♪ Em diversas músicas de seus dois álbuns anteriores,
Claridão (Slap / Som Livre, 2012) e
Vista por mar (Slap / Som Livre, 2014), o cantor, compositor e músico capixaba Lúcio Silva acenou para o universo pop. Só que uma aura
cult e por vezes sombria envolvia o som de Silva, superestimando a obra autoral do artista, visto exageradamente por alguns como espécie de sucessor do artesão pop Guilherme Arantes - cantor, compositor e músico paulista que se tornou
hitmaker na década de 1980 na onda tecnopop na qual Silva também vem surfando com
beats eletrônicos ligeiramente mais modernos.
Júpiter - o álbum que Silva vai lançar em 20 de novembro de 2015 - dissipa essa aura
cult e sinaliza que o cantor quer habitar o já populoso planeta da canção popular romântica. Todo assinado pelo artista em parceria com seu irmão Lucas Silva, o repertório inédito de
Júpiter gravita em torno desse universo romântico com letras mais simples. O dilema amoroso exposto nos versos de
Se ela voltar, por exemplo, poderia estar na letra de qualquer uma das muitas canções simples e por isso eficazes da dupla de
hitmakers Michael Sullivan & Paulo Massadas, donatários - como Guilherme Arantes - de boa parte das paradas populares dos anos 1980. O fato de a voz de Silva estar sempre à frente dos arranjos minimalistas - feitos no mesmo tom tecnopop dos discos anteriores, mas com eventuais referências ao R&B - e a notícia de que o cantor está paralelamente em cena com show em que canta o repertório pop de Marisa Monte corroboram a sensação de que Silva quer expandir seu público com a diluição de sua obra em
Júpiter. A rigor, ele tem dois trunfos entre as 11 faixas do disco (cujo repertório inclui a vinheta instrumental
IO) que produziu e que gravou em estúdio de Vitória (ES). E um deles não é o tom moderninho com que Silva pinta
Marina (1947), o samba-canção do compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008). As duas músicas que roçam a perfeição pop em
Júpiter são
Eu sempre quis - parceria do compositor com o irmão Lucas Silva acertadamente escolhida para ser o primeiro
single do álbum, já em rotação na
web com direito à clipe que intercala imagens do planeta Júpiter com
takes do cantor em estúdio - e
Feliz e ponto, canção que versa sobre amor realizado, gravada com o próprio Silva fazendo uma segunda voz de timbre feminino. Descontadas estas duas músicas,
Júpiter gravita em torno da trivialidade da canção pop romântica. Entre a súplica amorosa de
Deixa eu falar (faixa que flerta de longe com o universo do
miami bass e do
funk melody) e a receita de bolo dada em
Sufoco (
"Se você sabe o que é amar, nunca irá aprisionar alguém"), Silva rima
jeito com
conceito e
defeito em
Sou desse jeito.
"Vou somar você e eu / E as palavras de amor / Faço um verso e um refrão / Que eu já sei de cor", avisa Silva em
Nas horas. Sim, de certa forma, Silva dá sua voz correta a versos que o ouvinte tem a impressão de saber de cor, por mais que a letra de
Notícias ostente a palavra
merda em seus versos. Última música do disco,
Notícias expõe a intenção de fuga da personagem da letra, reverberando a insatisfação e a sensação de inadequação espacial já explicitadas na letra da faixa que abre o álbum, a canção-título
Júpiter. A mudança para outro planeta é a solução proposta para escapar do tédio cotidiano (
"Se por lá não houver esse povo que só quer controlar o que a gente quer", ressalva Silva na letra). Álbum mais fraco do artista,
Júpiter deixa a impressão de que Silva quer migrar para o mesmo planeta pop romântico habitado por seu colega de selo, Tiago Iorc, dono de obra mais simples e, por isso mesmo, mais popular do que a do terráqueo Silva.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSilva, apesar de bem intencionado, me parece cada vez mais inócuo. Muita estampa e bem pouco conteúdo. Pouco mesmo. Essa história de querer soar mais popular só confirma a sua irrelevância. Uma pena...
ResponderExcluirAcho que a Slap/Som Livre está investindo mais no Iorc. Nota-se uma divulgação um tanto maior.
ResponderExcluirO pop romântico de Silva no single liberado me soou morno. Vou esperar o disco. Vai que...
Essa insistência do Mauro em comparar o Silva ao Guilherme Arantes tem deixado suas críticas ao cantor um tanto repetitivas... Ansioso pra ouvir logo o disco e verificar se ele merece mesmo duas estrelas. Na verdade, quero mesmo é saber se o disco é pior que o da Anitta, que levou três estrelas.
ResponderExcluirAchei a sonoridade desse disco mais legal!
ResponderExcluirMeu caro, na música feliz e ponto a tal "cantora não creditada" é o próprio silva cantando uma oitava acima.Eu ri muito aqui.
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