segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Trio Madeira Brasil chega ao DVD com show gravado, no Rio, com Yamandu

A caminho dos 20 anos de vida, a serem festejados em 2016, o Trio Madeira Brasil - conjunto voltado para o choro que se formou na cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1996 com a reunião de Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Ronaldo do Bandolim (bandolim) e Zé Paulo Becker (violão) - lança o primeiro registro audiovisual de show. Editado no mercado fonográfico pelo selo MP,B Discos, com distribuição da gravadora Som Livre, o DVD Ao vivo em Copacabana perpetua show gravado pelo trio em 2013 no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro. Feita com a participação do violonista gaúcho Yamandu Costa, a gravação ao vivo também está sendo editada no formato de CD. A adesão de Yamandu - na Suíte Retratos (Radamés Gnattali, 1964), em Fuga y misterio (Astor Piazzolla e Horacio Ferrer, 1968) e em Danza de la vida breve (Manuel de Falla e Carlos Fernandez Shaw, 1905) - é consequência da interação do trio com o violonista desde 1998, ano em que se conheceram no festival Chorando alto, realizado em São Paulo (SP). Naquele ano de 1998, o Trio Madeira Brasil lançava seu primeiro álbum em edição da gravadora Kuarup. Neste disco, intitulado Trio Madeira Brasil, o grupo já gravou temas como Loro (Egberto Gismonti, 1981) e Santa Morena (Jacob do Bandolim, 1954), composições que registra novamente em Ao vivo em Copacabana. Um dos maiores compositores e músicos de choro da história da música brasileira, o carioca Jacob do Bandolim (1918 - 1969) é nome recorrente no roteiro do show eternizado no DVD. Além de Santa Morena, o trio toca Assanhado (1961), Quebrando o galho (tema lançado em disco em 1980) e Feia (Pertinho do céu) (1948). Já Chico Buarque está representado no roteiro por As vitrines (1981) enquanto Edu Lobo tem Dança do corrupião (tema lançado pelo compositor em 1993 e regravado por Lobo em 2010 já com a letra de Paulo César Pinheiro) no repertório. O posicionamento de câmeras no palco - durante a gravação ao vivo do show, feita sob a direção de Felipe Nepomuceno - propicia maior intimidade com as cordas do Trio Madeira Brasil. Alocado nos extras do DVD, documentário sobre o trio reforça a intimidade com o grupo e expõe o prestígio do Trio Madeira Brasil na cena instrumental nacional com depoimentos de músicos como o violonista Turíbio Santos, o bandolinista Hamilton de Holanda e o violonista João Camarero. É madeira de lei!!

Paula Lima lança o single 'Fiu fiu', música composta e produzida por Pretinho

Paula Lima chegou a anunciar que lançaria nas plataformas digitais, neste último trimestre de 2015, EP com quatro músicas inéditas intitulado Samba soul. Mas a cantora e compositora paulista lança somente, por ora, o single Fiu fiu com a gravação do samba black composto por Pretinho da Serrinha - produtor do fonograma - com os parceiros Gabriel Moura e Leandro Fab. O single Fiu fiu chega às plataformas digitais na próxima sexta-feira, 4 de dezembro de 2015. A gravação de Fiu fiu foi feita entre as cidades de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) com os músicos Sidão Santos (baixo), Adriano Trindade (bateria), Fernando Vidal (guitarra), Rodrigo Tavares (teclados), Claudio Andrade (Fender Rhodes), Marlon Sette (trombone), Altair (trompete), Jorge Continentino (sax tenor) e Zé Carlos Bigorna (sax barítono), além de Pretinho da Serrinha no cavaquinho e percussão.

Show em que Teresa Cristina dá voz a Cartola origina disco ao vivo em 2016

Teresa Cristina vai voltar ao mercado fonográfico no primeiro semestre de 2016. Sem lançar disco desde 2012, ano em que a gravadora Deck editou CD em que a artista carioca aborda o repertório de Roberto Carlos com o toque do grupo carioca Os Outros, a cantora e compositora vai lançar disco com a gravação ao vivo do recém-estreado show Teresa Cristina canta Cartola  Um poeta de Mangueira. Primeiro produto de Teresa viabilizado pela empresa Uns Produções, o registro do show foi feito em 16 de novembro de 2015 na estreia nacional do recital no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ). No show, Teresa  em foto de Rodrigo Goffredo  canta 19 músicas do compositor carioca  somente com o toque magistral do violão de Carlinhos Sete Cordas.

Paulo Costta reúne a família Velloso, em disco, em torno da poesia de Mabel

Irmã de Caetano Veloso e Maria Bethânia, Mabel Velloso é professora, escritora, poeta e cordelista nascida - como seus irmãos famosos - do ventre de Claudionor Viana Teles Velloso (1907 - 2012), a Dona Canô, e criada em Santo Amaro da Purificação, cidade do interior da Bahia, terra do samba do Recôncavo. Lançado com distribuição da gravadora Sony Music neste ano de 2015, o álbum Meu Recôncavo - Samba & poesia - Paulo Costa canta Mabel Velloso reúne membros do clã dos Velloso em torno da poesia de Mabel. O disco de Paulo Costta - compositor, arranjador e produtor musical baiano que se radicou na França, país onde vive de reavivar a Bossa Nova - nasceu de encontro do artista com Mabel no aniversário de 102 anos de Dona Canô, em 2009. Na ocasião, Mabel entregou a Costta centenas de poemas que escrevera ao longo da vida. Destes poemas, 14 foram musicados por Costta e estão no disco feito em família. Outros dois, Voando para sonhar e Amargura, não ganharam melodias, mas também entraram no álbum, recitados por Maria Bethânia na abertura e no encerramento do disco produzido por Moreno Veloso sob a direção artística do próprio Paulo Costta, criador dos arranjos executados por músicos da contemporânea cena musical carioca como o baterista Domenico Lancellotti, o baixista Bruno Di Lullo, o pianista Ricardo Dias Gomes e o flautista Felipe Pinaud. Caetano Veloso divide a interpretação do samba de roda Se eu tivesse uma casa com Paulo Costta. Filha de Mabel, a cantora Belô Velloso é a convidada do samba-título Meu Recôncavo. Já o violoncelista Jaques Morelenbaum toca na marcha Pra te agradar e em Estações da vida, canção bossa-novista gravada com a adesão de J. Velloso. Além de produzir o disco, Moreno Veloso toca ukelele e chocalho no samba Anoitecendo. O samba do Recôncavo Baiano é o gênero musical predominante no disco, mas Costta também põe na roda baião (Cigarra), ijexá (A lua), maxixe (Coração safado) e até uma toada que cai na cadência de xote (Canto  da  terra).

domingo, 29 de novembro de 2015

Julião Pinheiro estreia em disco (solo) na pulsação do samba feito em família

Mais vocacionado para os ofícios de compositor e violonista do que para o de cantor, o carioca Julião Pinheiro estreia em disco solo em família. Filho de Paulo César Pinheiro com Luciana Rabello, o artista lança o álbum autoral Pulsação através da Acari Records, gravadora dirigida por Luciana com Maurício Carrilho, produtor musical do disco. O samba dita o ritmo das 16 músicas alocadas nas 15 faixas do álbum, todas assinadas por Julião com o pai Paulo César Pinheiro. Além de ter capitaneado a produção executiva de Pulsação, Luciana Rabello toca cavaquinho em 13 das 15 faixas do disco. Já com cerca de 50 títulos, a parceria de pai e filho - nascida tanto das melodias de Julião letradas por Paulo César quanto das letras de Paulo César musicadas por Julião - foi lançada em disco em 2010 pela cantora carioca Mariana Baltar, que registrou Tanto samba no segundo álbum, Mariana Baltar (Biscoito Fino, 2010). Em Pulsação, a cadência bonita do samba é conduzida pelo violão de sete cordas do artista, sintomaticamente em destaque na foto de Yuri Reis exposta na capa do disco. Sambista e chorão, Julião integra desde 2007 o Regional Carioca, grupo que figura em Pulsação no samba-choro Artimanhas e no samba sincopado Bamba com bamba, faixa gravada com a adesão das vozes do grupo fluminense MPB-4. Irmã de Julião, Ana Rabello canta Samba da estrela cadente com voz opaca. Em repertório no qual sobressaem O morro e o samba (não à toa, alocado na abertura do disco), Esplendor (samba que pisa firme no terreiro da velha guarda) e Mangueira, árvore samba (tema unido em medley com Verde e rosa), há espaço para a intervenção vocal da ialorixá baiana Gloria Bomfim, convidada do afro A revolta dos orixás. Além de parceiros, pai e filho fazem dueto no álbum, se afinando no tom dolente de Samba é bom.

