Título: Angela à vontade em voz & violão
Artista: Angela Maria
Gravadora: Nova Estação / Tratore
Cotação: * * * *
♪ Quando estava no auge vocal, com poderosos agudos propagados pelas ondas nacionais do rádio dos anos 1950, Angela Maria gravou discos em que orquestrações pomposas disputavam espaço com sua privilegiada voz de mezzo-soprano. Aos 86 anos, completados em 13 de maio deste ano de 2015, a icônica cantora fluminense arrisca um formato de voz & violão inédito em sua discografia. Em Angela à vontade em voz & violão, álbum acústico produzido por Thiago Marques Luiz para sua gravadora Nova Estação, o espaço é dividido somente pela voz da intérprete - mais voltada para os tons graves que se afinam com seu tempo de maturidade - e pelo violão de Ronaldo Rayol. Quem ouvir o disco na esperança vã de ouvir a Angela de outrora vai certamente se decepcionar. Mas quem ouvir sem nostalgia o CD - já distribuído nas lojas pela Tratore - vai se deparar com uma senhora cantora, certeira nas interpretações e intenções de músicas como os sambas-canção Só louco (Dorival Caymmi, 1955) e Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952). O repertório - esse, sim, selecionado com saudosismo - deixa a artista em zona sempre confortável, sem conexões com artistas do tempo presente. A composição mais recente do álbum, Codinome beija-flor (Cazuza, Reinaldo Árias e Ezequiel Neves, 1985), já foi lançada há 30 anos. Enfim, o universo musical do repertório do disco já é velho conhecido de Angela, mesmo que algumas músicas - casos do samba-canção Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951) e de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959), entre outras - nunca tivessem até então sido registradas em disco pela cantora. E o fato é que Angela Maria, aos resistentes 86 anos, está realmente à vontade ao lado do violão de Ronaldo Rayol. Músico habilidoso, Rayol consegue simular com as cordas em Retalhos de cetim (Benito Di Paula, 1973) o suave batuque de um samba triste. Com a mesma habilidade, Rayol envolve o samba-canção Quase (Mirabeau e Jorge Gonçalves, 1954) em clima de fado. O disco somente perde pontos quando a Angela Maria do presente outonal evoca inevitavelmente a Angela Maria do passado glorioso. Amendoim torradinho (Henrique Beltrão, 1954) - música que a Sapoti não lançou, mas que deixou eternamente associada ao seu canto a partir de gravação de 1958 - já foi saboreado com mais sal pela cantora. Da mesma forma, Vá, mas volte (Wando, 1976) - último grande sucesso popular da vasta discografia da artista - permanece imbatível no registro propagado em escala nacional na trilha sonora da novela Duas vidas (TV Globo, 1976). De todo modo, o bonito álbum Angela à vontade em voz & violão atesta a impressionante longevidade alcançada por voz icônica, rara sobrevivente da dourada era do rádio.
