sábado, 16 de abril de 2016

Clarice Falcão destina finas ironias na vibração pop do show 'Problema meu'

Resenha de show
Título: Problema meu
Artista: Clarice Falcão (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 16 de abril de 2016
Cotação: * * * *

Clarice Falcão é irônica. No show Problema meu, a cantora e compositora pernambucana destila finas ironias em roteiro compacto que entrelaça as 14 músicas do segundo álbum da artista com cinco canções do primeiro álbum, Monomania (Casa Byington, 2013), e ainda abre espaço para a apresentação da inédita Robespierre (2016), mais um título mordaz do cancioneiro autoral de Clarice. A novidade é que, no show que está em turnê nacional desde 18 de março deste ano de 2016, toda a obra autoral da compositora é filtrada pela vibração pop do produtor musical Kassin, piloto do álbum Problema meu (Independente, 2016). Em bom português, o som mono das canções de Monomania são amplificadas em cena pelo elétrico som estéreo do quarteto formado por Kassin (baixo) com Danilo Andrade (teclados), João Erbeta (guitarra) e Pedro Garcia (bateria). É nessa vibração pop - encorpada na estreia carioca do show pelo coro do público que cantou quase todas as músicas com Clarice na apresentação iniciada no Circo Voador na primeira meia hora deste sábado, 16 de abril de 2016 - que a cantora destila as ironias que pautam obra autoral alvo de paixões e ódios Brasil afora. A ironia pode estar no simples fato de começar a cantar Eu esqueci você (Clarice Falcão, 2013) - música do álbum anterior - logo após Eu escolhi você (Clarice Falcão, 2016). Afinal, a compositora continua essencialmente a mesma, embora os matizes da safra autoral do álbum Problema meu sejam mais variados porque Kassin afastou a artista da estética lo-fi de Monomania. A essência da canção de Clarice - a mordacidade, a espirituosidade, a gênese aparentemente intuitiva das composições - permanece inalterada, reforçando a forte personalidade de obra autoral que tem gerado pérolas como Irônico (Clarice Falcão, 2016) - a marchinha pop com a qual Clarice pôs o disco, o show e o bloco na rua - e Deve ter sido eu (Clarice Falcão, 2016). A cantora tem carisma, interage bem com o público - inclusive nas falas, como o discurso sutilmente político e irônico que, na estreia carioca do show Problema meu, inflamou a plateia do Circo Voador a bradar em coro a expressão "Não vai ter golpe" - e exibe segurança ao desfiar o rosário de pérolas do repertório autoral. O único problema dela, em cena, é a pouca movimentação pelo palco. O som e as músicas são bem mais elétricas do que a postura estática da artista, que fica praticamente no mesmo lugar do palco ao longo do show, limitando-se a sentar na hora de cantar músicas como a melancólica balada Se esse bar fechar (Clarice Falcão, 2016), número que esboça clima de tristeza contrastante com a leveza do canto e do cancioneiro da artista. Clarice ainda pode explorar mais o espaço do palco. Até para ficar em sintonia com o astral vibrante do show feito para plateia que, no Rio, somente ficou mais quieta em músicas em inglês como Duet (Clarice Falcão, 2016) e I'll fly with you (Luigino D'Agostino, Carlos Montagner, Paolo Sandrini e Diego Leoni, 1999), balada lançada em disco há 17 anos pelo DJ italiano Gigi D'Agostino com o título em francês L'amour toujours. Apresentada em medley com Talvez (Clarice Falcão, 2016), I'll fly with you deu rasante na estreia carioca do show Problema meu. Em contrapartida, a roqueira A volta do mecenas (Matheus Torreão, 2016) voou alto, surtindo mais efeito no palco do que no disco. A intervenção luminosa de Letícia Novaes em Eu me lembro (Clarice Falcão, 2013) - música gravada por Clarice com o cantor Silva no álbum Monomania - deu cor à apresentação carioca e subverteu o sentido sexual original do tema em número que culminou com dança e beijo na boca, preparando o clima para o mergulho intencionalmente kitsch de Banho de piscina (João Falcão, 2016), fervido número de ambientação brega que simula o ambiente passional dos vitrolões e inferninhos do Brasil periférico. No fim, o auto-deboche de Clarice (Clarice Falcão, 2016) e a exposição dos dilemas afetivos universais de Como é que eu vou dizer que acabou? (Clarice Falcão, 2016) corroboram a vibração pop do show, cujo bis teve Monomania (Clarice Falcão, 2016), o cover feminista de Survivor (Beyoncé Knowles, Anthony Dent e Mathew Knowles, 2001) - com direito a exibição do clipe deste sucesso do trio norte-americano Destiny's Child filmado por Clarice em 2015 em benefício de ONG que luta pelos direitos das mulheres - e a irresistível Vagabunda (Clarice Falcão, 2016), número finalizado com o toque da gaita da própria Clarice Falcão. Não gosta dela? Acha que a música dela é rudimentar, linear? Problema seu! Tal como o disco que lhe inspirou e lhe deu nome, o show Problema meu afirma Clarice Falcão na cena nacional. E nisso há nenhuma ironia...

