Título: O livro do disco - As quatro estações (Legião Urbana)
Autor: Mariano Marovatto
Editora: Cobogó
Cotação: * *
♪ De todos os quatro títulos nacionais produzidos pela editora Cobogó para a série O livro do disco, o assinado pelo escritor, pesquisador, cantor e compositor carioca Mariano Marovatto é o de tom mais superficial. O autor mais reproduz informações críveis sobre o disco em questão - As quatro estações (EMI-Odeon, 1989), uma das obras-primas da banda brasiliense Legião Urbana - do que disseca as músicas do álbum mais espiritualista do grupo de Renato Russo (1960 - 1996), Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Mesmo tendo acesso a valioso material de arquivo sobre a gravação (14 fitas dentre as 86 cedidas por Dado que reproduzem todos os takes das 11 músicas do álbum e inclusive diálogos travados entre os músicos no estúdio), Marovatto jamais elabora um raciocínio próprio e aprofundado sobre o disco. Ao longo das 88 páginas do livro, há mais reproduções de entrevistas - uma foi feita com Dado especialmente para o livro - e informações da vida pessoal do autor do que uma análise propriamente dita do álbum. Há, claro, detalhes interessantes sobre a construção das músicas, sobretudo no que diz respeito às letras por vezes enigmáticas de Russo. Mas são detalhes dispersos em narrativa que flui somente porque o texto de Marovatto é bom. Mas é uma narrativa que, se dissecada com rigor, pouco acrescenta ao que um admirador atento da obra da Legião Urbana provavelmente já sabe. Em vez de tomar as rédeas do discurso e refletir sobre o álbum frente ao que apurou e ouviu, como fizeram outros autores de livros da série, Marovatto dá geralmente a palavra para Russo, reproduzindo falas de entrevistas do trovador que criava solitariamente, mesmo quando imerso no cotidiano elétrico de um estúdio de gravação. Para quem desconhece a discografia da Legião Urbana, o livro contextualiza bem a gestação de As quatro estações na história da banda e dá pistas valiosas sobre o método usado por Russo para criar letras como as de Há tempos (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá), Monte Castelo (Renato Russo) e Pais e filhos (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá). Aliás, a rigor, descontadas as informações da vida pessoal do autor e as excessivas citações de obras alheias, Marovatto produziu alentada reportagem sobre o angustiado álbum, mas não um livro de caráter realmente analítico sobre a luz jogada por As quatro estações no universo pop brasileiro.
2 comentários:
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Comprei o livro. A obra tem suas qualidades, mas poderia ter aprofundado alguns temas que o álbum "As Quatro Estações" desperta numa audição mais madura. Por exemplo, como estabelecer a questão da autoria da letra de "Monte Castelo"? Como creditar a colagem feita por Renato Russo com as citações de Camões e do apóstolo Paulo? Por que o Millôr foi contratado para traduzir a canção "Feedback for a Dying Friend"? Por que várias canções da Legião são creditadas aos três integrantes, embora o Renato é que tenha desenvolvido letra e melodia? Se muitas das canções surgiram instigadas pelos arranjos da dupla Villa-Lobos/Bonfá, qual o papel da harmonia/arranjo no contexto da composição popular, normalmente creditada apenas sob os aspectos da letra e da melodia? Como uma canção que versa sobre suicídio ("Pais e Filhos") chega aos ouvidos de tantas pessoas como uma canção de esperança, apenas em função do refrão? Por que ninguém ainda destacou o fato de que, num mesmo álbum, o compositor mergulha em temas religiosos ao mesmo tempo em que assume sua homossexualidade, disparidade ainda não tão evidente quanto em nossos tempos político-homofóbicos? No mais, parabéns ao Mauro por abordar um livro que, mesmo com suas limitações, já é um começo para que possamos realmente passar a limpo a história da música brasileira.
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