segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Caixa com 17 álbuns e três coletâneas expõe altitude do bom partido de Zeca

Resenha de caixa de CDs
Título: Partido alto
Artista: Zeca Pagodinho
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Faz 20 anos que Zeca Pagodinho ingressou na gravadora Universal Music - bancado por Max Pierre, então no posto de diretor artístico da companhia - e lançou álbum produzido por Rildo Hora, Samba pras moças (1995), que representou momento de virada em carreira fonográfica que vinha em escala descendente com série de discos editados sem grande repercussão na gravadora BMG. Embora sejam discos dignos, Pixote (BMG, 1991), Um dos poetas do samba (BMG, 1992) e Alô, mundo! (BMG, 1993) são títulos de menor expressão dentro da obra fonográfica do cantor e compositor carioca. A ponto de não figurarem na caixa com 20 CDs que a Universal Music põe nas lojas neste mês de outubro de 2015 para celebrar os 20 anos do sambista na companhia. Diferentemente do que apregoa numa de suas bordas laterais, a caixa Partido alto embala 17 álbuns e três coletâneas - e não 19 álbuns e uma compilação. Juras de amor (2000) e Zeca Pagodinho ao vivo com os amigos (2011) são coletâneas, e não álbuns. A única compilação da coleção é inédita e se chama Zeca Pagodinho com passo de MPB, tendo sido produzida especialmente para a caixa (embora já esteja à venda de forma avulsa, em edição digital, em lojas virtuais como o iTunes). Com libreto em que o jornalista pernambucano (radicado no Rio de Janeiro) Cleodon Coelho discorre sobre cada um dos 20 títulos encaixotados, a caixa Partido alto abrange período que vai de 1988, ano do álbum Jeito moleque (BMG), até 2013, ano do projeto retrospectivo Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue. Os dois primeiros álbuns do cantor - o fenomenal Zeca Pagodinho (1986) e Patota de Cosme (1987), gravados na extinta gravadora RGE e atualmente pertencentes ao acervo da Som Livre - ficaram de fora por questões jurídicas. Em contrapartida, Pagodinho pediu - e conseguiu - a inclusão na caixa dos três primeiros álbuns que fez na BMG. Jeito moleque (1988), Boêmio feliz (1989) e Mania da gente (1990) são bons discos, coerentes com o estilo do sambista. Pelo fato de estes três álbuns estarem até então fora de catálogo, as inclusões deles na caixa valorizam a edição do projeto. Até porque as edições encaixotadas não foram remasterizadas. Os álbuns da Universal Music foram embalados na caixa da mesma forma com que foram lançados originalmente no mercado fonográfico, com o mesmo som (já em si satisfatório, pois a masterização original já foi feita para o formato de CD) e com a mesma arte gráfica. Desde que passou a gravar na Universal Music, Zeca passou a seguir a receita orquestral do produtor Rildo Hora - fórmula que, embora siga trilhas já previsíveis, se mostra quase sempre infalível. Ao dar oportunidade de ouvir e analisar a obra de Zeca Pagodinho em perspectiva e em sequência cronológica, a caixa Partido alto evidencia, sobretudo, a coerência com que o sambista vem conduzindo sua carreira, sem sair de seu nobre quintal. Os discos de Zeca misturam sambas com crônicas do cotidiano de seu povo humilde, sambas de tom romântico, temas de pegada baiana - cadência que perseguiu a partir de 1995 com o sucesso de Samba pra moças, parceria do compositor baiano Roque Ferreira com Grazielle - e regravações de temas da lavra majestosa de bambas da velha guarda do samba (sobretudo da Portela, a escola do coração do artista). A fórmula pouco varia - tampouco a alta qualidade do repertório. O que determinou o sucesso maior ou menor dos discos da caixa foi a inclusão de sambas com maior ou menor potencial para fazer sucesso em todo o Brasil, sobretudo no Estado do Rio de Janeiro, praça onde Zeca Pagodinho sempre foi nome forte (inclusive por conta de suas conexões com a Baixada Fluminense). Além da composição que lhe deu título, o álbum Samba pras moças legou para a posteridade Vou botar teu nome na macumba, partido alto composto por Zeca com o então emergente Dudu Nobre, sambista que ingressara na banda do cantor na turnê do show baseado no disco anterior Alô, mundo!. Já Deixa clarear (1996) estourou de imediato por conta do samba Verdade (Nelson Rufino e Carlinhos Santana), que veio a se tornar um dos maiores hits do artista. Na sequência, Hoje é dia de festa (1997) trouxe munição certeira que atingiu em cheio as paradas. Posso até me apaixonar (Dudu Nobre) e Faixa amarela (Zeca Pagodinho, Jessé Pai, Luiz Carlos e Beto Gago) sobreviveram na memória popular. Já Zeca Pagodinho (1998) - raro álbum batizado com o nome do artista - disparou um clássico instantâneo, Vai vadiar (Monarco e Ratinho). Zeca vivia, então, fase de consagração com shows lotados por todo o Brasil. Um sucesso captado com calor por seu primeiro registro de show, Zeca Pagodinho ao vivo (1999), disco gravado no Canecão (RJ) que fechou a década com altos picos de vendagem. Mas nem essa nova explosão diminuiu o ritmo anual dos lançamentos. Em 2000, o cantor já estava de volta ao mercado fonográfico com mais um álbum de estúdio, Água da minha sede, com seu samba-título assinado por Dudu Nobre com Roque Ferreira e gravado com toques de música erudita no arranjo. Vacilão, de Zé Roberto, soou mais familiar para o público de Zeca. A regravação do seminal samba amaxixado Jura (Sinhô, 1928), propagada na abertura da novela O cravo e a rosa (TV Globo, 2000), contribuiu para o êxito do disco. Mas nenhuma música deste álbum atingiu o grau de adesão popular do samba de Serginho Meriti e Eri do Cais que deu nome ao álbum posterior de Zeca, Deixa a vida me levar (2002), e que virou um dos hinos da Copa do Mundo que rendeu ao Brasil o pentacampeonato na competição planetária de futebol. Ainda na ressaca da festa nacional, o cantor fez outro registro ao vivo de show - que rendeu o CD Acústico MTV (2003), o primeiro dos dois discos gravados pelo cantor com a chancela da emissora musical (o Acústico MTV 2 - Gafieira saiu em 2006) - antes de voltar aos estúdios para gravar o álbum À vera (2005), disco de alta qualidade, mas de repercussão mais baixa. A partir daí, como o mercado fonográfico brasileiro já valorizava o formato audiovisual, Zeca passou a alternar discos de estúdio com registros ao vivo editados em CD e em DVD. Uma prova de amor (2008), Uma prova de amor ao vivo (2009), Vida da minha vida (2010) e o já citado ao vivo Vida que segue (2013) são discos que reiteram a coerência do artista na gestão da obra. Embora a adesão popular à obra do cantor já seja menor, comparada com os discos de tempos áureos, o partido de Zeca Pagodinho nunca deixou de ser alto.

