Título: Memória afetiva
Artista: Luiz Pié
Gravadora: Fina Flor
Cotação: * * *
♪ Luiz Pié - nome artístico do cantor paulista Luiz Fernando Gonçalves Martins - não é nenhum Emílio Santiago (1946 - 2013). Mas é dono de uma voz de timbre aveludado que pode até suscitar comparações exageradas com o saudoso cantor carioca. Aos 27 anos, Pié lança seu primeiro álbum, Memória afetiva, posando de crooner na foto vintage da capa do disco produzido por Roberto Menescal. O macio canto grave de Pié e sua associação com Menescal fazem supor que o CD gravita exclusivamente em torno da Bossa Nova - até por incluir no repertório músicas de compositores associados ao movimento, casos de A volta (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1966) e de Sabe você (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964). Sim, o disco evoca a leveza da bossa em faixas como Ciúme (Carlos Lyra, 1959) - samba grafado corretamente no encarte do CD, mas creditado erroneamente na contracapa como Ciúmes - e a inédita música-título Memória afetiva (Roberto Menescal e Paulinho Mendonça), mas vai além da bossa. Só que, ao contrário do que prega a letra desta música saudosista, o aqui e o agora não são feito de memórias. Por isso, Pié soa como um crooner à moda antiga, sem vínculo com seu tempo presente. Pelo timbre aconchegante da voz de Pié, músicas como a abolerada Abajur lilás (Rosa Passos, Ivan Lins e Fernando de Oliveira, 1989) e Dorme profundo (Marcos Valle e Pingarilho, 1965) se ajustam ao canto macio do artista. Só que os arranjos de Menescal - calcados no toque do trio de piano (Adriano Souza), baixo (Adriano Giffoni) e bateria (João Cortez) com intervenções da guitarra do próprio Menescal - em nada contribuem para dar frescor ao disco. A musicalidade de Pié é evidente nos floreios finais de Último desejo (Noel Rosa, 1937), mas Memória afetiva é disco demasiadamente enraizado no passado. E que soa linear. Somente na última das 12 faixas é que há uma quebra de clima no arranjo de Pai grande (Milton Nascimento, 1969) em gravação valorizada pelos vocais arrepiantes de Milton Nascimento e pelo toque do acordeom de Christiano Caldas. Pié canta bem, mas soa no disco como mero crooner de boate, aquele cantor que solta a voz à meia-luz num fim de noite. Para quem está entrando em cena neste momento, é preciso fechar a cortina do passado para se fazer ouvir no tempo presente.
3 comentários:
♪ Luiz Pié - nome artístico do cantor paulista Luiz Fernando Gonçalves Martins - não é nenhum Emílio Santiago (1946 - 2013). Mas é dono de uma voz de timbre aveludado que pode até suscitar comparações exageradas com o saudoso cantor carioca. Aos 27 anos, Pié lança seu primeiro álbum, Memória afetiva, posando de crooner na foto vintage da capa do disco produzido por Roberto Menescal. O canto macio de Pié e sua associação com Menescal fazem supor que o CD gravita exclusivamente em torno da Bossa Nova - até por incluir no repertório músicas de compositores associados ao movimento, casos de A volta (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1966) e de Sabe você (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964). Sim, o disco evoca a leveza da bossa em faixas como Ciúme (Carlos Lyra, 1959) - samba grafado corretamente no encarte do CD, mas creditado erroneamente na contracapa como Ciúmes - e a inédita música-título Memória afetiva (Roberto Menescal e Paulinho Mendonça), mas vai além da bossa. Só que, ao contrário do que prega a letra desta música saudosista, o aqui e o agora não são feito de memórias. Por isso, Pié soa como um crooner à moda antiga, sem vínculo com seu tempo presente. Pelo timbre aconchegante da voz de Pié, músicas como a abolerada Abajur lilás (Rosa Passos, Ivan Lins e Fernando de Oliveira, 1989) e Dorme profundo (Marcos Valle e Pingarilho, 1965) se ajustam ao canto macio do artista. Só que os arranjos de Menescal - calcados no toque do trio de piano (Adriano Souza), baixo (Adriano Giffoni) e bateria (João Cortez) com intervenções da guitarra do próprio Menescal - em nada contribuem para dar frescor ao disco. A musicalidade de Pié é evidente nos floreios finais de Último desejo (Noel Rosa, 1937), mas Memória afetiva é disco demasiadamente enraizado no passado. E que soa linear. Somente na última das 12 faixas é que há uma quebra de clima no arranjo de Pai grande (Milton Nascimento, 1969) em gravação valorizada pelos vocais arrepiantes de Milton Nascimento e pelo toque do acordeom de Christiano Caldas. Pié canta bem, mas soa no disco como mero crooner de boate, aquele cantor que solta a voz à meia-luz num fim de noite. Para quem está entrando em cena neste momento, é preciso fechar a cortina do passado para se fazer ouvir no tempo presente.
Os artistas que adotam esse viés passadista também tem o seu valor e podem se fazer ouvir.
Vide Diane Krall e Michael Bublé, por sinal dois canadenses, que construíram suas carreiras de sucesso calcadas na tradição dos standards da música americana.
Falta ao Luiz Pié imprimir maior personalidade musical no seu canto, pois como foi dito, ele canta bem, mas não é nenhum Emílio Santiago.
Ele não precisa ser um Emílio Santiago. Lembram do Show da Ná Ozzetti, e pensem em tudo que ela fez depois. Vamos dar um crédito.
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