Moyseis escoa no funil ao seguir rota rítmica nacional do EP 'Made in Brasil'

Resenha de EP
Título: Made in Brasil
Artista: Moyseis Marques
Gravadora: Sarau Agência de Cultura Brasileira
Cotação: * * * *

Em setembro de 2013, Moyseis Marques extrapolou as fronteiras do Brasil e gravou na Califórnia (EUA) álbum calcado em voz e violão, Casual solo (Independente, 2014), no qual vislumbrou outros horizontes musicais sob a ótica da própria esquina, gravando reggae (Is this love, Bob Marley, 1978) e standard da canção norte-americana (The very thought of you, Ray Noble, 1934) em repertório que incluía sambas. Dois anos depois, o cantor, compositor e músico mineiro - criado no subúrbio carioca - volta a seguir rota rítmica exclusivamente nacional no EP sintomaticamente intitulado Made in Brasil e lançado neste mês de novembro de 2015 com seis músicas inéditas e autorais. Idealizado, produzido e arranjado pelo próprio Moyseis Marques, Made in Brasil se alinha e se afina com o tom do terceiro álbum do artista, Pra desengomar (Biscoito Fino, 2012), disco inteiramente autoral em que Marques abriu e expandiu parcerias, se firmando como compositor. "Eu sou made in Brasil / Do amarelo ao anil / Passei pela peneira, escoei no funil / Sapequei no forró, fiz samba no trem / Mergulhei na canção  / Mandei voz, violão", enumera em versos de Made in Brasil (Moyseis Marques), a ritmicamente diversificada música que dá nome ao EP gravado na cidade do Rio de Janeiro (RJ) entre agosto e setembro deste ano de 2015. Com bom repertório inteiramente inédito e autoral, o EP Made in Brasil parte do samba, mas vai além dele. O samba é o ritmo recorrente no disco, o ritmo que dita a cadência de Poeta é outro lance (Moyseis Marques), em cuja letra confessional o artista faz balanço lúcido de sua própria importância na música brasileira em versos como "Eu não sou Chico Buarque, nem Paulo Pinheiro, nem Nei, nem Aldir / Mas tenho a minha arte e uma pequena parte para contribuir". O Nei mencionado com admiração por Moyseis Marques é o carioca Nei Lopes, o letrista bamba que assina os versos de Profissional, musicados por Marques no compasso do samba-choro, mas gravados com um toque de samba de gafieira. Made in Brasil não explicita a origem mineira do artista, mas transita com desenvoltura pelos ritmos da nação nordestina. Parceria de Marques com Bena Lobo, A barca dos corações partidos é estilizado ijexá que resvala para o baião sintetizado na década de 40 pelo rei Luiz Gonzaga (1912 - 1989), nominalmente citado na letra da composição, cujo título foi batizado com o nome da companhia teatral que recentemente encenou no Rio o musical A ópera do malandro (Chico Buarque, 1977) com Moyseis na pele do protagonista Max Overseas, o malandro do título. A propósito, os atores-cantores do coletivo fazem coro na gravação. Ainda dentro da nação musical nordestina, Moyseis dá voz ao inflamado xote Madeixa, composto em parceria com Vidal Assis. Os versos erotizados remetem aos arretados temas recorrentes nos ritmos genericamente rotulados como forró. Completando o EP, Juntando os cacos é samba da peste, escrito em ponto de fervura sob ótica feminina e cantado em apropriado tom quente por Laila Garin, cantora e atriz que tem se destacado em musicais encenados no Rio de Janeiro. Quinto título da discografia de Moyseis Marques, Made in Brasil repõe o artista na diversificada rota nacional que o fez desengomar como compositor em 2012, conquistando admiradores ilustres como Chico Buarque.  Moyseis Marques é joia rara que já passou pela peneira e escoou no apertado funil.

Caixa 'Popstar' reúne reedições em CD dos álbuns de Fábio Jr. na Som Livre

Três meses após serem relançados pela Som Livre em edição digital, os três álbuns lançados pelo cantor e compositor paulistano Fábio Jr. na gravadora, na fase inicial da discografia solo do artista, estão sendo repostos em catálogo em edições físicas em CD. Lançados entre 1979 e 1982, todos com o título de Fábio Jr., os discos estão embalados na caixa Popstar, produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para o selo Discobertas. Com lançamento previsto para dezembro de 2015, a caixa Popstar reúne reedições em CD dos álbuns mais autorais e menos pasteurizados do artista. O Fábio Jr. de 1979 foi lançado no rastro do sucesso da canção Pai, apresentada no ano anterior em episódio da série Ciranda cirandinha (TV Globo, 1978). O Fábio Jr. de 1981 emplacou o hit Seu melhor amigo, música de Guilherme Lamounier que havia sido lançada na voz do compositor em 1978. Já o Fábio Jr. de 1982 estourou outra música de Lamounier, Enrosca (1977), e a canção O que é que há?, parceria de Fábio com Sérgio Sá. Os três álbuns já haviam sido reeditados em CD pela própria Som Livre em 2001, mas já estavam fora de catálogo há anos, tendo virado raridades. As atuas reedições trazem faixas adicionais. Cada álbum vem com uma faixa-bônus. O Fábio Jr. de 1979 foi turbinado foi a gravação de Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948), feita pelo cantor para a trilha sonora da novela Olhai os lírios do campo (TV Globo, 1980). O álbum de 1981 volta ao catálogo com a adição do registro de Eu me rendo (Sérgio Sá, 1981), fonograma da trilha sonora de outra novela, O amor é nosso! (TV Globo, 1981), esta estrelada pelo próprio Fábio. Já o Fábio Jr. de 1982 incorpora fonograma menos conhecido, Inspira pirâmide, inspira-me, espalha energia, música de autoria de Fábio, lançada pelo cantor em gravação editada em compacto de 1982. Faixas-bônus à parte,  o som dos álbuns é similar ao das reedições de 2001.

