Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 13 de setembro de 2015

'Nheengatu ao vivo' flagra Titãs (de novo) no sapato dos cidadãos civilizados

Resenha de CD e DVD
Título: Nheengatu - Ao vivo
Artista: Titãs
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Os grandes shows de rock são feitos da conexão enérgica entre público e banda. Parte da energia do show Nheengatu se dissipou na captação da apresentação feita pelo grupo paulistano Titãs em 24 de abril deste ano de 2015 na casa Audio Club, em São Paulo (SP). Não que a captação - feita pela Paris Filmes sob a direção de Joana Mazzucchelli - seja em si ineficaz. O áudio e a imagem do DVD seguem o padrão do formato, com boa qualidade perceptível já nas primeiras tomadas, que flagram os quatro integrantes do grupo, mascarados, nas escadas e corredores que dão acesso ao palco do Audio Club. A questão é que são poucos os DVDs que conseguem capturar a temperatura exata de um show, sobretudo quando se trata de show de rock de tom acalorado. Sim, Nheengatu é um show feito em ponto de fervura. Os Titãs reproduzem no palco o peso de seu 18º álbum. Lançado em maio de 2014 pela gravadora Som Livre, o álbum Nheengatu expôs as vísceras da nativa república dos bananas e devolveu aos Titãs a dignidade fonográfica e o peso que pareceram definitivamente perdidos com o álbum anterior do grupo, Sacos plásticos (Arsenal Music / Universal Music, 2009), produzido por Rick Bonadio com som sem pegada, empacotado em escala industrial. Sob a batuta do produtor Rafael Ramos, os Titãs - grupo atualmente reduzido a um quarteto formado por Branco Mello, Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto -honraram seu histórico com este ótimo disco que remeteu a álbuns clássicos de sua trajetória como Cabeça dinossauro (Warner Music, 1986) e Jesus não tem dentes no país dos banguelas (Warner Music, 1987) pelo peso e pela temática corrosiva. O show Nheengatu seguiu a mesma trilha forte em roteiro que incorporou músicas antigas que se afinam com o tom afiado deste trabalho - casos de Massacre (Sergio Britto e Marcelo Fromer, 1985) e de Desordem (Sergio Britto, Marcelo Fromer e Charles Gavin, 1987). De tom politizado, o roteiro do show Nheengatu enfatizou esse momento de virada dos Titãs, reiterado pelo DVD. O uso das máscaras nos rostos dos integrantes dos Titãs nas quatro primeiras músicas - Fardado (Sergio Britto e Paulo Miklos, 2014), Pedofilia (Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto, 2014), Cadáver sobre cadáver (Paulo Miklos e Arnaldo Antunes, 2014) e Chegada ao Brasil (Terra à vista) (Branco Mello, Emerson Villani e Aderbal Freire Jr., 2014) - surte bom efeito cênico. Mas é o som - feito com a adesão do baterista convidado Mario Fabre - e a boa qualidade do repertório que justificam o show e confirmam o bom momento dos Titãs. Ter revisitado o som e a fúria do álbum Cabeça dinossauro em show virulento, de espírito punk, parece ter encorajado os Titãs a pegarem o caminho de volta na gravação do revigorante álbum Nheengatu. Mesmo sem soar tão visceral quanto o disco, o DVD indica que o caminho dos Titãs é mesmo por aí, como reiteram os extras, nos quais estão alocados registros mais toscos (e mais quentes) de músicas como Polícia (Tony Bellotto, 1986) e Bichos escrotos (Arnaldo Antunes, Sergio Britto e Nando Reis, 1986). Com Nheengatu, disco e show, os Titãs entraram novamente nos sapatos dos cidadãos civilizados. Tomara que lá permaneçam quando forem fazer o próximo álbum.