Resenha de CD
Título: Funk pop
Artista: Buchecha
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *
♪ Não há uma grande canção entre as quatro músicas inéditas gravadas por Buchecha em Funk pop, sexto álbum solo do MC fluminense nascido há 40 anos com o nome de Claucirlei Jovêncio de Souza. Músicas creditadas a Giulie Oliveira e a Buchechinha (Clauci Julio), ambos filhos do cantor e compositor, Vem cá fazer um love, Logotipo, Eu vou lá e a composição-título Funk pop seguem a cartilha do gênero com tanta fidelidade e clichês que soam como meros rascunhos das grandes canções projetadas no universo do funk melody fluminense ao longo da década de 1990. É a releitura dessas grandes canções dos anos 1990 - repaginadas pelo produtor do disco, Alexandre Kassin, com programações eletrônicas que reiteram a marca sonora de Kassin ao mesmo tempo em que preservam a arquitetura melódica das músicas - que dá sentido e legitimidade a Funk pop. O álbum conecta Buchecha a nomes de outras galáxias musicais, mas que se afinam com o som pop da dupla Claudinho & Buchecha, surgida em São Gonçalo (RJ) por volta de 1992 e oficializada em 1995 com a vitória do Rap do Salgueiro (Claudinho e Buchecha, 1995) em festival da região. Desfeita em 2002 com a morte de Cláudio Rodrigues de Mattos (1975 - 2002), o Claudinho, a dupla deixou, ao longo de sua década de vida, algumas canções inspiradas que não foram valorizadas de imediato por parte da imprensa musical por conta do preconceito que envolve o funk e que respinga no funk melody, a vertente mais romântica, melodiosa e pop do funk. No habitual tom contemporâneo, Kassin reformata as canções mais expressivas dos repertórios de Claudinho & Buchecha e de Márcio & Goró - dupla de funk melody egressa do bairro carioca de Madureira que também despontou ao longo da década de 1990, mas foi forçosamente dissolvida em 2000 com o suicídio de Alexander Enéas da Silva, o Goró - em gravações feitas por Buchecha em dueto com nomes do universo pop nacional. Conquista (Buchecha, 1996) ganha a voz e o suingue do cantor e compositor pernambucano Lenine sem perder o poder de sedução da levada original. Música-título e hit radiofônico do álbum lançado por Claudinho & Buchecha em 1998, Só love (Buchecha, 1998) volta ao baile com o toque do trio carioca Paralamas do Sucesso. Exemplo da habilidade de Buchecha para fazer pop popular, a música foi eleita um dos singles promocionais de Funk pop e originou clipe já posto em rotação na web. Contudo, a faixa com mais potencial radiofônico do álbum é À distância (Márcio e Goró, 1997), pérola pop do repertório da dupla Márcio & Goró que reluz com toda a intensidade na gravação feita por Buchecha com Paula Toller, cantora carioca que já tinha dado voz a músicas de Claudinho & Buchecha como vocalista do Kid Abelha - grupo que gravou em bem-sucedido Acústico MTV (Universal Music, 2002) a canção Quero te encontrar (Buchecha, 1997), revivida em Funk pop no tom black do canto de Rogério Flausino - e também no disco ao vivo solo Nosso (Posto 9 / Microservice, 2009), cujo repertório inclui abordagem de Só love. À distância é o exemplo de como os compositores de funk melody produzem eventualmente belas e simples canções românticas com cacife para extrapolar as pistas dos bailes. Sagaz, Adriana Calcanhotto sacou o potencial de Fico assim sem você (Cacá Morais e Abdullah, 2002), gravada por Claudinho & Buchecha no último álbum da dupla, quando iniciou discografia infantil com o heterônimo de Adriana Partimpim. Por isso mesmo, a cantora gaúcha figura no time de intérpretes convidados de Funk pop. Com arranjo que evoca batidas e climas da pista da disco music, Calcanhotto dá voz com Buchecha a Destino (Buchecha e Buchechão, 2000), música-título de álbum lançado pela dupla Claudinho & Buchecha há 15 anos. Geralmente festivo e pop, o funk melody gravita paradoxalmente em torno de um universo cercado por injustiça social e violência. Clássico do funk carioca lançado há 20 anos, Rap do Silva (Bob Rum, 1995) toca na questão ao falar do destino trágico de honesto pai de família. Por isso, faz todo sentido a presença do rapper paulistano Emicida na regravação do Rap do Silva por Buchecha. Ao adicionar a Rima do Silva ao rap, Emicida toca em questões relevantes - inclusive as raciais - e lembra que o Brasil vive em um "Apartheid sem Mandela", com direito à citação do ajudante de pedreiro carioca Amarildo Dias de Souza (1965 - 2013), morto por policiais militares na Rocinha, uma das maiores favelas da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Amarildo foi mais um Souza vitimado pela assassina truculência policial que impera nas favelas. Silva e Souza à parte, Funk pop é um disco leve que conecta Buchecha a estrelas atuais do gênero - colega do MC no elenco da gravadora Warner Music, Ludmilla se ajusta ao tom de Implacável (Rosana Morais, 1996), música (menos sedutora) da discografia solo de Buchecha, assumindo papel que foi de MC Sabrina na gravação original - e que tira do baú joias de gênero ainda marginalizado pela elite carioca. Tema do repertório da boa dupla Márcio & Goró, reavivado por Buchecha em dueto com Arnaldo Antunes, Sabiá (Márcio