Seu Cuca festeja 15 anos em CD e DVD gravados com a voz de Armandinho

Grupo carioca de pop rock que pega a onda da surf music e que também mergulha na praia do reggae, Seu Cuca está completando 15 anos de atividade profissional iniciada em 2000. Lançados neste mês de novembro de 2015, o CD e DVD 15 anos ao vivo festeja a data com o registro de show captado em 24 de maio deste ano de 2015 em apresentação da banda no Teatro Opinião, em Porto Alegre (RS). Voz do pop reggae do Sul do Brasil, o cantor e compositor Armandinho entra em cena - como convidado de James Lima (voz e guitarra), Pedro Sol (baixo), Daniel BZ (bateria) e Felipe Bade (guitarra) - para cantar com o quarteto Deixa ser (música que Armandinho já gravara com Seu Cuca no último álbum de estúdio do grupo, Mente aberta, editado em 2014) e Sol loiro (música que deu título ao álbum lançado pelo artista gaúcho em 2013). Ao longo do roteiro de 21 músicas, Seu Cuca rebobina em 15 anos ao vivo sucessos como Onde você estiver (2000), Não há (2000),Já que você não me quer mais (2005) e Rolé (2006). Segundo registro audiovisual do grupo, 15 anos ao vivo chega ao mercado fonográfico sete anos após DVD e CD ao vivo editados em 2008.

sábado, 28 de novembro de 2015

Boogarins segue manual dos grupos de rock psicodélico no segundo álbum

Resenha de CD
Título: Manual ou guia livre de dissolução dos sonhos
Artista: Boogarins
Gravadora: StereoMono / Skol Music
Cotação: * * *

 Alvo de elogios tão entusiasmados quanto exagerados, Boogarins - o grupo de rock psicodélico formado em 2012 em Goiânia (GO), terra dos sertanejos - segue a cartilha das bandas do gênero no segundo álbum, Manual ou guia livre de dissolução dos sonhos. Benke Ferraz (guitarra), Dinho Almeida (voz e guitarra), Raphael Vaz (baixo) e Ynaiã Benthroldo (substituto de Hans Castro no posto de baterista) estão sendo incensados pela imprensa musical brasileira neste ano de 2015 em razão da boa exposição obtida pelo quarteto na cena indie norte-americana e na Europa porque, no exterior, o som psicodélico do Brasil tem sido bem valorizado, como mostra o culto da banda Mutantes em terras estrangeiras. A propósito, ecos do som tropicalista dos Mutantes são ouvidos em músicas como Avalanche (do verso "Eles não nos deixam ver o sol", repetido à exaustão pelo vocalista Dinho Almeida), Tempo e 6000 dias (ou mantra dos 20 anos), destaques do álbum aberto com a faixa-vinheta Truques, de 44 segundos. As guitarras roqueiras de Benke Ferraz e Dinho Almeida conduzem o Boogarins com certa crueza na viagem por sons das décadas de 1960 e 1970, matrizes da mistura de sons progressivos, psicodélicos, roqueiros e tropicalistas que caracteriza a música lisérgica do grupo. Quem gosta do estilo vai seguir com prazer o roteiro imprevisível da viagem. Musicalmente, a banda se garante - como prova a linha de baixo entranhada em Benzin, parceria com a banda conterrânea Carne Doce e única música não inédita de Manual por já ter sido registrada pela própria Carne Doce. Só que, por vezes, o disco peca pelo excesso de pretensão. A junção de duas músicas numa única faixa - Mario de Andrade e Selvagem - soa sem sentido aparente. Músicas como Falsa folha de rosto sinalizam também que o repertório do Boogarins tem sido superestimado. Manual ou guia livre de dissolução dos sonhos chega às mãos e ouvidos dos críticos em momento em que aura hype envolve tudo que diz respeito ao Boogarins. Apesar da natureza orgânica do som deste segundo álbum, a música da banda soa demasiadamente fluida em Cuerdo e em San Lorenzo, roçando a letargia.  Caberá ao tempo rei pôr a banda no devido lugar...

Warner festeja 40 anos de carreira de Miúcha com reedição de álbum de 1988

Foi em 1975 que Heloísa Buarque de Hollanda - a excelente cantora carioca conhecida pelo nome artístico de Miúcha - fez suas primeiras gravações profissionais, iniciando carreira fonográfica simultaneamente nos Estados Unidos e no Brasil. Nos EUA, gravou vozes para músicas do álbum The best of two worlds (Columbia, 1976) lançado no ano seguinte pelo saxofonista norte-americano de jazz Stan Getz (1927 - 1991) com a participação de João Gilberto, visto na foto da capa ao lado de Getz e da própria Miúcha. No Brasil, naquele mesmo ano de 1975, a cantora gravou compacto duplo editado pela Philips com músicas de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1991) e João Donato. Para festejar os 40 anos de carreira da artista, a Warner Music reedita, neste ano de 2015, um dos álbuns mais expressivos da discografia da cantora, Miúcha, lançado originalmente em 1988 no formato de LP pela extinta gravadora Continental, cujo acervo foi comprado pela Warner. Já lançado no formato de CD em 1994, em edição desleixada, Miúcha volta ao catálogo com faixa-bônus, Fonte abandonada, parceria de Guinga com Paulo César Pinheiro que Guinga gravou em 2003. A propósito, quando Miúcha gravou este álbum em 1988, Guinga era conhecido somente no meio musical, já que a mídia somente veio dar a devida atenção ao seu cancioneiro a partir da década de 1990 com a exposição da parceria do compositor carioca com Aldir Blanc. Em Miúcha, o ora relançado álbum de 1988, a cantora deu voz a nada menos do que quatro então inéditas parcerias de Guinga com Paulo César Pinheiro (Chorando as mágoas, Por gratidão, Nonsense e Porto de Araújo). O repertório inclui também dueto de Miúcha com a filha Bebel Gilberto - então em início de carreira como cantora e compositora - em Saudosismo (Caetano Veloso, 1988). O cantor, compositor e guitarrista cubano Pablo Milanés também figura na ficha técnica de Miúcha, álbum que volta ao catálogo - nesta edição comemorativa de 40 anos de carreira da artista - com as letras das músicas (inclusive da faixa-bônus), as fotos da arte gráfica original e os elucidativos e detalhados textos escritos pela  cantora, sobre a confecção do disco, para o encarte do LP original.

Bambas cantam sambas para a Mangueira em disco duplo pilotado por Rildo

Já disponível nas plataformas digitais e com edição física em CD duplo programada para chegar ao mercado fonográfico em dezembro de 2015 com distribuição da gravadora Biscoito Fino, o álbum Sambas para a Mangueira alinha 30 gravações inéditas de composições que exaltam a escola de samba carioca Estação Primeira de Mangueira, uma das mais antigas, tradicionais e celebradas agremiações do Carnaval da cidade do Rio de Janeiro (RJ). O disco tem produção assinada por Rildo Hora e traz, entre o time de intérpretes convidados, bambas da Mangueira e de outras escolas, como Alcione, Ana Costa, Beth Carvalho, Dudu Nobre, Leci Brandão, Martinho da Vila, Moacyr Luiz, Monarco, Moyseis Marques, Nelson Sargento e Teresa Cristina, entre outros. Eis - na ordem do álbum duplo - as 30 músicas e intérpretes reunidos em Sambas  para  a  Mangueira:

Disco 1
1. Chega de demanda (Cartola, 1929 / 1975) - Beth Carvalho
2. Sala de recepção (Cartola, 1976) - Sandra Portela
3. Fiz por você o que pude (Cartola, 1967) - Tantinho da Mangueira
4. Verde que te quero rosa (Cartola e Dalmo Castelo, 1977) - Alcione
5. Silenciar a Mangueira, não (Cartola, 1980) - Dudu Nobre e Monarco
6. Sempre Mangueira (Nelson Cavaquinho e Geraldo Queiroz, 1968) - Xande de Pilares
7. A Mangueira me chama (Nelson Cavaquinho, Bernardo de Almeida Soares e José Ribeiro, 
    1968) -  Sombrinha
8. Folhas secas (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1973) - Leci Brandão
9. Mangueira, divina e maravilhosa (Nelson Sargento, 1989) - Nelson Sargento
10. Mangueirense feliz (Jorge Zagaia e Moacir) - Martinho da Vila
11. Capital do samba (José Ramos, 1942) - Velha Guarda da Portela
12. Quem se muda para Mangueira (Zé da Zilda, 1999) - Rody
13. Semente do samba (Hélio Cabral, 1965) - Sapoti da Mangueira
14. Escurinha (Geraldo Pereira e Arnaldo Passos, 1952) - Marquinho Diniz
15. Tem capoeira (Batista da Mangueira, 1973) - Luizito