13 comentários:

  1. ♪ Faz 20 anos que Zeca Pagodinho ingressou na gravadora Universal Music - bancado por Max Pierre, então no posto de diretor artístico da companhia - e lançou álbum produzido por Rildo Hora, Samba pras moças (1995), que representou momento de virada em carreira fonográfica que vinha em escala descendente com série de discos editados sem grande repercussão na gravadora BMG. Embora sejam discos dignos, Pixote (BMG, 1991), Um dos poetas do samba (BMG, 1992) e Alô, mundo! (BMG, 1993) são títulos de menor expressão dentro da obra fonográfica do cantor e compositor carioca. A ponto de não figurarem na caixa com 20 CDs que a Universal Music põe nas lojas neste mês de outubro de 2015 para celebrar os 20 anos do sambista na companhia. Diferentemente do que apregoa numa de suas bordas laterais, a caixa Partido alto embala 17 álbuns e três coletâneas - e não 19 álbuns e uma compilação. Juras de amor (2000) e Zeca Pagodinho ao vivo com os amigos (2011) são coletâneas, e não álbuns. A única compilação da coleção é inédita e se chama Zeca Pagodinho com passo de MPB, tendo sido produzida especialmente para a caixa (embora já esteja à venda de forma avulsa, em edição digital, em lojas virtuais como o iTunes). Com libreto em que o jornalista pernambucano (radicado no Rio de Janeiro) Cleodon Coelho discorre sobre cada um dos 20 títulos encaixotados, a caixa Partido alto abrange período que vai de 1988, ano do álbum Jeito moleque (BMG), até 2013, ano do projeto retrospectivo Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue. Os dois primeiros álbuns do cantor - o fenomenal Zeca Pagodinho (1986) e Patota de Cosme (1987), gravados na extinta gravadora RGE e atualmente pertencentes ao acervo da Som Livre - ficaram de fora por questões jurídicas. Em contrapartida, Pagodinho pediu - e conseguiu - a inclusão na caixa dos três primeiros álbuns que fez na BMG. Jeito moleque (1988), Boêmio feliz (1989) e Mania da gente (1990) são bons discos, coerentes com o estilo do sambista. Pelo fato de estes três álbuns estarem até então fora de catálogo, as inclusões deles na caixa valorizam a edição do projeto. Até porque as edições encaixotadas não foram remasterizadas. Os álbuns da Universal Music foram embalados na caixa da mesma forma com que foram lançados originalmente no mercado fonográfico, com o mesmo som (já em si satisfatório, pois a masterização original já foi feita para o formato de CD) e com a mesma arte gráfica. Desde que passou a gravar na Universal Music, Zeca passou a seguir a receita orquestral do produtor Rildo Hora - fórmula que, embora siga trilhas já previsíveis, se mostra quase sempre infalível.

