sábado, 2 de abril de 2016

Bailão eletro-pop-popular de Ana & Jorge recicla hits sem a ambição artística

Resenha de show
Título: Mais uma vez Ana & Jorge
Artistas: Ana Carolina e Seu Jorge (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Citibank Hall (São Paulo, SP)
Data: 1º de abril de 2016
Cotação: * * 

"A criança tem 11 anos, é filha de preto com gay e é bem-sucedida". A fala de Ana Carolina na estreia nacional da turnê Mais uma vez Ana & Jorge foi dita antes de a cantora e Seu Jorge fazerem breve e bem-humorada retrospectiva sobre o que aconteceu nos 11 anos que separam o primeiro show da dupla, apresentado em 2005, e o espetáculo de tom eletro-pop-popular que teve estreia nacional na noite de ontem, 1º de abril de 2016, na casa Citibank Hall da cidade de São Paulo (SP). A criança a que se refere a cantora, compositora e instrumentista mineira é o projeto Ana & Jorge, cujo retumbante sucesso acontecido há 11 anos - alavancado pelo estouro de É isso aí, a versão em português escrita por Ana sem fidelidade ao sentido original de The blower's daughter (2002), sublime canção do compositor inglês Damien Rice - motivou a reunião da dupla em show que vai percorrer o Brasil e que vai gerar outro DVD e CD ao vivo. Ana Carolina e Seu Jorge são dois grandes cantores do Brasil que optaram por seguir trilhas cada vez mais populares em nome do sucesso. O show - que junta os artistas a Mikael Mutti e a Rodrigo Tavares, escalados para pilotar os teclados e as programações que alimentam a aura eletrônica da maior parte do espetáculo - foi concebido dentro dessa trilha. A rigor, trata-se de bailão em que Ana & Jorge reciclam hits próprios e alheios sem grandes ambições artísticas. Se falta a chama que poderia elevar os trabalhos dos artistas a um novo patamar, sobram sucessos. Mas o fato é que algo pareceu fora da ordem na estreia nacional. Nem o apelo pop da música inédita Mais uma vez (Nós dois) (Ana Carolina, Dudu Falcão, Gabriel Moura e Leandro Fab, 2016) surtiu o efeito esperado na primeira vez em que foi cantada, sendo recebida com um pouco mais de entusiasmo no bis, encerrado em clima de boate com O beat da beata (Ana Carolina e Seu Jorge, 2003), com Ana & Jorge se deixando levar e jogando charme na pulsação da batida eletrônica. Já no primeiro número - Tanta saudade (Djavan e Chico Buarque), música que teve o molho da salsa diluído na aura eletrônica do arranjo - ficou no ar uma sensação de que Ana e Jorge batiam ponto no palco do Citibank Hall. As programações deram o tom de boa parte dos arranjos, mas não tornaram rarefeita a levada de R&B que conduz Quem não quer sou eu (Seu Jorge, Gabriel Moura e Adriano Trindade, 2011), sucesso de Jorge revivido de início na voz de Ana até ser dominado pelo cantor. O que garantiu alguns bons momentos foram as vozes singulares e potentes dos cantores. Jorge arrepiou quando solou Talismã (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1989) em ritmo lento, com menos ênfase na cadência do samba que conduziu a gravação original do cantor Elson do Forrogode, lançada em 1989 