domingo, 17 de janeiro de 2016

Lado a lado no palco, Jeneci e Tulipa se afinam e sustentam a leveza do pop

Resenha de show
Título: Dia a dia, lado a lado
Artistas: Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz (em foto de Felipe Diniz)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 17 de janeiro de 2016
Cotação: * * * * /12

A perfeição pop da composição Dia a dia, lado a lado - música iniciada por Tulipa Ruiz com Gustavo Ruiz e finalizada por Marcelo Jeneci em 2009 - sinalizou a afinidade entre as obras da paulista Tulipa e do paulistano Jeneci. Gravada e lançada de forma oficial em dezembro de 2015, seis anos após a criação da composição, a música Dia a dia, lado a lado dá nome a turnê do show que junta os dois cantores e compositores no palco. A turnê estreou em Salvador (BA) na noite de sexta-feira, 15 de janeiro de 2016, e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) no dia seguinte. A rigor iniciado já na madrugada desde domingo, 17 de janeiro, o show amplificou a afinidade entre os artistas com uma leveza pop que sustentou a magia do início ao fim da apresentação que eletrizou o público que foi ao Circo Voador conferir a estreia carioca da turnê Dia a dia, lado a lado. O coro do público já  no primeiro número do roteiro - Efêmera (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2010), música-título do primeiro álbum de Tulipa - colaborou para a solidificação dessa atmosfera mágica, leve, que durou até o fim do show. A turnê cumpre o que promete sem jamais recorrer ao truque de inserir alguns duetos entre sets individuais de cada artista. Jeneci e Tulipa permaneceram no palco o tempo todo, cantando juntos os sucessos acumulados nos respectivos discos. Ambos, aliás, lançaram os primeiros álbuns em 2010. Ele se impôs de imediato como um grande compositor, o mais inspirado da geração 2010, já tendo lançado dois álbuns - Feito pra acabar (Slap / Som Livre, 2010) e De graça (Slap / Som Livre, 2013) - que fazem jus ao status de obras-primas. Ela se impôs de imediato pela extensão da voz aguda. Tulipa Ruiz é uma (grande) cantora com voz que se fez ouvir numa geração de intérpretes geralmente sem voz. Em cena, a harmonia entre Jeneci e Tulipa se revelou total. Nas músicas da lavra dele, como Felicidade (Marcelo Jeneci e Chico César, 2010) e Por que nós? (Marcelo Jeneci e Luiz Tatit, 2010), ela desempenhou com brilho (e com mais destaque) papel similar ao habitualmente assumido pela vocalista Laura Lavieri nos shows de Jeneci. Contudo, ele vem mostrando notável evolução vocal ao longo dos seis anos de carreira como cantor. E o show com Tulipa somente reiterou a destreza com que Jeneci canta as próprias músicas (e as dela) enquanto se reveza na sanfona e nos teclados, instrumentos que sobressaíram nos arranjos tocados pela banda formada por Gustavo Ruiz (guitarra), Márcio Arantes (baixo), Régis Damasceno (violão) e Samuel Fraga (bateria). É fato que a safra autoral apresentada por Tulipa no terceiro álbum, Dancê (Pommello Distribuições, 2015), perdeu no confronto com as músicas dos dois álbuns anteriores. Jogo do contente (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2015), por exemplo, marcou menos pontos no roteiro da estreia carioca do que Só sei dançar com você (Tulipa Ruiz, 2010), joia que caiu bem na voz de Jeneci no número iniciado por Tulipa. E foi assim de braços e corações abertos, soltos no espaço, livres de laços, como pedem os versos da luminosa De graça (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013), que Jeneci e Tulipa se irmanaram sob a lona pop do Circo Voador. A escolha das músicas mais leves do repertório de Tulipa - como Do amor (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2010) e Às vezes (Luiz Chagas, 2010) - para compor o roteiro contribuiu decisivamente para a manutenção da atmosfera de encantamento da estreia carioca do show Dia a dia, lado a lado. Repetida no bis, a música que batiza o show, Dia a dia, lado lado (Tulipa Ruiz, Gustavo Ruiz e Marcelo Jeneci, 2009/2015), soou ao vivo ainda mais bela do que a gravação de estúdio lançada em single nas plataformas digitais em 15 de dezembro de 2015. Foi quando o toque da sanfona de Jeneci chamou o público para momento de intimidade romântica (a beleza pungente do número foi reproduzida no bis iniciado no meio da plateia). Foi também na sanfona que Jeneci encheu Copo d'água (Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes, Pedro Baby e Chico Salém, 2010) de significado afim com o espírito do roteiro feito a dois, para dois. Em Like this (Tulipa Ruiz e Ilhan Ersahin, 2012), Jeneci armou a cama nos teclados e fez alguns vocais em número dominado pela voz de Tulipa. Da mesma forma, Nada a ver (Marcelo Jeneci, 2013) foi quase um solo do cantor, pontuado por vocais de Tulipa. Em Proporcional (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2015), a banda esboçou clima de disco music em arranjo que sintonizou o espírito de Dancê, álbum do qual Tulipa também reviveu Prumo (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2015). Já Jeneci elevou o show à máxima potência com a beleza sublime de Pra sonhar (Marcelo Jeneci, 2010), exemplo da habilidade do compositor de embalar o pop em camadas sem perder a ternura. Enfim, na estreia carioca da turnê Dia a dia, lado a lado, Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz justificaram a alta expectativa com fina musicalidade, sem truques, reiterando afinidades entre obras paralelas entrelaçadas no palco com harmonia e com (mágica) naturalidade.

