Resenha de álbum
Título: Elza canta e chora Lupi
Artista: Elza Soares
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2
♪ "Através de Lupicínio, eu cheguei até onde cheguei", diz Elza Soares no palco do gaúcho Theatro São Pedro, após cantar o samba-canção Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952). Ao se referir ao fato de ter despontado para a fama em dezembro de 1959 com regravação de samba de Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974), Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938), a cantora carioca justificou a emoção de estar em Porto Alegre (RS), cidade natal do compositor gaúcho, cantando e chorando Lupi. Naquela ocasião, em dezembro de 2014, Elza apresentou e gravou ao vivo o show que estreara em maio daquele ano em tributo ao centenário de nascimento deste compositor que destilou mágoas e ressentimentos em sambas-canção que entraram para a história da música brasileira. Lançado neste mês de abril de 2016 em CD e DVD, em edição da Coqueiro Verde Records, Elza canta e chora Lupi perpetua a versão cenicamente mais bem-acabada do show, cujo registro audiovisual foi feito pela Estação Filmes sob direção de Rene Goya. Para o registro audiovisual, viabilizado através de parceria da Joner Produções com a Barravento Artes, Carla Joner aditivou o show com elementos cênicos, projeções e um então inédito desenho de luz. Contudo, musicalmente, o espetáculo manteve a direção criada e seguida pelo saxofonista Eduardo Neves deste a estreia nacional da turnê do show idealizado por Glauber Amaral. Com generoso espaço para os sopros de Neves, como sinalizam as abordagens de músicas como Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1944) e Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948), os arranjos geralmente caem em suingue jazzy, evocando a atmosfera noir dos cabarés dos anos 1940 e 1950, décadas áureas da produção autoral de Lupicínio. A direção musical vai na contramão da linha melodramática da obra do compositor. Conduzida pelo suingue, Elza dilui as dores do cancioneiro de Lupicínio Rodrigues em gravação ao vivo que soa correta, mas sem o impacto revigorante do álbum A mulher do fim do mundo (Circus, 2015), gravado depois de Elza canta e chora Lupi, mas lançado antes. Ouvida sem acompanhamento na abertura, na interpretação a capella de Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960), a voz rouca de Elza quase nunca vai fundo na emoção, freada pelo suingue que pauta registros como o de Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1960), feito no mesmo andamento acelerado que conduz Ela disse-me assim (Vá embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959). Mesmo assim, Elza põe o bloco na rua ao reabrir Caixa de ódio (Lupicínio Rodrigues, 1966) na batida de marcha e enche de sentimento Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1949). Sempre elegante, a direção musical do show poda excessos dramáticos de sambas-canção como Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951), embora tais excessos (de ódios, mágoas e ressentimentos) sejam a matéria-prima do cancioneiro composto por Lupi a sós ou com parceiros como o também gaúcho Alcides Gonçalves (1908 - 1987), coautor da valsa de temática sulista Jardim da saudade (1952), lançada em disco por Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e ouvida em Elza canta e chora Lupi em virtuoso registro instrumental que reitera o approach jazzy do cancioneiro de Lupicínio pela banda orquestrada por Eduardo Neves. Assim como Amigo ciúme (Lupicínio Rodrigues, 1957), samba-canção lançado por Angela Maria e ora revivido por Elza com a voz ainda cheia de viço, Jardim da saudade é título atualmente mais obscuro de roteiro que prioriza as músicas mais conhecidas do compositor sem evitar standards de Lupi como Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957) e Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947). Contudo, é no esquecido samba Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1950) - lançado em disco pela cantora paulista Isaura Garcia (1919 - 1993) - que Elza vive a apoteose vocal da gravação ao vivo, pirando progressivamente neste registro em que simula voz de bêbada e louca, em fina ironia. Só que, no todo, Elza canta e chora Lupi sem a devida dose de loucura que habita a alma desta cantora capaz de ir além do que mostra neste projeto dedicado ao compositor através do qual chegou aonde chegou, avançando, ora recuando, mas evoluindo sempre que se recusa a repisar o antigo jardim da saudade.
