sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Com álbum bem feito, '#Sarniô', Naldo chega no pistão com fôlego renovado

Resenha de CD
Título: #Sarniô
Artista: Naldo Benny
Gravadora: Naldo Music / Radar Records
Cotação: * * * 1/2

Nego do Borel que se cuide, pois Naldo Benny está chegando novamente no pistão com fôlego renovado. Sensação pop do verão de 2012, o carioca Ronaldo Jorge Silva sinalizou no fim de 2013, em CD e DVD editados pela gravadora Deck na série Multishow ao vivo, que seu repertório autoral já parecia sem força para encarar o verão de 2014. A pista era certa. Enquanto o funk pop carioca virava o ritmo do momento, a reboque do sucesso nacional de Anitta, o cantor e compositor parecia preso ao verão em que o Brasil se lambuzou com hits como Amor de chocolate (Naldo Benny, 2011) e Exagerado (Naldo Benny, 2011). Mas eis que Naldo vira o jogo com seu melhor disco, um segundo álbum de estúdio que iria se chamar Mix, mas acabou batizado com gíria da Favela da Maré que significa "fazer algo bem feito". ou "mandar bem", numa linguagem mais coloquial. E o fato é que  #Sarniô - disco gravado no estúdio caseiro de Naldo, o Champs 19 - faz jus ao seu título, inclusive por agregar nomes de peso no universo pop nacional como Erasmo Carlos e Mano Brown, o geralmente invocado vocalista do grupo paulista de rap Racionais MC's. A controvertida capa multicolorida do artista plástico Romero Brito traduz bem o conteúdo do disco, pois o funk pop de Naldo ganha cores mais vivas em #Sarniô por conta da azeitada produção capitaneada pelo próprio Naldo ao lado do DJ Batutinha. O disco é longo. São 17 músicas que totalizam cerca de uma hora. Algumas, como Seu jeito (Naldo Benny) e Tão especial (Naldo Benny e Sandro Riva), soam dispensáveis e sugerem que o artista poderia estar lançando seu primeiro grande álbum se tivesse cortado uma faixa ou outra. Mas há, sim, alguns grandes momentos em #Sarniô. O encontro de Naldo com o cantor do Racionais MC's em Benny e Brown (Naldo Benny e Mano Brown) já vale o disco por dar um beijinho no ombro dos recalcados racistas do Brasil. Fusão de funk e rap, a música aloca dois negros vindos da favela em rolê em carrão que segue a trilha das principais referências da cultura black brasileira na rota Rio-São Paulo, jogando ao vento e na cara dos racistas o orgulho negro de ouvir Tim Maia (1942 - 1998) e Jorge Ben Jor. Pai do funk-soul brasileiro, Tim tem verso ("Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir") de sua canção Azul da cor do mar (1970) citado por Naldo em Luz (Naldo Benny), cintilante funk jogado na pista do dance-pop - a mesma na qual o artista-produtor arremessa Latinha (Naldo Benny). Com produção acima da média dos discos do gênero, #Sarniô tem um hit nato em Meu bem (Naldo Benny), funk de perfeita arquitetura pop que sobressai na safra autoral do disco. Mesmo que as composições do funkeiro soem por vezes repetitivas, elas são valorizadas em #Sarniô pela produção esperta. Naldo Benny mandou muito bem ao convocar a dupla norte-americana (de Miami) The MeKanics para criar as bases luminosas que valorizam a música-título Sarniô (Naldo Benny) - faixa que ostenta o paulista MC Guimê e o carioca Mr. Catra e que se impõe como outro grande momento do disco - e Sem fim (Naldo Benny). Verdade seja dita: Naldo volta para a pista com um repertório formatado com certa diversidade rítmica. Se Eu tô voltando (Naldo Benny e Sandro Riva) é r&b de alma soul, Baile (Naldo Benny) entra no rala quente da batida do trap. E por falar em rala quente, Nu grau (Naldo Benny e MC PJ) tem alta carga erótica, aditivada pelo rap de Pablo Jorge, o MC PJ, que vem a ser filho de Naldo. Em clima igualmente familiar, mas sem erotismo, Minha Victória (Naldo Benny) é bonita balada à moda clássica composta por Naldo para sua recém-nascida filha Victória. Sucessor do álbum Na veia (Deck, 2009) na discografia de estúdio do artista em formato físico, #Sarniô desperdiça a participação de Erasmo Carlos em Primeira vez (Anselmo Ralph e Aires). O Tremendão encarna somente o interlocutor que ouve Naldo falar de seus dilemas sexuais com a namorada. Erasmo ouve muito e fala pouco. Ainda assim, a presença do cantor e compositor carioca - pioneiro roqueiro brasileiro - em #Sarniô cumpre a função de avalizar Naldo Benny numa época em que o funk pop é tão marginalizado pelas elites culturais quanto a Jovem Guarda foi há 50 anos. #Sarniô peca pelo excesso, inclusive por rebobinar músicas já lançadas pelo artista, casos de Faz sentir (Naldo Benny, Daniel de Almeida e Marcos Leandro Nascimento, 2013) - gravada com a participação da cantora norte-americana K. Rose - e de Te pego de jeito (Naldo Benny, 2014), carro-chefe do EP digital Verão (Naldo Music / Benny Entertainment, 2014) lançado pelo cantor no fim de 2014. Embora com faixas demais, #Sarniô revigora o funk pop de Naldo, honrando o título.