7 comentários:

  1. ♪ A perfeição pop da composição Dia a dia, lado a lado - música iniciada por Tulipa Ruiz com Gustavo Ruiz e finalizada por Marcelo Jeneci em 2009 - sinalizou a afinidade entre as obras da paulista Tulipa e do paulistano Jeneci. Gravada e lançada de forma oficial em dezembro de 2015, seis anos após a criação da composição, a música Dia a dia, lado a lado dá nome a turnê do show que junta os dois cantores e compositores no palco. A turnê estreou em Salvador (BA) na noite de sexta-feira, 15 de janeiro de 2016, e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) no dia seguinte. A rigor iniciado já na madrugada desde domingo, 17 de janeiro, o show amplificou a afinidade entre os artistas com uma leveza pop que sustentou a magia do início ao fim da apresentação que eletrizou o público que foi ao Circo Voador conferir a estreia carioca da turnê Dia a dia, lado a lado. O coro do público já no primeiro número do roteiro - Efêmera (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2010), música-título do primeiro álbum de Tulipa - colaborou para a solidificação dessa atmosfera mágica, leve, que durou até o fim do show. A turnê cumpre o que promete sem jamais recorrer ao truque de inserir alguns duetos entre sets individuais de cada artista. Jeneci e Tulipa permaneceram no palco o tempo todo, cantando juntos os sucessos acumulados nos respectivos discos. Ambos, aliás, lançaram os primeiros álbuns em 2010. Ele se impôs de imediato como um grande compositor, o mais inspirado da geração 2010, já tendo lançado dois álbuns - Feito pra acabar (Slap / Som Livre, 2010) e De graça (Slap / Som Livre, 2012) - que fazem jus ao status de obras-primas. Ela se impôs de imediato pela extensão da voz aguda. Tulipa Ruiz é uma (grande) cantora com voz que se fez ouvir numa geração de intérpretes geralmente sem voz. Em cena, a harmonia entre Jeneci e Tulipa se revelou total. Nas músicas da lavra dele, como Felicidade (Marcelo Jeneci e Chico César, 2010) e Por que nós? (Marcelo Jeneci e Luiz Tatit, 2010), ela desempenhou com brilho (e com mais destaque) papel similar ao habitualmente assumido pela vocalista Laura Lavieri nos shows de Jeneci. Contudo, ele vem mostrando notável evolução vocal ao longo dos seis anos de carreira como cantor. E o show com Tulipa somente reiterou a destreza com que Jeneci canta as próprias músicas (e as dela) enquanto se reveza na sanfona e nos teclados, instrumentos que sobressaíram nos arranjos tocados pela banda formada por Gustavo Ruiz (guitarra), Márcio Arantes (baixo), Régis Damasceno (violão) e Samuel Fraga (bateria). É fato que a safra autoral apresentada por Tulipa no terceiro álbum, Dancê (Pommello Distribuições, 2015), perdeu no confronto com as músicas dos dois álbuns anteriores. Jogo do contente (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2015), por exemplo, marcou menos pontos no roteiro da estreia carioca do que Só sei dançar com você (Tulipa Ruiz, 2010), joia que caiu bem na voz de Jeneci no número iniciado por Tulipa. E foi assim de braços e corações abertos, soltos no espaço, livres de laços, como pedem os versos da luminosa De graça (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2012), que Jeneci e Tulipa se irmanaram sob a lona pop do Circo Voador.