e Karol, 2002) ganha novas asas em Funk pop e é outro exemplo de uma canção que roça a perfeição pop sem o pancadão do batidão atualizado por Kassin na música-título Funk pop (Márcio André Rosa da Silva e Alexander Enéas da Silva, o Goró, foram mais do que dois Silvas na selva das cidades). Enfim, apesar da irregularidade das quatro inéditas e apesar do inglês macarrônico com que Buchecha dá voz a In my eyes (1988), sucesso do cantor, compositor e produtor norte-americano Stevie B, Funk pop dá tratamento polido a um cancioneiro que ainda merece atenção vinte anos após o lançamento. No momento em que o funk pop mobiliza executivos da indústria do disco e projeta estrelas como Anitta e Naldo Benny, Buchecha chega novamente no pistão para lembrar sutilmente que foi um dos pioneiros do gênero. A regravação dos hits de Claudinho & Buchecha em si soaria como mais do mesmo, não fosse a conexão salutar com Kassin, produtor que dá frescor a um punhado de canções que - queiram ou não os detratores do gênero - vão atravessar gerações, movimentos e pistas sem sair da memória popular, porque o funk pop também é o canto da massa que se diverte nos bailes.
♪ Não há uma grande canção entre as quatro músicas inéditas gravadas por Buchecha em Funk pop, sexto álbum solo do MC fluminense nascido há 40 anos com o nome de Claucirlei Jovêncio de Souza. Músicas creditadas a Giulie Oliveira e Buchechinha (Clauci Julio), filhos do cantor e compositor, Vem cá fazer um love, Logotipo, Eu vou lá e a composição-título Funk pop seguem a cartilha do gênero com tanta fidelidade e clichês que soam como meros rascunhos das grandes canções projetadas no universo do funk melody fluminense ao longo da década de 1990. É a releitura dessas grandes canções dos anos 1990 - repaginadas pelo produtor do disco, Alexandre Kassin, com programações eletrônicas que reiteram a marca sonora de Kassin ao mesmo tempo em que preservam a arquitetura melódica das músicas - que dá sentido e legitimidade a Funk pop. O álbum conecta Buchecha a nomes de outras galáxias musicais, mas que se afinam com o som pop da dupla Claudinho & Buchecha, surgida em São Gonçalo (RJ) por volta de 1992 e oficializada em 1995 com a vitória do Rap do Salgueiro (Claudinho e Buchecha, 1995) em festival da região. Desfeita em 2002 com a morte de Cláudio Rodrigues de Mattos (1975 - 2002), o Claudinho, a dupla deixou, ao longo de sua década de vida, algumas canções inspiradas que não foram valorizadas de imediato por parte da imprensa musical por conta do preconceito que envolve o funk e que respinga no funk melody, a vertente mais romântica, melodiosa e pop do funk. No habitual tom contemporâneo, Kassin reformata as canções mais expressivas dos repertórios de Claudinho & Buchecha e de Márcio & Goró - dupla de funk melody egressa do bairro carioca de Madureira que também despontou ao longo da década de 1990, mas foi forçosamente dissolvida em 2000 com o suicídio de Alexander Enéas da Silva, o Goró - em gravações feitas por Buchecha em dueto com nomes do universo pop nacional. Conquista (Buchecha, 1996) ganha a voz e o suingue do cantor e compositor pernambucano Lenine sem perder o poder de sedução da levada original. Música-título e hit radiofônico do álbum lançado por Claudinho & Buchecha em 1998, Só love (Buchecha, 1998) volta ao baile com o toque do trio carioca Paralamas do Sucesso. Exemplo da habilidade de Buchecha para fazer pop popular, a música foi eleita um dos singles promocionais de Funk pop e originou clipe já posto em rotação na web. Contudo, a faixa com mais potencial radiofônico do álbum é À distância (Márcio e Goró, 1997), pérola pop do repertório da dupla Márcio & Goró que reluz com toda a intensidade na gravação feita por Buchecha com Paula Toller, cantora carioca que já tinha dado voz a músicas de Claudinho & Buchecha como vocalista do Kid Abelha - grupo que gravou em bem-sucedido Acústico MTV (Universal Music, 2002) a canção Quero te encontrar (Buchecha, 1997), revivida em Funk pop no tom black do canto de Rogério Flausino - e também no disco ao vivo solo Nosso (Posto 9 / Microservice, 2009), cujo repertório inclui abordagem de Só love. À distância é o exemplo de como os compositores de funk melody produzem eventualmente belas e simples canções românticas com cacife para extrapolar as pistas dos bailes. Sagaz, Adriana Calcanhotto sacou o potencial de Fico assim sem você (Cacá Morais e Abdullah, 2002), gravada por Claudinho & Buchecha no último álbum da dupla, quando iniciou discografia infantil com o heterônimo de Adriana Partimpim. Por isso mesmo, a cantora gaúcha figura no time de intérpretes convidados de Funk pop. Ela dá voz com Buchecha a Destino (Buchecha e Buchechão, 2000), música-título de álbum lançado pela dupla Claudinho & Buchecha há 15 anos. Geralmente festivo e pop, o funk melody gravita paradoxalmente em torno de um universo cercado por injustiça social e violência. Clássico do funk carioca lançado há 20 anos, Rap do Silva (Bob Rum, 1995) toca na questão ao falar do destino trágico de honesto pai de família. Por isso, faz todo sentido a presença do rapper paulistano Emicida na regravação do Rap do Silva por Buchecha.
