Título: A noite do meu bem - A história e as histórias do samba-canção
Autor: Ruy Castro
Editora: Companhia das Letras
Cotação: * * * *
♪ A história e as histórias das boates cariocas ao som do samba-canção seria um subtítulo mais adequado e fiel ao tom do livro A noite do meu bem, de Ruy Castro. Afinal, o jornalista mineiro não conta exatamente a história do samba-canção ao longo das 512 saborosas páginas de A noite do meu bem - tarefa a que o jornalista e pesquisador musical paulistano Zuza Homem de Mello se dedica no vindouro livro Copacabana, batizado com o nome do samba-canção dos compositores cariocas Braguinha (1907 - 2006) e Alberto Ribeiro (1902 - 1972) lançado em 1946 na voz do cantor carioca Dick Farney (1921 - 1987). Em A noite do meu bem, o samba-canção - gênero musical nascido em 1929 quando a cantora carioca Araci Cortes (1904 - 1985) revelou ao mundo a beleza de Linda flor (Henrique Vogeler e Luiz Peixoto) - é a trilha sonora das histórias coletadas e contadas por Castro sobre a noite carioca. Em especial, a noite do mítico bairro de Copacabana, QG das boates cujo intimismo favoreceram a propagação do samba-canção ao longo dos anos 1940 e 1950, décadas áureas do gênero. Foi lá, em Copcabana, mais precisamente na avenida Princesa Isabel, que nasceu em 1947 a Vogue, boate poderosa (em todos os sentidos) cuja trajetória é alocada por Castro como o epicentro dos casos (de amor) e causos narrados pelo autor em A noite do meu bem. No caso, as histórias acontecidas até 14 de agosto de 1955, data em que a Vogue foi consumida pelo fogo em incêndio que deixou vítimas fatais. No terceiro dos 18 capítulos do livro, O samba virou canção, o autor até discorre sobre a gênese do gênero. Mas em A noite do meu bem o samba-canção é o som que se ouve ao fundo de histórias de amor, sexo, ódio e poder que envolveram cantores, políticos, compositores, jornalistas (sobretudo os colunistas sociais), empresários e maitres (uns tão disputados pelas boates quanto os cantores em voga na época da narrativa). O texto sempre estiloso do autor - trunfo essencial em livro no que a forma como as histórias são contadas agrega valor a essas histórias - envolve o leitor em narrativa de tom romanceado. Em A noite do meu bem, Ruy Castro faz a crônica social de uma época em que ainda havia glamour na noite carioca. Trilha dos amores desfeitos e dos corações magoados, o samba-canção se impôs como o som ideal para adensar o que se fazia na noite carioca, no escurinho de boates por onde passaram cantores do primeiro time da música brasileira como Cauby Peixoto, Doris Monteiro, Elizeth Cardoso (1920 - 1990) e Maysa (1936 - 1977). E cabe ressaltar que - tal como nas boates - os músicos extrapolam no livro de Castro o papel de meros acompanhantes desses cantores. Na noite de Copacabana, músicos como o pianista Johnny Alf (1929 - 2010) foram muitas vezes as atrações que mobilizavam o público - e inclua-se entre esse público cantores de ouvidos mais atentos e apurados. Com narrativa que exalta o bem que a noite das décadas de 1940 e 1950 fez à música do Rio (e, por extensão, à do Brasil), Ruy Castro reproduz os movimentos das criaturas dessa noite que somente dormia após a saída do último cliente da boate e após o fim do último acorde de um samba-canção, gênero que, como a tristeza do célebre verso, nunca tem fim.