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Os grandes shows de rock são feitos da conexão enérgica entre público e banda. Parte da energia do show Nheengatu se dissipou na captação da apresentação feita pelo grupo paulistano Titãs em 24 de abril deste ano de 2015 na casa Audio Club, em São Paulo (SP). Não que a captação - feita pela Paris Filmes sob a direção de Joana Mazzucchelli - seja em si ineficaz. O áudio e a imagem do DVD seguem o padrão do formato, com boa qualidade perceptível já nas primeiras tomadas, que flagram os quatro integrantes do grupo, mascarados, nas escadas e corredores que dão acesso ao palco do Audio Club. A questão é que são poucos os DVDs que conseguem capturar a temperatura exata de um show, sobretudo quando se trata de show de rock de tom acalorado. Sim, Nheengatu é um show feito em ponto de fervura. Os Titãs reproduzem no palco o peso de seu 18º álbum. Lançado em maio de 2014 pela gravadora Som Livre, o álbum Nheengatu expôs as vísceras da nativa república dos bananas e devolveu aos Titãs a dignidade fonográfica e o peso que pareceram definitivamente perdidos com o álbum anterior do grupo, Sacos plásticos (Arsenal Music / Universal Music, 2009), produzido por Rick Bonadio com som sem pegada, empacotado em escala industrial. Sob a batuta do produtor Rafael Ramos, os Titãs - grupo atualmente reduzido a um quarteto formado por Branco Mello, Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto -honraram seu histórico com este ótimo disco que remeteu a álbuns clássicos de sua trajetória como Cabeça dinossauro (Warner Music, 1986) e Jesus não tem dentes no país dos banguelas (Warner Music, 1987) pelo peso e pela temática corrosiva. O show Nheengatu seguiu a mesma trilha forte em roteiro que incorporou músicas antigas que se afinam com o tom afiado deste trabalho - casos de Massacre (Sergio Britto e Marcelo Fromer, 1985) e de Desordem (Sergio Britto, Marcelo Fromer e Charles Gavin, 1987). De tom politizado, o roteiro do show Nheengatu enfatizou esse momento de virada dos Titãs, reiterado pelo DVD. O uso das máscaras nos rostos dos integrantes dos Titãs nas quatro primeiras músicas - Fardado (Sergio Britto e Paulo Miklos, 2014), Pedofilia (Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto, 2014), Cadáver sobre cadáver (Paulo Miklos e Arnaldo Antunes, 2014) e Chegada ao Brasil (Terra à vista) (Branco Mello, Emerson Villani e Aderbal Freire Jr., 2014) - surte bom efeito cênico. Mas é o som - feito com a adesão do baterista convidado Mario Fabre - e a boa qualidade do repertório que justificam o show e confirmam o bom momento dos Titãs. Ter revisitado o som e a fúria do álbum Cabeça dinossauro em show virulento, de espírito punk, parece ter encorajado os Titãs a pegarem o caminho de volta na gravação do revigorante álbum Nheengatu. Mesmo sem soar tão visceral quanto o disco, o DVD indica que o caminho dos Titãs é mesmo por aí, como reiteram os extras, nos quais estão alocados registros mais toscos (e mais quentes) de músicas como Polícia (Tony Bellotto, 1986) e Bichos escrotos (Arnaldo Antunes, Sergio Britto e Nando Reis, 1986). Com Nheengatu, disco e show, os Titãs entraram novamente nos sapatos dos cidadãos civilizados. Tomara que lá permaneçam quando forem fazer o próximo álbum.

Rafael disse...

Esse disco dos Titãs é muito bom. Ao vivo deve estar melhor ainda...

Unknown disse...

Ótimo show e dvd, só não concordo com as duas músicas escolhidas para finalizar o show/dvd, televisão e sonífera ilha, soam deslocadas e broxantes, em meio a um show tão vigoroso!
Miklos adotou umas caretinhas como se quisesse assustar criancinhas, não ficou legal. Brito continua o mesmo titã dos velhos tempos, leva a sério o seu grupo.