Resenha de álbum
Título: Duas cidades
Artista: BaianaSystem
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * *
♪ O título do segundo álbum do quarteto BaianaSystem, Duas cidades, alude ao fato de Salvador (BA) ser cidade partida ao meio, cortada por brutal divisão de classes sociais que aloca pobres e pretos na Cidade Baixa e brancos remediados na Cidade Alta. "Calamidade toma conta da cidade", alveja verso de Dia da caça (Russo Passapusso), uma das músicas mais politizadas dentre as 12 que compõem a safra autoral do disco, reforçada pelo coro das Ganhadeiras de Itapuã - ouvido também em Bala na agulha (Russo Passapusso) - e pontuada pelo toque da guitarra baiana de Roberto Barreto, integrante idealizador do grupo baiano. Contudo, o título Duas cidades bem podia aludir também a Salvador e a Kingston, a capital da Jamaica. O nome do grupo, BaianaSystem, já dá a pista de que o som feito por Passapusso (voz), Barreto (guitarra baiana), SekoBass (nome artístico do baixista Marcelo Secco) e Japa System (bateria e percussão) ecoa os graves dos SoundSystems que animaram os guetos de Kingston a partir da década de 1950, como sinalizou Playsom (Russo Passapusso), música de Duas cidades previamente lançada na web em fevereiro de 2015. Em cena desde 2009, já tenho lançado há seis anos o álbum de estreia, BaianaSystem (Garimpo Música, 2010), o quarteto tem transitado na velha ponte que liga a Bahia à Jamaica - conexão feita tanto pelo suingue da música produzida nos guetos como pelas injustiças sociais - com as altas doses de reggae e dub entranhadas em músicas como Jah Jah revolta parte 2 (Russo Passapusso, Roberto Barreto e SekoBass), tema instrumental do primeiro álbum que reaparece com letra em Duas cidades, assim como Barra avenida parte 2 (Roberto Barreto, Russo Passapusso, SekoBass, Chico Correa e Filipe Cartaxo). Tal ponte é recauchutada em Duas cidades com a adesão de Daniel Ganjaman, produtor e arranjador (ao lado do BaianaSystem) das músicas do álbum lançado nas plataformas digitais em 29 de março de 2016. Responsável pelos teclados e pelas programações eletrônicas, Ganjaman - o homem por trás do som e do sucesso do rapper paulistano Criolo, para quem não liga o nome à música - parece ter conseguido organizar as múltiplas referências do som do BaianaSystem. Graças em tese a Ganjaman, há unidade em disco que flerta livremente com os beats eletrônicos sem deixar de evidenciar batidas de ritmos populares como o pagode baiano - Márcio Victor, do grupo Psirico, toca percussão no samba-título Duas cidades (Russo Passapusso e SekoBass), a propósito - e a música afro-pop-baiana genericamente como axé music. Duas cidades é álbum que evidencia contrastes entre o preto e o branco tanto no sentido musical quanto no humano. E os matizes são variados, o que justifica o toque da rabeca do pernambucano Siba no tema instrumental Cigano (Roberto Barreto e Seko Bass). Nada soa óbvio na travessia de Duas cidades. Tanto que o disco encerra com Azul (Roberto Barreto), tema no qual ouve-se somente o toque da guitarra baiana de Barreto, mas longe da massa dos trios elétricos. Ao seguir na ponte Salvador-Jamaica com segurança, BaianaSystem aponta caminhos para a exaurida música da Bahia.
♪ O título do segundo álbum do quarteto BaianaSystem, Duas cidades, alude ao fato de Salvador (BA) ser cidade partida ao meio, cortada por brutal divisão de classes sociais que aloca pobres e pretos na Cidade Baixa e brancos remediados na Cidade Alta. "Calamidade toma conta da cidade", alveja verso de Dia da caça (Russo Passapusso), uma das músicas mais politizadas dentre as 12 que compõem a safra autoral do disco, reforçada pelo coro das Ganhadeiras de Itapuã - ouvido também em Bala na agulha (Russo Passapusso) - e pontuada pelo toque da guitarra baiana de Roberto Barreto, integrante idealizador do grupo baiano. Contudo, o título Duas cidades bem podia aludir também a Salvador e a Kingston, a capital da Jamaica. O nome do grupo, BaianaSystem, já dá a pista de que o som feito por Passapusso (voz), Barreto (guitarra baiana), SekoBass (nome artístico do baixista Marcelo Secco) e Japa System (bateria e percussão) ecoa os graves dos SoundSystems que animaram os guetos de Kingston a partir da década de 1950, como sinalizou Playsom (Russo Passapusso), música de Duas cidades previamente lançada na web em fevereiro de 2015. Em cena desde 2009, já tenho lançado há seis anos o álbum de estreia, BaianaSystem (Garimpo Música, 2010), o quarteto tem transitado na velha ponte que liga a Bahia à Jamaica - conexão feita tanto pelo suingue da música produzida nos guetos como pelas injustiças sociais - com as altas doses de reggae e dub entranhadas em músicas como Jah Jah revolta parte 2 (Russo Passapusso, Roberto Barreto e SekoBass), tema instrumental do primeiro álbum que reaparece com letra em Duas cidades, assim como Barra avenida parte 2 (Roberto Barreto, Russo Passapusso, SekoBass, Chico Correa e Filipe Cartaxo). Tal ponte é recauchutada em Duas cidades com a adesão de Daniel Ganjaman, produtor e arranjador (ao lado do BaianaSystem) das músicas do álbum lançado nas plataformas digitais em 29 de março de 2016. Responsável pelos teclados e pelas programações eletrônicas, Ganjaman - o homem por trás do som e do sucesso do rapper paulistano Criolo, para quem não liga o nome à música - parece ter conseguido organizar as múltiplas referências do som do BaianaSystem. Graças em tese a Ganjaman, há unidade em disco que flerta livremente com os beats eletrônicos sem deixar de evidenciar batidas de ritmos populares como o pagode baiano - Márcio Victor, do grupo Psirico, toca percussão no samba-título Duas cidades (Russo Passapusso e SekoBass), a propósito - e a música afro-pop-baiana genericamente como axé music. Duas cidades é álbum que evidencia contrastes entre o preto e o branco tanto no sentido musical quanto no humano. E os matizes são variados, o que justifica o toque da rabeca do pernambucano Siba no tema instrumental Cigano (Roberto Barreto e Seko Bass). Nada soa óbvio na travessia de Duas cidades. Tanto que o disco encerra com Azul (Roberto Barreto), tema no qual ouve-se somente o toque da guitarra baiana de Barreto, mas longe da massa dos trios elétricos. Ao seguir na ponte Salvador-Jamaica com segurança, BaianaSystem aponta caminhos para a exaurida música da Bahia.
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