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  2. Ao dar oportunidade de ouvir e analisar a obra de Zeca Pagodinho em perspectiva e em sequência cronológica, a caixa Partido alto evidencia, sobretudo, a coerência com que o sambista vem conduzindo sua carreira, sem sair de seu nobre quintal. Os discos de Zeca misturam sambas com crônicas do cotidiano de seu povo humilde, sambas de tom romântico, temas de pegada baiana - cadência que perseguiu a partir de 1995 com o sucesso de Samba pra moças, parceria do compositor baiano Roque Ferreira com Grazielle - e regravações de temas da lavra majestosa de bambas da velha guarda do samba (sobretudo da Portela, a escola do coração do artista). A fórmula pouco varia - tampouco a alta qualidade do repertório. O que determinou o sucesso maior ou menor dos discos da caixa foi a inclusão de sambas com maior ou menor potencial para fazer sucesso em todo o Brasil, sobretudo no Estado do Rio de Janeiro, praça onde Zeca Pagodinho sempre foi nome forte (inclusive por conta de suas conexões com a Baixada Fluminense). Além da composição que lhe deu título, o álbum Samba pras moças legou para a posteridade Vou botar teu nome na macumba, partido alto composto por Zeca com o então emergente Dudu Nobre, sambista que ingressara na banda do cantor na turnê do show baseado no disco anterior Alô, mundo!. Já Deixa clarear (1996) estourou de imediato por conta do samba Verdade (Nelson Rufino e Carlinhos Santana), que veio a se tornar um dos maiores hits do artista. Na sequência, Hoje é dia de festa (1997) trouxe munição certeira que atingiu em cheio as paradas. Posso até me apaixonar (Dudu Nobre) e Faixa amarela (Zeca Pagodinho, Jessé Pai, Luiz Carlos e Beto Gago) sobreviveram na memória popular. Já Zeca Pagodinho (1998) - raro álbum batizado com o nome do artista - disparou um clássico instantâneo, Vai vadiar (Monarco e Ratinho). Zeca vivia, então, fase de consagração com shows lotados por todo o Brasil. Um sucesso captado com calor por seu primeiro registro de show, Zeca Pagodinho ao vivo (1999), disco gravado no Canecão (RJ) que fechou a década com altos picos de vendagem. Mas nem essa nova explosão diminuiu o ritmo anual dos lançamentos. Em 2000, o cantor já estava de volta ao mercado fonográfico com mais um álbum de estúdio, Água da minha sede, com seu samba-título assinado por Dudu Nobre com Roque Ferreira e gravado com toques de música erudita no arranjo. Vacilão, de Zé Roberto, soou mais familiar para o público de Zeca. A regravação do seminal samba amaxixado Jura (Sinhô, 1928), propagada na abertura da novela O cravo e a rosa (TV Globo, 2000), contribuiu para o êxito do disco. Mas nenhuma música deste álbum atingiu o grau de adesão popular do samba de Serginho Meriti e Eri do Cais que deu nome ao álbum posterior de Zeca, Deixa a vida me levar (2002), e que virou um dos hinos da Copa do Mundo que rendeu ao Brasil o pentacampeonato na competição planetária de futebol. Ainda na ressaca da festa nacional, o cantor fez outro registro ao vivo de show - que rendeu o CD Acústico MTV (2003), o primeiro dos dois discos gravados pelo cantor com a chancela da emissora musical (o Acústico MTV 2 - Gafieira saiu em 2006) - antes de voltar aos estúdios para gravar o álbum À vera (2005), disco de alta qualidade, mas de repercussão mais baixa. A partir daí, como o mercado fonográfico brasileiro já valorizava o formato audiovisual, Zeca passou a alternar discos de estúdio com registros ao vivo editados em CD e em DVD. Uma prova de amor (2008), Uma prova de amor ao vivo (2009), Vida da minha vida (2010) e o já citado ao vivo Vida que segue (2013) são discos que reiteram a coerência do artista na gestão da obra. Embora a adesão popular à obra do cantor já seja menor, comparada com os discos de tempos áureos, o partido de Zeca Pagodinho nunca deixou de ser alto.

