Mauro Ferreira no G1

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sábado, 19 de março de 2016

Viagem de 'Atlas' ancora Baleia em porto inseguro, distante de 'Quebra-azul'

Resenha de álbum
Título: Atlas
Artista: Baleia
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * 1/2

"De mim a você vive um monstro infeliz / O seu delírio é sussurrar / Diz palavras glaciais / Elas vêm ancorar a distância entre nós dois". Proferidos pelo vocalista Gabriel Vaz, à moda do canto do grupo carioca Los Hermanos, os versos iniciais de Salto - última das oito músicas inéditas e autorais que compõem o repertório do segundo álbum da banda carioca Baleia, Atlas - diz muito sobre o tom do disco lançado ontem, 18 de março de 2016, nas plataformas digitais. Banda que mostrara forte personalidade em 2014 com inventiva releitura de Noite de temporal (Dorival Caymmi, 1940) que embutia música do grupo inglês Radiohead, Little by little (Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O'Brien e Philip Selway, 2011), Baleia começou a ser incensada na cena indie com a edição do primeiro álbum, Quebra-azul (Independente, 2013). Atlas conduz o sexteto por viagem delirante, sensorial e grandiloquente que ancora Baleia em porto inseguro, distante de Quebra-azul. Formatado no Estúdio do Pepê, na Serra das Araras (RJ), com produção capitaneada por Bruno Giorgi com a banda, Atlas quebra a alta expectativa depositada no segundo álbum desta banda que vinha em ascensão. Ainda que se possa detectar na sonoridade encorpada do disco conexões com o som da banda canadense Arcade Fire, Baleia está pesada e faz a viagem soar repetitiva - e, em alguns momentos, cansativa - ao longo das oito músicas de Atlas, todas assinadas pelos seis integrantes da banda formada por Sofia Vaz, Gabriel Vaz, Cairê Rego, Felipe Ventura, David Rosenblit e João Pessanha. O canto de Sofia Vaz em Hiato - faixa que, tal como a já mencionada Salto, parte do universo do rock para conduzir Baleia pela viagem climática de Atlas - dificulta o entendimento das letras. No curso do mar de sons embutidos na produção do álbum, músicas como Duplo andantesTriz (faixa de fim dramático) e Volta deixam a sensação de que a Baleia navega sem rumo em noite de temporal, sem vislumbrar o porto seguro de um repertório inspirado que justifique as experimentações. Primeira das oito músicas de Atlas reveladas pela banda, em fevereiro, Estrangeiro acaba se impondo como o melhor momento de um disco que deixa Baleia encalhada em muitos momentos, perdida em pretensões como a quebra abrupta ao fim de Língua com sons que sugerem cigarras e grilos em área rural. Cantada por Gabriel Vaz e formatada com sons de violões que remetem ao universo da MPB, Véspera é faixa de intensidade crescente que também alcança bom resultado. Contudo, Atlas deixa a sensação que a rota ideal para o terceiro álbum da Baleia é pegar caminho de volta que a conduza ao porto de Quebra-azul.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ "De mim a você vive um monstro infeliz / O seu delírio é sussurrar / Diz palavras glaciais / Elas vêm ancorar a distância entre nós dois". Proferidos pelo vocalista Gabriel Vaz, à moda do canto do grupo carioca Los Hermanos, os versos iniciais de Salto - última das oito músicas inéditas e autorais que compõem o repertório do segundo álbum da banda carioca Baleia, Atlas - diz muito sobre o tom do disco lançado ontem, 18 de março de 2016, nas plataformas digitais. Banda que mostrara forte personalidade em 2014 com inventiva releitura de Noite de temporal (Dorival Caymmi, 1940) que embutia música do grupo inglês Radiohead, Little by little (Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O'Brien e Philip Selway, 2011), Baleia começou a ser incensada na cena indie com a edição do primeiro álbum, Quebra-azul (Independente, 2013). Atlas conduz o sexteto por viagem delirante, sensorial e grandiloquente que ancora Baleia em porto inseguro, distante de Quebra-azul. Formatado no Estúdio do Pepê, na Serra das Araras (RJ), com produção capitaneada por Bruno Giorgi com a banda, Atlas quebra a alta expectativa depositada no segundo álbum desta banda que vinha em ascensão. Ainda que se possa detectar na sonoridade encorpada do disco conexões com o som da banda canadense Arcade Fire, Baleia está pesada e faz a viagem soar repetitiva - e, em alguns momentos, cansativa - ao longo das oito músicas de Atlas, todas assinadas pelos seis integrantes da banda formada por Sofia Vaz, Gabriel Vaz, Cairê Rego, Felipe Ventura, David Rosenblit e João Pessanha. O canto de Sofia Vaz em Hiato - faixa que, tal como a já mencionada Salto, parte do universo do rock para conduzir Baleia pela viagem climática de Atlas - dificulta o entendimento das letras. No curso do mar de sons embutidos na produção do álbum, músicas como Duplo andantes, Triz (faixa de fim dramático) e Volta deixam a sensação de que a Baleia navega sem rumo em noite de temporal. Primeira das oito músicas de Atlas reveladas pela banda, em fevereiro, Estrangeiro acaba se impondo como o melhor momento de um disco que deixa Baleia encalhada em muitos momentos, perdida em pretensões como a quebra abrupta ao fim de Língua com sons que sugerem cigarras e grilos em área rural. Cantada por Gabriel Vaz e formatada com sons de violões que remetem ao universo da MPB, Véspera é faixa de intensidade crescente que também alcança bom resultado. Contudo, Atlas deixa a sensação que a rota ideal para o terceiro álbum da Baleia é pegar caminho de volta que a conduza ao porto de Quebra-azul.