Disco 2
1. Estação derradeira (Chico Buarque, 1987) - Leny Andrade
2. Sei lá Mangueira (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho,1968) - Moyseis Marques
3. Fala Mangueira (Mirabeau e Milton de Oliveira, 1955) - Ana Costa
4. Exatação à Mangueira (Enéas Brites da Silva e Aloísio da Costa, 1955) - Teresa Cristina
5. Lá em Mangueira (Herivelto Martins e Heitor dos Prazeres, 1943) - Leo Russo
6. Mundo de zinco (Wilson Batista e Antônio Nássara, 1952) - Nilcemar Nogueira
7. Os meninos da Mangueira (Rildo Hora e Sérgio Cabral, 1975) - Ataulpho Jr.
8. Cachaça, árvore e bandeira (Moacyr Luz e Aldir Blanc, 1998) - Moacyr Luz
9. Mangueira (Assis Valente e Zequinha Reis, 1935) - Flavia Saolli
10. Transformação (Jurandir da Mangueira e João Boa Gente Vieira dos Passos, 1964) - Rixxa
11. Quando o samba acabou (Noel Rosa, 1933) - Gabrielzinho do Irajá
12. Barraco mais pobre (Estudante da Mangueira, 1974) - Nilze Carvalho
13. Sabiá de Mangueira (Benedito Lacerda e Eratóstenes Frazão, 1943) - Janaína Reis
14. Nasceste de uma semente (José Ramos, 1965) - Dorina
15. Mangueira (Xangô da Mangueira, 1973) - Paulo Marquez

'Pancadélico' faz a festa ao (re)avivar cores do solar pop 'black' do Jota Quest

Resenha de CD
Título: Pancadélico
Artista: Jota Quest
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * *

O oitavo álbum de inéditas do Jota Quest, Pancadélico, faz a festa ao reavivar todas as cores do pop black do grupo mineiro. Melhor dizendo, o disco produzido por Jerry Barnes - e lançado neste mês de novembro de 2015 - refaz a festa da banda, já que o groove black sempre pautou a música de Marcio Buzelin (synths, pianos e órgãos), Marco Túlio Lara (guitarras e violões), Paulinho Fonseca (bateria), PJ (baixo) e Rogério Flausino (voz) ao longo dos 20 anos da discografia do quinteto de Belo Horizonte (MG). O que mudou significativamente foi um (alto) investimento - inclusive financeiro - na formatação dessa música a partir do álbum La plata (Sony Music, 2008) e, sobretudo, do álbum anterior Funky funky boom boom (Sony Music, 2013), elogiado disco que marcou a conexão do grupo com o produtor norte-americano Jerry Barnes e com o guitarrista (também norte-americano) Nile Rodgers, um dos cérebros por trás do Chic, grupo que deu contribuição decisiva para o som funky da era dos dancin' days. Barnes e Rodgers figuram na ficha técnica de Pancadélico nas mesmas funções do disco anterior. Pancadélico segue a receita festiva de Funnky funky boom boom, mas consegue escapar da sina de soar como cópia do antecessor. Os ingredientes são os mesmos, mas a combinação desses ingredientes dá sabor ligeiramente diverso ao coquetel pop black de Pancadélico. Os coros, por exemplo, estão bem mais quentes. A capa multicolorida - recorte de grafite inédito feito pela dupla Os Gêmeos para o grupo - reflete bem os tons de excelente disco que já começa em clima de festa com o groove de A vida não tá fácil pra ninguém (PJ, Jerry Barnes, Rogério Flausino, Nile Rodgers e Arnaldo Antunes). Com refrão que sintoniza o estado de espírito do brasileiro neste ano de crise, a letra de Arnaldo Antunes é convite para o baile e a festa - irrecusável chamada feita com o toque chic da guitarra do convidado Nile Rodgers. O baile permanece animado com Blecaute (Marcio Buzelin, Jerry Barnes, Wilson Sideral, Rogério Flausino e Nile Rodgers), iluminado primeiro single do álbum gravado com a voz de Anitta - a musa do funk pop carioca - e novamente com o toque chic da guitarra de Nile Rodgers, além do toque da guitarra do produtor Jerry Barnes. Blecaute tem a pegada pop típica do som do Jota Quest, com o groove em primeiro plano. O refrão - "Você chegou, quase me matou / Foi daquele jeito, todo o baile parou / Quase me levou, me levou todo ar!" - é irresistível. O uso do sample de Outstanding (Raymond Calhoun, 1982) - um dos maiores sucessos da banda norte-americana de funk & r&b Gap Band (1967 - 2010) - contribui para a perfeição pop funk da faixa. Na sequência, Sexo e paixão (Marco Túlio Lara, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Mista Raja) esquenta mais a temperatura do baile com alta dose de erotismo, com refrão em inglês feito por Barnes e com a adição do rap do norte-americano Mista Raja, rapper egresso do Bronx (Nova York, EUA). Nesta música, a batida é de funk, mas o toque da guitarra puxa o tema para o universo do rock em mistura azeitada. Direcionando o disco da noite para o dia, os reggaes Sendo assim (Tibless, Rogério Flausino, Marco Túlio Lara, Marcio Buzelin, PJ, Paulinho Fonseca e Jerry Barnes) e Um dia pra não se esquecer (Sunrise) (Chris Leon, Katie Tucker, Jerry Barnes, PJ e Rogério Flausino) jogam Pancadélico em praia solar. "Ser feliz, é só o que eu quero agora", repete Flausino no refrão de Sendo assim, evitando discutir a relação. Entre um reggae e outro, Mares do Sul singra na levada do baixo do inglês Stuart Zender, integrante da formação original do grupo britânico Jamiroquai, influência assumida do som do Jota Quest. Há ecos de Tim Maia (1942 - 1998) na faixa tanto na introdução falada - que remete ao início da balada Me dê motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1983), grande hit do Síndico - quanto no fraseado soul do canto de Flausino. Nem o recado político de Risco Brasil (PJ, Play e Rogério Flausino) - faixa que cai em suingue metaleiro, embutindo sample de Approaching target (Antonious C Ton Rolk Van Der e Timothy Tim Holst Van Der, 2008), tema do grupo The Soul Snatchers - arrisca o alto astral do disco. "Eu tô sem dinheiro, mas eu não desisto, não!!", avisa o refrão valente da letra popular. Com pinta de single, Beijos em Paris (Marco Túlio Lara, Jerry Barnes, Wilson Sideral e Rogério Flausino) mantém o disco na rota da felicidade. Se está fora do baile, o Jota Quest continua indo para onde tenha sol. E há sol no clima e em verso de Pra quando você se lembrar de mim, canção de Wilson Sideral, de certeira pegada pop. Há sol também em verso de Mágica (Marcio Buzelin e Rogério Flausino), balada romântica conduzida pelo piano de seu coautor Marcio Buzelin, pelos teclados de Cris Simões (coprodutor da faixa) e pelo órgão Hammond de Cory Henry. Há sol ainda no subtítulo de Freak fonk funk (Até o sol raiar) (Paulinho Fonseca, Jerry Barnes e Rogério Flausino), música que conduz Pancadélico de volta ao baile black com evocação do som da banda norte-americana de funk e soul Funkadelic (1968 - 1981), outra influência assumida (inclusive no título de Pancadélico) do Jota Quest. Com groove que remete ao som pop da década de 1960, Doces lábios (PJ, Jerry Barnes, Rogério Flasino e Terry Troutman) tem o talk box de Terry Troutman, da banda norte-americana de funk Zapp. E, por fim, há novamente sol em verso de Daqui só se leva o amor (Rogério Flausino), a canção que propõe o amor sem interesse como o principal ingrediente da receita de bem-viver dada pelo Jota Quest em Pancadélico. Daqui só se leva o amor fecha em tese o disco, mas há falso final e, após alguns segundos, entram cordas que parecem sublinhar o poder sublime do amor na vida. Enfim, Pancadélico confirma que o Jota Quest vive o melhor momento de discografia que completa 20 anos em 2015 (o primeiro álbum do grupo saiu em 1995 por vias independentes). De volta ao começo, mas com fôlego renovado desde o álbum La plata, o grupo segue viagem sem erros em Pancadélico,  chegando de novo com força no pistão do pop black  com festivo som de cores vivas.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Disco com sambas da elite do Carnaval carioca de 2016 já tem edição digital

