Título: Elis - Uma biografia musical
Autor: Arthur de Faria
Editora: Arquipélago Editorial
Cotação: * * *
♪ Ao fim da controvertida biografia de Elis Regina (1945 - 1982) que escreveu sem o aval e sem a autorização dos herdeiros da cantora gaúcha, Furacão Elis (Nórdica, 1985), a jornalista Regina Echeverria frisou que aquela era a sua história de Elis e pedia que lhe contassem outras. Trinta anos depois, o jornalista paulistano Julio Maria contou a sua ótima versão da história da artista em biografia, Elis Regina - Nada será como antes (Master Books, 2015), que se impôs de imediato entre os melhores livro do gênero (e do ano) pela exposição do caráter complexo de uma cantora que se revelou grande entre as pequenezas do cotidiano. Terceira biografia da cantora, Elis - Uma biografia musical chega ao mercado literário neste último trimestre de 2015 sem acrescentar peças relevantes ao quebra-cabeça da vida profissional da artista. A maior contribuição desta nova bio da cantora é iluminar pontos obscuros da pré-história musical de Elis na cidade natal de Porto Alegre (RS). Com base em pesquisa e em entrevistas com personalidades locais da época, o autor - Arthur de Faria, músico, arranjador e compositor gaúcho que vem pesquisando há anos a história da música de Porto Alegre (RS) - sustenta que não há indícios de que Elis, então uma criança, teria travado em sua primeira aparição no radiofônico programa de calouros Clube do guri, exibido pela rádio Farroupilha de 1950 a 1966. De acordo com a fluente narrativa de Faria, a estreia da guria no programa aconteceu somente em 1956, aos 11 anos, e foi bem-sucedida - ainda que Elis tenha botado sangue pelo nariz para extravasar o nervosismo de estar cantando em público pela primeira vez. Faria também sustenta que Elis já tinha se tornado uma estrela de primeira grandeza entre as fronteiras de Porto Alegre (RS), sendo disputada pelas rádios locais e eleita em 1962 a Cantora do Ano na cidade, antes de desembarcar definitivamente na cidade do Rio de Janeiro (RJ), não em 31 de março de 1964 - dia da instauração do golpe militar - como sempre se supôs porque a própria Elis alimentava a lenda, mas em 28 de março, como sentencia o autor do livro. O problema de Elis - Uma biografia musical é que, ao contrário do que sugere o título e do que apregoa Maria Luiza Kfouri no prefácio, há também incursões pela vida pessoal de Elis que são a rigor desnecessárias para contar a trajetória profissional da artista. Incoerente com a proposta do livro e a intenção do autor, a reprodução nas páginas 96 e 97 de uma carta-desabafo escrita por Elis para uma amiga confidente, Aída Ferrás, é exposição dispensável da conturbada intimidade do casamento da artista com o então marido, Ronaldo Bôscoli (1928 -1994). De toda forma, o texto estiloso de Arthur de Faria faz com que a leitura dessa nova biografia de Elis transcorra leve e agradável. De 1965 em diante, o livro pouco ou nada acrescenta de relevante à história da cantora. Mas, para quem ainda desconhece essa história, a biografia musical de Arthur pode ser bom cartão de visitas para o mundo da artista, mesmo sem expor a complexidade da personalidade da Pimentinha como fez o jornalista Julio Maria em sua já definitiva biografia da grande e imortal Elis Regina Carvalho Costa.
