Título: Gonzaguinha presente - Duetos
Artista: Gonzaguinha e convidados
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *
♪ Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (22 de setembro de 1945 - 29 de abril de 1991), o popular Gonzaguinha, talvez estivesse festejando hoje seus 70 anos de vida se não tivesse saído precocemente de cena, aos 46 anos incompletos, em acidente na estrada. Mas a obra do cantor e compositor carioca atravessa gerações, resiste à ausência física do artista e sempre encontra novas vozes e ouvintes. Surgido no fim dos anos 1960, ainda na era dos festivais, o perene cancioneiro de Gonzaguinha começou calcado no samba de rancoroso tom político e, aos poucos, se abriu para o amor em série de canções e boleros que encontraram suas mais perfeitas traduções nas vozes de cantoras como Maria Bethânia, Nana Caymmi e Simone. As três intérpretes são ausências sentidas no time de cantores convidados de Gonzaguinha presente - Duetos, disco produzido por Miguel Plopschi para a gravadora Universal Music para festejar os 70 anos do artista. Produtor e executivo de intensa atuação no mercado fonográfico dos anos 1970 e 1980, Plopschi recorreu à fórmula dos duetos forjados em estúdio com o auxílio da tecnologia digital. No caso, das gravações originais de Gonzaguinha, aproveitou-se somente a voz do cantor. Novos arranjos foram feitos por Maurício Barbosa com o (ab)uso de teclados - evidente no arranjo pasteurizado de Sangrando (1980), faixa gravada com a voz de Ivete Sangalo - e a adição eventual de instrumentos tocados por músicos como o percussionista Mafram do Maracanã, o violonista Carlinhos 7 Cordas e o trombonista Bira. Contudo, a espontaneidade dos duetos - algo raro em discos do gênero - valoriza o projeto e redime a produção econômica, reiterando a grandeza da obra do compositor. Com exceção de Ivete Sangalo, escolha infeliz para Sangrando, música que pede cantoras de tons mais passionais, os intérpretes parecem à vontade no disco. Embora forjados em estúdio, os duetos soam naturais, especialmente nos sambas. Bom cantor, o mineiro Alexandre Pires se integra com Gonzaguinha no clima expansivo do samba O que é o que é (1982) em gravação que culmina com citação de E vamos à luta (1980). Samba que batizou o álbum lançado em 1980 por Alcione, E vamos à luta é ambientado em clima de gafieira com a presença de Zeca Pagodinho. Já Martinho da Vila fica em casa ao cantar Com a perna no mundo (1979) com Gonzaguinha. Na ala das canções, Maria Rita é o destaque por acertar o tom de Grito de alerta (1979) - único dueto do disco feito com o arranjo da gravação de Gonzaguinha - sem fazer drama. Em sintonia com a interpretação do compositor, Ana Carolina baixa o tom em Não dá mais para segurar (Explode coração) (1978) sem perder a energia que parece faltar ao bolero Começaria tudo outra vez (1976) no dueto de Lenine com Gonzaguinha. Com seu espírito zen, Gilberto Gil mergulha direito no Lindo lago do amor (1984) em gravação pontuada pela gaita de Stanley Neto. Canção que evoca as toadas interioranas, Espere por mim, morena se ajusta às vozes da dupla Victor & Leo. Os irmãos fazem trio com Gonzaguinha em gravação que pedia arranjo de tom mais marcantemente ruralista e que termina com sagaz citação de Diga lá, coração (1978), canção ausente do repertório de Gonzaguinha presente. Em que pese a qualidade oscilante dos arranjos, o disco se sustenta pela grandeza da obra de um compositor que caiu no samba com consciência social e que falou de amor e sexo com sensibilidade. Em Ponto de interrogação (1980), por exemplo, canção ora dividida com Alcione, Gonzaguinha se dirigiu ao seu (minoritário) público masculino para questionar o já automatizado desempenho na cama de homens casados que ignoram a satisfação sexual de suas mulheres. Analisada em perspectiva, a obra de Gonzaguinha foi ficando menos rancorosa com o passar dos anos. Feliz (1983), canção que ganhou a voz de Raimundo Fagner em Gonzaguinha presente, celebra a boa saudade de um amor que se foi em paz. Fagner, aliás, foi o intérprete que propagou a sensível canção Um homem também chora (Guerreiro menino), ora revivida em dueto virtual de Gonzaguinha com Zeca Baleiro. No fim, A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953) junta três gerações da dinastia dos Gonzaga - Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Gonzaguinha e Daniel Gonzaga, avô, pai e filho - como que sinalizando que o legado de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior continua vivo, alcançando gerações.