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  2. A escolha das músicas mais leves do repertório de Tulipa - como Do amor (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2010) e Às vezes (Luiz Chagas, 2010) - para compor o roteiro contribuiu decisivamente para a manutenção da atmosfera de encantamento da estreia carioca do show Dia a dia, lado a lado. Repetida no bis, a música que batiza o show, Dia a dia, lado lado (Tulipa Ruiz, Gustavo Ruiz e Marcelo Jeneci, 2009/2015), soou ao vivo ainda mais bela do que a gravação de estúdio lançada em single nas plataformas digitais em 15 de dezembro de 2015. Foi quando o toque da sanfona de Jeneci chamou o público para momento de intimidade romântica (a beleza pungente do número foi reproduzida no bis iniciado no meio da plateia). Foi também na sanfona que Jeneci encheu Copo d'água (Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes, Pedro Baby e Chico Salém) de significado afim com o espírito do roteiro feito a dois, para dois. Em Like this (Tulipa Ruiz e Ilhan Ersahin, 2012), Jeneci armou a cama nos teclados e fez alguns vocais em número dominado pela voz de Tulipa. Da mesma forma, Nada a ver (Marcelo Jeneci, 2012) foi quase um solo do cantor, pontuado por vocais de Tulipa. Em Proporcional (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2015), a banda esboçou clima de disco music em arranjo que sintonizou o espírito de Dancê, álbum do qual Tulipa também reviveu Prumo (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2015). Já Jeneci elevou o show à máxima potência com a beleza sublime de Pra sonhar (Marcelo Jeneci, 2010), exemplo da habilidade do compositor de embalar o pop em camadas sem perder a ternura. Enfim, na estreia carioca da turnê Dia a dia, lado a lado, Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz justificaram a alta expectativa com fina musicalidade, sem truques, reiterando afinidades entre obras paralelas que se entrelaçaram no palco com mágica naturalidade.

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  3. Espero que consigam viajar com equipamentos e não fazerem shows "colocados" fora do eixo rio-sp. Por que fica a desejar, mesmo não sendo culpa do artista. Tulipa não vi a última turnê, mas Jeneci, na última, não pode mostrar essa melhora vocal toda.
    Mas a ideia de artistas se juntarem (tem um nome pra isso em inglês, que não me recordo) e saírem em turnê é ótima. Parece que anda na moda lá EUA e acho uma boa para aqui, nos tempos de vacas magras de bilheterias.

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  4. Mauro parabéns a resenha do show, não vejo a hora de chegar a SP, mas o segundo álbum do Jeneci "De Graça" foi lançado em 2013 não em 2012.

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  5. Felipe, obrigado pelo elogio e pela resenha. Tem razão. 'De graça' é álbum de 2013, não de 2012. Já consertei a data nas menções ao repertório do disco e ao próprio disco. Abs, MauroF

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  6. Acho que falta esse tipo de coisa na cena de mpb hj em dia, tomara que dê certo e que aconteçam mais shows, encontros, parcerias como esse...Acho os dois muito talentosos, deve ser um ótimo show

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  7. Eu fui ao show! Imperdível!!!!
    Tulipa estava um espetáculo! Não imaginava que Marcelo Jeneci fosse tão bom no palco!
    Vale a pena!!
    Não percam.

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