Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Safra de sambas e enredos da série A do Carnaval carioca de 2016 é mediana

Resenha de CD
Título: Sambas de enredo Carnaval 2016 - Série A
Artista: vários
Gravadora: Som Livre / Lierj
Cotação: * * 1/2

Enquanto os sambas de enredo de 2016 das escolas do Grupo Especial do Carnaval carioca ainda estão sendo gravados, para disco previsto para chegar ao mercado fonográfico entre o fim de novembro e o início de dezembro deste ano 2015, a gravadora Som Livre lança neste mês de outubro - por enquanto somente nas plataformas digitais - o disco com os 14 sambas-enredo das escolas da Série A do Carnaval do Rio de Janeiro (RJ). Ivo Meirelles assina a produção do álbum. Com edição em CD prevista para chegar às lojas em novembro, a capa expõe imagem do desfile de Unidos de Padre Miguel, escola vice-campeã no grupo de acesso A no Carnaval de 2015. Remexendo na história do Brasil imperial, a Unidos de Padre Miguel conta um enredo fabuloso, O quinto dos infernos (Toninho do Trailler, Jr Beija flor, Marcelo do Rap, Thiago Alves, Alair Perobelli, Diego Alan e Samir Trindade), que gerou samba mediano, puxado por Luizinho Andanças. É o samba que abre este disco de sambas que ficam no mesmo nível regular. Um dos que pairam acima é o samba da Império Serrano. Recorrendo ao nome de Silas de Oliveira (1916 - 1972), a escola do bairro carioca de Madureira celebra o centenário de nascimento do compositor e as sementes plantadas pela Prazer da Serrinha, escola que gerou o Império em 1947. Puxado por Pixulé, o bom samba Silas canta Serrinha (Arlindo Cruz, Aloísio Machado, Arlindo Neto, Zé Gloria, Andinho Samara e Lucas Donato) termina no ritmo seminal do jongo. Escola rebaixada no Carnaval de 2015, a niteroiense Unidos do Viradouro aposta no filão africano com a ópera-samba-enredo O alabê de Jerusalém, a saga de Ogumdana (Paulo César Feital, Zé Gloria, Felipe Filósofo, Maria Preta, Fabio Borges , William, Zé Augusto e Bertolo), explorando tema de tom mitológico. O puxador José Paulo Ferreira Sierra (Zé Paulo) faz sua parte em samba que empolga. Ainda neste terreiro, o enredo sobre crianças da Renascer de Jacarepaguá gerou samba de gente grande, Ibejís - Nas Brincadeiras de criança: Os orixás que viraram santos no Brasil (Cláudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina), puxado por Diego Nicolau e Evandro Malandro no disco com igual empolgação. Já A Acadêmicos do Cubango também recorre aos orixás em versos de Um banho de mar à fantasia (Sardinha, Gustavo Soares, Wagner Big, Diego Moura, Julio Alves, Marco Moreno, Samir Trindade, Elson Ramires, Cláudio Russo e Adriano Boinha), samba puxado por Hugo Júnior. Mas o enredo versa basicamente sobre a água. Mais acelerado e animado, com chances de crescer na avenida, o samba-enredo da Paraíso do Tuiuti, A farra do boi (Rafael Júnior, Jorge Maia, W. Correia, Dilson Marimba e Claudio Russo) também fala de água, mas em contexto nordestino. O enredo abarca a seca do sertão e as crendices que fazem chover de acordo com a fé do povo. Agremiação que tradicionalmente apresenta grandes sambas, a Império da Tijuca vai entrar na avenida com samba menor do que o talento do ator José Wilker (1944 - 2014), celebrado no enredo que tem o melhor título do disco. O tempo ruge, a Sapucaí é grande e o Império aplaude o felomenal (Jussara Pereira, Dalton da Nelci, Luiza Fontella, Adriana Vieira e LID) - samba puxado por Rogerinho cujo título alude ao bordão do bicheiro Giovanni Improta, uma das personagens mais populares da trajetória de Wilker nas novelas - tem letra que alude a outros bordões e personagens do ator. Samba puxado por Thiago Brito que também está aquém do histórico da Caprichosos de Pilares, Tem gringo no samba! (Gabriel Fraga, Régis, Rute Labre, Franco Cava, Luiz Careca e Ricardo Santiago) fala da mistura de crenças e culturas que dá o tom da arte do Brasil. Samba-enredo de arquitetura tradicional, Cacá Diegues - Retratos de um Brasil em cena (Tentenzinho, Serginho Castro, Rudá Neto e Marcelo Fernandes) é bem defendido pelo puxador Nino do Milênio e ostenta um segundo refrão bem forte. O enredo é - como o título já explicita - homenagem da Inocentes de Belford Roxo ao cineasta Carlos Diegues. Também com refrão forte (sobretudo o primeiro, mas o segundo também é bom e pode crescer no desfile), o samba-enredo da Acadêmicos da Santa Cruz - Diz mata! Digo verde. A natureza veste a incerteza. E o amanhã? (O clamor da floresta) (Zé Gloria, André Felix, Júnior, Marquinho Beija-flor, Roni Remandiola, Betinho, De Araújo e J. Giovanni), gravado pelo puxador Pavarotti com a adesão da voz calorosa Gaby Moura - versa sobre a questão ambiental e sobressai na safra mediana. Trazendo o disco de volta ao mundo infantil, a Unidos do Porto da Pedra celebra a trajetória do palhaço fluminense George Savalla Gomes (1915 - 2006), o Carequinha, e arma seu circo com Palhaço Carequinha, paixão e orgulho de São Gonçalo. Tá certo ou não tá? (Porkinho, Kiko Ribeiro, Vitor Gabriel, Daniel Morais, Marcio Souza, Bizzar e Flavinho), samba puxado por Anderson Paz que pode crescer na avenida Sapucaí. Em universo lúdico similar ao do samba da Porto da Pedra, a União do Parque Curicica põe apropriado toque nordestino no samba-enredo Corações mamulengos! (Washington Motta, Pitimbu, Vagner Silva, Alexandre Alegria, Telmo, Léo da Taberna e Marcelo Valência). O enredo são as caravanas itinerantes que divertem a nação nordestina com seus mamulengos. Cantora paraibana que sempre levantou a bandeira da música da região, Elba Ramalho divide a interpretação do samba com o puxador Ronaldo Ylê e, no fim da gravação, saúda a escola de Jacarepaguá. Já a Alegria da Zona Sul se volta para a tradição africana e saúda um dos orixás mais populares, Ogum, no homônimo samba-enredo puxado por Tiganá assinado por Pixulé, Thiago Meiners, Rafael Tubino, James Bernardes, Alex Bagé, André K, Gilson, José Mario, Júnior e Victor Alves. Por fim, a Acadêmicos da Rocinha saúda a valentia do povo brasileiro e da própria comunidade carioca que gerou a escola no samba-enredo Nova Roma é Brasil, Brasil é Rocinha (Edinho, Diego do Carmo, Vitor Coutinho, Rico Bernardes, Rafael Mikaiá e Wander Timbalada), puxado com força por Leléu. Enfim, a safra das escolas do grupo A do Carnaval do Rio de Janeiro para o Carnaval de 2016 está longe de ser antológica. Mas o disco tem o mérito de apresentar, na medida do possível, gravações calorosas dos 14 sambas. A empolgação maior vai ser na avenida e, a julgar pelos sambas regulares ouvidos no disco lançado pela gravadora Som Livre, embora um ou outro sobressaia na gravação, as 14 agremiações vão entrar em pé de igualdade na Avenida Sapucaí para disputar a sonhada vaga no Grupo Especial no Carnaval de 2017.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mauro Ferreira disse...

