Título: Outro Jerry Adriani
Artista: Jerry Adriani
Gravadora: Deck
Cotação: * *
♪ Com estilo kitsch de canto, tendendo a exacerbar tons, o paulistano (do Brás) Jerry Adriani - nome artístico do cantor Jair Alves de Souza - é sintomaticamente associado às passionais canções italianas. Ídolo da Jovem Guarda, o cantor raramente saiu do universo populista a que foi confinado pela indústria da música desde a estreia em disco, em 1964. Um desses momentos foi com o álbum Forza sempre (Indie Records, 1999), no qual deu voz a versões em italiano de músicas do repertório da banda Legião Urbana, explorando a semelhança de timbre com o vocalista do grupo, Renato Russo (1960 - 1996). Outro Jerry Adriani - CD e DVD editados na Coleção Canal Brasil e distribuídos no mercado fonográfico pela gravadora Deck em março de 2016 - explicita já no título a intenção de apresentar um outro Jerry em gravação ao vivo captada em estúdio com imagens em preto e branco. Com roteiro que transita por sucessos da MPB, standard do jazz, tango e canção francesa, o repertório poliglota é mesmo outro. Contudo, o cantor continua o mesmo em Outro Jerry Adriani. O pretenso clima de intimidade é quebrado logo no primeiro número pelos tons expansivos com que Jerry aborda, sentado, You've changed (Bill Carey e Carl Fischer, 1941), canção jazzística associada à voz da cantora norte-americana Billie Holiday (1915 - 1959). Sob convencional direção musical de Billy Blanco Jr., Jerry jamais altera o estilo de canto ao interpretar de forma abolerada o tango argentino Uno (Mariano Mores - e não Moraes, como creditado no encarte - e Enrique Santos Discépolo, 1943) e canções da MPB como a balada apaixonada Lembra de mim (Ivan Lins e Vitor Martins, 1995). Conduzida pelo piano de Gustavo Tibi, a balada A medida da paixão (Lenine e Dudu Falcão, 1999) ratifica a falta de nuances nas interpretações do cantor. A linearidade do canto é tanta que até se sobrepõe ao toque virtuoso do acordeom de Marcos Nimrichter, músico que entra como convidado em números como o já citado tango Uno e a canção francesa Hier encore (Charles Aznavour, 1964). Justiça seja feita: a culpa não é (somente) de Jerry. Faltou aos dois diretores, Thadeus Vivas e Bernardo Mendonça, mais rigor na condução do intérprete em cena, já que a intenção era mostrar outro Jerry Adriani. Não adianta Jerry se limitar a mudar a posição no palco - ora sentado, como no canto do bolero Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998) ora de pé - se o tom pouco ou nada muda. Nem o clima roqueiro de Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971) soa original porque evoca de forma pálida o registro feito por Arnaldo Antunes no álbum Ninguém (BMG, 1995). Mesmo que acerte eventualmente o tom, como em Guia (Pierre Aderne e Mercio Faraco, 2010), nostálgica e melancólica canção que batizou em 2010 o quarto álbum do cantor português António Zambujo, Jerry se mostra o mesmo neste DVD que exibe, nos extras, registros acústicos - feitos com o toque do violão de Billy Blanco Jr. - de Coração ateu (Sueli Costa, 1975) e de Georgia on my mind (Hoagy Carmichael e Stuart Gorrell, 1930), soul associado desde 1960 à voz icônica de Ray Charles (1930 - 2004). Enfim, não há outro Jerry Adriani nesta gravação ao vivo entrecortada por coloridas imagens externas que destoam do tom do registro. Há, sim, o mesmo Jerry de sempre. Para júbilo do público que acompanha o cantor em italiano e em português desde as jovens tardes de domingo.
