Título: Esse meu olhar
Artista: Verônica Sabino
Gravadora: MP,B Discos / Som Livre
Cotação: * * *
♪ Por que há boas cantoras que não conseguem desenvolver uma discografia à altura de sua voz? É inaceitável que uma cantora com a voz e alma de Verônica Sabino esteja há inacreditáveis 12 anos sem lançar um álbum de estúdio. O último, Agora, saiu em 2003 pelo selo Dubas. De lá para cá, a cantora carioca - de 55 anos completados neste mês de novembro de 2015 - lançou somente uma gravação ao vivo em CD e DVD (o primeiro da artista), Que nega é essa? (MP,B Discos / Universal Music, 2009), à qual se segue atualmente um consecutivo segundo registro ao vivo de show, Esse meu olhar. Gravado em março de 2013 em apresentação da cantora no Cultural Bar, em Juiz de Fora (MG), o show flagra Verônica cantando um (ótimo) repertório majoritariamente lançado nas décadas de 1950 e 1960. É um repertório que fica entre o samba-canção, o bolero, a bossa nova e a Jovem Guarda. A propósito, há breves citações de Eu te darei o céu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966) - com os vocais masculinos do quarteto formado por Sérgio Chiavazzoli (violão, guitarra e direção musical), André Vasconcellos (baixo acústico), Chico Werneck (piano e acordeom) e João Hermeto (percussão e bateria) - e de Splish splash (Bobby Darin e Murray Kaufman, 1958, em versão em português de Erasmo Carlos, 1963), na voz da cantora, ao fim de Kiss me kick (Doc Pomus e Mort Shuman, 1962), sucesso de Elvis Presley (1935 - 1977) unido em medley sagaz com o bolero mexicano Besame mucho (Consuelo Velásquez, 1940). A abordagem do hit de Elvis por Verônica é cheia de graça. Aliás, em alguns números, a cantora está em estado de graça nesta gravação ao vivo produzida por Amaury Linhares com a própria Verônica Sabino. Quando aborda os clássicos da Bossa Nova, como o samba Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), Verônica o faz com gosto e com energia. Sua Influência do jazz (Carlos Lyra, 1962) cai em suingue elétrico com o toque virtuoso da banda. Mas a entrada em cena do amigo Roberto Menescal em O barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1961) ameniza a temperatura da gravação, evocando a leveza característica da bossa carioca. Em que pese o tom modernoso das programações eletrônicas adicionadas aos arranjos de Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), Samba de verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1964) e Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), unida com naturalidade à Garota nacional (Samuel Rosa e Chico Amaral, 1996) do Skank, boa parte dos 12 números de Esse meu olhar expõe Verônica Sabino com um canto cheio de vida, sobretudo na primeira metade do CD e DVD. O medley com Demais (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959), Ouça (Maysa, 1957) e Saia do caminho (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy, 1946) - samba-canção repaginado pelo toque do acordeom de Chico Werneck - exemplifica a força, a vida e a energia que saem da voz da cantora. O que leva à pergunta do início: por que uma cantora da (boa) qualidade de Verônica Sabino, que tem até um álbum inovador no currículo (Novo sentido, MP,B Discos, 1997), está há tanto tempo sem gravar um álbum de estúdio que aponte novos caminhos, que renove seu repertório com musicas inéditas e que dê um novo sentido à sua discografia? Registro de show que culmina com a enérgica entrada em cena de Milton Nascimento, para dividir a interpretação de Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) com a cantora, Esse meu olhar tem seus méritos musicais (sobretudo quando descarta a eletrônica modernosa e se vale somente da voz cantora e do suingue da banda), mas deixa no ar essa incômoda questão. Verônica Sabino precisa focar o presente. Até porque, por mais que seu canto ainda esteja cheio de vida, nada será mesmo como antes (para a cantora e seu público) se ela continuar com o olho apenas no retrovisor.
