Título: Primera fila
Artista: Roberto Carlos
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *
♪ Projeto direcionado primordialmente por Roberto Carlos para o vasto mercado fonográfico latino formado pelos países de língua hispânica, embora tenha sido curiosamente gravado no londrino estúdio Abbey Road, Primera fila - lançado hoje, 30 de outubro de 2015, em escala mundial - posiciona el Rey no seu lugar habitual e já consagrado. Os dois singles previamente liberados pela gravadora Sony Music - as regravações de Eu te amo, te amo, te Amo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) em ritmo de reggae e de As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) com arranjo soul que também desemboca na praia do reggae - soam como pistas falsas diante da audição das 17 músicas do CD gravado ao vivo em 11 e 12 de maio na Inglaterra. Primera fila esboça mudança na discografia do cantor e compositor capixaba, por afastá-lo momentaneamente de seu maestro Eduardo Lages, sem conseguir virar de fato o disco. Feita sob a supervisão do produtor Afo Verde, presidente da Sony Music na região latino-ibérica, a direção musical de Tim Mitchell - nome associado aos discos da cantora e compositora colombiana Shakira - soa, afinal, tão conservadora quanto o artista brasileiro. Justiça seja feita: o arranjo da balada A distância (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972), por exemplo, está bem próximo do estilo de Lages. A profusão de cordas orquestradas em O portão (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) chega a pecar pelo excesso, pois dilui a melancolia da canção. Já Cama e mesa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) perde a sensualidade calculada e familiar da gravação original. Enfim, nada muda tanto assim no som de Roberto Carlos em Primera fila, projeto lançado em CD, em DVD e em edição dupla que junta CD e DVD em embalagem de DVD. Aos primeiros acordes do fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981), música tradicionalmente alocada na abertura dos shows do cantor, já dá para perceber que as novidades se resumem a sutilezas dos arranjos. Como a onda surf rock de Ilegal, imoral ou engorda (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976), por exemplo. Aos 74 anos, Roberto Carlos já não canta para a juventude. O Rei canta para o público que foi jovem como ele nas tardes dominicais dos anos 1960 e que, como ele, amadureceu ao longo da década de 1970 sem virar a mesa. Um dos maiores ídolos populares da história da música do Brasil, Roberto Carlos já não precisa provar mais nada para ninguém. Sua obra - primorosa no período que vai de 1965 a 1983 - é seu legado e fala por si só. Primera fila - projeto lançado no Brasil em versão nacional que inclui sete músicas cantadas em espanhol e uma em inglês, And I love her (John Lennon e Paul McCartney, 1964), talvez incluída somente para justificar o fato de Roberto ter gravado seu projeto hispânico no estúdio em que o grupo inglês The Beatles formatou álbuns históricos - talvez faça mais sentido para os países de língua hispânica. O público desses países provavelmente encontrará mais graça nas versões em espanhol da flamenca Mulher pequena (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1992) e de Amada amante (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971), cujo refrão é entoado em coro pelo público convidado de Abbey Road com tanta gana que Roberto exclama ao fim: 'Son todos cantantes'. Não, o único cantor de verdade ali é o próprio Roberto. A voz já perdeu um pouco do viço, mas ainda continua extremamente afinada e bem colocada. Por mais que esteja sem motivação para virar de fato o disco, Roberto Carlos tem lugar garantido na primeira fila reservada para os geniais cantores e compositores do Brasil e do mundo.
8 comentários:
♪ Projeto direcionado primordialmente por Roberto Carlos para o vasto mercado fonográfico latino formado pelos países de língua hispânica, embora tenha sido curiosamente gravado no londrino estúdio Abbey Road, Primera fila - lançado hoje, 30 de outubro de 2015, em escala mundial - posiciona el Rey no seu lugar habitual e já consagrado. Os dois singles previamente liberados pela gravadora Sony Music - as regravações de Eu te amo, te amo, te Amo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) em ritmo de reggae e de As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) com arranjo soul que também desemboca na praia do reggae - soam como pistas falsas diante da audição das 17 músicas do CD gravado ao vivo em 11 e 12 de maio na Inglaterra. Primera fila esboça mudança na discografia do cantor e compositor capixaba, por afastá-lo momentaneamente de seu maestro Eduardo Lages, sem conseguir virar de fato o disco. Feita sob a supervisão do produtor Afo Verde, presidente da Sony Music na região latino-ibérica, a direção musical de Tim Mitchell - nome associado aos discos da cantora e compositora colombiana Shakira - soa, afinal, tão conservadora quanto o artista brasileiro. Justiça seja feita: o arranjo da balada A distância (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972), por exemplo, está bem próximo do estilo de Lages. A profusão de cordas orquestradas em O portão (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) chega a pecar pelo excesso, pois dilui a melancolia da canção. Já Cama e