12 comentários:
♪ Quando estava no auge vocal, com poderosos agudos propagados pelas ondas nacionais do rádio dos anos 1950, Angela Maria gravou discos em que orquestrações pomposas disputavam espaço com sua privilegiada voz de mezzo-soprano. Aos 86 anos, completados em 13 de maio deste ano de 2015, a icônica cantora fluminense arrisca um formato de voz & violão inédito em sua discografia. Em Angela à vontade em voz & violão, álbum acústico produzido por Thiago Marques Luiz para sua gravadora Nova Estação, o espaço é dividido somente pela voz da intérprete - mais voltada para os tons graves que se afinam com seu tempo de maturidade - e pelo violão de Ronaldo Rayol. Quem ouvir o disco na esperança vã de ouvir a Angela de outrora vai certamente se decepcionar. Mas quem ouvir sem nostalgia o CD - já distribuído nas lojas pela Tratore - vai se deparar com uma senhora cantora, certeira nas interpretações e intenções de músicas como os sambas-canção Só louco (Dorival Caymmi, 1955) e Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952). O repertório - esse, sim, selecionado com saudosismo - deixa a artista em zona sempre confortável, sem conexões com artistas do tempo presente. A composição mais recente do álbum, Codinome beija-flor (Cazuza, Reinaldo Árias e Ezequiel Neves, 1985), já foi lançada há 30 anos. Enfim, o universo musical do repertório do disco já é velho conhecido de Angela, mesmo que algumas músicas - casos do samba-canção Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951) e de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959), entre outras - nunca tivessem até então sido registradas em disco pela cantora. E o fato é que Angela Maria, aos resistentes 86 anos, está realmente à vontade ao lado do violão de Ronaldo Rayol. Músico habilidoso, Rayol consegue simular com as cordas em Retalhos de cetim (Benito Di Paula, 1973) o suave batuque de um samba triste. Com a mesma habilidade, Rayol envolve o samba-canção Quase (Mirabeau e Jorge Gonçalves, 1954) em clima de fado. O disco somente perde pontos quando a Angela Maria do presente outonal evoca inevitavelmente a Angela Maria do passado glorioso. Amendoim torradinho (Henrique Beltrão, 1954) - música que a Sapoti não lançou, mas que deixou eternamente associada ao seu canto a partir de gravação de 1958 - já foi saboreado com mais sal pela cantora. Da mesma forma, Vá, mas volte (Wando, 1976) - último grande sucesso popular da vasta discografia da artista - permanece imbatível no registro propagado em escala nacional na trilha sonora da novela Duas vidas (TV Globo, 1976). De todo modo, o bonito álbum Angela à vontade em voz & violão atesta a impressionante longevidade alcançada por voz icônica, rara sobrevivente da dourada era do rádio.
Tenho o áudio desse disco e ele realmente é lindo... Ângela é uma das maiores divas da nossa música brasileira. Ela está totalmente à vontade nesse registro, e acima de tudo o mais importante: ela está feliz cantando essas belas músicas.
Sinceramente, embora tenha achado o disco lindo e a voz da Ângela em ótimas condições, me decepcionei um pouco com o repertório. Não por serem músicas antigas, mas sim por serem canções óbvias. Senti uma certa preguiça não apenas da Ângela, mas também do Thiago como produtor. Nada contra "Codinome Beija-Flor", mas outras canções do mesmo Cazuza, tão belas quanto, poderiam figurar neste disco. "Minha Flor, Meu Bebê", "Um Trem para as Estrelas", enfim, reais novidades na voz da Sapoti. O mesmo no que diz respeito a "Retalhos de Cetim", "Só Louco", "Nunca"... belíssimas canções na voz da Ângela, mas que já soam com certo cansaço de tantas gravações. Lindo disco, mas que poderia ter dado um passo a mais na discografia da cantora.
É tão bom ver essas cantoras de longa jornada, ainda em atividade...Angela, Elza, e muitas outras. Independente do trabalho, estão aí caminhando e cantando, isso é um exemplo de vida para qualquer pessoa, de qualquer área, não só a música...é muita inspiração! Salve Angela, Querida :)
Teremos um post dedicado a Orlando Silva neste sábado, caro Mauro?
Concordo, Bruno, o saudosismo está na seleção do repertório. Mas entendo, por outro lado, que uma cantora de 86 anos tem seus limites. O fato é o que o disco é bonito. Clayton, sim, teremos o post sobre o centenário de Orlando. Já está sendo redigido. Abs, MauroF
Mauro, faz post também pro 2x0 Vargem Alta do Chico Chico. Já está no Spotify. https://open.spotify.com/album/0UR92mPz8ujywaBtNBXixq
Victor, a resenha do disco 2x0 Vargem Alta sai na edição da minha coluna 'Estúdio', do jornal 'O Dia', de 5 de outubro. A do Notas Musicais vai ser postada alguns dias depois. Abs, MauroF
Esperando no domingo o encontro memóravel da Sapoti com Blubell e Filipe Catto
Mauro o disco é lindo!E quando vc vai colocar a resenha do disco da Elza,abraços!
Obrigado, Mauro. Vou conferir. Sempre bom ver suas impressões!
Ouvi e gostei, Ângela tá cantando bem
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