Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Teresa Cristina canta Cartola com a melancolia entranhada na alma do poeta

Resenha de álbum
Título: Teresa Cristina canta Cartola
Artista: Teresa Cristina
Gravadora: Uns Produções
Cotação: * * * *

Apresentada ao mercado fonográfico brasileiro há 14 anos com o songbook duplo A música de Paulinho da Viola (Deckdisc, 2002), Teresa Cristina volta a dedicar disco a outro bamba do samba. A cantora carioca chegou a fazer show com a obra de Candeia (1935 - 1978), mas o show que sai em disco - disponível somente em edição digital a partir de hoje, 15 de janeiro de 2016 - é o registro ao vivo do show em que Teresa canta Cartola (1908 - 1980), o poeta de Mangueira, fino estilista do samba com composições de alta costura melódica e lírica. Teresa canta bem Cartola porque há uma melancolia entranhada tanto na voz da cantora quanto na obra do compositor. Mesmo quando vislumbrava beleza, como nos versos de Ao amanhecer (Cartola, 1968),  rara - e bela - música mais obscura em repertório pautado por sucessos do compositor, o poeta deixava transparecer uma tristeza na melodia e na alma. Talvez por isso Teresa cante Cartola com tanta precisão. Infelizmente preservadas na mixagem do disco ao vivo, as palmas do público são o único elemento que interfere na atmosfera perfeita de uma gravação valorizada pelo toque virtuoso do violão de Carlinhos Sete Cordas. Evocando tanto o violão natural tocado por Cartola quanto o violão magistral de Raphael Rabello (1962 - 1995), as sete cordas de Carlinhos armam a cama para Teresa deitar e rolar em melodias pouco cantadas como Vai amigo (Cartola, 1968) e também nos clássicos como O mundo é um moinho (Cartola, 1976). Musicalmente, o disco é perfeito. Os problemas estão na edição da gravação ao vivo feita em 16 de novembro de 2015 em apresentações do show no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do compositor e da cantora. Além das palmas (incômodas em disco ao vivo que não pede o calor da plateia, com evidente exceção do coro feito espontaneamente pelo público em As rosas não falam, pérola de 1976), as falas da cantora foram (mal) editadas. Deveriam ter sido integralmente suprimidas ou, então, inteiramente preservadas. Do jeito que o disco chegou ao iTunes e às plataformas de streaming, o ouvinte menos informado sobre a obra de Cartola fica sem entender que três músicas de criação alheia - Pranto de poeta (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1957), Preciso me encontrar (Candeia, 1976) e Senhora tentação (Meu drama) (Silas de Oliveira e Joaquim Ilarindo, 1967) - estão no roteiro porque são músicas que ganharam a voz rústica e profunda de Cartola. Descontadas tais questões, a música de Cartola encontra em Teresa Cristina uma intérprete ideal, afinada com a fina melancolia que pauta obras-primas como Peito vazio (Cartola e Elton Medeiros, 1976). Em tom tradicional, a cantora dá voz reverente a joias raras como Amor proibido (Toda culpa) (Cartola, 1965), Corra e olhe o céu (Cartola, 1974), Sim (Cartola e Osvaldo Martins, 1952) e Tive sim (Cartola, 1968), se juntando a um primeiro time de intérpretes do poeta que inclui Ney Matogrosso e, claro, Beth Carvalho, voz mais associada à obra de Cartola, ora (tão bem) cantada por Teresa Cristina em belo disco ao vivo.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Apresentada ao mercado fonográfico brasileiro há 14 anos com o songbook duplo A música de Paulinho da Viola (Deckdisc, 2002), Teresa Cristina volta a dedicar disco a outro bamba do samba. A cantora carioca chegou a fazer show com a obra de Candeia (1935 - 1978), mas o show que sai em disco - disponível somente em edição digital a partir de hoje, 15 de janeiro de 2016 - é o registro ao vivo do show em que Teresa canta Cartola (1908 - 1980), o poeta de Mangueira, fino estilista do samba com composições de alta costura melódica e lírica. Teresa canta bem Cartola porque há uma melancolia entranhada tanto na voz da cantora quanto na obra do compositor. Mesmo quando vislumbrava beleza, como nos versos de Ao amanhecer (Cartola, 1968), rara - e bela - música mais obscura em repertório pautado por sucessos do compositor, o poeta deixava transparecer uma tristeza na melodia e na alma. Talvez por isso Teresa cante Cartola com tanta precisão. Infelizmente preservadas na mixagem do disco ao vivo, as palmas do público são o único elemento que interfere na atmosfera perfeita de uma gravação valorizada pelo toque virtuoso do violão de Carlinhos Sete Cordas. Evocando tanto o violão natural tocado por Cartola quanto o violão magistral de Raphael Rabello (1962 - 1995), as sete cordas de Carlinhos armam a cama para Teresa deitar e rolar em melodias pouco cantadas como Vai amigo (Cartola, 1968) e também nos clássicos como O mundo é um moinho (Cartola, 1976). Musicalmente, o disco é perfeito. Os problemas estão na edição da gravação ao vivo feita em 16 de novembro de 2015 em apresentações do show no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do compositor e da cantora. Além das palmas (incômodas em disco ao vivo que não pede o calor da plateia, com evidente exceção do coro feito espontaneamente pelo público em As rosas não falam, pérola de 1976), as falas da cantora foram (mal) editadas. Deveriam ter sido integralmente suprimidas ou, então, inteiramente preservadas. Do jeito que o disco chegou ao iTunes e às plataformas de streaming, o ouvinte menos informado sobre a obra de Cartola fica sem entender que três músicas de criação alheia - Pranto de poeta (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1957), Preciso me encontrar (Candeia, 1976) e Senhora tentação (Meu drama) (Silas de Oliveira e Joaquim Ilarindo, 1967) - estão no roteiro porque são músicas que ganharam a voz rústica e profunda de Cartola. Descontadas tais questões, a música de Cartola encontra em Teresa Cristina uma intérprete ideal, afinada com a fina melancolia que pauta obras-primas como Peito vazio (Cartola e Elton Medeiros, 1976). Em tom tradicional, a cantora dá voz reverente a joias raras como Amor proibido (Toda culpa) (Cartola, 1965), Corra e olhe o céu (Cartola, 1974), Sim (Cartola e Osvaldo Martins, 1952) e Tive sim (Cartola, 1968), se juntando a um primeiro time de intérpretes do poeta que inclui Ney Matogrosso e, claro, Beth Carvalho, voz mais associada à obra de Cartola, ora (tão bem) cantada por Teresa Cristina em belo disco ao vivo.

