Resenha de CD
Título: É bom cantar
Artista: Chico Faria
Gravadora: Fina Flor
Cotação: * * * 1/2
♪ Chico Faria volta ao mercado fonográfico doze anos após ter lançado o primeiro álbum, Chico Faria canta Chico Buarque (Independente, 2003). Há, a propósito, grande composição de Chico Buarque entre as nove músicas alinhadas pelo cantor carioca nas faixas de É bom cantar. Contudo, a regravação de Sinhá (João Bosco e Chico Buarque, 2011) se torna o momento menos interessante do disco porque a abordagem do samba soa como cover, sem nada acrescentar, tanto no arranjo como no canto, aos registros do tema já feitos pelo próprio Chico. Faria cresce e aparece quando apresenta novidade. E, justiça seja feita, das nove músicas do disco, seis são composições inéditas criadas dentro das tradições de uma MPB que resiste à margem do mercado em decomposição e da imprensa musical voltada para o hype fugaz. Filho de Ruy Faria (integrante da formação original do MPB-4 que saiu do grupo em 2004) e de Cynara (uma das belas vozes do Quarteto em Cy), Chico Faria segue os cânones dessa MPB familiar no álbum produzido por Ruy Quaresma para a gravadora Fina Flor, provando que é bom cantar um assombro de composição como Bem assombrada, uma daquelas músicas de Guinga (no caso, com o jovem parceiro Thiago Amud, revelação da música brasileira) que ecoam sons de séculos passados com modernidade. A música-título É bom cantar é tradicional samba de Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro que segue a cartilha rítmica e poética ao louvar o próprio samba, ritmo dominante no disco. No CD, tem samba em que Jorge Vercillo põe fé na força transformadora do pensamento (Samba-oração, criação solar de compositor que tem lutado para renovar e expandir a obra autoral) e tem mais samba que propaga a fé no próprio samba, Puro ouro, composto por Joyce Moreno, lançado pela autora no álbum Tudo (2012) em registro feito com o grupo Casuarina e ora revivido pela compositora com Chico Faria em gravação de bom quilate. Tem ainda um exemplar do samba melancólico e poético de Ivone Lara, Investida fatal (2006), parceria com Bruno Castro e André Lara, lançada pelo Quarteto em Cy no álbum Samba em Cy (Fina Flor, 2006). Dentro do círculo familiar em que gira o disco, com direito ao coro das vozes do Quarteto em Cy e de Ruy Faria em Sinhá e no samba-título É bom cantar, Chico dá boa voz a uma inédita canção marejante de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro (Bico de pena) e segue o roteiro da lírica Viagem de ida e volta (Ruy Quaresma, Aldir Blanc e Paulo Emílio), música lançada em disco por Chico Faria 33 anos após a criação, em 1982. A flauta dolente de Dirceu Leite sublinha o lirismo do arranjo já na introdução da música que abre o disco. E assim, entre o samba e a canção, com eventual clima seresteiro como o que ambienta Ares do céu (Sombrinha, Sombra e Jotabê), Chico Faria modela É bom cantar, disco que mostra que, tal como a Bahia mítica de Dorival Caymmi (1914 - 2008), a MPB está viva ainda lá em cantos e recantos do Brasil que a gerou.
♪ Chico Faria volta ao mercado fonográfico doze anos após ter lançado o primeiro álbum, Chico Faria canta Chico Buarque (Independente, 2003). Há, a propósito, grande composição de Chico Buarque entre as nove músicas alinhadas pelo cantor carioca nas faixas de É bom cantar. Contudo, a regravação de Sinhá (João Bosco e Chico Buarque, 2011) se torna o momento menos interessante do disco porque a abordagem do samba soa como cover, sem nada acrescentar, tanto no arranjo como no canto, aos registros do tema já feitos pelo próprio Chico. Faria cresce e aparece quando apresenta novidade. E, justiça seja feita, das nove músicas do disco, seis são composições inéditas criadas dentro das tradições de uma MPB que resiste à margem do mercado em decomposição e da imprensa musical voltada para o hype fugaz. Filho de Ruy Faria (integrante da formação original do MPB-4 que saiu do grupo em 2004) e de Cynara (uma das belas vozes do Quarteto em Cy), Chico Faria segue os cânones dessa MPB familiar no álbum produzido por Ruy Quaresma para a gravadora Fina Flor, provando que é bom cantar um assombro de composição como Bem assombrada, uma daquelas músicas de Guinga (no caso, com o jovem parceiro Thiago Amud, revelação da música brasileira) que ecoam sons de séculos passados com modernidade. A música-título É bom cantar é tradicional samba de Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro que segue a cartilha rítmica e poética ao louvar o próprio samba, ritmo dominante no disco. No CD, tem samba em que Jorge Vercillo põe fé na força transformadora do pensamento (Samba-oração, criação solar de compositor que tem lutado para renovar e expandir a obra autoral) e tem mais samba que propaga a fé no próprio samba, Puro ouro, composto por Joyce Moreno, lançado pela autora no álbum Tudo (2012) em registro feito com o grupo Casuarina e ora revivido pela compositora com Chico Faria em gravação de bom quilate. Tem ainda um exemplar do samba melancólico e poético de Ivone Lara, Investida fatal (2006), parceria com Bruno Castro e André Lara, lançada pelo Quarteto em Cy no álbum Samba em Cy (Fina Flor, 2006). Dentro do círculo familiar em que gira o disco, com direito ao coro das vozes do Quarteto em Cy e de Ruy Faria em Sinhá e no samba-título É bom cantar, Chico dá boa voz a uma inédita canção marejante de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro (Bico de pena) e segue o roteiro da lírica Viagem de ida e volta (Ruy Quaresma, Aldir Blanc e Paulo Emílio), música lançada em disco por Chico Faria 33 anos após a criação, em 1982. A flauta dolente de Dirceu Leite sublinha o lirismo do arranjo já na introdução da música que abre o disco. E assim, entre o samba e a canção, com eventual clima seresteiro como o que ambienta Ares do céu (Sombrinha, Sombra e Jotabê), Chico Faria modela É bom cantar, disco que mostra que, tal como a Bahia mítica de Dorival Caymmi (1914 - 2008), a MPB está viva ainda lá em cantos e recantos do Brasil que a gerou.
ResponderExcluirNão conheço Chico Faria, mas fiquei curioso para ouvir.
ResponderExcluirMe chamou a atenção o texto "uma MPB que resiste à margem do mercado em decomposição e da imprensa musical voltada para o hype fugaz".
Mauro, em poucas palavras você fez um retrato da situação atual da música brasileira.
Sinhá tá se tornando um clássico do Chico
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