com êxito retumbante. Ana confirmou a habilidade para interpretar baladas de natureza romântica. A reverente lembrança da melodiosa balada Não diga nada (Prêntice, Ed Wilson, Gilson e Ronaldo Bastos, 1985) - cantada inteira por Ana e, na sequência, por Jorge - reiterou tal habilidade. Único grande sucesso popular do cantor fluminense Prêntice (1956 - 2005), Não diga nada pode vir a ser o hit do show e futuro disco resultante do projeto que reúne Ana & Jorge em cena. O acento soul imprimido pela dupla à canção se afinou com outro sagaz revival do roteiro, Coleção (Cassiano e Paulo Zdanowski, 1976), uma daquelas matadoras baladas da lavra do genial compositor paraibano Cassiano, intérprete original da canção de alma soul propagada na trilha sonora da novela Locomotivas (TV Globo, 1977). O piano de Rodrigo Tavares sobressai no arranjo criado para o show de Ana & Jorge. Na sequência, um bloco acústico - com Ana & Jorge sentados na frente do palco - segue a cadência bonita do samba e dá vida ao show. Samba do Trio Preto + 1, Sábado e domingo (Nenê Brown e Alexandre França, 2012) abrem o set no qual Ana & Jorge saúdam a si próprios em Comparsas (Ana Carolina e Seu Jorge, 2005), praticam Tiro ao Álvaro (Adoniram Barbosa e Osvaldo Molles, 1980)  - com Ana no pandeiro e Jorge no violão - e mastigam Chiclete com banana (Gordurinha e Almira Castilho, 1958) sem saborear o suingue do tema associado ao balanço e à voz de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982). Findo o bloco, Mikael Mutti e Rodrigo Tavares voltam à cena para dar base para o insosso solo de Ana em Mal acostumada (Meg Evans e Ray Araújo, 1997), tema do grupo forrozeiro Cabelo de Fogo que o grupo baiano de axé Ara Ketu tornou samba em gravação de 1998 que alcançou sucesso nacional. A abordagem de Ana, em ritmo mais lento, diluiu o balanço e a graça da composição. Na parte final do show, a falta de ambição artística fica mais evidente. É quando Ana & Jorge passam a alternar os hits que colecionaram nas respectivas discografias individuais. Só que há pouca interação vocal entre os cantores nesse bloco final. Jorge - que se tornou um cantor popular após o show feito com Ana em 2005 - domina a cena quando o roteiro rebobina os hits dele, como São Gonça (Seu Jorge, 1998) e Carolina (Seu Jorge, 2001). Já Ana é quem dá Sinais de fogo (Ana Carolina e Antonio Villeroy, 2003) para uma plateia formada por fãs - mais dela do que dele, diga-se - e já habituada ao estilo popular de Ana. Tanto que os refrães apelativos de Elevador (Livro do esquecimento) (Ana Carolina, 2003) e de Rosas (Antonio Villeroy, 2006) - ambos com versos constrangedores - são cantados a plenos pulmões pela plateia. São os momentos mais calorosos de show que transcorre morno, ainda à espera de um azeitamento que pode acontecer ao longo da turnê desse bailão eletro-pop-popular de resultado aquém dos talentos dos dois artistas ora reunidos em cena sem a devida ambição artística. A criança precisa crescer, amadurecer e entender que sucesso popular nem sempre tem a ver com qualidade artística...