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  3. Adoro o Zeca, mas caixa altamente desnecessária, até porque, ainda se encontra uns 90% dos seus cd's (exceção o primeiro: Zeca Pagodinho e o segundo: Patota de Cosme).
    Enquanto isso, Beth fazendo 50 anos de carreira e sem caixa de seus cd's, Roberto Ribeiro e sua discografia impecável sem os seus discos sequer relançados separadamente, Martinho da Vila idem e por aí vai! Vai entender!!!!

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  4. Perfeita colocação Marcelo e a lista é enorme. O que falar de Fátima Guedes, Fafá de Belém e Jane Duboc? Cantoras que mereciam ter suas obras relançadas!!

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  5. ...pois bem...desnecessaria! Estes cds vcs encontra em quilo nas baciadas de 9,90 da Americanas e em ofertas escandolas nas lojas sa net e até mesmo no Mercado Livre...Poxa...Fafa seria demais, porem fiquei sabendo q foi engavetado....seria otimo relançamento da Joanna, q foram lnçados em meados de 2000 e hoje estao pela hora da morte no ML e sebos, a Katia, a propria Elba, que tem titulos ja escassos e muitos lançados de forma bem basica (na coleçao colecionador)....poxa com tanta cantora...meuu até se lançassem uma caixa dos albuns da Angélica, seria muitoo mais vantajoso!

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  6. Concordo com todos,tô vendo urso de gravata pra encontrar alguns CDs do João Nogueira,quando acho são mt caros,poderia haver um relançamento. Zeca é sensacional, mas quase tudo dessa caixa está em catálogo.

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  7. Concordo com os comentários anteriores. Ainda tô no aguardo do lançamento do box de Rita Lee. E o que falar dos Novos Baianos, Baby do Brasil, Elba, e tanta gente de que nós merecíamos ter acesso aos CDS que estão há tempos fora de catálogo? Zeca é um artista do primeiro time da nossa música, mas sua obra está quase toda aí, a preço bem acessível, na gôndola das Americanas mais próxima.

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  8. Pois é, Xará! Uma lástima! Esqueci de incluir na minha lista de sambistas uma caixa do Fundo de Quintal, João Nogueira, Dona Ivone, enfim.....

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  9. Acredito que a Universal deva ter profuzido, no máximo MIL caixas dessas. Isso diminuirá em muito seu prejuízo. Depois dizem que relançar encalha nas lojas e dá prejuízo. Relançam o que todo mundo já possui! Ou será que esperam que as pessoas paguem R$ 440,00 para pescar 1 CD( Z.P. com passo de MPB)?

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  10. Nem o CD extra Compasso da MPB se sair avulso comprarei,das 18 músicas possuo os cdscds de 17.Aguardo mesmo com ansiedade é um box de João Nogueira.

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  11. Também acho essa caixa super desnecessária, pois toda a discografia do Zeca se encontra de forma avulsa para comprar nas lojas... Poderiam tanto lançar a discografia da Beth Carvalho e tantos outros bambas do samba que não tem o seu devido valor reconhecido... Uma pena!!!

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  12. Mauro,por falar em caixas editadas pela Universal,alguma notícia sobre a da genial Rita Lee,que foi prometida para o início deste ano e até agora nada???

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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