4 comentários:
♪ A história e as histórias das boates cariocas ao som do samba-canção seria um subtítulo mais adequado e fiel ao tom do livro A noite do meu bem, de Ruy Castro. Afinal, o jornalista mineiro não conta exatamente a história do samba-canção ao longo das 512 saborosas páginas de A noite do meu bem - tarefa a que o jornalista e pesquisador musical paulistano Zuza Homem de Mello se dedica no vindouro livro Copacabana, batizado com o nome do samba-canção dos compositores cariocas Braguinha (1907 - 2006) e Alberto Ribeiro (1902 - 1972) lançado em 1946 na voz do cantor carioca Dick Farney (1921 - 1987). Em A noite do meu bem, o samba-canção - gênero musical nascido em 1929 quando a cantora carioca Araci Cortes (1904 - 1985) revelou ao mundo a beleza de Linda flor (Henrique Vogeler e Luiz Peixoto) - é a trilha sonora das histórias coletadas e contadas por Castro sobre a noite carioca. Em especial, a noite do mítico bairro de Copacabana, QG das boates cujo intimismo favoreceram a propagação do samba-canção ao longo dos anos 1940 e 1950, décadas áureas do gênero. Foi lá, em Copcabana, mais precisamente na avenida Princesa Isabel, que nasceu em 1947 a Vogue, boate poderosa (em todos os sentidos) cuja trajetória é alocada por Castro como o epicentro dos casos (de amor) e causos narrados pelo autor em A noite do meu bem. No caso, as histórias acontecidas até 14 de agosto de 1955, data em que a Vogue foi consumida pelo fogo em incêndio que deixou vítimas fatais. No terceiro dos 18 capítulos do livro, O samba virou canção, o autor até discorre sobre a gênese do gênero. Mas em A noite do meu bem o samba-canção é o som que se ouve ao fundo de histórias de amor, sexo, ódio e poder que envolveram cantores, políticos, compositores, jornalistas (sobretudo os colunistas sociais), empresários e maitres (uns tão disputados pelas boates quanto os cantores em voga na época da narrativa). O texto sempre estiloso do autor - trunfo essencial em livro no que a forma como as histórias são contadas agrega valor a essas histórias - envolve o leitor em narrativa de tom romanceado. Em A noite do meu bem, Ruy Castro faz a crônica social de uma época em que ainda havia glamour na noite carioca. Trilha dos amores desfeitos e dos corações magoados, o samba-canção se impôs como o som ideal para adensar o que se fazia na noite carioca, no escurinho de boates por onde passaram cantores do primeiro time da música brasileira como Cauby Peixoto, Doris Monteiro, Elizeth Cardoso (1920 - 1990) e Maysa (1936 - 1997). E cabe ressaltar que - tal como nas boates - os músicos extrapolam no livro de Castro o papel de meros acompanhantes desses cantores. Na noite de Copacabana, músicos como o pianista Johnny Alf (1929 - 2010) foram muitas vezes as atrações que mobilizavam o público - e inclua-se entre esse público cantores de ouvidos mais atentos e apurados. Com narrativa que exalta o bem que a noite das décadas de 1940 e 1950 fez à música do Rio (e, por extensão, à do Brasil), Ruy Castro reproduz os movimentos das criaturas dessa noite que somente dormia após a saída do último cliente da boate e após o fim do último acorde de um samba-canção, gênero que, como a tristeza do célebre verso, nunca tem fim.
Mauro, permita-me uma correção: o ano do falecimento de Maysa é 1977, não 1997, como acabou sendo publicado no post.
De resto, ótima resenha de um livro muito saboroso de ler, como costuma ser as obras de Ruy Castro.
Um abraço,
Alexandre
Oi, Alexandre, grato pelo toque do erro de digitação na data de morte de Maysa. Abs, Feliz Natal, MauroF
Caro Mauro sou seu leitor assiduo e para variar você acertou na sua análise. De fato, Ruy Castro não conta a história do samba canção, que no livro é usando como trilha sonora. E há pelo menos um equivoco. Castro cita Exemplo, como sendo composição de Ataulfo Alves, sendo que este samba canção é de autoria de Lupicínio Rodrigues. Parabéns pelo excelente trabalho.
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