Título: Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana
Artista: Dori Caymmi (a partir de texto de Mário Lago)
Gravadora: Acari Records
Cotação: * * * 1/2
♪ Na década de 1970, o ator, compositor e poeta carioca Mário Lago (1911 - 2002) ampliou o caráter multimídia da obra militante ao escrever o texto de espetáculo musical de caráter histórico sobre a Conjuração Baiana, movimento de 1798 pela independência do Brasil que culminou, em 8 de novembro de 1799, com o enforcamento dos quatro líderes negros da revolta (João de Deus Nascimento, Lucas Dantas Torres, Luiz Gonzaga das Virgens e Manuel Faustino dos Santos). Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana - disco lançado pela gravadora carioca Acari Records neste mês de abril de 2016 - apresenta as 14 músicas feitas por Dori Caymmi em 2014 a partir do texto inédito do acervo de Lago. O compositor carioca criou as músicas sem se rebelar contra o próprio estilo de música, já naturalmente entranhada nas trilhas mais profundas do Brasil interiorano de rios, matas e sertões. Embora sem apresentar repertório à altura das estupendas safras autorais dos últimos álbuns de Dori, centrados na parceria do artista com o compositor e poeta Paulo César Pinheiro, o CD Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana reitera e finca cânones da obra nacionalista de Dori nas 14 faixas que totalizam meros 27 minutos (a maioria dos temas dura um ou dois minutos). Após a abertura, feita com texto recitado em que o ator Milton Gonçalves comete erro (apontado no encarte do disco) ao situar a morte dos Tiradentes baianos em 1779, a música Cantadores remete de cara ao universo nordestino na rima dos versos entoados por Dori com Sérgio Santos (cantor mineiro identificado com os sons desse Brasil profundo). O disco, aliás, tem time estelar de solistas. Intérpretes de Bateram no boi, as cantoras Joyce Moreno e Mônica Salmaso são nomes recorrentes na ficha técnica do álbum, assim como Sérgio Santos e Renato Braz (grande cantor paulista cuja voz grave e densa se afina com o universo musical de Dori). Em Viver de pecar, Braz forma como Dori, Joyce e Salmaso um quarteto fantástico de intérpretes que entendem o que está sendo cantado. O sotaque lusitano da voz de Roberto Leão - ouvida em Governador, tema gravado somente com o violão de Dori - evoca o Portugal que mantinha o Brasil sobre jugo do qual os quatro bravos Tiradentes baianos tentaram em vão livrar o país a partir do movimento que mobilizou Salvador (BA) e o Recôncavo Baiano. Ouvintes atentos identificarão no arranjo de Como foi - música cantada por Renato Braz - sonoridade que remete à trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975), da qual Dori participou como compositor e arranjador. Talvez pelo toque das flautas, a cargo de Teco Cardoso em Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana. Músico magistral, Teco consegue evocar pelo toque das flautas o clima de luta embutido em Vai isso vai. Por mais que os textos de músicas como A coroa balançou e Número um é o primeiro tenham sido escritos para a cena, as composições - na grande maioria - ganham vida própria no disco. Cantada por Dori com Sérgio Santos no fecho do disco, a sombria Escuro é exemplo de como a música nacionalista de Dori Caymmi deu peso ao texto (já originalmente poético, no caso de Escuro) de Mário Lago, levando Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana para rincões distantes de Brasil que ainda vive sob jugos de forças dominadoras, sinalizando que a revolta continua em cena.
4 comentários:
♪ Na década de 1970, o ator, compositor e poeta carioca Mário Lago (1911 - 2002) ampliou o caráter multimídia da obra militante ao escrever o texto de espetáculo musical de caráter histórico sobre a Conjuração Baiana, movimento de 1798 pela independência do Brasil que culminou, em 8 de novembro de 1799, com o enforcamento dos quatro líderes negros da revolta (João de Deus Nascimento, Lucas Dantas Torres, Luiz Gonzaga das Virgens e Manuel Faustino dos Santos). Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana - disco lançado pela gravadora carioca Acari Records neste mês de abril de 2016 - apresenta as 14 músicas feitas por Dori Caymmi em 2014 a partir do texto inédito do acervo de Lago. O compositor carioca criou as músicas sem se rebelar contra o próprio estilo de música, já naturalmente entranhada nas trilhas mais profundas do Brasil interiorano de rios, matas e sertões. Embora sem apresentar repertório à altura das estupendas safras autorais dos últimos álbuns de Dori, centrados na parceria do artista com o compositor e poeta Paulo César Pinheiro, o CD Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana reitera e finca cânones da obra nacionalista de Dori nas 14 faixas que totalizam meros 27 minutos (a maioria dos temas dura um ou dois minutos). Após a abertura, feita com texto recitado em que o ator Milton Gonçalves comete erro (apontado no encarte do disco) ao situar a morte dos Tiradentes baianos em 1779, a música Cantadores remete de cara ao universo nordestino na rima dos versos entoados por Dori com Sérgio Santos (cantor mineiro identificado com os sons desse Brasil profundo). O disco, aliás, tem time estelar de solistas. Intérpretes de Bateram no boi, as cantoras Joyce Moreno e Mônica Salmaso são nomes recorrentes na ficha técnica do álbum, assim como Sérgio Santos e Renato Braz (grande cantor paulista cuja voz grave e densa se afina com o universo musical de Dori). Em Viver de pecar, Braz forma como Dori, Joyce e Salmaso um quarteto fantástico de intérpretes que entendem o que está sendo cantado. O sotaque lusitano da voz de Roberto Leão - ouvida em Governador, tema gravado somente com o violão de Dori - evoca o Portugal que mantinha o Brasil sobre jugo do qual os quatro bravos Tiradentes baianos tentaram em vão livrar o país a partir do movimento que mobilizou Salvador (BA) e o Recôncavo Baiano. Ouvintes atentos identificarão no arranjo de Como foi - música cantada por Renato Braz - sonoridade que remete à trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975), da qual Dori participou como compositor e arranjador. Talvez pelo toque das flautas, a cargo de Teco Cardoso em Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana. Músico magistral, Teco consegue evocar pelo toque das flautas o clima de luta embutido em Vai isso vai. Por mais que os textos de músicas como A coroa balançou e Número um é o primeiro tenham sido escritos para a cena, as composições - na grande maioria - ganham vida própria no disco. Cantada por Dori com Sérgio Santos no fecho do disco, a sombria Escuro é exemplo de como a música nacionalista de Dori Caymmi deu peso ao texto (já originalmente poético, no caso de Escuro) de Mário Lago, levando Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana para rincões distantes de Brasil que ainda vive sob jugos de forças dominadoras, sinalizando que a revolta continua em cena.
Dori Caymmi, musicando texto de Mário Lago ?
Eu preciso ouvir este novo trabalho! Dori já tinha feito algo parecido em "Poesia Musicada" de 2011, que eu adorei :)
Dori é craque, nem ouvi mas já gostei
Roberto Leão não é o Roberto Leal,que fique bem claro.
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