sexta-feira, 1 de abril de 2016

O repertório é mesmo outro, mas Jerry Adriani continua o mesmo em 'Outro'

Resenha de CD e DVD
Título: Outro Jerry Adriani
Artista: Jerry Adriani
Gravadora: Deck
Cotação: * * 

Com estilo kitsch de canto, tendendo a exacerbar tons, o paulistano (do Brás) Jerry Adriani - nome artístico do cantor Jair Alves de Souza - é sintomaticamente associado às passionais canções italianas. Ídolo da Jovem Guarda, o cantor raramente saiu do universo populista a que foi confinado pela indústria da música desde a estreia em disco, em 1964. Um desses momentos foi com o álbum Forza sempre (Indie Records, 1999), no qual deu voz a versões em italiano de músicas do repertório da banda Legião Urbana, explorando a semelhança de timbre com o vocalista do grupo, Renato Russo (1960 - 1996).  Outro Jerry Adriani - CD e DVD editados na Coleção Canal Brasil e distribuídos no mercado fonográfico pela gravadora Deck em março de 2016 - explicita já no título a intenção de apresentar um outro Jerry em gravação ao vivo captada em estúdio com imagens em preto e branco. Com roteiro que transita por sucessos da MPB, standard do jazz, tango e canção francesa, o repertório poliglota é mesmo outro. Contudo, o cantor continua o mesmo em Outro Jerry Adriani. O pretenso clima de intimidade é quebrado logo no primeiro número pelos tons expansivos com que Jerry aborda, sentado, You've changed (Bill Carey e Carl Fischer, 1941), canção jazzística associada à voz da cantora norte-americana Billie Holiday (1915 - 1959). Sob convencional direção musical de Billy Blanco Jr., Jerry jamais altera o estilo de canto ao interpretar de forma abolerada o tango argentino Uno (Mariano Mores - e não Moraes, como creditado no encarte - e Enrique Santos Discépolo, 1943) e canções da MPB como a balada apaixonada Lembra de mim (Ivan Lins e Vitor Martins, 1995). Conduzida pelo piano de Gustavo Tibi, a balada A medida da paixão (Lenine e Dudu Falcão, 1999) ratifica a falta de nuances nas interpretações do cantor. A linearidade do canto é tanta que até se sobrepõe ao toque virtuoso do acordeom de Marcos Nimrichter, músico que entra como convidado em números como o já citado tango Uno e a canção francesa Hier encore (Charles Aznavour, 1964). Justiça seja feita: a culpa não é (somente) de Jerry. Faltou aos dois diretores, Thadeus Vivas e Bernardo Mendonça, mais rigor na condução do intérprete em cena, já que a intenção era mostrar outro Jerry Adriani. Não adianta Jerry se limitar a mudar a posição no palco - ora sentado, como no canto do bolero Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998) ora de pé - se o tom pouco ou nada muda. Nem o clima roqueiro de Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971) soa original porque evoca de forma pálida o registro feito por Arnaldo Antunes no álbum Ninguém (BMG, 1995). Mesmo que acerte eventualmente o tom, como em Guia (Pierre Aderne e Mercio Faraco, 2010), nostálgica e melancólica canção que batizou em 2010 o quarto álbum do cantor português António Zambujo, Jerry se mostra o mesmo neste DVD que exibe, nos extras, registros acústicos - feitos com o toque do violão de Billy Blanco Jr. - de Coração ateu (Sueli Costa, 1975) e de Georgia on my mind (Hoagy Carmichael e Stuart Gorrell, 1930), soul associado desde 1960 à voz icônica de Ray Charles (1930 - 2004). Enfim, não há outro Jerry Adriani nesta gravação ao vivo entrecortada por coloridas imagens externas que destoam do tom do registro. Há, sim, o mesmo Jerry de sempre. Para júbilo do público que acompanha o cantor em italiano e em português desde as jovens tardes de domingo.