12 comentários:

  1. ♪ "A criança tem 11 anos, é filha de preto com gay e é bem-sucedida". A fala de Ana Carolina na estreia nacional da turnê Mais uma vez Ana & Jorge foi dita antes de a cantora e Seu Jorge fazerem breve e bem-humorada retrospectiva sobre o que aconteceu nos 11 anos que separam o primeiro show da dupla, apresentado em 2005, e o espetáculo de tom eletro-pop-popular que teve estreia nacional na noite de ontem, 1º de abril de 2016, na casa Citibank Hall da cidade de São Paulo (SP). A criança a que se refere a cantora, compositora e instrumentista mineira é o projeto Ana & Jorge, cujo retumbante sucesso acontecido há 11 anos - alavancado pelo estouro de É isso aí, a versão em português escrita por Ana sem fidelidade ao sentido original de The blower's daughter (2002), sublime canção do compositor inglês Damien Rice - motivou a reunião da dupla em show que vai percorrer o Brasil e que vai gerar outro DVD e CD ao vivo. Ana Carolina e Seu Jorge são dois grandes cantores do Brasil que optaram por seguir trilhas cada vez mais populares em nome do sucesso. O show - que junta os artistas a Mikael Mutti e a Rodrigo Tavares, escalados para pilotar os teclados e as programações que alimentam a aura eletrônica da maior parte do espetáculo - foi concebido dentro dessa trilha. A rigor, trata-se de bailão em que Ana & Jorge reciclam hits próprios e alheios sem grandes ambições artísticas. Se falta a chama que poderia elevar os trabalhos dos artistas a um novo patamar, sobram sucessos. Mas o fato é que algo pareceu fora da ordem na estreia nacional. Nem o apelo pop da música inédita Mais uma vez (Nós dois) (Ana Carolina, Dudu Falcão, Gabriel Moura e Leandro Fab, 2016) surtiu o efeito esperado na primeira vez em que foi cantada, sendo recebida com um pouco mais de entusiasmo no bis, encerrado em clima de boate com O beat da beata (Ana Carolina e Seu Jorge, 2003), com Ana & Jorge se deixando levar e jogando charme na pulsação da batida eletrônica. Já no primeiro número - Tanta saudade (Djavan e Chico Buarque), música que teve o molho da salsa diluído na aura eletrônica do arranjo - ficou no ar uma sensação de que Ana e Jorge batiam ponto no palco do Citibank Hall. As programações deram o tom de boa parte dos arranjos, mas não tornaram rarefeita a levada de R&B que conduz Quem não quer sou eu (Seu Jorge, Gabriel Moura e Adriano Trindade, 2011), sucesso de Jorge revivido de início na voz de Ana até ser dominado pelo cantor. O que garantiu alguns bons momentos foram as vozes singulares e potentes dos cantores. Jorge arrepiou quando solou Talismã (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1989) em ritmo lento, com menos ênfase na cadência do samba que conduziu a gravação original do cantor Elson do Forrogode, lançada em 1989 com êxito retumbante. Ana confirmou a habilidade para interpretar baladas de natureza romântica. A reverente lembrança da melodiosa balada Não diga nada (Prêntice, Ed Wilson, Gilson e Ronaldo Bastos, 1985) - cantada inteira por Ana e, na sequência, por Jorge - reiterou tal habilidade. Único grande sucesso popular do cantor fluminense Prêntice (1956 - 2005), Não diga nada pode vir a ser o hit do show e futuro disco resultante do projeto que reúne Ana & Jorge em cena.

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  2. O acento soul imprimido pela dupla à canção se afinou com outro sagaz revival do roteiro, Coleção (Cassiano e Paulo Zdanowski, 1976), uma daquelas matadoras baladas da lavra do genial compositor paraibano Cassiano, intérprete original da canção de alma soul propagada na trilha sonora da novela Locomotivas (TV Globo, 1977). O piano de Rodrigo Tavares sobressai no arranjo criado para o show de Ana & Jorge. Na sequência, um bloco acústico - com Ana & Jorge sentados na frente do palco - segue a cadência bonita do samba e dá vida ao show. Samba do Trio Preto + 1, Sábado e domingo (Nenê Brown e Alexandre França, 2012) abrem o set no qual Ana & Jorge saúdam a si próprios em Comparsas (Ana Carolina e Seu Jorge, 2005), praticam Tiro ao Álvaro (Adoniram Barbosa e Osvaldo Molles, 1980) - com Ana no pandeiro e Jorge no violão - e mastigam Chiclete com banana (Gordurinha e Almira Castilho, 1958) sem saborear o suingue do tema associado ao balanço e à voz de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982). Findo o bloco, Mikael Mutti e Rodrigo Tavares voltam à cena para dar base para o insosso solo de Ana em Mal acostumada (Meg Evans e Ray Araújo, 1997), tema do grupo forrozeiro Cabelo de Fogo que o grupo baiano de axé Ara Ketu tornou samba em gravação de 1998 que alcançou sucesso nacional. A abordagem de Ana, em ritmo mais lento, diluiu o balanço e a graça da composição. Na parte final do show, a falta de ambição artística fica mais evidente. É quando Ana & Jorge passam a alternar os hits que colecionaram nas respectivas discografias individuais. Só que há pouca interação vocal entre os cantores nesse bloco final. Jorge - que se tornou um cantor popular após o show feito com Ana em 2005 - domina a cena quando o roteiro rebobina os hits dele, como São Gonça (Seu Jorge, 1998) e Carolina (Seu Jorge, 2001). Já Ana é quem dá Sinais de fogo (Ana Carolina e Antonio Villeroy, 2003) para uma plateia formada por fãs - mais dela do que dele, diga-se - e já habituada ao estilo popular de Ana. Tanto que os refrães apelativos de Elevador (Livro do esquecimento) (Ana Carolina, 2003) e de Rosas (Antonio Villeroy, 2006) - ambos com versos constrangedores - são cantados a plenos pulmões pela plateia. São os momentos mais calorosos de show que transcorre morno, ainda à espera de um azeitamento que pode acontecer ao longo da turnê desse bailão eletro-pop-popular de resultado aquém dos talentos dos dois artistas ora reunidos em cena sem a devida ambição artística. A criança precisa crescer, amadurecer e entender que sucesso popular nem sempre tem a ver com qualidade artística...

