Resenha de CD
Título: Sambabook Dona Ivone Lara 2
Artista: vários
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *
♪ Ligeiramente menos sedutor do que o primeiro volume, o CD Sambabook Dona Ivone Lara 2 destaca quem é do ramo, quem tem real intimidade com o fundo dos quintais e dos terreiros em que brotam o samba e o partido alto. Martinho da Vila, por exemplo, é intérprete à altura do partido Andei para curimá (1974), tema em que Ivone Lara assina música e letra, mostrando que também domina a arte de fazer versos - função habitualmente entregue ao seu principal parceiro, Délcio Carvalho (1939 - 2013), na composição da obra poética da dupla. Quarto título do projeto multimídia criado pela empresa Musickeria, o Sambabook Dona Ivone Lara teve sua parte musical feita sob a direção artística de Afonso Carvalho e a direção musical de Alceu Maia. Como se trata de tributo ao legado desta grande compositora carioca que abriu alas para as mulheres no reduto historicamente masculino do samba, a opção pelo respeito à obra se revela acertada. O que torna o partido mais ou menos alto é a escolha dos intérpretes. Arlindo Cruz valoriza Força da imaginação (1982), parceria bissexta de Ivone com Caetano Veloso, que abre o segundo CD com interpretação insossa de Alguém me avisou (1980), samba à moda baiana que o próprio Caetano já gravou com mais viço como convidado do registro original feito por sua irmã Maria Bethânia no álbum Talismã (Philips, 1980). O Fundo de Quintal parece em casa ao defender Preá comeu (1982), outro tema criado por Ivone sem parceiros. Já Lu Carvalho ainda não tem estrada e maturidade vocal para celebrar Bodas de ouro (Ivone Lara e Paulo César Pinheiro, 1997), samba talhado para sua tia, Beth Carvalho, ausência sentida no elenco (Beth, a principal intérprete do cancioneiro de Ivone Lara, não pôde participar do Sambabook da compositora por problemas de saúde). Diferentemente do CD 1, calcado somente em regravações, o CD 2 apresenta título inédito do cancioneiro de Ivone Lara. Parceria da compositora com o neto André Lara, com Bruno Castro e com Diogo Nogueira (intérprete do samba inédito), Amor relativo ostenta as principais características da obra da artista - uma melodia lírica e uma letra impregnada de melancolia e de paradoxal fé na vida e no amor - e, mesmo sem cacife para se tornar um dos clássicos dessa obra, deixa boa impressão. Já Elba Ramalho e Zélia Duncan defendem duas músicas de 1981 - A sereia Guiomar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) e Tendência (Ivone Lara e Jorge Aragão - sem um brilho especial que as faça sobressair. Por sua vez, Áurea Martins parece ter posto mais alma em Alvorecer (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1974), embora jamais atinja a maestria da interpretação precisa de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora que lançou este lindo samba que, 41 anos depois, ainda paira como um dos mais belos da obra de Ivone e Délcio. Xande de Pilares lembra com mera correção um bonito samba triste, Liberdade (Ivone Lara e Délcio Carvalho), lançado em 1977 pelo cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) no embalo do sucesso de Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976), samba que alavancara sua carreira fonográfica no ano anterior. Também meramente correto, Reinado dá voz a Dizer não pro adeus (Ivone Lara, Bruno Castro e Luiz Carlos da Vila, 2005) enquanto Wilson das Neves repõe na avenida a nobreza histórica do samba-enredo Os cinco bailes da história do Rio (Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau, 1965), título que justificou a entrada de Ivone Lara na ala de compositores da escola Império Serrano. Por fim, a própria Ivone Lara se junta aos convidados em registro coletivo de Sonho meu (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1978), reiterando sua majestade.