6 comentários:

  1. ♪ Com estilo kitsch de canto, tendendo a exacerbar tons, o paulistano (do Brás) Jerry Adriani - nome artístico do cantor Jair Alves de Souza - é sintomaticamente associado às passionais canções italianas. Ídolo da Jovem Guarda, o cantor raramente saiu do universo populista a que foi confinado pela indústria da música desde a estreia em disco, em 1964. Um desses momentos foi com o álbum Forza sempre (Indie Records, 1999), no qual deu voz a versões em italiano de músicas do repertório da banda Legião Urbana, explorando a semelhança de timbre com o vocalista do grupo, Renato Russo (1960 - 1996). Outro Jerry Adriani - CD e DVD editados na Coleção Canal Brasil e distribuídos no mercado fonográfico pela gravadora Deck em março de 2016 - explicita já no título a intenção de apresentar um outro Jerry em gravação ao vivo captada em estúdio com imagens em preto e branco. Com roteiro que transita por sucessos da MPB, standard do jazz, tango e canção francesa, o repertório poliglota é mesmo outro. Contudo, o cantor continua o mesmo em Outro Jerry Adriani. O pretenso clima de intimidade é quebrado logo no primeiro número pelos tons expansivos com que Jerry aborda, sentado, You've changed (Bill Carey e Carl Fischer, 1941), canção jazzística associada à voz da cantora norte-americana Billie Holiday (1915 - 1959). Sob convencional direção musical de Billy Blanco Jr., Jerry jamais altera o estilo de canto ao interpretar de forma abolerada o tango argentino Uno (Mariano Mores - e não Moraes, como creditado no encarte - e Enrique Santos Discépolo, 1943) e canções da MPB como a balada apaixonada Lembra de mim (Ivan Lins e Vitor Martins, 1995). Conduzida pelo piano de Gustavo Tibi, a balada A medida da paixão (Lenine e Dudu Falcão, 1999) ratifica a falta de nuances nas interpretações do cantor. A linearidade do canto é tanta que até se sobrepõe ao toque virtuoso do acordeom de Marcos Nimrichter, músico que entra como convidado em números como o já citado tango Uno e a canção francesa Hier encore (Charles Aznavour, 1964). Justiça seja feita: a culpa não é (somente) de Jerry. Faltou aos dois diretores, Thadeus Vivas e Bernardo Mendonça, mais rigor na condução do intérprete em cena, já que a intenção era mostrar outro Jerry Adriani. Não adianta Jerry se limitar a mudar a posição no palco - ora sentado, como no canto do bolero Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998) ora de pé - se o tom pouco ou nada muda. Nem o clima roqueiro de Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971) soa original porque evoca de forma pálida o registro feito por Arnaldo Antunes no álbum Ninguém (BMG, 1995). Mesmo que acerte eventualmente o tom, como em Guia (Pierre Aderne e Mercio Faraco, 2010), nostálgica e melancólica canção que batizou em 2010 o quarto álbum do cantor português António Zambujo, Jerry se mostra o mesmo neste DVD que exibe, nos extras, registros acústicos - feitos com o toque do violão de Billy Blanco Jr. - de Coração ateu (Sueli Costa, 1975) e de Georgia on my mind (Hoagy Carmichael e Stuart Gorrell, 1930), soul associado desde 1960 à voz icônica de Ray Charles (1930 - 2004). Enfim, não há outro Jerry Adriani nesta gravação ao vivo entrecortada por coloridas imagens externas que destoam do tom do registro. Há, sim, o mesmo Jerry de sempre. Para júbilo do público que acompanha o cantor em italiano e em português desde as jovens tardes de domingo.

    ResponderExcluir
  2. "vamos pular, vamos pular, vamos pular"


    Ricardo Sérgio

    ResponderExcluir
  3. Os artistas da jovem guarda tem a imagem associada ao brega e não ao rock,estranho não!

    ResponderExcluir
  4. Geralmente os artistas da jovem guarda após optaram por um repertório romântico popular que rotulam de brega. O único que foi bem sucedido foi Roberto Carlos.

    ResponderExcluir
  5. Ouvi o disco na Deezer e não achei grande coisa...

    ResponderExcluir
  6. Achei meio lento. Sendo assim, carecia de uma performance bem melhor do Jerry para dar vida ao apurado repertório. Nesse caso, preferi aquele "outro" Jerry Adriani, o da Jovem Guarda.

    ResponderExcluir

Este é um espaço democrático para a emissão de opiniões, sobretudo as divergentes. Contudo, qualquer comentário feito com agressividade ou ofensas - dirigidas a mim, aos artistas ou aos leitores do blog - será recusado. Grato pela participação, Mauro Ferreira

P.S.: Para comentar, é preciso ter um gmail ou qualquer outra conta do google.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.