ResponderExcluirEu não sei exatamente o ano em que foi gravada e produzida a música Sabiá da dupla Marcio & Goro, mas até onde eu sei ela foi lançada pelo DJ Marlboro, em seu programa de rádio, em 2002, alguns anos após a morte do Goro. A música inclusive fez parte da coletânia intitulada "As melhores do DJ Marlboro, CD lançado por volta de 2003/2004..
ExcluirAo adicionar a Rima do Silva ao rap, Emicida toca em questões relevantes - inclusive raciais - e lembra que o Brasil vive "Apartheid sem Mandela", com direito à citação do ajudante de pedreiro carioca Amarildo Dias de Souza (1965 - 2013), morto por policiais militares na Rocinha, uma das maiores favelas da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Amarildo foi mais um Souza vitimado pela assassina truculência policial que impera nas favelas. Silva e Souza à parte, Funk pop é um disco leve que conecta Buchecha a estrelas atuais do gênero - colega do MC no elenco da gravadora Warner Music, Ludmilla se ajusta ao tom de Implacável (Rosana Morais, 1996), música (menos sedutora) da discografia solo de Buchecha, assumindo papel que foi de MC Sabrina na gravação original - e que tira do baú joias de gênero ainda marginalizado pela elite carioca. Tema do repertório da boa dupla Márcio & Goró, reavivado por Buchecha em dueto com Arnaldo Antunes, Sabiá (Márcio e Karol, 199?) ganha novas assas em Funk pop e é outro exemplo de uma canção que roça a perfeição pop sem o pancadão do batidão atualizado por Kassin na música-título Funk pop (Márcio André Rosa da Silva e Alexander Enéas da Silva, o Goró, foram mais do que dois Silvas na selva das cidades). Enfim, apesar da irregularidade das quatro inéditas e apesar do inglês macarrônico com que Buchecha dá voz a In my eyes (1988), sucesso do cantor, compositor e produtor norte-americano Stevie B, Funk pop dá tratamento polido a um cancioneiro que ainda merece atenção vinte anos após o lançamento. No momento em que o funk pop mobiliza executivos da indústria do disco e projeta estrelas como Anitta e Naldo Benny, Buchecha chega novamente no pistão para lembrar sutilmente que foi um dos pioneiros do gênero. A regravação dos hits de Claudinho & Buchecha em si soaria como mais do mesmo, não fosse a conexão salutar com Kassin, produtor que dá frescor a um punhado de canções que - queiram ou não os detratores do gênero - vão atravessar gerações, movimentos e pistas sem sair da memória popular, porque o funk pop também é o canto da massa que se diverte nos bailes.
ResponderExcluirSempre gostei de Buchcha. Ele transmite carisma e credibilidade no que faz... Curioso para ouvir esse disco...
ResponderExcluirNão sou muito fã desses cantores popularescos como Anitta, Naldo, Buchecha... mas curti muito o disco. As 4 músicas inéditas me agradaram muito tb.
ResponderExcluirAlém de Claudinho & Buchecha e Marcio & Goro, também haviam as duplas Suel & Amaro e Vinícius & Andinho. Aliás, Vinícius & Andinho foi uma dupla lançada pela DJ Marlboro. Essa dupla, que era uma das minhas prediletas, se destacava em vários quesitos.Quem não conheceu dê uma pesquisada, pois vai valer muito apena.
ResponderExcluirBoa tarde!!
Grato pela informação, Edson. Eu não tinha encontrado a música em nenhum disco da dupla. Agora está desfeito o mistério: é uma gravação lançada postumamente. Abs, MauroF
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