♪ Ligeiramente menos sedutor do que o primeiro volume, o CD Sambabook Dona Ivone Lara 2 destaca quem é do ramo, quem tem real intimidade com o fundo dos quintais e dos terreiros em que brotam o samba e o partido alto. Martinho da Vila, por exemplo, é intérprete à altura do partido Andei para curimá (1974), tema em que Ivone Lara assina música e letra, mostrando que também domina a arte de fazer versos - função habitualmente entregue ao seu principal parceiro, Délcio Carvalho (1939 - 2013), na composição da obra poética da dupla. Quarto título do projeto multimídia criado pela empresa Musickeria, o Sambabook Dona Ivone Lara teve sua parte musical feita sob a direção artística de Afonso Carvalho e a direção musical de Alceu Maia. Como se trata de tributo ao legado desta grande compositora carioca que abriu alas para as mulheres no reduto historicamente masculino do samba, a opção pelo respeito à obra se revela acertada. O que torna o partido mais ou menos alto é a escolha dos intérpretes. Arlindo Cruz valoriza Força da imaginação (1982), parceria bissexta de Ivone com Caetano Veloso, que abre o segundo CD com interpretação insossa de Alguém me avisou (1980), samba à moda baiana que o próprio Caetano já gravou com mais viço como convidado do registro original feito por sua irmã Maria Bethânia no álbum Talismã (Philips, 1980). O Fundo de Quintal parece em casa ao defender Preá comeu (1982), outro tema criado por Ivone sem parceiros. Já Lu Araújo ainda não tem estrada e maturidade vocal para celebrar Bodas de ouro (Ivone Lara e Paulo César Pinheiro, 1998), samba talhado para sua tia, Beth Carvalho, ausência sentida no elenco (Beth, a principal intérprete do cancioneiro de Ivone Lara, não pôde participar do Sambabook da compositora por problemas de saúde). Diferentemente do CD 1, calcado somente em regravações, o CD 2 apresenta título inédito do cancioneiro de Ivone Lara. Parceria da compositora com o neto André Lara, com Bruno Castro e com Diogo Nogueira (intérprete do samba inédito), Amor relativo ostenta as principais características da obra da artista - uma melodia lírica e uma letra impregnada de melancolia e de paradoxal fé na vida e no amor - e, mesmo sem cacife para se tornar um dos clássicos dessa obra, deixa boa impressão. Já Elba Ramalho e Zélia Duncan defendem duas músicas de 1981 - A sereia Guiomar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) e Tendência (Ivone Lara e Jorge Aragão - sem um brilho especial que as faça sobressair. Por sua vez, Áurea Martins parece ter posto mais alma em Alvorecer (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1974), embora jamais atinja a maestria da interpretação precisa de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora que lançou este lindo samba que, 41 anos depois, ainda paira como um dos mais belos da obra de Ivone e Délcio. Xande de Pilares lembra com mera correção um bonito samba triste, Liberdade (Ivone Lara e Délcio Carvalho), lançado em 1977 pelo cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) no embalo do sucesso de Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976), samba que alavancara sua carreira fonográfica no ano anterior. Também meramente correto, Reinado dá voz a Dizer não pro adeus (Ivone Lara, Bruno Castro e Luiz Carlos da Vila, 2005) enquanto Wilson das Neves repõe na avenida a nobreza histórica do samba-enredo Os cinco bailes da história do Rio (Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau, 1965), título que justificou a entrada de Ivone Lara na ala de compositores da escola Império Serrano. Por fim, a própria Ivone Lara se junta aos convidados em registro coletivo de Sonho meu (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1978), reiterando sua majestade.
ResponderExcluirOs 2 CD's estão realmente imperdíveis... É um belo tributo a grande dama do samba...
ResponderExcluirPor aqui ainda não chegou e estou ansioso. Mauro, o correto é Lu Carvalho, você se confundiu, a Araújo é a mãe do Cazuza. rsrsrs
ResponderExcluirE triste ao saber que esse problema sério de coluna da Beth a retira de mais um projeto, ainda mais sendo de Dona Ivone. Saúde às duas Rainhas do nosso Samba.
Acho o Dizer não pro Adeus uma das belas músicas de Dona Ivone, Luiz Carlos da Vila e Bruno Castro. E o Zeca soube interpretar maravilhosamente bem.
E sempre bom e necessário relembrar do saudoso e GRANDE cantor Roberto Ribeiro. Esse deixou uma lacuna imensa no ritmo.
Claro, Marcelo, tem toda razão. Grato pelo toque. abs, MauroF
ResponderExcluiracreditar ficou ruim demais com a Vanessa da Mata
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