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  3. Vi a cotação e fiquei assustado, achando que seria um show que não merecia ser visto, de tão razoável. Mas depois de ler o texto concluí que parece ser um ótimo espetáculo. Não assisti ainda, então não posso opinar, mas tenho algumas considerações, de antemão.

    É um show de comemoração e, só por esse fato, entende-se que não é um "projeto de carreira". Além de ser um show de comemoração (o que só acontece com quem tem algo a comemorar, evidentemente), é a reunião de dois artistas de muito sucesso e popularidade. Com isso, é óbvio que essa "festa" não iria abrir mão dos produtos que projetaram as carreiras da Ana e do Jorge.

    Em determinados momentos, como este -- divulgadamente uma comemoração, insisto --, acredito que seja um equívoco esperar "ambição artística" de quem quer que seja. Se o show "Doces Bárbaros" estreasse hoje, seria um fracasso (um fracasso maravilhoso). Vários artistas de sucesso realizaram projetos nesse mesmo modelo no Brasil e no mundo, sem maiores preocupações além dos próprios encontros.

    Pelo roteiro, vê-se que não é, mesmo, um show para a crítica, para o bom gosto, o bom senso, os bons modos... Tá escancarado que a dupla não quer boa educação, opinião, catequização, orientação. A intenção que sobressai é o vínculo com o público; o agradecimento, a troca. Uma oferta de canções que estão no inconsciente coletivo e no acervo emocional de um país imenso como nosso.

    Incluo na retrospectiva desses quase onze anos as histórias de vida de milhares de pessoas que tiveram sentimentos traduzidos e abraçados pelas vozes e pela arte desses dois artistas. Isso é muito, é raro, é dificílimo, e é totalmente impossível de se avaliar ou mensurar. O agradecimento ao público é importante, a comemoração é um direito e as melhores festas são essas em que todo mundo se encontra e se identifica.

    Espero que Ana e Jorge se soltem mais depois da tensão da estreia, e se joguem na diversão que esse show promete ser. O incrível Antônio Abujamra já dizia que não há nada melhor do que fazer um fracasso, um enorme fracasso! Isso ficou provado em 2005, no primeiro encontro, e confio que agora não será diferente.

    p.s.: A falta de "calor" sentida nesse show de estreia, muito provavelmente se deve ao fato de o Citibank ser a maior casa de shows da América Latina. Aquele lugar é enorme e horrível. Só o fato de lotá-lo já produz calor, mas muito dificilmente se verá fortes comoções por ali. Não achei nem um pouco estranho que o público não tenha se familiarizado de imediato com a música inédita. Ninguém teve tempo de ouvir direito ainda. Estamos no meio de um caos, afinal. Mas a música é bom e com o tempo o efeito virá, com certeza.

    p.s.2: Senti falta das canções de tom mais político no show, mas agora já estou achando a decisão bastante acertada. Ninguém merece ficar 24hrs por dia envolvido no estresse e no ódio que o Brasil está enfrentando. Arte também é entretenimento, lazer. Fizeram muito bem. Mesmo por que o casamento do preto com a gay, e o filho deles, infelizmente, continua estabelecido, por natureza, como forte ato político.

    p.s.3: Vi alguns vídeos e a iluminação-cenário está incrível!

