Título: Partir
Artista: Fabiana Cozza (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Teatro do Sesc Ginástico (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de agosto de 2015
Cotação: * * * * *
♪ Partir é o melhor show de Fabiana Cozza. Desde que surgiu no mercado fonográfico, há dez anos, a cantora paulistana sempre se portou como senhora da cena, apresentando shows excelentes, calcados na força natural de sua voz. Mas Partir é o ápice da trajetória de Cozza nos palcos. Sob a direção do ator paranaense Elias Andreato, a intérprete se depura em cena, com equilíbrio preciso de canto, gestos, expressões, coreografias, sonoridade e repertório. Até o figurino e o cenário - uma projeção virtual do portão exposto na capa do recém-lançado álbum Partir (Agô Produções, 2015), mote do show - contribuem para manter a atmosfera de elegância e encantamento que rege esse espetáculo que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 11 de agosto de 2015, em apresentação no teatro do Sesc Ginástico. A aura de beleza se instaurou em cena logo no primeiro número, Velhos de coroa (Sérgio Pererê, 2012), grande música lançada pela cantora mineira Titane há três anos que encontrou em Cozza sua melhor intérprete. Além do samba, Cozza tem o dom de garimpar repertório, colhendo ouros de alto quilate para moldar suas joias fonográficas. Metade do repertório do álbum Partir é composto por regravações de músicas já lançadas em discos alheios. Mas, no todo, esse repertório traça - no disco e no show - roteiro consistente, que leva Cozza à Bahia em rota intercontinental que inclui escalas na África, na Argentina, em Cuba (evocada no bis com Borzeguita, tema de Leandro Medina que cai no suingue da América Central) e no Rio de Janeiro - porto do samba Fim da dança (Moyseis Marques e Vidal Assis, 2015), único número menos arrebatador, mas ainda assim coerente com a rota do roteiro. Calcada na interação de cordas e percussões, a sonoridade do disco é transposta para o palco sem perda do viço. A opção por dispor os percussionistas (Douglas Alonso e Felipe Roseno) de um lado do palco e os músicos das cordas - os violonistas Leo Mendes e Swami Jr. (produtor do disco) e o baixista Marcelo Mariano - do lado oposto acaba por realçar a fina mistura que pauta o álbum e o show. Estrategicamente posicionada ao centro do palco, entre as cordas e as percussões, a própria Cozza toca eventualmente algum instrumento, como o ukelele que adorna Entre o mangue e o mar (Alzira E e Arruda) e o pandeiro com que redivide O samba é meu dom (Paulo César Pinheiro e Wilson das Neves, 1996), passeando à vontade na rítmica desse samba que já nasceu clássico. É nessa levada que Cozza lapida joias como Le Mali chez la carte invisible (2014) - canção em francês no qual o compositor baiano Tiganá Santana versa poeticamente sobre a invisibilidade da África aos olhos do mundo - e Chicala (João Cavalcanti, 2015), tema que estiliza acentos africanos. Passada pelo filtro da Bahia, a África se faz presente em números como Orixá (Roberto Mendes sobre poema de Jorge Portugal, 2007), Roda de capoeira (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro, 2015) - tema que remete à pulsação dos afro-sambas dos anos 1960 - e Mama Kalunga (Tiganá Santana, 2015), saudação às águas que intitulou o quinto álbum da cantora baiana Virgínia Rodrigues, lançado em abril deste ano de 2015, dois meses antes de Cozza apresentar Partir, também seu quinto álbum. Música lançada pela cantora baiana Jurema no álbum Mestiça (Saravá Discos, 2014), um dos melhores discos do ano passado, o samba Não pedi (Roberto Mendes e Nizaldo Costa) põe, na rota de Cozza, a batida do Recôncavo Baiano em cena, no toque do violão de Léo Mendes, músico natural de Santo Amaro da Purificação (BA), destino final do show, antes do arremate cubano do bis. Filho de Roberto Mendes, Léo Mendes toca também o violão que conduz Voz guia (Roberto Mendes e Jorge Portugal, 1996). Há músicas do disco Partir que crescem (ainda mais) no show. Canção romântica de Roberto Mendes e Nizaldo Costa, Teus olhos em mim (2015) é uma delas. É momento sublime que prepara o clima romântico e tristonho do bolero argentino Vete de mi (Virgílio Expósito e Homero Expósito, 1946), grande surpresa do roteiro. Nesse número, Cozza canta acompanhada somente do violão de Swami Jr. Da Argentina, Cozza segue direto para a Bahia, fazendo saudações aos orixás e cantando duas obras-primas da parceria dos compositores baianos Gerônimo e Vevé Calazans (1947 - 2012), Agradecer e abraçar (1986) e É d'Oxum (1985), com direito à citação de Ê menina (João Donato e Guarabyra, 1975) entre uma e outra joia. Dona do dom, Fabiana Cozza segue roteiro sem erro na viagem musical de Partir, lindo show da artista.
