Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 15 de agosto de 2015

Grato, Del-Penho cai no choro e no samba em ambicioso álbum instrumental

Resenha de CD
Título: Pra essa gente boa
Artista: Alfredo Del-Penho
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2

Não é por acaso que o álbum essencialmente instrumental lançado por Alfredo Del-Penho neste mês de agosto de 2015 - simultaneamente com um disco cantado, Samba sujo (Independente) - traga no repertório choro intitulado Memórias de Paulinho da Viola, composto pelo artista fluminense logo após conhecer o cantor e compositor carioca. Afinal, como conta Del-Penho no encarte do CD Pra essa gente boa em texto escrito sobre o choro, foi a lembrança de que Paulinho também lançou dois álbuns simultâneos no mesmo estilo - Memórias cantando e Memórias chorando, ambos editados em 1976 pela gravadora Odeon - que o encorajou a pôr em prática a ideia dessa dupla estreia fonográfica na sua discografia solo. Pra essa gente boa é álbum ambicioso por alinhar 18 temas da lavra solitária de Del-Penho, sendo que 17 eram até então inéditos em disco. A exceção é o tema mais inspirado do repertório, o samba-título Pra essa gente boa, lançado pela Orquestra Republicana em disco de 2010. Nesse samba levado com vocalises, Del-Penho reproduz o tom da dedicatória feita por Gilberto Gil na introdução do samba Aquele abraço (1969). Só que o samba de Del-Penho vai para Moacir Santos (1926 - 2006), João Bosco e Pedro Paulo Malta (com quem já gravou CDs antes de iniciar sua discografia solo com esse lançamento duplo). A propósito, Pra essa gente boa é disco pautado pela gratidão de Del-Penho aos músicos e cantores que conheceu nos bailes e bares da vida. Tais amizades motivaram a composição de quase todas as músicas. Composto há dez anos, o choro O panda na idade da loba foi criado em tributo aos 40 anos do músico Rui Alvim, que toca clarone na gravação. Se Samba sujo era disco dedicado ao samba, como já explicitava seu título, Pra essa gente boa alterna sambas e choros entre outros ritmos. Com o toque hábil de seu violão de sete cordas, nem sempre evidenciado nos arranjos, Del-Penho cai com propriedade no samba e no choro, mas também há valsa de melodia lírica - Olhos castanhos, dedicada à clarinetista Joana Queiroz, amiga do artista, e gravada com o toque do Quarteto Maogani - e o Acalanto pro Matias, composto por Del-Penho com toque de ciranda para dar as boas-vindas ao seu então recém-nascido sobrinho Matias. Há até inusitada mistura, em compasso ternário, de valsa, maracatu e marcha, Jasmin manga. Mas o samba e o choro são os ritmos recorrentes deste disco que, embora instrumental, se utiliza da voz humana em eventuais faixas. O samba Paulino dança - composto em tributo ao percussionista e dançarino Paulino Dias - é adornada por improviso vocal da cantora carioca Áurea Martins, espécie de madrinha artística de Del-Penho. Entre o lirismo do choro Lugar comum (dedicado ao violonista Carlinhos Leite, do grupo Época de Ouro) e o tom melancólico de Maria Clara (tema feito para homenagear a homônima violonista), há Na batucada com o Paulão - veículo para Del-Penho expor o toque hábil de seu sete cordas - e há Carlinhos Camará, tema gravado com as vozes dos cantores Joyce Moreno e Zé Renato. Em que pese toda a exuberância instrumental de Pra essa gente boa, álbum que culmina com os quatro movimentos (Cantarolando, No céu, No parque, Na gafieira) da Suíte pra Mari sambar, Samba sujo tem repertório mais sedutor. Contudo, ouvidos em conjunto, os dois primeiros discos solos do artista ajudam a evidenciar o talento versátil de Alfredo Del-Penho.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Não é por acaso que o álbum essencialmente instrumental lançado por Alfredo Del-Penho neste mês de agosto de 2015 - simultaneamente com um disco cantado, Samba sujo (Independente) - traga no repertório choro intitulado Memórias de Paulinho da Viola, composto pelo artista fluminense logo após conhecer o cantor e compositor carioca. Afinal, como conta Del-Penho no encarte do CD Pra essa gente boa em texto escrito sobre o choro, foi a lembrança de que Paulinho também lançou dois álbuns simultâneos no mesmo estilo - Memórias cantando e Memórias chorando, ambos editados em 1976 pela gravadora Odeon - que o encorajou a pôr em prática a ideia dessa dupla estreia fonográfica na sua discografia solo. Pra essa gente boa é álbum ambicioso por alinhar 18 temas da lavra solitária de Del-Penho, sendo que 17 eram até então inéditos em disco. A exceção é o tema mais inspirado do repertório, o samba-título Pra essa gente boa, lançado pela Orquestra Republicana em disco de 2010. Nesse samba levado com vocalises, Del-Penho reproduz o tom da dedicatória feita por Gilberto Gil na introdução do samba Aquele abraço (1969). Só que o samba de Del-Penho vai para Moacir Santos (1926 - 2006), João Bosco e Pedro Paulo Malta (com quem já gravou CDs antes de iniciar sua discografia solo com esse lançamento duplo). A propósito, Pra essa gente boa é disco pautado pela gratidão de Del-Penho aos músicos e cantores que conheceu nos bailes e bares da vida. Tais amizades motivaram a composição de quase todas as músicas. Composto há dez anos, o choro O panda na idade da loba foi criado em tributo aos 40 anos do músico Rui Alvim, que toca clarone na gravação. Se Samba sujo era disco dedicado ao samba, como já explicitava seu título, Pra essa gente boa alterna sambas e choros entre outros ritmos. Com o toque hábil de seu violão de sete cordas, nem sempre evidenciado nos arranjos, Del-Penho cai com propriedade no samba e no choro, mas também há valsa de melodia lírica - Olhos castanhos, dedicada à clarinetista Joana Queiroz, amiga do artista, e gravada com o toque do Quarteto Maogani - e o Acalanto pro Matias, composto por Del-Penho com toque de ciranda para dar as boas-vindas ao seu então recém-nascido sobrinho Matias. Há até inusitada mistura, em compasso ternário, de valsa, maracatu e marcha, Jasmin manga. Mas o samba e o choro são os ritmos recorrentes deste disco que, embora instrumental, se utiliza da voz humana em eventuais faixas. O samba Paulino dança - composto em tributo ao percussionista e dançarino Paulino Dias - é adornada por improviso vocal da cantora carioca Áurea Martins, espécie de madrinha artística de Del-Penho. Entre o lirismo do choro Lugar comum (dedicado ao violonista Carlinhos Leite, do grupo Época de Ouro) e o tom melancólico de Maria Clara (tema feito para homenagear a homônima violonista), há Na batucada com o Paulão - veículo para Del-Penho expor o toque hábil de seu sete cordas - e há Carlinhos Camará, tema gravado com as vozes dos cantores Joyce Moreno e Zé Renato. Em que pese toda a exuberância instrumental de Pra essa gente boa, álbum que culmina com os quatro movimentos (Cantarolando, No céu, No parque, Na gafieira) da Suíte pra Mari sambar, Samba sujo tem repertório mais sedutor. Contudo, ouvidos em conjunto, os dois primeiros discos solos do artista ajudam a evidenciar o talento versátil de Alfredo Del-Penho.