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  4. Não vi...e acho q tb não preciso... AFFE!!!

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  5. "Ana Carolina e Seu Jorge são dois grandes cantores..."
    Depois dessa nem consegui mais ler nada.

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  6. Não assisti ao show mas achei o set list muito previsível, faltou mais ousadia.Havia músicas de ambos que abordadas em dueto ficariam lindas como Seu olhar do Jorge e Aqui ou Ruas de Outono da Ana.

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  7. São dois artistas que se destacam mais com o "cru" do que com um eletro-pop-sei-lá-mais-o-quê.
    Li o comentário do Rhenan e não concordo em alguns pontos. Por exemplo, uma apresentação, de qualquer artista, é SEMPRE uma apresentação de carreira. Um trabalho é sempre um trabalho de carreira. Quer ele diga que sim, quer diga que não. Subiu numa casa de shows lotada ou num mini-palco de show privado, é sim um show de carreira. Tem que mostrar, de qualquer forma, o que os anos de carreira e experiências lhe deram.
    Show de comemoração ou homenagem, tudo bem. Mas não é o caso. Um show para comemorar um sucesso do passado, geralmente, rebobina O MESMO roteiro do passado (à la Gil e Caetano). A partir do momento que ganha fins comerciais e lançamento de inéditas, deixa de ser "reverenciar o passado".

    Essa pressão do artista ter que "evoluir" também é um pouco injusta. Isso não deveria ser uma obrigação. Tem horas que a gente - público pagante, não crítico - fica contente com mais do mesmo. Daí, quando um artista que a gente gosta lança algo novo, ficamos procurando tons, detalhes no instrumento, desculpas, pra dizer que evoluiu.
    Por exemplo, no meu ver, Bethânia. Mas quem a acompanha de perto me jura mudanças incríveis. O mesmo pode-se dizer de Ana, não vejo mudanças ou que estas não me soem "forçadas", mas quem a acompanha de perto também é de jurar que tudo está lá presente.

    Acho eu, que não sou profissional, que o caminho seguido para evolução de Ana não foi o mais feliz. Ela não parece ter se situado bem com o eletrônico. E acho que o eletrônico não é o único caminho para essa tal "evolução" na carreira. Pelo contrário, ultimamente tem parecido o caminho mais fácil. Ou raso.

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  8. Mauro, há informações sobre o registro audiovisual desse espetáculo? E o CD de inéditas da Ana Carolina, a quantas anda? O lançamento continua previsto para 2016?

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  9. Victor, não há informações oficiais sobre o registro audiovisual do show. Mas ele acontecerá. Quanto ao disco de inéditas da Ana, ela já declarou em entrevistas que seria para este ano. Mas acho - apenas acho - que vai ficar para 2017 para não diluir a força comercial do projeto 'Ana & Jorge'. abs, MauroF

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  10. É óbvio que é um trabalho DENTRO da carreira. Estou dizendo é que não foi concebido como algo inédito ou de extrema relevância para ambos. É uma comemoração em cima de um projeto que JÁ teve todo o reconhecimento que podia. É a comemoração daquele "assunto encerrado ainda em aberto". Pode render bons e definitivos momentos, claro, mas já nasce a partir de um acontecimento enorme (despretensioso e "por acaso"), fica difícil "competir". Então, o melhor mesmo é correr pro abraço.