Samba puxado por Thiago Brito que também está aquém do histórico da Caprichosos de Pilares, Tem gringo no samba! (Gabriel Fraga, Régis, Rute Labre, Franco Cava, Luiz Careca e Ricardo Santiago) fala da mistura de crenças e culturas que dá o tom da arte do Brasil. Samba-enredo de arquitetura mais tradicional, Cacá Diegues - Retratos de um Brasil em cena (Tentenzinho, Serginho Castro, Rudá Neto e Marcelo Fernandes) é bem defendido pelo puxador Nino do Milênio e ostenta um segundo refrão bem forte. O enredo é - como o título do samba já explicita - uma homenagem ao cineasta Carlos Diegues. Também com refrão forte (sobretudo o primeiro, mas o segundo também é bom e pode crescer no desfile), o samba-enredo da Acadêmicos da Santa Cruz - Diz mata! Digo verde. A natureza veste a incerteza. E o amanhã? (O clamor da floresta) (Zé Gloria, André Felix, Júnior, Marquinho Beija-flor, Roni Remandiola, Betinho, De Araújo e J. Giovanni), gravado pelo puxador Pavarotti com a adesão da voz calorosa Gaby Moura - versa sobre a questão ambiental e sobressai na safra mediana. Trazendo o disco de volta ao mundo infantil, a Unidos do Porto da Pedra celebra a trajetória do palhaço fluminense George Savalla Gomes (1915 - 2006), o Carequinha, e arma seu circo com Palhaço Carequinha, paixão e orgulho de São Gonçalo. Tá certo ou não tá? (Porkinho, Kiko Ribeiro, Vitor Gabriel, Daniel Morais, Marcio Souza, Bizzar e Flavinho), samba puxado por Anderson Vaz que pode crescer na avenida Sapucaí. Em universo lúdico similar ao do samba da Porto da Pedra, a União do Parque Curicica põe apropriado toque nordestino no samba-enredo Corações mamulengos! (Washington Motta, Pitimbu, Vagner Silva, Alexandre Alegria, Telmo, Léo da Taberna e Marcelo Valência). O enredo são as caravanas itinerantes que divertem a nação nordestina com seus mamulengos. Cantora paraibana que sempre levantou a bandeira da música da região, Elba Ramalho divide a interpretação do samba com o puxador Ronaldo Ylê e, no fim da gravação, saúda a escola de Jacarepaguá. Já a Alegria da Zona Sul se volta para a tradição africana e saúda um dos orixás mais populares, Ogum, no homônimo samba-enredo puxado por Tiganá assinado por Pixulé, Thiago Meiners, Rafael Tubino, James Bernardes, Alex Bagé, André K, Gilson, José Mario, Júnior e Victor Alves. Por fim, a Acadêmicos da Rocinha saúda a valentia do povo brasileiro e da própria comunidade carioca que gerou a escola no samba-enredo Nova Roma é Brasil, Brasil é Rocinha (Edinho, Diego do Carmo, Vitor Coutinho, Rico Bernardes, Rafael Mikaiá e Wander Timbalada), puxado com força por Leléu. Enfim, a safra das escolas do grupo A do Carnaval do Rio de Janeiro para o Carnaval de 2016 está longe de ser antológica. Mas o disco tem o mérito de apresentar, na medida do possível, gravações calorosas dos 14 sambas. A empolgação maior vai ser na avenida e, a julgar pelos sambas regulares ouvidos no disco lançado pela gravadora Som Livre, embora um ou outro sobressaia na gravação, as 14 agremiações vão entrar em pé de igualdade na Avenida Sapucaí para disputar a sonhada vaga no Grupo Especial no Carnaval de 2017.