29 comentários:

  1. ♪ Nego do Borel que se cuide, pois Naldo Benny está chegando novamente no pistão com fôlego renovado. Sensação pop do verão de 2012, o carioca Ronaldo Jorge Silva sinalizou no fim de 2013, em CD e DVD editados pela gravadora Deck na série Multishow ao vivo, que seu repertório autoral já parecia sem força para encarar o verão de 2014. A pista era certa. Enquanto o funk pop carioca virava o ritmo do momento, a reboque do sucesso nacional de Anitta, o cantor e compositor parecia preso ao verão em que o Brasil se lambuzou com hits como Amor de chocolate (Naldo Benny, 2011) e Exagerado (Naldo Benny, 2011). Mas eis que Naldo vira o jogo com seu melhor disco, um segundo álbum de estúdio que iria se chamar Mix, mas acabou batizado com gíria da Favela da Maré que significa "fazer algo bem feito". ou "mandar bem", numa linguagem mais coloquial. E o fato é que #Sarniô - disco gravado no estúdio caseiro de Naldo, o Champs 19 - faz jus ao seu título, inclusive por agregar nomes de peso no universo pop nacional como Erasmo Carlos e Mano Brown, o geralmente invocado vocalista do grupo paulista de rap Racionais MC's. A controvertida capa multicolorida do artista plástico Romero Brito traduz bem o conteúdo do disco, pois o funk pop de Naldo ganha cores mais vivas em #Sarniô por conta da azeitada produção capitaneada pelo próprio Naldo ao lado do DJ Batutinha. O disco é longo. São 17 músicas que totalizam cerca de uma hora. Algumas, como Seu jeito (Naldo Benny) e Tão especial (Naldo Benny e Sandro Riva), soam dispensáveis e sugerem que o artista poderia estar lançando seu primeiro grande álbum se tivesse cortado uma faixa ou outra. Mas há, sim, alguns grandes momentos em #Sarniô. O encontro de Naldo com o cantor do Racionais MC's em Benny e Brown (Naldo Benny e Mano Brown) já vale o disco por dar um beijinho no ombro dos recalcados racistas do Brasil. Fusão de funk e rap, a música aloca dois negros vindos da favela num carrão que segue a trilha das principais referências da cultura black brasileira na rota Rio-São Paulo, jogando ao vento e na cara dos racistas o orgulho negro de ouvir Tim Maia (1942 - 1998) e Jorge Ben Jor. Pai do funk-soul brasileiro, Tim tem verso ("Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir") de sua canção Azul da cor do mar (1970) citado por Naldo em Luz (Naldo Benny), cintilante funk jogado na pista do dance-pop - a mesma na qual o artista-produtor arremessa Latinha (Naldo Benny). Com produção acima da média dos discos do gênero, #Sarniô tem um hit nato em Meu bem (Naldo Benny), funk de perfeita arquitetura pop que sobressai na safra autoral do disco.