6 comentários:
♪ Partir é o melhor show de Fabiana Cozza. Desde que surgiu no mercado fonográfico, há dez anos, a cantora paulistana sempre se portou como senhora da cena, apresentando shows excelentes, calcados na força natural de sua voz. Mas Partir é o ápice da trajetória de Cozza nos palcos. Sob a direção do ator paranaense Elias Andreato, a intérprete se depura em cena, com equilíbrio preciso de canto, gestos, expressões, coreografias, sonoridade e repertório. Até o figurino e o cenário - uma projeção virtual do portão exposto na capa do recém-lançado álbum Partir (Agô Produções, 2015), mote do show - contribuem para manter a atmosfera de elegância e encantamento que rege esse espetáculo que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 11 de agosto de 2015, em apresentação no teatro do Sesc Ginástico. A aura de beleza se instaurou em cena logo no primeiro número, Velhos de coroa (Sérgio Pererê, 2012), grande música lançada pela cantora mineira Titane há três anos que encontrou em Cozza sua melhor intérprete. Além do samba, Cozza tem o dom de garimpar repertório, colhendo ouros de alto quilate para moldar suas joias fonográficas. Metade do repertório do álbum Partir é composto por regravações de músicas já lançadas em discos alheios. Mas, no todo, esse repertório traça - no disco e no show - roteiro consistente, que leva Cozza à Bahia em rota intercontinental que inclui escalas na África, na Argentina, em Cuba (evocada no bis com Borzeguita, tema de Leandro Medina que cai no suingue da América Central) e no Rio de Janeiro - porto do samba Fim da dança (Moyseis Marques e Vidal Assis, 2015), único número menos arrebatador, mas ainda assim coerente com a rota do roteiro. Calcada na interação de cordas e percussões, a sonoridade do disco é transposta para o palco sem perda do viço. A opção por dispor os percussionistas (Douglas Alonso e Felipe Roseno) de um lado do palco e os músicos das cordas - os violonistas Leo Mendes e Swami Jr. (produtor do disco) e o baixista Marcelo Mariano - do lado oposto acaba por realçar a fina mistura que pauta o álbum e o show. Estrategicamente posicionada ao centro do palco, entre as cordas e as percussões, a própria Cozza toca eventualmente algum instrumento, como o ukelele que adorna Entre o mangue e o mar (Alzira E e Arruda) e o pandeiro com que redivide O samba é meu dom (Paulo César Pinheiro e Wilson das Neves, 1996), passeando à vontade na rítmica desse samba que já nasceu clássico.
É nessa levada que Cozza lapida joias como Le Mali chez la carte invisible (2014) - canção em francês no qual o compositor baiano Tiganá Santana versa poeticamente sobre a invisibilidade da África aos olhos do mundo - e Chicala (João Cavalcanti, 2015), tema que estiliza acentos africanos. Passada pelo filtro da Bahia, a África se faz presente em números como Orixá (Roberto Mendes sobre poema de Jorge Portugal, 2007), Roda de capoeira (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro, 2015) - tema que remete à pulsação dos afro-sambas dos anos 1960 - e Mama Kalunga (Tiganá Santana, 2015), saudação às águas que intitulou o quinto álbum da cantora baiana Virgínia Rodrigues, lançado em abril deste ano de 2015, dois meses antes de Cozza apresentar Partir, também seu quinto álbum. Música lançada pela cantora baiana Jurema no álbum Mestiça (Saravá Discos, 2014), um dos melhores discos do ano passado, o samba Não pedi (Roberto Mendes e Nizaldo Costa) põe, na rota de Cozza, a batida do Recôncavo Baiano em cena, no toque do violão de Léo Mendes, músico natural de Santo Amaro da Purificação (BA), destino final do show, antes do arremate cubano do bis. Filho de Roberto Mendes, Léo Mendes toca também o violão que conduz Voz guia (Roberto Mendes e Jorge Portugal, 1996). Há músicas do disco Partir que crescem (ainda mais) no show. Canção romântica de Roberto Mendes e Nizaldo Costa, Teus olhos em mim (2015) é uma delas. É momento sublime que prepara o clima romântico e tristonho do bolero argentino Vete de mi (Virgílio Expósito e Homero Expósito, 1946), grande surpresa do roteiro. Nesse número, Cozza canta acompanhada somente do violão de Swami Jr. Da Argentina, Cozza segue direto para a Bahia, fazendo saudações aos orixás e cantando duas obras-primas da parceria dos compositores baianos Gerônimo e Vevé Calazans (1947 - 2012), Agradecer e abraçar (1999) e É d'Oxum (1991), com direito à citação de Ê menina (João Donato e Guarabyra, 1975) entre uma e outra joia. Dona do dom, Fabiana Cozza segue roteiro sem erro na viagem musical de Partir, lindo show da artista.
Fabiana Cozza é um luxo:a beleza do canto,a escolha do repertório,tudo nela me encanta.Quando ela e Mariene de Castro surgiram vi que o samba tinha um longo e belo caminho a percorrer.Sucesso a Fabiana,esse patrimônio da cultura afro-brasileira.
Eu gostei muito de "Partir". Um dos melhores discos do ano, com toda a certeza... Ela se superou com este álbum...
Grandiosa!
Partir tem muita música lançada pela Jurema, cantora que conheci aqui no blog e pela Virgínia Rodrigues
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