sábado, 19 de dezembro de 2015

Grande cantora da MPB, Selma Reis sai (precocemente) de cena aos 55 anos

Há louvável coerência entre o primeiro álbum de Selma Reis (24 de agosto de 1960, São Gonçalo - RJ / 19 de dezembro de 2015, Teresópolis - RJ) e o último dos 11 álbuns lançados pela cantora fluminense que saiu de cena em Teresópolis (RJ) na manhã de hoje, aos 55 anos, em decorrência de câncer no cérebro diagnosticado em julho de 2014. No primeiro disco, Selma Reis, lançado por via independente em 1987 e nunca reeditado no formato de CD, a cantora pôs a voz de contralto, densa e volumosa, a serviço de músicas de compositores como Geraldo Azevedo, Nelson Ângelo e Sueli Costa (Amor é outra liberdade, parceria com o poeta Abel Silva que a própria Sueli lançara em disco autoral de 1984 e que Selma regravava em registro preciso), entre outros nomes associados à MPB. No último álbum, A minha homenagem ao poeta da voz (Tessitura Musical, 2009), lançado em 2009 também por via independente, Selma deu voz ao cancioneiro do compositor carioca Paulo César Pinheiro. São dois grandes discos, o de 1987 e o de 2009. Discos de uma grande cantora de MPB que nem sempre conseguiu da indústria do disco o aval para fazer álbuns voltados para essa MPB que já começava a ser jogada à margem do mercado fonográfico quando Selma apareceu. Voz que se fez ouvir sobretudo ao longo da década de 1990, Selma Reis chegou à cena quando a MPB já não dava as cartas do rico jogo musical. Enquanto a indústria fonográfica brasileira apostava em gêneros populares como axé music, pagode (o do Raça Negra) e sertanejo, cantoras como Adriana Calcanhotto, Cássia Eller (1962 - 2001) e, sobretudo, Marisa Monte davam tom pop contemporâneo à música brasileira, acentuando a impressão de que o canto da MPB tradicional já soava datado, até mesmo velho, naquela década. Mesmo assim, a gravadora multinacional então denominada PolyGram - atualmente intitulada Universal Music - investiu no canto intenso da jovem intérprete, especialmente nos discos lançados por Selma em 1990 e 1994 (o CD de 1994 teve produção luxuosa, arranjos grandiloquentes e repertório eclético que foi do samba-enredo ao flamenco, passando por canções melodramáticas). Os álbuns Selma Reis (1990), Só dói quando eu rio (1991) e Selma Reis (1994) representaram o ápice comercial da carreira fonográfica da cantora. O disco de 1990 gerou os dois maiores sucessos de Selma, O que é o amor (Danilo Caymmi e Dudu Falcão) - música propagada na trilha sonora da minissérie Riacho doce (TV Globo, 1990) - e Emoções suburbanas. Este tema de Altay Veloso e Paulo César Feital tinha sido descartado pela PolyGram como música de trabalho, mas acabou se impondo espontaneamente como um clássico do repertório de Selma Reis, cantora de veia popular e voz passional. No embalo do sucesso inicial, Selma gravou regularmente ao longo da década de 1990. Lançou disco acústico em 1995 (Todo sentimento, MZA Music), deu voz à obra do compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1995), o Gonzaguinha, em álbum de 1996 (Achados e perdidos, Velas) e caiu no suingue cubano em CD de 1999, Ares de Havana (Velas). A partir dos anos 2000, com a progressiva desimportância dada às vozes da MPB pela mídia e gravadoras, Selma diversificou as atividades profissionais. O canto teatral lhe facilitou atuar como atriz de musicais de teatro e novelas e série de TV. Mas nunca se afastou da música. Sem medo de pecar pelo excesso, a intérprete realçou a potência do canto em disco gravado com Cauby Peixoto e sintomaticamente intitulado Vozes (Albatroz, 2003). Anos depois, gravou dois CDs de música sacra, Sagrado (Deckdisc, 2007) e o duplo Maria mãe de Jesus (Independente, 2008). Em 2011, em teatral show dirigido e roteirizado por Flávio Marinho, Selma uniu música e versos da poeta portuguesa Florbela Espanca (1984 - 1930). Intitulado O cabaré de Florbela, o show foi filmado na estreia, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ). Mas nunca foi lançado em DVD. Com a precoce e triste saída de cena de Selma, os fãs da cantora ficam sem um registro audiovisual para recordar o canto intenso desta voz que se ergueu alto para cantar a MPB e que vai permanecer igualmente forte na lembrança de quem ouviu os discos e/ou viu os shows da já imortal Selma Reis.