Chegou hoje, 27 de novembro de 2015, às plataformas digitais o disco com os sambas-enredos das 12 escolas que vão desfilar pelo Grupo Especial no Carnaval carioca de 2016. Homenageada no enredo da Estação Primeira de Mangueira, a cantora baiana Maria Bethânia participa da introdução da gravação do samba-enredo Maria Bethânia - A menina dos olhos de oyá. A dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano também figura no disco Sambas de enredo 2016, que vai ser lançado em edição física em CD pela gravadora Escola de Samba, com distribuição da Universal Music, em dezembro de 2015. Enredo da Imperatriz Leopoldinense, os irmãos goianos também participam da gravação do samba-enredo intitulado É o amor... que mexe comigo e me deixa assim - Dos sonhos de um caipira, nascem os filhos do Brasil, em interpretação dividida com o puxador Marquinho Art'Samba e a cantora paraibana Lucy Alves. O samba foi gravado com acordeom e o toque de um berrante. Já o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel, Memórias do pai arraiá - Um sonho pernambucano, um legado brasileiro foi gravado com as vozes de Mart'nália, Martinho da Vila e Arlindo Cruz,  em registro puxado por Igor Sorriso. O álbum abre com o samba da Beija-Flor.

Gravação ao vivo de 'Brasileirinho', o show de Bethânia, ganha edição digital

Um dos títulos fundamentais da discografia de Maria Bethânia, o álbum Brasileirinho (Quitanda / Biscoito Fino, 2003) gerou show antológico da intérprete baiana. Gravado ao vivo, o espetáculo originou o DVD Brasileirinho ao vivo (Quitanda / Biscoito Fino, 2004), lançado no ano seguinte. Só que, ao contrário da maioria dos registros de shows da cantora, Brasileirinho ao vivo foi lançado somente no formato de DVD sem o CD correspondente. Onze anos depois, a gravadora Biscoito Fino lança o áudio do show em formato digital, já à venda no iTunes. Aos colecionadores da discografia de Bethânia, resta torcer para que Brasileirinho ao vivo ganha também uma edição física em CD.

Eis a capa de 'Transparente', o primeiro álbum autoral de Fátima desde 1999

Esta é a capa - em estilo clássico - de Transparente, o primeiro álbum autoral de Fátima Guedes desde Muito intensa (Velas, 1999). Gravado neste ano de 2015 entre as cidades de Rio de Janeiro (RJ) e Goiânia (GO), com produção e direção artística feitas pela artista carioca com Bororó, o álbum está sendo lançado no mercado fonográfico brasileiro em edição da Fina Flor. O repertório inclui, entre 14 músicas, quatro composições totalmente inéditas da cantora e compositora carioca. Eis, na ordem do CD,  as 14 músicas gravadas por Fátima Guedes no álbum autoral  Transparente:

1. A vida que a gente leva (Fátima Guedes, 2005)
2. Ética (Fátima Guedes, 2015) - música inédita
3. Condenados (Fátima Guedes, 1979)
4. Sempre bate o sol (Fátima Guedes, 2015) - música inédita - com Arranco
5. Flor de ir embora (Fátima Guedes, 1990) - com Dori Caymmi
6. Criatura (Fátima Guedes, 1985)
7. Faca (Fátima Guedes, 1992)
8. Onze fitas (Fátima Guedes, 1979)
9. Minha Nossa Senhora (Fátima Guedes, 1995)
10. Transparente (Fátima Guedes, 2015) - música inédita
11. Ela (Fátima Guedes, 2011)
12. Cheiro de mato (Fátima Guedes, 1980)
13. E agora? (Fátima Guedes, 2003)
14. Lua de cereja (Fátima Guedes, 2015) - música inédita

Álbuns feitos por Ney na Continental e Warner são novamente encaixotados

Lançada em 2008 pela gravadora Universal Music com edições em CD dos álbuns gravados por Ney Matogrosso de 1975 a 1991, a caixa Camaleão repôs em catálogo os seis álbuns feitos pelo cantor mato-grossense na extinta gravadora Continental e na WEA na primeira fase da discografia solo do artista (em foto de Daryan Dornelles). Reeditados na caixa Camaleão a partir de cópias em vinil (nos casos dos três primeiros álbuns, lançados pela Continental), estes seis álbuns serão novamente encaixotados. O pesquisador musical Rodrigo Faour prepara box - previsto para chegar ao mercado fonográfico ainda em 2015 pela Warner Music (dona do acervo da Continental) - com edições em CD dos álbuns Água do céu pássaro (Continental, 1975), Bandido (Continental, 1976), Pecado (Continental, 1977), Feitiço (WEA, 1978), Seu tipo (WEA, 1979) e Sujeito estranho (WEA, 1980). Resta saber se as reedições dos três primeiros álbuns vão oferecer expressivos ganhos na qualidade do som em relação às reedições embaladas na caixa Camaleão para justificar a compra do box da Warner Music por quem tem a caixa editada em 2008 pela Universal Music. Consta que as reedições destes três álbuns da Continental serão produzidas a partir das - já recuperadas - masters originais.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Chico César toca os vivos no show 'Estado de poesia' com som apaixonante

Resenha de show
Título: Estado de poesia
Artista: Chico César (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de novembro de 2015
Cotação: * * * * 1/2