11 comentários:
♪ Por que há boas cantoras que não conseguem desenvolver uma discografia à altura de sua voz? É inaceitável que uma cantora com a voz e alma de Verônica Sabino esteja há inacreditáveis 12 anos sem lançar um álbum de estúdio. O último, Agora, saiu em 2003 pelo selo Dubas. De lá para cá, a cantora carioca - de 55 anos completados neste mês de novembro de 2015 - lançou somente uma gravação ao vivo em CD e DVD (o primeiro da artista), Que nega é essa? (MP,B Discos / Universal Music, 2009), à qual se segue atualmente um consecutivo segundo registro ao vivo de show, Esse meu olhar. Gravado em março de 2013 em apresentação da cantora no Cultural Bar, em Juiz de Fora (MG), o show flagra Verônica cantando um (ótimo) repertório majoritariamente lançado nas décadas de 1950 e 1960. É um repertório que fica entre o samba-canção, o bolero, a bossa nova e a Jovem Guarda. A propósito, há breves citações de Eu te darei o céu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966) - com os vocais masculinos do quarteto formado por Sérgio Chiavazzoli (violão, guitarra e direção musical), André Vasconcellos (baixo acústico), Chico Werneck (piano e acordeom) e João Hermeto (percussão e bateria) - e de Splish splash (Bobby Darin e Murray Kaufman, 1958, em versão em português de Erasmo Carlos, 1963), na voz da cantora, ao fim de Kiss me kick (Doc Pomus e Mort Shuman, 1962), sucesso de Elvis Presley (1935 - 1977) unido em medley sagaz com o bolero mexicano Besame mucho (Consuelo Velásquez, 1940). A abordagem do hit de Elvis por Verônica é cheia de graça. Aliás, em alguns números, a cantora está em estado de graça nesta gravação ao vivo produzida por Amaury Linhares com a própria Verônica Sabino. Quando aborda os clássicos da Bossa Nova, como o samba Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), Verônica o faz com gosto e com energia. Sua Influência do jazz (Carlos Lyra, 1962) cai em suingue elétrico com o toque virtuoso da banda. Mas a entrada em cena do amigo Roberto Menescal em O barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1961) ameniza a temperatura da gravação, evocando a leveza característica da bossa carioca. Em que pese o tom modernoso das programações eletrônicas adicionadas aos arranjos de Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), Samba de verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1964) e Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), unida com naturalidade à Garota nacional (Samuel Rosa e Chico Amaral, 1996) do Skank, boa parte dos 12 números de Esse meu olhar expõe Verônica Sabino com um canto cheio de vida, sobretudo na primeira metade do CD e DVD. O medley com Demais (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959), Ouça (Maysa, 1957) e Saia do caminho (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy, 1946) - samba-canção repaginado pelo toque do acordeom de Chico Werneck - exemplifica a força, a vida e a energia que saem da voz da cantora. O que leva à pergunta do início: por que uma cantora da (boa) qualidade de Verônica Sabino, que tem até um álbum inovador no currículo (Novo sentido, MP,B Discos, 1997), está há tanto tempo sem gravar um álbum de estúdio que aponte novos caminhos, que renove seu repertório com musicas inéditas e que dê um novo sentido à sua discografia? Registro de show que culmina com a enérgica entrada em cena de Milton Nascimento, para dividir a interpretação de Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) com a cantora, Esse meu olhar tem seus méritos musicais (sobretudo quando descarta a eletrônica modernosa e se vale somente da voz cantora e do suingue da banda), mas deixa no ar essa incômoda questão. Verônica Sabino precisa focar o presente. Até porque, por mais que seu canto ainda esteja cheio de vida, nada será mesmo como antes (para a cantora e seu público) se ela continuar com o olho apenas no retrovisor.
Veronica Sabino é uma das melhores cantoras brasileiras! Discos ótimos e sempre com repertório maravilhoso. Se ela resolver gravar um cd em homenagem a Silvinga Telles ou Dick Farney será sempre bem vinda!!! Muitas vezes melhor do que gravar esses pseudo modernosos de repertório descartável!!!
Nossa. Pq sempre as mesmas músicas? Existe compositores geniais por aí com músicas novas (Aldir, Paulo César Pinheiro, Guinga, Roque Ferreira, um monte) e essas cantoras regravam Chega de Saudade e O Barquinho?! Ah, tem dó!
Assino embaixo sua pergunta Mauro. Verônica esteve num crescente na carreira com uma trilogia de alto quilate pop, quando ficamos um tanto saudosos de alguém que ocupasse esse posto. Mas esses 2 discos sucessivos de revisões e de olho retrovisor lançaram um tremendo balde de água fria. Entendo que um artista queira rever a carreira ao completar décadas de palco, mas tem que seguir em frente.
Lamento sobretudo esse tempo porque Verônica vinha se tornando também uma compositora interessante. Entre a gravação e lançamento desse DVD já vai um bom tempo...agora ela certamente fará a divulgação, ou seja... ficaremos mais um bom tempo sem um disco realmente com olhar para o futuro da ótima Verônica.
Mauro, parabéns pelo texto. Seu questionamento é muito oportuno. São tantas grandes cantoras que passam décadas sem lançar trabalhos relevantes, ou então, artistas talentosos que lançam trabalhos interessantes que se perdem sem atingir o público por falta de divulgação. O que será que acontece? Salvo raras exceções, parece que só existem produtores capazes de viabilizar a carreira de artistas dedicados ao mero entretenimento. Será que não existe um segmento de mercado interessado em consumir, também, músicas com um maior nível de elaboração?
Essa já perdeu o bonde há muito tempo... é melhor se garantir com repertório conhecido
Ridículo dizer que Verônica Sabino perdeu o bonde... Ela sabe muito bem o que está fazendo e continua cantando e encantando maravilhosamente... Salve Verônica!!!
Mauro, o sucesso do Elvis está grafado errado, o correto é "Kiss me quick".
Acho que ela nunca esteve muito interessada. Grava o que quer, quando quer, some às vezes, reagrava, regrava, regrava e nem precisa da música pra sobreviver. Então a carreira é do tamanho exato que ela quer que seja. Basta ver as entrevistas em que ela fala de ter fugido do sucesso. Gosto da fase pop e do disco com composições de mulheres. Grande cantora!
Belíssima voz e canto subutilizados. Merecíamos mais registros com Verônica. Ela é tão boa que, mesmo de olho no retrovisor, encanta e emociona muito, vide o registro de "Loucas Horas", no disco "A voz da Mulher na obra de Guilherme Arantes".
Pena que uma cantora de timbre tão bonito tenha uma trajetória tão irregular e sem graça, tudo o que ela faz é anacrônico, talvez se fosse de fato, bem produzida, ela rendesse algo relevante, como memória afetiva vale a gravação para o remake de Selva de Pedra de 1986..afora isso nunca se mostrou interessante o suficiente além de possuir bela voz...vale salientar que uma boa voz e afinação a serviço sempre de uma interpretação artificial e melosa.Com todo o respeito, não me causa interesse.
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