24 comentários:

  1. ♪ Há louvável coerência entre o primeiro álbum de Selma Reis (24 de agosto de 1960, São Gonçalo - RJ / 19 de dezembro de 2015, Teresópolis - RJ) e o último dos 11 álbuns lançados pela cantora fluminense que saiu de cena em Teresópolis (RJ) na manhã de hoje, aos 55 anos, em decorrência de agressivo câncer no cérebro, diagnosticado em julho de 2014. No primeiro disco, Selma Reis, lançado por via independente em 1987 e nunca reeditado no formato de CD, a cantora pôs voz grave, densa e volumosa a serviço de músicas de compositores como Geraldo Azevedo, Nelson Ângelo e Sueli Costa (Amor é outra liberdade, parceria com o poeta Abel Silva que a própria Sueli lançara em disco autoral de 1984 e que Selma regravada em registro preciso e pungente), entre outros nomes associados à MPB. No último álbum, A minha homenagem ao poeta da voz (Tessitura Musical, 2009), lançado em 2009 também por via independente, Selma deu voz ao cancioneiro do compositor carioca Paulo César Pinheiro. São dois grandes discos, o de 1987 e o de 2009. Discos de uma grande cantora de MPB que nem sempre conseguiu da indústria do disco o aval para fazer álbuns voltados para uma MPB já jogada à margem do mercado fonográfico quando a cantora apareceu. Selma Reis chegou à cena quando a MPB já não dava as cartas do jogo musical. Mesmo assim, a gravadora multinacional então denominada PolyGram - atualmente intitulada Universal Music - investiu no canto intenso da intérprete. Os álbuns Selma Reis (1990), Só dói quando eu rio (1991) e Selma Reis (1994) representaram o ápice comercial da carreira fonográfica da cantora. O disco de 1990 gerou os dois maiores sucessos de Selma, O que é o amor (Danilo Caymmi e Dudu Falcão) - música propagada na trilha sonora da minissérie Riacho doce (TV Globo, 1990) - e Emoções suburbanas. Este tema de Altay Veloso e Paulo César Feital tinha sido descartado pela PolyGram como música de trabalho, mas acabou se impondo espontaneamente como um clássico do repertório de Selma Reis, cantora de veia popular e voz passional. No embalo deste sucesso inicial, a cantora gravou regularmente ao longo da década de 1990. Lançou disco acústico em 1995 (Todo sentimento, MZA Music), deu voz à obra do compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1995), o Gonzaguinha, em álbum de 1996 (Achados e perdidos, Velas) e caiu no suingue cubano em CD de 1999, Ares de Havana (Velas). A partir dos anos 2000, com a progressiva desimportância dada às vozes da MPB pela mídia e pelas gravadoras, Selma diversificou as atividades profissionais. O canto teatral lhe facilitou incursões como atriz de musicais de teatro e novelas e série de TV. Mas nunca se afastou da música. Sem medo de pecar pelo excesso, a intérprete realçou a potência do canto em disco gravado com Cauby Peixoto e sintomaticamente intitulado Vozes (Albatroz, 2003). Anos depois, gravou dois álbuns de música sacra, Sagrado (Deckdisc, 2007) e o duplo Maria mãe de Jesus (Independente, 2008). Em 2011, em teatral show dirigido e roteirizado por Flávio Marinho, Selma Reis uniu música e os versos da poeta portuguesa Florbela Espanca (1984 - 1930). Intitulado O cabaré de Florbela, o show foi filmado na estreia, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ). Mas nunca foi lançado em DVD. Com a precoce saída de cena de Selma Reis, os fãs da cantora ficam sem um registro audiovisual para recordar o canto forte desta voz que se ergueu alto para cantar a MPB e que vai permanecer igualmente forte na lembrança de quem ouviu os discos e / ou viu os shows da imortal Selma Reis.

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  2. Hoje é um dia muito triste para mim... Morreu uma das maiores cantoras deste país... Mas seu legado na música nunca será esquecido... Afinação e técnica perfeitas... Descanse em paz, Selma Reis. Você contribuiu, e muito, para a boa música desse país ecoar fortemente na mente e no coração das pessoas. Que agora você brilhe com as estrelas lá do céu...