mesa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) perde a sensualidade calculada e familiar da gravação original. Enfim, nada muda tanto assim no som de Roberto Carlos em Primera fila, projeto lançado em CD, em DVD e em edição dupla que junta CD e DVD em embalagem de DVD. Aos primeiros acordes do fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981), música tradicionalmente alocada na abertura dos shows do cantor, já dá para perceber que as novidades se resumem a sutilezas dos arranjos. Como a onda surf rock de Ilegal, imoral ou engorda (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976), por exemplo. Aos 74 anos, Roberto Carlos já não canta para a juventude. O Rei canta para o público que foi jovem como ele nas tardes dominicais dos anos 1960 e que, como ele, amadureceu ao longo da década de 1970 sem virar a mesa. Um dos maiores ídolos populares da história da música do Brasil, Roberto Carlos já não precisa provar mais nada para ninguém. Sua obra - primorosa no período que vai de 1965 a 1983 - é seu legado e fala por si só. Primera fila - projeto lançado no Brasil em versão nacional que inclui sete músicas cantadas em espanhol e uma em inglês, And I love her (John Lennon e Paul McCartney, 1964), talvez incluída somente para justificar o fato de Roberto ter gravado seu projeto hispânico no estúdio em que o grupo inglês The Beatles formatou álbuns históricos - talvez faça mais sentido para os países de língua hispânica. O público desses países provavelmente encontrará mais graça nas versões em espanhol da flamenca Mulher pequena (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1992) e de Amada amante (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971), cujo refrão é entoado em coro pelo público convidado de Abbey Road com tanta gana que Roberto exclama ao fim: 'Son todos cantantes'. Não, o único cantor de verdade ali é o próprio Roberto. A voz já perdeu um pouco do viço, mas ainda continua extremamente afinada e bem colocada. Por mais que esteja sem motivação para virar de fato o disco, Roberto Carlos tem lugar garantido na primeira fila reservada para os geniais cantores e compositores do Brasil e do mundo.
Belo texto Mauro! Este projeto é de fato direcionado ao público latino, pra nós certamente não tem muita novidade, apesar dos belos e "novos" arranjos e da linda voz do Roberto. Também concordo Mauro que o Roberto não tem que provar mais nada à ninguém, porém ainda sonho e espero um disco de inéditas, quem sabe.... . Que ele tenha inspiração para um novo projeto de inéditas. No mais fica minha profunda admiração e respeito ao Rei, que só contribuiu e muito para a nossa música :)
Disco chato, cantor idem...
Ouvi o CD completo ainda não assisti ao DVD.Espero como todos um disco de inéditas, mas esse trabalho está simplesmente sensacional, os arranjos de As curvas da estrada de Santos,Eu te amo te amo te amo ,Ilegal imoral ou engorda e Detalhes já pagam o disco.Só não concordo com o Mauro em dizer que a obra do Roberto é primorosa só até 1983,sou capaz de citar ao menos uns 10 sucessos após esse período com facilidade,fora músicas inspirados Simas que não viraram hits como por exemplos Diga-me coisas bonitas(1991),Como as ondas voltam para o mar(1990)....
Muito condizente com o que penso sobre Roberto Carlos foi esse texto de Mauro Ferreira. Mas além do período de maior genialidade do Rei aqui muito bem apontado entre 65-83, também penso que em 1964 ao lançar o disco ´É Proibido Fumar´Roberto lançava-ainda sem saber- um dos melhores discos da pré história do rock brasileiro sessentista. Mesmo na década de 90,quando sua obra já não apresentava os mesmos traços de genialidade e já enfrentava queda de popularidade e vendagem de discos, o artista teve bons momentos ,como por exemplo o disco de 93,que trouxe a linda canção ´Nossa Senhora´.
Mas foi na década de 70 que Roberto,ao flertar com o soul e a música negra americana,lançou os discos que sem dúvida são os mais lindos e importantes de toda a história do cancioneiro popular brazuca e que permanecerão para sempre na memória musical afetiva de seus inúmeros fãs. Obras que por sua excelência nunca foram-nem serão- superadas por nenhum outro artista brasileiro.
Hoje em dia RC procura trazer para si outro público,talvez notadamente os mais jovens,por que seus fãs das velhas tardes de domingo ou já estão com idades avançadas ou já se foram...
Como todo fã do Rei também comprarei esse lançamento,sem esperar nada de novo além de alguns novos arranjos que foram propagados na imprensa.
Roberto apesar de cada vez menos profícuo não precisa provar nada para ninguém,nem mesmo para seus súditos que esperam um cd de inéditas que talvez nunca venha a existir..
Caetano está com 73 anos e ainda faz coisa nova. esse argumento de idade pra mim não cola.
Roberto Carlos com as mesmas músicas de sempre? Passo. Grande cantor, mas que parou no tempo. Desde o início dos anos 90 só vem se arrastando com seus sucessos das décadas anteriores.
Tudo bem que Roberto tá ultimamente regravando em demasia,acredito que com esse trabalho encerra-se essa fase.Agora pergunto que adianta produzir por produzir como muitos da MPB, quase nenhuma música dos últimos lançamentos dos grandes da MPB ficou na memória do povo.Essa exceção mesmo com pouquíssimas gravações inéditas é de Roberto com Esse cara sou ei.
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