Rafael disse...

Escutei o disco hoje na Deezer e achei-o fenomenal... Não consigo entender o por quê de ser somente um lançamento digital... Teresa Cristina não merecia isso... Talentosa, carismática e canta super bem...

Rafael disse...

Com tanta gravadoras como a Jóia Moderna, Nova Estação, Biscoito Fino, etc que poderiam (e deveriam) lançar esse disco fenomenal e as mesmas não o fazem... Perderam uma bela oportunidade de fazer um registro fonográfico desse belo tributo!!!

Marcelo Barbosa disse...

Adorei o final da resenha, por que será, Mauro? rs

Unknown disse...

Tributo maravilhoso

Marcelo disse...

Leny Andrade também fez um disco fabuloso com a obra do Cartola.

Euclides da Cunha disse...

Elton Medeiros e Márcia também fizeram um belo disco com canções de Cartola.

Euclides da Cunha disse...

Não esquecer o belo disco de Elton Medeiros e Márcia cantando Cartola

Carlos Almeida disse...

Vai ter edição fisica?

Mauro Ferreira disse...

Carlos, até segunda ordem, não haverá edição física em CD do álbum. Abs, MauroF

Unknown disse...

Tá em terceiro lugar no itunes, só perde pra Adele e o Safaďão. Será mesmo que Teresa não vale lançamento físico? Tenho cá minhas dúvidas.

Unknown disse...

Me diga um show gravado ao vivo que o público não interagiu com palmas? Por favor né...

Unknown disse...

Me diga um show gravado ao vivo que o público não interagiu com palmas? Por favor né...