4 comentários:
♪ Ao fim da controvertida biografia de Elis Regina (1945 - 1982) que escreveu sem o aval e sem a autorização dos herdeiros da cantora gaúcha, Furacão Elis (Nórdica, 1985), a jornalista Regina Echeverria frisou que aquela era a sua história de Elis e pedia que lhe contassem outras. Trinta anos depois, o jornalista paulistano Julio Maria contou a sua ótima versão da história da artista em biografia, Elis Regina - Nada será como antes (Master Books, 2015), que se impôs de imediato entre os melhores livro do gênero (e do ano) pela exposição do caráter complexo de uma cantora que se revelou grande entre as pequenezas do cotidiano. Terceira biografia da cantora, Elis - Uma biografia musical chega ao mercado literário neste último trimestre de 2015 sem acrescentar peças relevantes ao quebra-cabeça da vida profissional da artista. A maior contribuição desta nova bio da cantora é iluminar pontos obscuros da pré-história musical de Elis na cidade natal de Porto Alegre (RS). Com base em pesquisa e em entrevistas com personalidades locais da época, o autor - Arthur de Faria, músico, arranjador e compositor gaúcho que vem pesquisando há anos a história da música de Porto Alegre (RS) - sustenta que não há indícios de que Elis, então uma criança, teria travado em sua primeira aparição no radiofônico programa de calouros Clube do guri, exibido pela rádio Farroupilha de 1950 a 1966. De acordo com a fluente narrativa de Faria, a estreia da guria no programa aconteceu somente em 1956, aos 11 anos, e foi bem-sucedida - ainda que Elis tenha botado sangue pelo nariz para extravasar o nervosismo de estar cantando em público pela primeira vez. Faria também sustenta que Elis já tinha se tornado uma estrela de primeira grandeza entre as fronteiras de Porto Alegre (RS), sendo disputada pelas rádios locais e eleita em 1962 a Cantora do Ano na cidade, antes de desembarcar definitivamente na cidade do Rio de Janeiro (RJ), não em 31 de março de 1964 - dia da instauração do golpe militar - como sempre se supôs porque a própria Elis alimentava a lenda, mas em 28 de março, como sentencia o autor do livro. O problema de Elis - Uma biografia musical é que, ao contrário do que sugere o título e do que apregoa Maria Luiza Kfouri no prefácio, há também incursões pela vida pessoal de Elis que são a rigor desnecessárias para contar a trajetória profissional da artista. Incoerente com a proposta do livro e a intenção do autor, a reprodução nas páginas 96 e 97 de uma carta-desabafo escrita por Elis para uma amiga confidente, Aída Ferrás, é exposição dispensável da conturbada intimidade do casamento da artista com o então marido, Ronaldo Bôscoli (1928 -1994). De toda forma, o texto estiloso de Arthur de Faria faz com que a leitura dessa nova biografia de Elis transcorra leve e agradável. De 1965 em diante, o livro pouco ou nada acrescenta de relevante à história da cantora. Mas, para quem ainda desconhece essa história, a biografia musical de Arthur pode ser bom cartão de visitas para o mundo da artista, mesmo sem expor a complexidade da personalidade da Pimentinha como fez o jornalista Julio Maria em sua já definitiva biografia da grande e imortal Elis Regina Carvalho Costa.
Mauro, concordo com sua análise.
Li o livro e achei que pouco se acrescenta ao que já havia sido divulgado, com exceção da fase inicial da carreira em Porto Alegre.
Pelo título, pensei que pudesse encontrar informações mais detalhadas sobre, por exemplo, a escolha do repertório dos álbuns dos dos anos 70, assim como da elaboração dos arranjos com depoimentos dos produtores e dos músicos participantes das gravações, mas tudo foi abordado de forma superficial.
Se a intenção era fazer uma "biografia musical", como diz o título, o autor ficou devendo muitas informações.
Estou lendo este livro e gostando muito. Ele traz alegria e bom humor, e nos revela que Elis não era apenas tensão e peso. Além disso, gosto da visão dele sobre as coisas por ser músico, mesmo quando fala das questões pessoais dela. E ainda é possível se emocionar lendo, pois, nos detalhes estão expostas grandes qualidades da Elis, como profissional, como amiga e protetora dos músicos, como alguém que entregou sua vida à música desde criança.
Acho que é impossível não falar da vida pessoal da Elis e acho que Arthur dosou muito bem - expor a carta sobre o Bôscoli serviu para ilustrar a necessidade imensa de mudança que Elis sentia. Separar a mulher da artista? Muito difícil... Era o momento. Elis era a sua música e a música era a sua vida.
Este livro é um bom complemento para as biografias que já existem e para outros que também contam (ou tentam) retratar a trajetória de Elis (Solo, do Cesar Mariano, por exemplo). Arthur "desmente" muita coisa, detalha outras... nós fãs, principalmente os que se dedicam a pesquisar Elis por tantos e tantos anos, como eu, gostamos disso... qualquer informação "nova" ou bem esclarecida é mais do que válida.
Enfim, considero o trabalho do Arthur ótimo, porém, concordo que a biografia escrita pelo Julio é, por enquanto, a definitiva. E torço para que venham mais trabalhos bons por aí!
Obrigada e beijo,
Denise Soares
Caro Mauro, reproduzo aqui um trecho do prefácio escrito por mim: "Arthur fala da vida pessoal de Elis? Sim, fala. Na exata medida em que vida e arte são indissociáveis. No entanto, os irrelevantes disse-me-disse, as fofocas, as invencionices, tudo aquilo mais ao gosto das revistas desde sempre marrons ficam de fora para que o foco seja a arte de uma figura genial. Arthur não tem nenhuma vocação para o sensacionalismo."
Portanto, não apregoo, como você diz, que ele não fala da vida pessoal dela. E acho estranho chamar de "pré história musical" a carreira em Porto Alegre. Parece que só se considera como história o que acontece no eixo Rio-São Paulo.
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