catto regrava canção de aura gay composta por Caetano Veloso com inspiração em Ilusão à toa (Johnny Alf, 1961). Intitulada Amor mais que discreto, a música até então tinha tido somente um registro, feito pelo próprio Caetano em DVD e CD ao vivo de 2007. Entre inéditas autorais como Pra você me ouvir e Dias & noites, assinadas somente por Catto, o artista abre parcerias com os compositores cariocas Moska (Depois de amanhã) e Pedro Luís (Adorador). Produzido por Kassin, Tomada traz também duas músicas de Thalma de Freitas, Auriflama (com versos do escritor angolano José Eduargo Agualusa) e Íris & arco, parceria da cantora e compositora carioca com o compositor baiano Tiganá Santana e com o compositor Guilherme Held, músico conhecido na cena contemporânea pelo toque de sua guitarra noise. Eis, na ordem do disco, as 11 músicas gravadas por Filipe Catto em Tomada, álbum viabilizado com o patrocínio obtido no projeto Natura Musical:

1. Dias & noites (Filipe Catto, 2015)
2. Partiu (Marina Lima, 2013)
3. Depois de amanhã (Filipe Catto e Moska, 2015)
4. Auriflama (Thalma de Freitas e José Eduardo Agualusa, 2015)
5. Canção & silêncio (Zé Manoel, 2005)
6. Do fundo do coração (Taciana Barros e Júlio Barroso, 1985)
7. Amor mais que discreto (Caetano Veloso, 2007)
8. Um milhão de novas palavras (César Lacerda e Fernando Temporão, 2015)
9. Íris & arco (Tiganá Santana, Thalma de Freitas e Gui Held, 2015)
10. Pra você me ouvir (Filipe Catto, 2015)
11. Adorador (Pedro Luís e Filipe Catto, 2015)