Em 1995, Chico César extrapolou as fronteiras da Paraíba natal com Aos vivos (Velas), registro de show acústico que fez do cantor e compositor paraibano a sensação da MPB em 1996 - a ponto de cantoras disputarem, naquele ano áureo, músicas de autoria dele com telefonemas e atitudes passionais. Decorridos 20 anos, somente Maria Bethânia e Elba Ramalho permanecem realmente atentas à produção autoral do artista, em prova de coerência. Mas Chico César continua exibindo a mesma grandeza como compositor, como provaram os dois últimos álbuns de músicas inéditas que lançou, Francisco, forró y frevo (Chita Discos / EMI Music, 2008) e o recém-editado Estado de poesia (Chita Discos / Urban Jungle / Pommelo Distribuições / Lab Fantasma, 2015). Aos vivos que compareceram à estreia carioca de Estado de poesia, show derivado do homônimo disco feito pelo artista com inspiração na paixão pela mulher Bárbara Santos, Chico César deu mais uma amostra da relevância que tem pautado obra autoral que transita entre o discurso amoroso e a exposição de questões sociais que refletem sobre um Brasil que nega, inclusive, a negritude do país, assunto do reggae Negão (Chico César, 2015), um dos pontos mais altos de show eletrizante. Com suporte do projeto Natura Musical ("Estou no colo da mãe natureza", brincou Chico, citando verso de Rita Lee em Mamãe natureza, 1974, ao falar da empresa que bancou o atual trabalho), Estado de poesia é show feito na pressão, partindo dos arranjos do disco, mas com pegada ainda mais forte. Não é à toa que a luz do show remete à iluminação frenética dos shows de rock'n'roll em músicas como Guru (Chico César, 2015). Número que abriu o roteiro, o xote Caninana (Chico César, 2015) virou xote'n'roll no palco do Theatro Net Rio. A swingueira e a pressão desta parte inicial do show turbinaram o reggae A palavra mágica (Chico César, 2015) e o samba-rock Atravessa-me (Chico César, 2015), que ecoou tanto o balanço de Jorge Ben Jor que a citação de Zazueira (Jorge Ben Jor, 1968) soou perfeitamente natural. Alternando-se entre as guitarras e os violões eletroacústicos, Chico César tem a seu favor, no show e no disco Estado de poesia, afiada banda formada pelo percussionista Escurinho, o baterista Gledson Meira, tecladista Helinho Medeiros e o baixista Xisto Medeiros. Baiana radicada na Paraíba, a sanfoneira Lívia Matos completou a banda na estreia carioca do show em 24 de novembro de 2015. Em estado de graça, Chico César dialogou espirituosamente com a plateia - sem prejudicar o timing do show - e mostrou músicas que conciliam amor e política. Inspirada pela canção sentimental popular, Da taça (Chico César, 2015) sorveu toques de bolero e arrocha, preparando o clima romântico para a melancólica canção Onde estará o meu amor? (Chico César, 1996), propagada na voz de Maria Bethânia e revivida por Chico César no show com sedutora citação de Diana (Paul Anka, 1957, em versão em português de Fred Jorge, 1958). Dentro deste estilo popular romântico, a música-título Estado de poesia (Chico César) - lançada por Bethânia no show Carta de amor (2012 / 2013) - se confirmou no show como uma das pérolas mais reluzentes de um disco apaixonado. A abordagem de Estado de poesia por Chico rivalizou com a da cantora em beleza, mas teve mais energia e um arranjo vintage que fez sobressair o toque dos teclados de Helinho Medeiros com som que remeteu aos órgãos de vários hits da Jovem Guarda. Tema suculento, Caracajus (Chico César, 2015) destilou poesia em estado puro em número que ganhou peso progressivo no show. Já Museu (Chico César, 2015) foi o único instante em que o show sofreu queda de energia e sedução. Na sequência, Chico exalou vivacidade rítmica à moda de Moraes Moreira na nordestina Quero viver (2015) - parceria póstuma com o poeta tropicalista Torquato Neto (1944 - 1972) que ganhou sagaz citação de Besta é tu (Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Luiz Galvão, 1972), hit do grupo Novos Baianos - e acertou o passo do frevo Alberto (Chico César, 2015), cuja letra tira o aviador mineiro Santos Dumont (1873 - 1932) do armário. Entre um número e outro, Chico convocou o percussionista Escurinho para a frente do palco para bisarem no palco o dueto que fazem no disco no samba No Sumaré (Chico César, 2015), composto nos moldes dos sambas do compositor paulistano Adoniran Barbosa (1910 - 1982). No bis, Chico disparou os disparates da política agropecuária do Brasil na verborrágica Reis do agronegócio (Chico César e Carlos Rennó, 2015) como se fosse um Bob Dylan encarnado em cantador do sertão nordestino. No segundo bis, iniciado com a sempre pedida Mama África (Chico César, 1995), o cantador aguçou o discurso político de Estado de poesia ao dar voz ao luminoso samba-reggae Brilho de beleza (Nego Tenga, 1988) e ao hino engajador de seu conterrâneo Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei das flores (1968). Caminhando, cantando e compondo com a mesma força de 20 anos atrás, Chico César soa apaixonante no show Estado de poesia, dando recado aos vivos.

Chico César aguça 'Estado de poesia' ao interpretar Tenga e Vandré no show

Um dos mais belos sambas-reggaes compostos e lançados nos anos 1980, década áurea da música afro-pop-baiana rotulada como axé music, Brilho de beleza (1988) - tema de autoria do compositor baiano Nego Tenga, regravado por cantoras como Gal Costa e Margareth Menezes - se afina com o discurso contra a negação da negritude brasileira feito por Chico César em Negão, uma das músicas inéditas de seu nono álbum, Estado de poesia (Chita Discos / Urban Jungle / Pommelo Distribuições / Lab Fantasma, 2015). Por isso mesmo, Brilho de beleza se encaixou bem no roteiro do eletrizante show Estado de poesia, enfim estreado pelo cantor e compositor paraibano no Rio de Janeiro (RJ), em apresentação que seduziu o público que compareceu ao Theatro Net Rio na noite de terça-feira, 24 de novembro de 2015. Parceria do artista com Zeca Baleiro, lançada por Chico no álbum Cuscuz clã (MZA Music, 1996), Mand'Ela também reapareceu no roteiro, aguçando com trocadilho o discurso amoroso-político de Estado de poesia, show nascido de disco cujo repertório foi parido pela paixão romântica do artista por sua atual mulher, Bárbara Santos. Em roteiro que encadeou todas as 14 músicas do álbum, Chico surpreendeu ao sair do trilho autoral quando cantou Espumas ao vento (Accioly Neto, 1997) e quando, já no segundo bis, deu voz a Brilho de beleza e ao maior sucesso do compositor (também paraibano) Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei das flores, canção engajada de 1968 - conhecida popular e nacionalmente como Caminhando - que Chico César revive em arretado ritmo que ficou entre o xote e o reggae. Eis o roteiro seguido em 24 de novembro de 2015 por Chico César - em foto de Mauro Ferreira - na estreia carioca do (apaixonante) show  Estado de poesia no Theatro Net Rio:

1. Caninana (Chico César, 2015)
2. Guru (Chico César, 2015)
3. Palavra mágica (Chico César, 2015)
4. Atravessa-me (Chico César, 2015)
    - com citação de Zazueira (Jorge Ben Jor, 1968)
5. Da taça (Chico César, 2015)
6. Onde estará o meu amor? (Chico César, 1996)
    - com citação de Diana (Paul Anka, 1957, em versão de Fred Jorge, 1958)
7. Negão (Chico César, 2015)
8. Mand'ela (Chico César e Zeca Baleiro, 1996)
9. Miaêro (Chico César, 2015)
10. Espumas ao vento (Accioly Neto, 1997)
11. Estado de poesia (Chico César, 2013)
12. Caracajus (Chico César, 2015)
13. Museu (Chico César, 2015)
14. Quero viver (Chico César e Torquato Neto, 2015)
      - com citação de Besta é tu (Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Luiz Galvão, 1972)
15. No Sumaré (Chico César) - com Escurinho
16. Alberto (Chico César)
Bis:
17. Reis do agronegócio (Chico César e Carlos Rennó, 2015)
Bis 2:
18. Mama África (Chico César, 1995)
19. Brilho de beleza (Nego Tenga, 1988)
20. Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando) (Geraldo Vandré, 1968)

Buchecha agrega Arnaldo, Emicida, Flausino e Ludmilla no álbum 'Funk pop'