    Agora, existe um imediatismo e uma ansiedade in-su-por-tá-vel sempre que se interpreta a carreira da Ana Carolina. Um negócio absolutamente injusto. Marisa Monte passa cinco anos sem lançar disco, apresenta um trabalho razoável (muito razoável) como esse mais recente e é aclamada como se tivesse inventado a própria música. Aquela em que não se toca. Ney Matogrosso está há três anos apresentando o mesmo show (e isso não é uma comparação, porque nem cabe, mas somente um exemplo). Nesse tempo a Ana Carolina já apresentou três shows diferentes. Esse é jeito DELA de viver (a vida e a arte). Ana toca em bares desde os 16 anos, se acostumou com o cotidiano da música / dos shows na sua vida. Aí aparecem umas acusações grosseiras como "ela só pensa em dinheiro", que partem da síndrome do luxo do lixo; da ideia de que artista tem que viver passando o chapéu. Isso é tão pequeno! Inclusive, recentemente a Ana foi desacreditada por parte da própria equipe quando concebeu o "Solo". E por acaso fazer show em teatro dá dinheiro? Não importa, foi o que ela estava afim de fazer naquele momento.

    É claro que a Ana ganha dinheiro, mas, além de ser literalmente suado, é o dinheiro que ela ganha pra montar um estúdio em casa e disponibilizar para outros artistas; o dinheiro que ela pode comprar instrumentos e emprestar para outros artistas; o dinheiro com que ela pode ter uma casa para oferecer a outros artistas em diversas situações; o dinheiro que ela pode ajudar a financiar trabalhos de outros artistas que jamais (jamais!) conseguirão alcançar uma carreira sustentável, sem patrocínio. Ainda que não fizesse nada disso e vivesse uma vida de ostentação plena, seria mais do que merecido.

    Elis Regina nunca pareceu ter negado o dinheiro (muito pelo contrário) e nunca pareceu abrir concessão da autoridade que tinha sobre o que era melhor para a carreira. "A gente que tá ali, todo dia, com o plateia, a gente que sabe o que eles querem", vi dizer numa entrevista. É isso! Ninguém colocou uma arma na cabeça do público e obrigou a ouvir o trabalha da Ana ou do Jorge. As coisas simplesmente (e inexplicavelmente) acontecem. Contudo, o contrário (o público colocar uma arma na cabeça dos artistas) chega quase a acontecer. As pessoas querem ouvir aquelas músicas que fazem parte da vida delas. E "as pessoas", aqui, é muita gente. Não é difícil interpretar, o que falta é gentileza para aceitar que nem tudo é regra.

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  11. Outra coisa bastante curiosa é a fetichização que se tem com a figura e o(s) talento(s) da Ana. Todo mundo quer que ela faça tudo, mais ou menos ao respectivo gosto, e pra-ontem-agora-já. Coisa eu até entendo, porque ela de fato PODE fazer muito do que a imaginação musical consegue alcançar. Ela pode! Mas esse acumulado de expectativas é perturbador de tão invasivo e desrespeitoso. Nesses momentos a crítica (especializada ou não) me parece um desserviço, porque, ao invés de olhar SOBRE o que é feito, parametriza SOB os próprios desejos. O menor sentido!!

    No fim das contas, é a Ana uma das melhores e mais importantes artistas da música brasileira de todos os tempos, que resiste fazendo o que é nosso, na língua que é nossa, com qualidade e profissionalismo. E faz pra muita gente. É lamentável que a sedução pelo deboche se sobreponha à compreensão e ao respeito do valor artístico dela. E digo isso com indignação, porque o aplauso a alguém que se dispõe a fazer o trabalho que a Ana faz não pode ser desmerecido nem desvalorizado. O público na Ana é o único público que a cultura brasileira deveria ter: grande, apaixonado e engajado.

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  12. O sucesso popular não requer qualidade artística.Eu não acho que a Ana Carolina seja tão popular assim.Eu devo morar em outro planeta.

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