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  2. Mesmo que as composições do funkeiro soem por vezes repetitivas, elas são valorizadas em #Sarniô pela produção esperta. Naldo Benny mandou muito bem ao convocar a dupla norte-americana (de Miami) The MeKanics para criar as bases luminosas que valorizam a música-título Sarniô (Naldo Benny) - faixa que ostenta o paulista MC Guimê e o carioca Mr. Catra e que se impõe como outro grande momento do disco - e Sem fim (Naldo Benny). Verdade seja dita: Naldo volta para a pista com um repertório formatado com certa diversidade rítmica. Se Eu tô voltando (Naldo Benny e Sandro Riva) é r&b de alma soul, Baile (Naldo Benny) entra no rala quente da batida do trap. E por falar em rala quente, Nu grau (Naldo Benny e MC PJ) tem alta carga erótica, aditivada pelo rap de Pablo Jorge, o MC PJ, que vem a ser filho de Naldo. Em clima igualmente familiar, mas sem erotismo, Minha Victória (Naldo Benny) é bonita balada à moda clássica composta por Naldo para sua recém-nascida filha Victória. Sucessor do álbum Na veia (Deck, 2009) na discografia de estúdio do artista em formato físico, #Sarniô desperdiça a participação de Erasmo Carlos em Primeira vez (Anselmo Ralph e Aires). O Tremendão encarna somente o interlocutor que ouve Naldo falar de seus dilemas sexuais com a namorada. Erasmo ouve muito e fala pouco. Ainda assim, a presença do cantor e compositor carioca - pioneiro roqueiro brasileiro - em #Sarniô cumpre a função de avalizar Naldo Benny numa época em que o funk pop é tão marginalizado pelas elites culturais quanto a Jovem Guarda foi há 50 anos. #Sarniô peca pelo excesso, inclusive por rebobinar músicas já lançadas pelo artista, casos de Faz sentir (Naldo Benny, Daniel de Almeida e Marcos Leandro Nascimento, 2013) - gravada com a participação da cantora norte-americana K. Rose - e de Te pego de jeito (Naldo Benny, 2014), carro-chefe do EP digital Verão (Naldo Music / Benny Entertainment, 2014) lançado pelo cantor no fim de 2014. Embora com faixas demais, #Sarniô revigora o funk pop de Naldo, honrando o título.

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  3. Mauro elogiou Anitta, agora fala bem de Naldo... Nosso crítico aderiu ao funk rs rs

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  4. Luca e Fred, exerço meu ofício de crítico musical sem preconceito contra qualquer gênero ou artista. Sempre falei mal dos discos de Naldo Benny, mas "#Sarniô" tem seus méritos. E o texto faz jus a eles. É assim que trabalho, seja analisando um disco de funk ou um CD de MPB. Abs, MauroF

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  5. Agora fica mal na pista se vc falar mal de qualquer artista popular. A mania é dizer que se vc fala mal é preconceito!!! Mais patético...impossível!

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  6. Marcelo, você é muito patético nessas tentativas de higienizar o blog! Que pena de você!

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  7. Tarefa impossível Raffa...fique tranquilo! ;)

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  8. Acho que o Naldo perdeu o momento ou essa onda já quebrou.

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  9. É um som horrível o que ele faz... Patético mesmo é a música do Naldo...

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  11. E pra não dizerem que sou preconceituoso tentei até ouvir o cd mas ficou difícil

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  12. Depois quero ouvir essa música com o MC Guimê e o Mr. Catra. Simpatizo com os dois (de verdade). Mas não tenho tempo pra um disco inteiro do Naldo, não...

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  13. Fico extremamente feliz pela idoneidade do blog, Mauro. Oras, se este se propõe a resenhar a produção fonográfica nacional, nada mais justo que incluir de forma justa e imparcial, mas nunca neutra, o Funk (ou o Funk Pop), uma vez que o ritmo se impõe como um movimento artístico legitimamente nacional.