Previsto de início para ter sido lançado em 20 de novembro de 2015, o sexto álbum solo de Buchecha, Funk pop, teve o lançamento reprogramado para 4 de dezembro pela gravadora Warner Music. Produzido por Alexandre Kassin, o disco celebra os 40 anos de vida do artista e os 20 anos do aparecimento da dupla Claudinho & Buchecha, formada definitivamente em 1995 em São Gonçalo (RJ) - ainda que os então iniciantes MCs tivessem se apresentado juntos já em festival de 1992 - e desfeita em 2002 com a morte de Cláudio Rodrigues de Mattos (1975 - 2002), o Claudinho. O repertório do álbum Funk pop é dominado por regravações de hits do funk melody carioca dos anos 1990 e 2000, incluindo sobretudo músicas do repertório de Claudinho & Buchecha. As regravações foram feitas por Buchecha em duetos com nomes como Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Emicida, Lenine, Ludmilla, Paralamas do Sucesso, Paula Toller e Rogério Flausino. Quatro músicas inéditas assinadas por Giulie Oliveira e Buchechinha - Eu vou lá, LogotipoVem cá fazer um love e a música-título Funk pop - são cantadas somente por Buchecha. Cantora que popularizou em 2004 a canção Fico assim sem você (Cacá Morais e Abdullah, 2002), gravada por Claudinho & Buchecha no último álbum da dupla, Adriana Calcanhotto divide com o anfitrião a interpretação de Destino (Buchecha e Buchechão, 2000), música-título de álbum lançado pela dupla Claudinho & Buchecha em 2000. A funkeira Ludmilla solta a voz com Buchecha em Implacável (Rosana Morais, 2006), música lançada pelo cantor fluminense em Acústico (Sony Music, 2006), segundo álbum da carreira solo de Buchecha. Paula Toller é a convidada de À distância, (MC Marcinho e Goró, 1997), sucesso da extinta dupla carioca de funk melody Márcio & Goró, contemporânea de Claudinho & Buchecha, mas desfeita precocemente em 2000 com a morte de Goró. Do repertório dos mesmos Márcio & Goró, Buchecha dá novas asas a Sabiá (MC Marcinho e Carol). Já o rapper Emicida adiciona a Rima do Silva ao Rap do Silva (Bob Rum, 1995). Lenine reaviva Conquista (Buchecha, 1996) enquanto Rogério Flausino faz dueto com Buchecha em Quero te encontrar (Buchecha, 1997), hit do segundo álbum da dupla Claudinho & Buchecha, A forma (PolyGram, 1997). Em Só love (Buchecha, 1998), música-título e hit radiofônico do álbum lançado por Claudinho & Buchecha em 1998, o convidado é o grupo carioca Paralamas do Sucesso. A faixa ganhou clipe. O álbum  Funk pop  totaliza 13 faixas.

Coletânea com Bethânia e Simone festeja - com atraso - 80 anos de Hermínio

Comemorados por Hermínio Bello de Carvalho em 28 de março deste ano de 2015, os 80 anos de vida do compositor e poeta carioca estão sendo festejados - com atraso de oito meses - com a edição, pela gravadora Biscoito Fino, do álbum Isso é viver - Hermínio, posto no mercado fonográfico neste mês de novembro de 2015. Trata-se de coletânea que reúne 16 fonogramas com gravações do cancioneiro do artista, muitas extraídas de tributos a outros aniversários do artista. Parceria de Hermínio com Pixinguinha (1897 - 1973), a música-título Isso é que viver aparece na compilação em gravação feita pela cantora carioca Áurea Martins para o álbum Depontacabeça (Biscoito Fino, 2010). Maria Bethânia figura em dose dupla na seleção. A voz da intérprete baiana ecoa em Alvorada (Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, 1968) - em gravação feita em dueto com o próprio Hermínio para disco em tributo aos 60 anos do compositor, Cantoria (Saci, 1995) - e em Alecrim (Cristóvão Bastos e Hermínio Bello de Carvalho, 2005). Tema de letra lírica cantada pela mineira Zezé Gonzaga (1926 - 2008), Alecrim é temperado com versos recitados por Bethânia no meio do fonograma do disco Timoneiro (Biscoito Fino, 2005), tributo produzido para saudar os 70 anos do artista. Do álbum Timoneiro, Isso é que viver - Hermínio reproduz o dueto de Chico Buarque com Zeca Pagodinho no pouco conhecido samba Mulher faladeira (Maurício Tapajós, Maurício Carrilho e Hermínio Bello de Carvalho, 2005) e também a bela gravação de Mirra, ouro, incenso (Martinho da Vila e Hermínio de Bello Carvalho, 2005) feita por Simone, cujo dueto de 2008 com Zélia Duncan em Amigo é casa (Capiba e Hermínio Bello de Carvalho, 2005) é alocado como faixa-bônus da coletânea. O samba Timoneiro, aliás, reaparece com o intérprete original, Paulinho da Viola, parceiro de Hermínio na composição lançada em 1996. Outra parceria de Hermínio com Paulinho, Cantoria (1995), aparece na voz de Alaíde Costa, em gravação inserida como faixa-bônus da reedição (de 2005) do álbum Águas vivas - Alaíde Costa canta Hermínio Bello de Carvalho (Vento de Raio, 1982). Só que, por erro de edição, a música Cantoria não é creditada na capa e tampouco no encarte de Isso é que viver - Hermínio. No seu lugar, a faixa creditada equivocadamente a Alaíde é Cobras e lagartos (Sueli Costa e Hermínio Bello de Carvalho, 1975), música ausente da seleção da coletânea. A ausência de créditos com as fichas técnicas e as procedências dos fonogramas desfavorece o disco, valorizado por seleção irretocável de gravações que abre com Chico Buarque percorrendo o luminoso Chão de esmeraldas, samba que fez com Hermínio em 1997 para saudar a escola de samba Mangueira. Parceria póstuma de Hermínio com o compositor e violonista João Pernambuco (1883 - 1947), lançada em 1985 com os versos do poeta, Estrada do sertão é seguida com brilho e emoção por Elba Ramalho em antológica gravação tirada do já mencionado álbum Cantoria, do qual a coletânea também rebobina a gravação do samba Pressentimento (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, 1968) por Alcione. Choro-canção lançado em 1951 por Jacob do Bandolim (1918 - 1969) e letrado por Hermínio Bello de Carvalho em 1968, Doce de coco figura no delicioso registro de Ney Matogrosso. O cantor acerta o ponto de Doce de coco na gravação extraída do álbum Beijo bandido (EMI Music, 2009). Bem mais rara, a gravação do choro Pintou e bordou (Maurício Carrilho e Hermínio Bello de Carvalho, 1985) - feita por Nara Leão (1942 - 1989) para o álbum duplo Lira do Povo (Tycoon, 1985), lançado há 30 anos para celebrar o 50º aniversário do artista - valoriza a coletânea. Deste mesmo álbum duplo, Isso é que viver - Hermínio revive a gravação de Valsa da solidão (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, 1985) por Elizeth Cardoso (1920 - 1990), cantora carioca que teve caminho profissional decisivamente cruzado nos anos 1960 com o de Hermínio Bello de Carvalho, poeta que faz a lira do povo admirador da música brasileira rotulada como MPB.  Compositor que soube viver de música...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

