Resenha de álbum
Título: Tropix
Artista: Céu
Gravadora: Slap
Cotação: * * * * *
♪ Precedido por uma das mais inspiradas composições de Céu, Perfume do invisível, o quarto excelente álbum de estúdio da moderna cantora e compositora paulistana - Tropix, disponível para audição na plataforma Spotify a partir da próxima sexta-feira, 18 de março de 2016 - flagra a artista em contínuo movimento. Produzido pelo baterista Pupillo com o tecladista francês Hervé Salters, Tropix exala o cheiro de Perfume do invisível, single de sonoridades fragmentadas que cai na pista com ecos de disco music. Tropix é disco de clima noturno, mas sem as densas nuvens de dub que cobriram Vagarosa (Six Degrees Records, 2009), sucessor do seminal Céu (Urban Jungle, 2005). Contudo, a claridade pop que conduziu o itinerante e diurno álbum anterior Caravana sereia bloom (Urban Jungle / Universal Music, 2012) também se dissipa nos beats eletrônicos que pautam Tropix. Álbum fincado no tripé bateria (de Pupillo, músico da Nação Zumbi), baixo (de Lucas Martins) e teclados (os de Hervé Salters, do grupo francês de rock-funk eletrônico General Elektriks), Tropix é disco de luzes difusas que se banha em águas afro-brasileiras em Arrastar-te-ei (Céu), lança olhar antropofágico sobre a tropicália latino-americana na levada caribenha de Varanda suspensa (Céu e Hervé Salters) - composição inspirada pelas lembranças dos encontros da artista com o avô no litoral nortista de São Paulo - e derrama romantismo explícito em Amor pixelado (Céu), bela balada entrecortada e aditivada por fragmentos eletrônicos. O medley que junta Etílica (Céu) com Interlúdio (Céu e Hervé Salters) - faixa na qual se ouve os vocais de Tulipa Ruiz - injeta dose de psicodelia na mistura sem pesar a mão. Música composta por Céu com inspiração na filha, Rosa Morena, A menina e o monstro tem barulhinhos bons que remetem ao universo infantil, mas o acalanto é progressivamente encorpado com sons de gente bem grande. A textura eletrônica de Tropix encobre a batida nordestina de Minhas bics, faixa cuja assinatura é mais universal do que brasileira. Como todo o disco, aliás. O que justifica e avaliza o surpreendente revival lo-fi de música em inglês do obscuro grupo paulistano Fellini, Chico Buarque song, (Ricardo Salvagni, Carlos Adão Volpato, Jair Marcos Vieira e Thomas Kurt Georg Pappon, 1990), extraída do quarto álbum de estúdio da banda, Amor louco (Wop Bop, 1990). Menos indie e mais melódico, o neobolero Sangria - parceria de Céu com o cantor e compositor pernambucano José Paes Lira, o Lirinha - devolve a Tropix a atmosfera de encantamento que inebriara em Perfume do invisível e em Amor pixelado. Parceria de Céu com Fernando Almeida, adornada com cordas, Camadas é música em si menos sedutora, mas em fina sintonia com a ambiência sintética de Tropix. Os beats eletrônicos dos teclados de Hervé Salters rejeitam o bate-estaca atual das pistas e apresentam visão contemporânea dos embalos de noites de tempos idos. Única música inédita de Tropix não composta por Céu, A nave vai tem cordas, a assinatura de Jorge Du Peixe - colega de Pupillo na Nação Zumbi - e um groove funkeado que captura o ouvinte à medida em se que se rebobina a faixa. Encerrado com Rapsódia brasilis (Céu), faixa também envolta por cordas de orquestração inusual, Tropix se situa no mesmo alto nível de Caravana sereia bloom, mas supera o antecessor, atingindo a perfeição. Inclusive por reiterar a habilidade de Céu de mudar o disco a cada álbum lançado em discografia iniciada há 11 anos. Ao longo de quatro álbuns de estúdio e de um registro ao vivo de caráter revisionista, Céu jamais se repetiu, arriscando modificações estruturais a cada disco gravado em estúdio. O mundo musical da artista sai do lugar a cada passo dado por Céu. Em Tropix, cuja edição em CD sai em abril pelo selo Slap, a caravana da sereia se ambienta no universo artificial da noite sem perda da naturalidade de Céu.
