Título: Chico Chico & Júlia Vargas
Artistas: Chico Chico e Júlia Vargas (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Casa de Cultura Laura Alvim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 9 de agosto de 2015
Cotação: * * * 1/2
♪ Show de volta ao cartaz no Beco das Garrafas (RJ) em 14 de agosto de 2015, às 22h30m,
e na varanda da Casa de Cultura Laura Alvim (RJ) em 16 de agosto de 2015, às 17h30m
♪ Chico Chico e Júlia Vargas fazem trabalhos musicais distintos. A junção dos dois artistas em show que virou cult no circuito da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro (RJ) é estratégia inteligente para que um amplie sua visibilidade a reboque (do público) do outro. A mais beneficiada por essa tática mercadológica é Júlia, luminosa cantora e percussionista fluminense que está pronta para o sucesso. "Você é muito boa!", gritou para Júlia um espectador que se espremeu na varanda da Casa de Cultura Laura Alvim no fim da tarde de domingo, 9 de agosto de 2015, para ver o show que começou a gerar burburinho em temporada em boate do recém-revitalizado Beco das Garrafas e acabou parando no projeto Música na varanda, da Laura Alvim. A varanda ficou pequena para abrigar o público dos dois artistas, ainda basicamente formado via lista amiga por um círculo de convidados e curiosos. Júlia se beneficia da junção mais do que Chico porque os holofotes estão voltados para este jovem cantor, compositor e violonista carioca de 21 anos que está prestes a lançar seu primeiro disco como integrante mais destacado da banda 2x0 Vargem Alta. Chico Chico, afinal, é ninguém menos do que Francisco Ribeiro Eller, o filho de Cássia Eller (1962 - 2001), cantora carioca da qual o Brasil sente saudade doída por conta de sua precoce saída de cena. Contudo, Chico Chico jamais se porta no palco como um clone da mãe. Há, sim, leves evocações de Cássia no timbre da voz (mera herança genética) e, sobretudo, no visual despojado. Mas o trabalho musical de Chico segue linha que diverge do trilho aberto por Cássia ao longo dos anos 1990. No show, ele mostra e canta músicas autorais que revelam compositor promissor. Minha voz (de poética árida), Garoto da soleira (de pegada nervosa) e Notas de cem (apresentado no show com arranjo folk acústico de toque bluesy) merecem menções honrosas. Tema cantado no set solo de Chico, O muro - outro número de acento funk - sinaliza, em contrapartida, um compositor por vezes ainda pueril, em processo inicial de maturação. Já Júlia Vargas está no ponto para ganhar visibilidade nacional. No show, feito por Chico e Júlia na companhia do violonista Rodrigo Garcia, a cantora irradia luz e segurança de veterana, com voz e presença cênica inebriantes. No roteiro de ritmo predominantemente nordestino, Júlia dá voz a músicas igualmente incisivas dessa região arretada, casos de Coito das araras (Cátia de França, 1979) e de Desabafo (Cecéu, 1982), ambas gravadas pela artista em seu primeiro disco, Júlia Vargas (Sony Music, 2012), infelizmente lançado somente em edição digital - o que limitou sua projeção na mídia e sua absorção pelo público que consome MPB, ainda apegado aos formatos físicos. No show, Júlia linka o baião Desabafo - lançado em disco pela cantora pernambucana Marinês (1935 - 2007) - com tema agitado e questionador da lavra de Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter, Onde o xaxado tá? (1998). Neste número, Júlia xaxa, toca zambumba e ainda costura as duas músicas com citação de Hit the road Jack (Percy Mayfield, 1960), o ritmado blues que Ray Charles (1930 - 2004) tomou para si a partir de 1961. Momentos antes, Júlia já tinha seduzido o público ao cantar em sequência três temas do repertório da cantora africana Miriam Makeba (1932 - 2008) - Jol'inkomo (Wigger Kenter, 1967), The click song (Qongqothwane) (Tema tradicional da África do Sul) e Oxgam (Baxabene Oxamu) (Letta Mbulu, 1967) - em bloco turbinado pelo sons de percussão tirados por Rodrigo Garcia de seu violão preciso. Nesse bloco africano, que tem música cantada no dialeto xhosa (da África do Sul), Júlia Vargas reitera que é artista para figurar no primeiro time da música brasileira pela voz, pela luminosidade e pela personalidade na escolha de seu repertório. Minha vida é uma rede (Cátia de França, 1985) e Uirapuru blues (Claos Mózi, 2012) - música lançada pela cantora em seu álbum digital de 2012 - confirmam a forte personalidade artística da cantora. De presença menos imponente em cena, Chico Chico também revela personalidade. Seja no toque agalopado do violão que toca em Minha vida é uma rede, seja na opção por cantar músicas alheias de poética e batida secas, como De manhã cedo (A cara do medo) (Tui Lana, 2015). Enfim, o show Chico Chico & Júlia Vargas expõem dois artistas de talento. Ele ainda tem um caminho a percorrer, mas já dá sinal de que terá fôlego para a caminhada. Ela já está em ponto de bala, com sua voz e sua presença radiantes.
