Título: Conversas com Toshiro
Artista: Rodrigo Campos
Gravadora: YB Music
Cotação: * * * 1/2
♪ É pelas lentes e referências do cinema do país do sol nascente que Rodrigo Campos foca o Japão mapeado em seu terceiro álbum solo, Conversas com Toshiro. Mas as referências cinematográficas - espalhadas pelo disco em músicas que nominam em seus títulos personalidades míticas como o ator Toshiro Mifune (1920 - 1997) e os cineastas Takeshi Kitano, Yasujiro Ozu (1903 - 1963) e Wong Kar-Wai (de origem chinesa) - servem para retratar em suas canções personagens cujos anseios e dilemas são universais. Em seu primeiro álbum solo, São Mateus não é um lugar assim tão longe (Ambulante Discos, 2009), o artista paulistano já tinha seguido trilha similar, focando a cidade de São Paulo (SP) e o próprio Brasil pelo viés humanista dos habitantes de São Mateus, o periférico bairro da Zona Leste de Sampa no qual foi criado e aprendeu a tocar seu cavaquinho. E por falar em cavaquinho, há sambas em Conversas com Toshiro. Chihiro e Mar do Japão são sambas que mostram que, inclusive no mapa-múndi da música, o Japão não é um lugar assim tão longe de São Paulo e de Salvador (BA), cidade presente na rota também cinematográfica do segundo álbum solo de Campos, Bahia fantástica (Núcleo Contemporâneo, 2012), disco que manchou a construída imagem feliz da mítica Bahia de São Salvador. Disco viabilizado pelo projeto Natura musical, Conversas com Toshiro tem produção tão fantástica quanto a de seu antecessor e apresenta sonoridade que evoca - não por acaso - a trilha de um filme. A riqueza de timbres e dos arranjos valoriza o inédito cancioneiro autoral de Campos, saltando sobretudo aos ouvidos a orquestração majestosa de Toshiro reverso, feita com complexidade que evoca o som do maestro Moacir Santos (1926 - 2006). Faixa formatada com cordas, Abraço de Ozu reitera o tom por vozes onírico adquirido pelo disco produzido por Campos sob a direção artística de seu irmão de fé Romulo Fróes, colega no quarteto Passo Torto. Ciente de seus limites como cantor, Campos reforça o registro de músicas como Wong Kar-Wai e Takeshi e Asayo com os vocais femininos das cantoras Juçara Marçal e Ná Ozzetti, recorrentes no álbum. E por falar em Juçara, grande música de seu disco solo Encarnado (Independente, 2014), Velho amarelo, reaparece em Conversas com Toshiro, um pouco distante do Japão, com orquestração magistral, mas sem a força crua do registro do antológico álbum da cantora (embora, a título de informação, Velho amarelo seja composição feita originalmente para o disco de Campos). Tema que busca uma transcendência espiritual, Funatsu - composição que descreve a personagem-título na letra como "metade de algo encarnado" - parece caber mais no Japão imaginado por Campos com doses altas de erotismo. Nesse campo, Katsumi e Dois sozinhos vão direto ao ponto G com poesia e, no gozo dessas músicas embebidas em sensualidade, o ouvinte se identifica com o Japão, país que não é um lugar assim tão longe porque os sentimentos e a vida humana - matéria-prima dos discos de Rodrigo Campos em São Paulo, na Bahia ou em qualquer outro bairro, cidade, estado ou país do vasto mundo - se irmanam na fogueira das paixões e nas telas dos cinemas transcendentais que unificam o universo.
2 comentários:
♪ É pelas lentes e referências do cinema do país do sol nascente que Rodrigo Campos foca o Japão mapeado em seu terceiro álbum solo, Conversas com Toshiro. Mas as referências cinematográficas - espalhadas pelo disco em músicas que nominam em seus títulos personalidades míticas como o ator Toshiro Mifune (1920 - 1997) e os cineastas Takeshi Kitano, Yasujiro Ozu (1903 - 1963) e Wong Kar-Wai (de origem chinesa) - servem para retratar em suas canções personagens cujos anseios e dilemas são universais. Em seu primeiro álbum solo, São Mateus não é um lugar assim tão longe (Ambulante Discos, 2009), o artista paulistano focou a cidade de São Paulo (SP) e o próprio Brasil pelo viés humanista dos habitantes de São Mateus, o periférico bairro da Zona Leste de Sampa no qual foi criado e aprendeu a tocar seu cavaquinho. E por falar em cavaquinho, há sambas em Conversas com Toshiro. Chihiro e Mar do Japão são sambas que mostram que, inclusive no mapa-múndi da música, o Japão não é um lugar assim tão longe de São Paulo e de Salvador (BA), cidade presente na rota imagética do segundo álbum solo de Campos, Bahia fantástica (Núcleo Contemporâneo, 2012), disco que manchou a construída imagem feliz da mítica Bahia de São Salvador. Disco viabilizado pelo projeto Natura musical, Conversas com Toshiro tem produção tão fantástica quanto a de seu antecessor. A riqueza de timbres e dos arranjos valoriza o cancioneiro autoral de Campos, saltando sobretudo aos ouvidos na orquestração majestosa de Toshiro reverso, feita com complexidade que evoca o som do maestro Moacir Santos (1926 - 2006). Faixa formatada com cordas, Abraço de Ozu reitera o tom por vozes onírico adquirido pelo disco produzido por Campos com seu irmão de fé Romulo Fróes, colega no quarteto Passo Torto. Ciente de seus limites como cantor, Campos reforça o registro de músicas como Wong Kar-Wai e Takeshi e Asayo com os vocais femininos das cantoras Juçara Marçal e Ná Ozzetti, recorrentes no álbum. E por falar em Juçara, grande música de seu disco solo Encarnado (Independente, 2014), Velho amarelo, reaparece em Conversas com Toshiro, distante do Japão, com orquestração magistral, mas sem a força crua do registro do antológico álbum da cantora. Tema que busca uma transcendência espiritual, Funatsu - composição que descreve a personagem-título na letra como "metade de algo encarnado" - parece caber mais no Japão imaginado por Campos com doses altas de erotismo. Nesse campo, Katsumi e Dois sozinhos vão direto ao ponto G com poesia e, no gozo dessas músicas embebidas em sensualidade, o ouvinte se identifica com o Japão, país que não é um lugar assim tão longe porque os sentimentos e a vida humana - matéria-prima dos discos de Rodrigo Campos em São Paulo, na Bahia ou em qualquer outro lugar do mundo - se irmanam na fogueira das paixões e nas telas dos cinemas transcendentais que unificam o universo.
essa tríade sao mateus-bahia-japao ficou impecável. como sabe trabalhar bem o conceito dos discos! a sonoridade de cada um é tão peculiar e diversa, um choque! ouvindo o disco é mais um filme, uma trilha sonora, do q outra coisa.
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