Estou louco para ouvir esse novo trabalho da Céu. Ela é ótima em tudo o que faz... Creio que vem mais um disco de altíssima qualidade por aí...
ResponderExcluirMauro, o lançamento pro Spotify, será no dia 18 mesmo? Se não me engano, li dia 25 (nas plataformas digitais).
ResponderExcluirAnsioso demais. Sempre fui apaixonado por ela. Que voz mais gostosa, que som incrível, que cantora que cresce no palco!
ResponderExcluirFico impressionado com o como ela consegue mudar e evoluir de um disco para o outro e, ao mesmo tempo, mantem algo na sua sonoridade que mais parece uma assinatura e que está ali, sempre presente.
Não ia achar ruim que a Céu se repetisse, não sou crítico musical, então não tenho absolutamente nada contra o artista "mandar ver" na sonoridade que já me conquistou um dia. Isso, talvez, até fizesse o artista produzir discos (novidades) num intervalo de tempo mais curto. Mas, ainda assim, consigo admirar essa característica [que eu não ligo muito] na Céu. Mais ainda pelo que disse sobre ela "mudar" e, ao mesmo tempo, "se manter".
Pergunta: Por que essa coisa do disco físico sair semanas depois do lançamento do álbum? Coisa chata.
Rafael, o Spotify vai ter uma semana de exclusividade em relação às demais plataformas digitais. Victor, o mercado fonográfico é cada vez mais digital. Então vai ser - cada vez mais - regra dar prioridade às edições digitais. Abs, MauroF
ResponderExcluirMauro, e não tem a ver com prazo para fabricação nem nada do tipo? Porque eu não consigo imaginar de que forma o físico "atrapalharia" o digital. O contrário eu consigo. Então fico achando que é algo para nos "domesticar" com digital.
ResponderExcluirNão sei, acho confuso. Adele lança nas plataformas de streming 1 ano depois do físico, Taylor Swift nem lança, e as duas são fenômenos de vendas e alcançam o topo dos charts até de singles [que contabilizam streaming lá].
Já tem um tempo que venho notando isso. Foi assim com o último do Catto também. Achei que fosse atraso na produção ou dúvida quanto à tiragem... Mas está tão recorrente...
Cada caso é um caso, Victor. Existem acordos. Taylor e Adele não foram para as plataformas de streaming para incrementar as vendas físicas - já que havia demanda para ambos os discos (e Taylor já se posicionou contra esse tipo de comércio digital). Catto lançou um disco independente que demorou mesmo a ser fabricado porque não havia uma gravadora grande por trás. Já o disco de Céu está pronto. Eu fiz a resenha a partir da edição física em CD. Acredito que no início de abril já esteja nas poucas lojas que resistem. Ou até antes. Abs, MauroF
ResponderExcluirObrigado Mauro! É bom saber dessas coisas porque aqui pelo Brasil a gente acha pouquíssimas matérias que abordem os atuais bastidores da música...
ResponderExcluirUm Abraço!
Ah, não creio que o chatíssimo Spotify vai ter uma semana de exclusividade. Louco pra ouvir, mas não troco a Deezer.
ResponderExcluirotima interpretacao...
ResponderExcluirótima interpretação
ResponderExcluirAmo, amo, amo demais!
ResponderExcluirDisco incrivel, gosto da Céu mas acho os dois primeiros albuns meio sem ritmo, tudo muito cool parado, não dá vontade de ouvir
ResponderExcluirMas esse ela resolveu sacudir um pouco, colocar tempero, ficou excelente a regravação de Fellini é incrivel e olha que adoro a original