    Quero destacar a feliz associação que você fez entre o Funk Pop e a Jovem Guarda, realmente, a reação da classe média de ontem e hoje são bem parecidas:repleta de muito preconceito e espírito higienista. Resta saber se teremos um Caetano, um Gil correspondente para nos lançar para fora e acima da manada da ignorância.

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  15. Luan, não adianta. A ignorância cega, ela e emburrece. O ignorante nem sempre é burro, mas quando se ele curte a ignorância, ele emburrece.

    Se eu não gosto de funk (se é que eu sei o que é isso), eu não ouço nem falo sobre ele, porque eu não gosto e não sou pago pra isso, não é o meu trabalho.

    Mauro escreve sobre funk ou outros gêneros nitidamente discriminados por ser cria das classes mais baixas da sociedade, então é um braço do preconceito social, porque é o trabalho dele.

    Cartola, Carlos Cachaça, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Alcione também foram vítimas desses mesmos "entendidos" de música de décadas atrás. Hoje, eles são cult, o suprassumo do erudito do popular.

    Eu nunca ouvi uma música de Naldo. Podem acreditar, nunca mesmo, mas até que fiquei curioso diante da capa que eu achei muito linda, até por questões sociológicas.

    Mas enfim, eu já ouvi anita e detestei, mas não foi porque meu ouvido está condicionado a ter preconceito contra gêneros musicais não eruditos (eu gosto do Tchan, Timbalada, Pena Branca e Xavantinho etc). Eu não gostei porque não me soou bem mesmo. Da mesma forma que não gosto de Ana Carolina, acho a música dela uma porcaria. Então é a mesma coisa, ou eu gosto ou eu não gosto. Apesar de saber que meu (nosso) gosto é condicionado ao meio social em que vivemos ou que queremos viver, eu exercito o conceito em detrimento do preconceito.

    Esse amargor que lemos aqui sempre nos comentários de críticas de seguimentos mais populares são sempre carregados de ódio gratuito e muito, muito preconceito social internalizado, enraizado no inconsciente de cada um, o que perfaz o inconsciente coletivo da sociedade na qual vivemos. Até aí ok, estamos sempre reproduzindo condicionamentos. Mas o lutar contra isso, contra o senso comum é que nos faz melhor, nos faz diferentes.

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  17. Fred, seu comentário é sintomático. Saiba que Cartola é gênio por estes tempos, mas ele dentre outros mestres foram considerados lixo cultural porque faziam samba. Revela pouco conhecimento sobre música você. Você sabia que Bethânia foi proibida de gravar com Alcione em 1976, mas que aquela exigiu a presença desta no disco Álibi? Informe-se porque o único coitado aqui é você.

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  18. Só espero que a qualidade da nossa produção não caia tanto a ponto de, daqui a alguns anos, Naldo ser considerado um gênio.

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  19. kkkkkk. P. Moraes, muito engraçado. Mas a dinâmica da sociedade nos surpreende. São contextos bem diferente (Naldo/Cartola). Acho que o que é importante é que mantenhamos nossa mente aberta a experiências novas. Lembro-me como Carlinhos Brown era desprezado por seguimentos mais eruditos da música popular e seus seguidores. E Brown é um gênio criador, não se conteve em reproduzir conceitos musicais, criou um.

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  22. Tinha nada demais no seu comentário Fred, os adultos sabem argumentar (alguns). O grande problema nas suas postagens são os desvios de linguagem (gramática mesmo).

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  26. Relaxa Fred. Eu não uso palavras difíceis para parecerem bonitas, é minha forma de escrever, minha formação, é minha vida. Eu tenho um site, escrevo textos, ensaios, tenho publicações, não sei escrever de outra forma, apesar de tentar sempre não ser rebuscado, o mundo acadêmico tem realmente seus clichês, apesar de tentar fugir de eles, não é fácil. Mas não fique bravo, eu entendi que não o "respeito" que você evocou não era pra mim, mas não se preocupe, não busco respeito de estranhos, como você mesmo disse, o somos. Fique em paz.

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