11 comentários:
♪ Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (22 de setembro de 1945 - 29 de abril de 1991), o popular Gonzaguinha, talvez estivesse festejando hoje seus 70 anos de vida se não tivesse saído precocemente de cena, aos 46 anos incompletos, em acidente na estrada. Mas a obra do cantor e compositor carioca atravessa gerações, resiste à ausência física do artista e sempre encontra novas vozes e ouvintes. Surgido no fim dos anos 1960, ainda na era dos festivais, o perene cancioneiro de Gonzaguinha começou calcado no samba de rancoroso tom político e, aos poucos, se abriu para o amor em série de canções e boleros que encontraram suas mais perfeitas traduções nas vozes de cantoras como Maria Bethânia, Nana Caymmi e Simone. As três intérpretes são ausências sentidas no time de cantores convidados de Gonzaguinha presente - Duetos, disco produzido por Miguel Plopschi para a gravadora Universal Music para festejar os 70 anos do artista. Produtor e executivo de intensa atuação no mercado fonográfico dos anos 1970 e 1980, Plopschi recorreu à fórmula dos duetos forjados em estúdio com o auxílio da tecnologia digital. No caso, das gravações originais de Gonzaguinha, aproveitou-se somente a voz do cantor. Novos arranjos foram feitos por Maurício Barbosa com o (ab)uso de teclados - evidente no arranjo pasteurizado de Sangrando (1980), faixa gravada com a voz de Ivete Sangalo - e a adição eventual de instrumentos tocados por músicos como o percussionista Mafram do Maracanã, o violonista Carlinhos 7 Cordas e o trombonista Bira. Contudo, a espontaneidade dos duetos - algo raro em discos do gênero - valoriza o projeto e redime a produção econômica, reiterando a grandeza da obra do compositor. Com exceção de Ivete Sangalo, escolha infeliz para Sangrando, música que pede cantoras de tons mais passionais, os intérpretes parecem à vontade no disco. Embora forjados em estúdio, os duetos soam naturais, especialmente nos sambas. Bom cantor, o mineiro Alexandre Pires se integra com Gonzaguinha no clima expansivo do samba O que é o que é (1982) em gravação que culmina com citação de E vamos à luta (1980). Samba que batizou o álbum lançado em 1980 por Alcione, E vamos à luta é ambientado em clima de gafieira com a presença de Zeca Pagodinho. Já Martinho da Vila fica em casa ao cantar Com a perna no mundo (1979) com Gonzaguinha. Na ala das canções, Maria Rita é o destaque por acertar o tom de Grito de alerta (1979) - único dueto do disco feito com o arranjo da gravação de Gonzaguinha - sem fazer drama. Em sintonia com a interpretação do compositor, Ana Carolina baixa o tom em Não dá mais para segurar (Explode coração) (1978) sem perder a energia que parece faltar ao bolero Começaria tudo outra vez (1976) no dueto de Lenine com Gonzaguinha. Com seu espírito zen, Gilberto Gil mergulha direito no Lindo lago do amor (1984) em gravação pontuada pela gaita de Stanley Neto. Canção que evoca as toadas interioranas, Espere por mim, morena se ajusta às vozes da dupla Victor & Leo. Os irmãos fazem trio com Gonzaguinha em gravação que pedia arranjo de tom mais marcantemente ruralista e que termina com sagaz citação de Diga lá, coração (1978), canção ausente do repertório de Gonzaguinha presente.
Em que pese a qualidade oscilante dos arranjos, o disco se sustenta pela grandeza da obra de um compositor que caiu no samba com consciência social e que falou de amor e sexo com sensibilidade. Em Ponto de interrogação (1980), por exemplo, canção ora dividida com Alcione, Gonzaguinha se dirigiu ao seu (minoritário) público masculino para questionar o já automatizado desempenho na cama de homens casados que ignoram a satisfação sexual de suas mulheres. Analisada em perspectiva, a obra de Gonzaguinha foi ficando menos rancorosa com o passar dos anos. Feliz (1983), canção que ganhou a voz de Raimundo Fagner em Gonzaguinha presente, celebra a boa saudade de um amor que se foi em paz. Fagner, aliás, foi o intérprete que propagou a sensível canção Um homem também chora (Guerreiro menino), ora revivida em dueto virtual de Gonzaguinha com Zeca Baleiro. No fim, A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953) junta três gerações da dinastia dos Gonzaga - Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Gonzaguinha e Daniel Gonzaga, avô, pai e filho - como que sinalizando que o legado de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior continua vivo, alcançando gerações.
Para mim este disco de duetos é caça-níquel da pior qualidade... Não recomendo a compra desse disco...
Gonzaguinha deve estar revirando no caixão com esse disco...
O disco está disponível para audição no Deezer:
http://www.deezer.com/album/11104800
Para quem quiser conferir, vá até lá e confira o resultado...
Um compositor da importância de Gonzaguinha, merecia um maior cuidado na produção desse disco. Já que é uma celebração, penso que grandes músicos deveriam estar envolvidos nesse projeto, e não o abuso dos teclados. Infelizmente, coisa tão comum hoje em dia. E realmente, é imperdoável a ausência de Maria Bethânia, Nana Caymmi e Simone. Cantoras que fizeram com que as letras de Gonzaguinha chegassem o grande público. Foi perdida a oportunidade de se fazer um grande disco. Uma pena!
Comprei o disco no escuro e gostei. Arranjos pop para alcançar maior público. Embora a obra do cantor/compositor de grandeza ímpar já tenha sido muito bem cantada. Mais do mesmo, sem ser mais do mesmo. Já vi tributos muiiiito piores.
Joanna é a cantora que mais cantou Gonzaguinha,segundo a própria.
É emocionante ouvir a voz do Gonzaguinha, remasterizada. Apesar de eu não ter gostado da maioria dos duetos, vou escutar esse disco com muito carinho.
abração,
Denilson
Adorei. Concordo que merecia uma produção melhor, ainda mais se tratando de uma edição da Universal (cretinice, né). Mas de modo geral ficou bem-feitinho, sim.
Me irrita um pouco a coisa do papo com o defunto. Essas conversas paralelas nos registros de duetos em estúdio já me incomodam, com defunto, então, fica bizarro. Pelo amor! Dá tilt na minha cabeça. Quem sugere uma coisas dessas? Queria conhecer.
Achei que o Alexandre Pires e a Ivete estariam melhores no disco. Não achei bom, não. Mas a Ana Carolina acabou de gravar Sangrando, também, né... impossível não comparar. E a Ana tá perfeita em "Explode coração". Foi um dos duetos que melhor me convenceu (mas carrego o romantismo de fã da Ana, haha).
As faixas com Maria Rita e Zeca Pagodinho também estão muito amor.
A Ana tá perfeita em "Explode coração". Foi um dos duetos que melhor me convenceu (mas carrego o romantismo de fã da Ana, haha). ²
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