♪ "Através de Lupicínio, eu cheguei até onde cheguei", diz Elza Soares no palco do gaúcho Theatro São Pedro, após cantar o samba-canção Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952). Ao se referir ao fato de ter despontado para a fama em dezembro de 1959 com regravação de samba de Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974), Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938), a cantora carioca justificou a emoção de estar em Porto Alegre (RS), cidade natal do compositor gaúcho, cantando e chorando Lupi. Naquela ocasião, em dezembro de 2014, Elza apresentou e gravou ao vivo o show que estreara em maio daquele ano em tributo ao centenário de nascimento deste compositor que destilou mágoas e ressentimentos em sambas-canção que entraram para a história da música brasileira. Lançado neste mês de abril de 2016 em CD e DVD, em edição da Coqueiro Verde Records, Elza canta e chora Lupi perpetua a versão cenicamente mais bem-acabada do show, cujo registro audiovisual foi feito pela Estação Filmes sob direção de Rene Goya. Para o registro audiovisual, viabilizado através de parceria da Joner Produções com a Barravento Artes, Carla Joner aditivou o show com elementos cênicos, projeções e um então inédito desenho de luz. Contudo, musicalmente, o espetáculo manteve a direção criada e seguida pelo saxofonista Eduardo Neves deste a estreia nacional da turnê do show idealizado por Glauber Amaral. Com generoso espaço para os sopros de Neves, como sinalizam as abordagens de músicas como Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1944) e Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948), os arranjos geralmente caem em suingue jazzy, evocando a atmosfera noir dos cabarés dos anos 1940 e 1950, décadas áureas da produção autoral de Lupicínio. A direção musical vai na contramão da linha melodramática da obra do compositor. Conduzida pelo suingue, Elza dilui as dores do cancioneiro de Lupicínio Rodrigues em gravação ao vivo que soa correta, mas sem o impacto revigorante do álbum A mulher do fim do mundo (Circus, 2015), gravado depois de Elza canta e chora Lupi, mas lançado antes. Ouvida sem acompanhamento na abertura, na interpretação a capella de Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960), a voz rouca de Elza quase nunca vai fundo na emoção, freada pelo suingue que pauta registros como o de Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1960), feito no mesmo andamento acelerado que conduz Ela disse-me assim (Vá embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959). Mesmo assim, Elza põe o bloco na rua ao reabrir Caixa de ódio (Lupicínio Rodrigues, 1966) na batida de marcha e enche de sentimento Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1949). Sempre elegante, a direção musical do show poda excessos dramáticos de sambas-canção como Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951), embora tais excessos (de ódios, mágoas e ressentimentos) sejam a matéria-prima do cancioneiro composto por Lupi a sós ou com parceiros como o também gaúcho Alcides Gonçalves (1908 - 1987), coautor da valsa de temática sulista Jardim da saudade (1952), lançada em disco por Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e ouvida em Elza canta e chora Lupi em virtuoso registro instrumental que reitera o approach jazzy do cancioneiro de Lupicínio pela banda orquestrada por Eduardo Neves.
ResponderExcluirAssim como Amigo ciúme (Lupicínio Rodrigues, 1957), samba-canção lançado por Angela Maria e ora revivido por Elza com a voz ainda cheia de viço, Jardim da saudade é título atualmente mais obscuro de roteiro que prioriza as músicas mais conhecidas do compositor sem evitar standards de Lupi como Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957) e Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947). Contudo, é no esquecido samba Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1950) - lançado em disco pela cantora paulista Isaura Garcia (1919 - 1993) - que Elza vive a apoteose vocal da gravação ao vivo, pirando progressivamente neste registro em que simula voz de bêbada e louca, em fina ironia. Só que, no todo, Elza canta e chora Lupi sem a devida dose de loucura que habita a alma desta cantora capaz de ir além do que mostra neste projeto dedicado ao compositor através do qual chegou aonde chegou, avançando sempre que se recusa a repisar o antigo jardim da saudade.
ResponderExcluirmauro, é sério que saiu em CD também? o///
ResponderExcluirRicardo, 'Elza canta e chora Lupi' vai estar nas lojas ainda neste m~es de abril em kit de CD + DVD, no molde habitual das edições de gravações ao vivo feitas pela Coqueiro Verde Records. Abs, MauroF
ResponderExcluirEsta Elza e a sambista me interessam muito. A Elza do fim do mundo, carnes e afins eu passo.
ResponderExcluirAbs
Ps: a do fim do mundo só gostei do samba (Maria da Vila Matilde(??)). O resto é bastante super valorizado. Resultado: deixei na loja.
Discaço... Claro que comprarei o meu...
ResponderExcluirElza é divina... É muito bom saber que esse trabalho também sairá em CD... Salve a boa música brasileira...
ResponderExcluirtinha que ter saído antes do disco com os músicos paulistas, agora vai parecer velho
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