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  3. Um total absurdo que o seu primeiro disco nunca foi lançado em CD... Atenção, gravadoras: remasterizem seus discos e os lancem o quanto antes em formato digital...

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  4. Puxa que pena! Essa sim era uma grande cantora, tinha uma entrega em cada trabalho feito no estúdio, que a gente percebia isso em cada faixa do disco. Sempre foi uma delícia ouvir seus cd's. Muito Obrigado Selma Reis!

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  5. Só espero que a gravação do show "O Cabaré de Florbela", feito em 2011 para originar o primeiro DVD da cantora, seja enfim lançado... Há tempos estou esperando por esse DVD, que nunca chega!!! Falha grave das gravadoras...

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  6. Meus sentimentos aos familiares! Que notícia triste!
    A minha homenagem ao poeta da voz é lindo mesmo e eu tenho por conta da participação da Rainha Beth.
    Que essa grande cantora que nos deixa hoje possa para sempre permanecer nos corações do público brasileiro.
    Em tempos de apostas equivocadas, sugiro a reedição de seus álbuns.

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  7. Selma, que saudade doída é esta que já me corrói? Obrigado sempre por "O MEU AMOR"! Beijo de luz.

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  8. Que pena ...mais uma grande artista e grande voz, que nunca teve um reconhecimento a altura do seu talento aqui nesse Pais de valores invertidos. Descanse em paz e que seu público celeste te receba com muitos aplausos.

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  9. Não sei o que dizer de Selma Reis... apenas que a considero a dona de uma das vozes mais fortes e expressivas do país. Se Selma tivesse tido o reconhecimento popular que merecia poderia dizer que ela é "inimitável", coisa que somente as grandes conseguem ser.

    Palmas para ela. Muitas!

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  10. Que triste, morre uma maravilhosa cantora. 😢

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  11. "Estrelas de outubro" foi uma música dela que me marcou muito. Deixa saudades.

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  12. Não tenho palavras para descrever a tristeza desse momento. Selma era de uma afinação, de uma técnica perfeita sem perder a interpretação. Estrela de uma escola de canto que hoje tem revelado tão poucas... Por isso não tenho dúvidas que se trata de uma grande perda para a música popular brasileira, a despeito de ter sido mais reconhecida ou não. Ares de Havana é um disco lindo! É o que falar das gravações de 'Meu veneno' e 'Beco do Mota', ambas do repertório de Milton Nascimento?
    Selma seu canto permanece vivo comigo, e, parafraseando o próprio Milton, 'memória não norrerá'

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  13. A cantora morre e tem gente preocupada com possuir seus discos. Aff

    Não sei como expressar tanta tristeza. Tive o prazer de assistir vários de seus shows, abraçá-la e cantar com ela em dueto no seu show de músicas de Paulo César Pinheiro. Tenho todos os seus discos.

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  14. Tenho 5 CDs dela e ul LP,mas o que tenho mais vontade de possuir ou ao menos fazer um download é o de 1991 Só dói quando eu rio,tem uma música que é uma baita crítica ao sistema do país;Na minha terra cantada com Ivan Lins

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  15. Selma jurou e agora esta atravessando os mares nas asas de um albatroz enquanto Nós a quem ela chegou com sua voz ficamos sempre mais orfaos!
    Voa Selma....

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  16. Faltou você citar, dente suas gravações expressivas, "Todo Sentimento", que tocou muito na época.

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  17. Lamentável que uma cantora como Selma Reis tenha partido sem ter tido um espaço respeitável na MPB.

    Enquanto isso, Anitas, Valescas e cia. ganham rios de dinheiro e fazem a "festa" por esse Brasil afora...

    Lamentável!!

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  18. Na minha opiniao, acho que nao tem nada a haver, o comentario do Vladimir. Faz sucesso, pq o povo gosta de determinado genero de musica. Eu pessoalmente nao gosto de mpb, mas me agrada ouvir alguns de seus cantores.

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  19. Pertinente o comentário do Vladimir. E quando perdemos uma voz como a de Selma e muita gente nem sabe quem é, fico mais triste ainda.

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  20. Selma gravou um disco em Havana, com o melhor do cancioneiro cubano. Pra mim é o melhor. Salve ela. A voz permanece!

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  21. Triste. Que siga um bom caminho. Quem assistiu a um show de Selma Reis sabe a falta que ela fará.

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  22. Que triste!
    Que ano de imensas perdas na nossa música e na nossa dramaturgia!

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  23. Mais uma grande perda para nossa música que está cada vez mais decadente.

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