4 comentários:

  1. ♪ Clarice Falcão é irônica. No show Problema meu, a cantora e compositora pernambucana destila finas ironias em roteiro compacto que entrelaça as 14 músicas do segundo álbum da artista com cinco canções do primeiro álbum, Monomania (Casa Byington, 2013), e ainda abre espaço para a apresentação da inédita Robespierre (2016), mais um título mordaz do cancioneiro autoral de Clarice. A novidade é que, no show que está em turnê nacional desde 18 de março deste ano de 2016, toda a obra autoral da compositora é filtrada pela vibração pop do produtor musical Kassin, piloto do álbum Problema meu (Independente, 2016). Em bom português, o som mono das canções de Monomania são amplificadas em cena pelo elétrico som estéreo do quarteto formado por Kassin (baixo) com Danilo Andrade (teclados), João Erbeta (guitarra) e Pedro Garcia (bateria). É nessa vibração pop - encorpada na estreia carioca do show pelo coro do público que cantou quase todas as músicas com Clarice na apresentação iniciada no Circo Voador na primeira meia hora deste sábado, 16 de abril de 2016 - que a cantora destila as ironias que pautam obra autoral alvo de paixões e ódios Brasil afora. A ironia pode estar no simples fato de começar a cantar Eu esqueci você (Clarice Falcão, 2013) - música do álbum anterior - logo após Eu escolhi você (Clarice Falcão, 2016). Afinal, a compositora continua essencialmente a mesma, embora os matizes da safra autoral do álbum Problema meu sejam mais variados porque Kassin afastou a artista da estética lo-fi de Monomania. A essência da canção de Clarice - a mordacidade, a espirituosidade, a gênese aparentemente intuitiva das composições - permanece inalterada, reforçando a forte personalidade de obra autoral que tem gerado pérolas como Irônico (Clarice Falcão, 2016) - a marchinha pop com a qual Clarice pôs o disco, o show e o bloco na rua - e Deve ter sido eu (Clarice Falcão, 2016). A cantora tem carisma, interage bem com o público - inclusive nas falas, como o discurso sutilmente político e irônico que, na estreia carioca do show Problema meu, inflamou a plateia do Circo Voador a bradar em coro a expressão "Não vai ter golpe" - e exibe segurança ao desfiar o rosário de pérolas do repertório autoral. O único problema dela, em cena, é a pouca movimentação pelo palco. O som e as músicas são bem mais elétricas do que a postura estática da artista, que fica praticamente no mesmo lugar do palco ao longo do show, limitando-se a sentar na hora de cantar músicas como a melancólica balada Se esse bar fechar (Clarice Falcão, 2016), número que esboça clima de tristeza contrastante com a leveza do canto e do cancioneiro da artista. Clarice ainda pode explorar mais o espaço do palco. Até para ficar em sintonia com o astral vibrante do show feito para plateia que, no Rio, somente ficou mais quieta em músicas em inglês como Duet (Clarice Falcão, 2016) e I'll fly with you (Luigino D'Agostino, Carlos Montagner, Paolo Sandrini e Diego Leoni, 1999), balada lançada em disco há 17 anos pelo DJ italiano Gigi D'Agostino com o título em francês L'amour toujours.

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  2. Apresentada em medley com Talvez (Clarice Falcão, 2016), I'll fly with you deu rasante na estreia carioca do show Problema meu. Em contrapartida, a roqueira A volta do mecenas (Matheus Torreão, 2016) voou alto, surtindo mais efeito no palco do que no disco. A intervenção luminosa de Letícia Novaes em Eu me lembro (Clarice Falcão, 2013) - música gravada por Clarice com o cantor Silva no álbum Monomania - deu cor à apresentação carioca e subverteu o sentido sexual original do tema em número que culminou com dança e beijo na boca, preparando o clima para o mergulho intencionalmente kitsch de Banho de piscina (João Falcão, 2016), fervido número de ambientação brega que simula o ambiente passional dos vitrolões e inferninhos do Brasil periférico. No fim, o auto-deboche de Clarice (Clarice Falcão, 2016) e a exposição dos dilemas afetivos universais de Como é que eu vou dizer que acabou? (Clarice Falcão, 2016) corroboram a vibração pop do show, cujo bis teve Monomania (Clarice Falcão, 2016), o cover feminista de Survivor (Beyoncé Knowles, Anthony Dent e Mathew Knowles, 2001) - com direito a exibição do clipe deste sucesso do trio norte-americano Destiny's Child filmado por Clarice em 2015 em benefício de ONG que luta pelos direitos das mulheres - e a irresistível Vagabunda (Clarice Falcão, 2016), número finalizado com o toque da gaita da própria Clarice Falcão. Não gosta dela? Acha que a música dela é rudimentar, linear? Problema seu! Tal como o disco que lhe inspirou e lhe deu nome, o show Problema meu afirma Clarice Falcão na cena nacional. E nisso há nenhuma ironia...

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  3. Concordo com tudo escrito, Mauro. E acho que ela amadureceu bastante o canto.

    Te encontrei lá no show. Abraços!

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  4. oi, Jean, bem-vindo! Abs, obrigado, MauroF

    p.s.: como não vi o primeiro show, não pude comparar a questão do canto, mas acredito que tenha evoluído mesmo.

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