6 comentários:
♪ Chico Chico e Júlia Vargas fazem trabalhos musicais distintos. A junção dos dois artistas em show que virou cult no circuito da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro (RJ) é estratégia inteligente para que um amplie sua visibilidade a reboque (do público) do outro. A mais beneficiada por essa tática mercadológica é Júlia, luminosa cantora e percussionista fluminense que está pronta para o sucesso. "Você é muito boa!", gritou para Júlia um espectador que se espremeu na varanda da Casa de Cultura Laura Alvim no fim da tarde de domingo, 9 de agosto de 2015, para ver o show que começou a gerar burburinho em temporada em boate do recém-revitalizado Beco das Garrafas e acabou parando no projeto Música na varanda, da Laura Alvim. A varanda ficou pequena para abrigar o público dos dois artistas, ainda basicamente formado via lista amiga por um círculo de convidados e curiosos. Júlia se beneficia da junção mais do que Chico porque os holofotes estão voltados para este jovem cantor, compositor e violonista carioca de 21 anos que está prestes a lançar seu primeiro disco como integrante mais destacado da banda 2x0 Vargem Alta. Chico Chico, afinal, é ninguém menos do que Francisco Ribeiro Eller, o filho de Cássia Eller (1962 - 2001), cantora carioca da qual o Brasil sente saudade doída por conta de sua precoce saída de cena. Contudo, Chico Chico jamais se porta no palco como um clone da mãe. Há, sim, leves evocações de Cássia no timbre da voz (mera herança genética) e, sobretudo, no visual despojado. Mas o trabalho musical de Chico segue linha que diverge do trilho aberto por Cássia ao longo dos anos 1990. No show, ele mostra e canta músicas autorais que revelam compositor promissor. Minha voz (de poética árida), Garoto da soleira (de pegada nervosa) e Notas de cem (apresentado no show com arranjo folk acústico de toque bluesy) merecem menções honrosas. Tema cantado no set solo de Chico, O muro - outro número de acento funk - sinaliza, em contrapartida, um compositor por vezes ainda pueril, em processo inicial de maturação. Já Júlia Vargas está no ponto para ganhar visibilidade nacional. No show, feito por Chico e Júlia na companhia do violonista Rodrigo Garcia, a cantora irradia luz e segurança de veterana, com voz e presença cênica inebriantes. No roteiro de ritmo predominantemente nordestino, Júlia dá voz a músicas igualmente incisivas dessa região arretada, casos de Coito das araras (Cátia de França, 1979) e de Desabafo (Cecéu, 1982), ambas gravadas pela artista em seu primeiro disco, Júlia Vargas (Sony Music, 2012), infelizmente lançado somente em edição digital - o que limitou sua projeção na mídia e sua absorção pelo público que consome MPB, ainda apegado aos formatos físicos.
No show, Júlia linka o baião Desabafo - lançado em disco pela cantora pernambucana Marinês (1935 - 2007) - com tema agitado e questionador da lavra de Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter, Onde o xaxado tá? (1998). Neste número, Júlia xaxa, toca zambumba e ainda costura as duas músicas com citação de Hit the road Jack (Percy Mayfield, 1960), o ritmado blues que Ray Charles (1930 - 2004) tomou para si a partir de 1961. Momentos antes, Júlia já tinha seduzido o público ao cantar em sequência três temas do repertório da cantora africana Miriam Makeba (1932 - 2008) - Jol'inkomo (Wigger Kenter, 1967), The click song (Qongqothwane) (Tema tradicional da África do Sul) e Oxgam (Baxabene Oxamu) (Letta Mbulu, 1967) - em bloco turbinado pelo sons de percussão tirados por Rodrigo Garcia de seu violão preciso. Nesse bloco africano, que tem música cantada no dialeto xhosa (da África do Sul), Júlia Vargas reitera que é artista para figurar no primeiro time da música brasileira pela voz, pela luminosidade e pela personalidade na escolha de seu repertório. Minha vida é uma rede (Cátia de França, 1985) e Uirapuru blues (Claos Mózi, 2012) - música lançada pela cantora em seu álbum digital de 2012 - confirmam a forte personalidade artística da cantora. De presença menos imponente em cena, Chico Chico também revela personalidade. Seja no toque agalopado do violão que toca em Minha vida é uma rede, seja na opção por cantar músicas alheias de poética e batida secas, como De manhã cedo (A cara do medo) (Tui Lana, 2015). Enfim, o show Chico Chico & Júlia Vargas expõem dois artistas de talento. Ele ainda tem um caminho a percorrer, mas já dá sinal de que terá fôlego para a caminhada. Ela já está em ponto de bala, com sua voz e sua presença radiantes.
100% de acordo, Mauro. Ótimo texto!
discordo quando diz que o disco dela não aconteceu por que saiu só em digital, em que mundo você vive, Mauro?
Tomara que o Chicão tenha herdado o talento da mãe... Curioso para ver este show...
Pelo menos nesta foto,lembra muito a mãe.
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