6 comentários:
♪ Com estilo kitsch de canto, tendendo a exacerbar tons, o paulistano (do Brás) Jerry Adriani - nome artístico do cantor Jair Alves de Souza - é sintomaticamente associado às passionais canções italianas. Ídolo da Jovem Guarda, o cantor raramente saiu do universo populista a que foi confinado pela indústria da música desde a estreia em disco, em 1964. Um desses momentos foi com o álbum Forza sempre (Indie Records, 1999), no qual deu voz a versões em italiano de músicas do repertório da banda Legião Urbana, explorando a semelhança de timbre com o vocalista do grupo, Renato Russo (1960 - 1996). Outro Jerry Adriani - CD e DVD editados na Coleção Canal Brasil e distribuídos no mercado fonográfico pela gravadora Deck em março de 2016 - explicita já no título a intenção de apresentar um outro Jerry em gravação ao vivo captada em estúdio com imagens em preto e branco. Com roteiro que transita por sucessos da MPB, standard do jazz, tango e canção francesa, o repertório poliglota é mesmo outro. Contudo, o cantor continua o mesmo em Outro Jerry Adriani. O pretenso clima de intimidade é quebrado logo no primeiro número pelos tons expansivos com que Jerry aborda, sentado, You've changed (Bill Carey e Carl Fischer, 1941), canção jazzística associada à voz da cantora norte-americana Billie Holiday (1915 - 1959). Sob convencional direção musical de Billy Blanco Jr., Jerry jamais altera o estilo de canto ao interpretar de forma abolerada o tango argentino Uno (Mariano Mores - e não Moraes, como creditado no encarte - e Enrique Santos Discépolo, 1943) e canções da MPB como a balada apaixonada Lembra de mim (Ivan Lins e Vitor Martins, 1995). Conduzida pelo piano de Gustavo Tibi, a balada A medida da paixão (Lenine e Dudu Falcão, 1999) ratifica a falta de nuances nas interpretações do cantor. A linearidade do canto é tanta que até se sobrepõe ao toque virtuoso do acordeom de Marcos Nimrichter, músico que entra como convidado em números como o já citado tango Uno e a canção francesa Hier encore (Charles Aznavour, 1964). Justiça seja feita: a culpa não é (somente) de Jerry. Faltou aos dois diretores, Thadeus Vivas e Bernardo Mendonça, mais rigor na condução do intérprete em cena, já que a intenção era mostrar outro Jerry Adriani. Não adianta Jerry se limitar a mudar a posição no palco - ora sentado, como no canto do bolero Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998) ora de pé - se o tom pouco ou nada muda. Nem o clima roqueiro de Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971) soa original porque evoca de forma pálida o registro feito por Arnaldo Antunes no álbum Ninguém (BMG, 1995). Mesmo que acerte eventualmente o tom, como em Guia (Pierre Aderne e Mercio Faraco, 2010), nostálgica e melancólica canção que batizou em 2010 o quarto álbum do cantor português António Zambujo, Jerry se mostra o mesmo neste DVD que exibe, nos extras, registros acústicos - feitos com o toque do violão de Billy Blanco Jr. - de Coração ateu (Sueli Costa, 1975) e de Georgia on my mind (Hoagy Carmichael e Stuart Gorrell, 1930), soul associado desde 1960 à voz icônica de Ray Charles (1930 - 2004). Enfim, não há outro Jerry Adriani nesta gravação ao vivo entrecortada por coloridas imagens externas que destoam do tom do registro. Há, sim, o mesmo Jerry de sempre. Para júbilo do público que acompanha o cantor em italiano e em português desde as jovens tardes de domingo.
"vamos pular, vamos pular, vamos pular"
Ricardo Sérgio
Os artistas da jovem guarda tem a imagem associada ao brega e não ao rock,estranho não!
Geralmente os artistas da jovem guarda após optaram por um repertório romântico popular que rotulam de brega. O único que foi bem sucedido foi Roberto Carlos.
Ouvi o disco na Deezer e não achei grande coisa...
Achei meio lento. Sendo assim, carecia de uma performance bem melhor do Jerry para dar vida ao apurado repertório. Nesse caso, preferi aquele "outro" Jerry Adriani, o da Jovem Guarda.
Postar um comentário