Unknown disse...

Mauro, você acabou não dizendo o nome da escola que homenageia Cacá Diegues, que é a Inocentes de Belford Roxo.

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque, Clayton. Já inseri o nome da escola no texto. Abs, MauroF

Marcelo Barbosa disse...

Acho o samba da Viradouro o melhor disparado do Grupo, lindíssimo. E pensar que de uma ópera chatíssima foi extraída uma jóia....
Fora isso, aponto o samba da Alegria da Zona Sul e do Império Serrano como os outros destaques do disco.
O resto achei muito mediano.
Louva-se a participação de Elba e nada mais.

Unknown disse...

No geral, concordo com você. Mas discordo apenas em um ponto crucial, rs: acho o samba da Viradouro a joia desse CD. Lindíssimo, forte e tocante (e com uma interpretação arrebatadora na gravação oficial).

Marcelo Barbosa disse...

Mauro, o puxador da Porto chama-se Anderson Paz. Abs

Marcos Rizzo disse...

Tb gostei muito do samba da Viradouro. Pra mim o melhor do disco.

Marcos Rizzo disse...

Também gostei muito do samba da Viradouro. Pra mim o melhor do disco.

Mauro Ferreira disse...

Obrigado pelo toque, Marcelo. Já consertei o nome do puxador.

Aos demais navegantes, ouvi o disco duas vezes antes de escrever a resenha. Mas os comentários unânimes sobre o samba da Viradouro me fizeram voltar a ele mais vezes e, depois de mais três audições, concluir que, sim, o samba da escola está acima da média da safra. Abs, MauroF

Marcelo Barbosa disse...

Bela postura, Mauro. Abraços