CD com trilha de 'Chico - Artista brasileiro' é produto que brilha além do filme

Resenha de CD
Título: Chico - Artista brasileiro
Artista: vários
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Com estreia programada nos cinemas para amanhã, 26 de novembro de 2015, o documentário Chico - Artista brasileiro entra em circuito nacional com sua trilha sonora já disponível em álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino nas plataformas digitais e em edição física em CD. Com trilha irretocável que toca muito bem fora da tela, o disco alinha dez fonogramas produzidos para o filme em que o cineasta Miguel Faria Jr. traça perfil documental de Chico Buarque a partir de entrevista-guia concedida pelo cantor e compositor carioca. Os dez números musicais foram gravados em estúdio sob a direção musical do violonista Luiz Cláudio Ramos com banda-base formada pelo pianista João Rebouças, o baixista Jorge Helder e o baterista Jurim Moreira. Sopros e percussões foram adicionados de acordo com a necessidade de cada arranjo. A surpresa do disco reside mais na escalação do time de intérpretes do que nos registros reverentes, feitos dentro do universo musical do compositor, sem inventar moda. Bom cantor mineiro que conquistou a admiração de Chico com suas intervenções no circuito de shows da Lapa, bairro boêmio do Centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Moyseis Marques dá conta da tarefa de levar o samba Mambembe (Chico Buarque, 1972) para um salão de gafieira. Nome mais surpreendente da escalação, o cantor paulista Péricles - projetado como vocalista do grupo de pagode Exaltasamba - se mostra um intérprete de primeira ao defender o samba Estação derradeira (Chico Buarque, 1977). Já Mônica Salmaso dá o habitual show de técnica ao seguir a fluente correnteza melódica de Mar e lua (Chico Buarque, 1980) em registro de emoção corretamente dosada que jamais tira de Simone o mérito de ter feito há 23 anos a melhor gravação da canção no álbum Sou eu (Sony Music, 1992), registro do homônimo show dirigido por Ney Matogrosso. A propósito, Ney figura na trilha e também exibe o costumeiro rigor estilístico ao encarar As vitrines (Chico Buarque, 1981). Mais leves, Adriana Calcanhotto e Mart'nália se afinam como o casal às voltas com as questões conjugais do samba Biscate (Chico Buarque, 1993).Já Laila Garin dá voz a Uma canção desnaturada (Chico Buarque, 1977) sem carregar no drama. Cantora portuguesa que já gravou com Chico Buarque, Carminho marca presença em dose dupla na trilha sonora de Chico - Artista brasileiro. Faz Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) voar alto em gravação que dispensa o instrumental típico do fado, além de fazer dueto com Milton Nascimento em Sobre todas as coisas (Edu Lobo e Chico Buarque, 1993). Mesmo sem a potência e o viço de tempos idos, a voz de Milton tem lampejos divinos na gravação. E o artista brasileiro retratado com humor por Miguel Faria Jr. no documentário brilha - ao regravar Sinhá (João Bosco e Chico Buarque, 2011) e Paratodos (Chico Buarque, 1993) em registros que roçam o êxito das abordagens originais das composições - por ter evoluído como cantor e por ter obviamente pleno entendimento da obra exposta na trilha sonora do filme através de 10 músicas lançadas entre 1968 e 2011. Acima do brilho individual dos intérpretes, paira a genialidade do compositor, artista brasileiro que nunca saiu do tom quando exerce a arte de fazer música. O filme pode até sair de cartaz e da memória. Mas as dez músicas do CD ficarão.

Compositor mais antigo da Portela, Waldir 59 sai de cena no Rio aos 87 anos

Impossível dissociar o compositor carioca Waldir de Souza (3 de março de 1928 - 25 de novembro de 2015) da escola de samba Portela, uma das mais tradicionais agremiações do Carnaval do Rio de Janeiro (RJ), cidade onde Waldir 59 - como o sambista era conhecido por ter morado em casa de número 59  - saiu de cena na madrugada de hoje. Waldir ingressou na Portela aos sete anos de idade, tendo dedicado oito décadas de sua vida à escola azul e branco situada na divisa entre os bairros cariocas de Madureira e Oswaldo Cruz. Parceiro de Candeia (1935) e de Picolino da Portela na criação do vitorioso samba-enredo Legado de D. João VI, campeão do Carnaval carioca de 1957, Waldir 59 deixa diversos sambas inéditos. Sua obra gravada em disco abarca quase que tão somente os sambas-enredos que compôs para a Portela. Um dos mais famosos é que Riquezas do Brasil (Brasil poderoso), criado com o parceiro Candeia para o Carnaval de 1956. Outra parceria com Candeia que desafia o tempo é Vem amenizar, samba composto em 1956, tendo sido gravado por Candeia e por Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008). Compositor e sócio mais antigo da Portela, Waldir 59 chegou à agremiação quando a escola de samba ainda se chamava Vai como pode. Mas foi a partir da década de 1950 que integrou a ala de compositores da Portela. Compositor da mesma linhagem nobre de Casquinha e de Monarco, com quem integrava desde 2013 o grupo Velha Guarda da Portela, Waldir 59 sai de cena sem amenizar a dor que sofrem com sua partida desde compositor fundamental para a história da escola a que dedicou arte e vida. Waldir 59 foi bamba!!!

Eis a capa e as faixas do DVD e CD ao vivo que Elba vai lançar em dezembro

Espetáculo de arquitetura teatral apresentado pela cantora e atriz paraibana Elba Ramalho com o grupo armorial SaGRAMA e o quarteto de cordas Encore (ambos de Pernambuco), sob a direção de André Brasileiro, Cordas, Gonzaga e afins vai ser perpetuado em CD e em DVD agregados em edição dupla que chega ao mercado fonográfico a partir de 15 de dezembro de 2015. Gravado ao vivo no Recife (PE) em setembro de 2014, o espetáculo traz no roteiro música inédita de Marcelo Jeneci, Gravitacional, registrada com a participação do cantor e compositor paulista. Textos do dramaturgo pernambucano Newton Morero costuram o roteiro criado a partir da obra de Luiz Gonzaga (1912-1989). Eis as 25 faixas do DVD e - na sequência - as faixas também incluídas no CD:

Faixas do DVD:
1. Pau de arara (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952) /
    Algodão (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953)
2. Não sonho mais (Chico Buarque, 1979)
3. Qui nem jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) /

    Toda paixão é jagunça - Texto de Newton Moreno
4. Súplica cearense (Gordurinha e Nelinho, 1967) /
    Aboio mudo - Texto de Newton Moreno
5. Assum branco (José Miguel Wisnik, 1994) /
    Assum preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950)
6. O ciúme (Caetano Veloso, 1987)
7. Béradêro (Chico César, 1995) /
    Ave Maria sertaneja (Júlio Ricardo e Osvaldo de Oliveira, 1964)
8. Funeral de um lavrador (Chico Buarque sobre texto de João Cabral de Melo Neto, 1964)
9. A natureza das coisas (Accioly Neto, 2000)
10. Tomara (Alceu Valença e Rubem Valença Filho, 1990) 
11. Mundo do Lua - tema instrumental com SaGRAMA /
     A volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) /
     Assum preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) /
     Paraíba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) /
     Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947) 
12. A violeira (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1983)
13. Adeus, Iracema (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1962)
14. Ciranda praieira (Lenine e Paulo César Pinheiro, 2008)
15. Aquela rosa (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, 1967)
16. Braia dengosa (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952)
17. Domingo no parque (Gilberto Gil, 1967)
18. Gravitacional (Marcelo Jeneci, 2015) - música inédita
19. Fantasmas que migrou - Texto de Newton Moreno /
     Chão de giz (Zé Ramalho, 1978)
20. Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951)
21. Sanfona sentida (Dominginhos e Anastácia, 1973)
22. Sete meninas (Dominguinhos e Toinho Alves, 1975)
23. São João na roça (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1952) /
     Olha pro céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951) /
     Pagode russo (Luiz Gonzaga, 1946)
24. Asa branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947) /
      O dia em que Lua nasceu - texto de Newton Moreno
25. Canta Luiz (Dominguinhos e Oliveira, 1997) /
      A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953)

Faixas do CD:
1. Pau de arara (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952) /
    Algodão (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953)
2. Não sonho mais (Chico Buarque, 1979)
3. Súplica cearense (Gordurinha e Nelinho, 1967) /
    Aboio mudo - Texto de Newton Moreno
4. Assum branco (José Miguel Wisnik, 1994) /
    Assum preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950)
5. O ciúme (Caetano Veloso, 1987)
6. Béradêro (Chico César, 1995) /
    Ave Maria sertaneja (Júlio Ricardo e Osvaldo de Oliveira, 1964)
7. Adeus, Iracema (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1962)
8. Ciranda praieira (Lenine e Paulo César Pinheiro, 2008)
9. Gravitacional (Marcelo Jeneci, 2015) - música inédita
10. A violeira (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1983)
11. Braia dengosa (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952)
12. Sanfona sentida (Dominginhos e Anastácia, 1973)
13. Sete meninas (Dominguinhos e Toinho Alves, 1975)