sexta-feira, 6 de maio de 2016

'Bar do Leo' bebe da fonte de 'Cabaré' e dilui a sofrência com doses de álcool

Resenha de álbum
Título: Bar do Leo
Artista: Leonardo
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 

Leonardo saiu do cabaré e foi afogar as mágoas de amor na mesa de um bar. Sucessor do CD e DVD Cabaré (Sony Music, 2014), projeto fonográfico gravado pelo cantor goiano com o colega mineiro Eduardo Costa, Bar do Leo - disco produzido por Romário Rodrigues e Leandro Porto - é praticamente um álbum conceitual sobre amor e álcool. A maioria das 13 músicas do repertório - hábil na mistura de composições inéditas com regravações de sucessos do universo sertanejo como Embriagado de amor (Elias Muniz, 2000) - versa sobre a sofrência curtida entre altas doses de bebida. Só que Leonardo bebe todas sem deixar de destilar certa dose de ironia. "Quando me falaram de você / Sabe o que foi que eu disse? / O gelo que ela me deu / Tô tomando com whisky", dispara Leonardo no embriagante refrão de O gelo (Everton Matos, Diego Ferreira e André Vox, 2014), música lançada na voz do cantor-xará Léo Magalhães. Naturalmente choroso, o canto de Leonardo soa menos lacrimejante neste disco em que os arranjos - criados em maioria por Romário Rodrigues com acordeons e metais - ignoram a moda pop do sertanejo universitário e soam enraizados nas tradições caipiras dos interiores do Brasil em sintonia com o espírito popular de músicas como as inéditas Pergunte ao dono do bar (Carlinhos Maia, Manoel Mello e Marquinhos Paz) e Do bar pra igreja (Maracaí, João Gustavo e Éder Brandão), tema levemente embebido no universo da música country norte-americana. Faixa previamente enviada às rádios sertanejas em novembro de 2015, Dona do meu destino (Zé Henrique, 2005) - música lançada nas vozes da dupla goiana Zé Henrique & Gabriel - mostrou que, a rigor, Bar do Leo - o 19º álbum da discografia solo de Leonardo - bebe muito da fonte de Cabaré. É fato que é dose ouvir Leonardo reviver Só um grande amor (Clive Davis e Graham Russell, 1980, em versão em português de Roberto Merli, 2009) - que vem a ser a versão brasileira de All out of love, balada da dupla Air Suply já revivida na mesma versão caipira pela dupla Rene e Ronaldo - no habitual tom lacrimejante. Tom acentuado na também destoante lembrança de Ternura (Somehow it got to be tomorrow today) (Estelle Levitt e Kenny Karnen em versão de Rossini Pinto, 1965), sucesso de Wanderléa na era da Jovem Guarda regravado por Leonardo com citação de Nossa canção (Luiz Ayrão, 1966), hit do Rei da juventude Roberto Carlos nas jovens tardes dominicais que paravam o Brasil há 50 anos. Mas nada provoca mais ressaca no Bar do Leo do que Bora tomar uma (Ray e Eduardo), faixa que vai na cola do sertanejo moldado para as fugazes baladas dos dias de hoje. Em contrapartida, as entradas de Prazer por prazer (Carlos Randall e Danimar, 1995) - música que deu título a um álbum lançado pela dupla Christian & Ralf há 21 anos - e Linda, linda (José Fernandez, 1976) no cardápio do Bar do Leo tornam o disco indicado para quem adora curtir canções e dores na mesa de um botequim.

5 comentários:

  1. ♪ Leonardo saiu do cabaré e foi afogar as mágoas de amor na mesa de um bar. Sucessor do CD e DVD Cabaré (Sony Music, 2014), projeto fonográfico gravado pelo cantor goiano com o colega mineiro Eduardo Costa, Bar do Leo - disco produzido por Romário Rodrigues e Leandro Porto - é praticamente um álbum conceitual sobre amor e álcool. A maioria das 13 músicas do repertório - hábil na mistura de composições inéditas com regravações de sucessos do universo sertanejo como Embriagado de amor (Elias Muniz, 2000) - versa sobre a sofrência curtida entre altas doses de bebida. Só que Leonardo bebe todas sem deixar de destilar certa dose de ironia. "Quando me falaram de você / Sabe o que foi que eu disse? / O gelo que ela me deu / Tô tomando com whisky", dispara Leonardo no embriagante refrão de O gelo (Everton Matos, Diego Ferreira e André Vox, 2014), música lançada na voz do cantor-xará Léo Magalhães. Naturalmente choroso, o canto de Leonardo soa menos lacrimejante neste disco em que os arranjos - criados em maioria por Romário Rodrigues com acordeons e metais - ignoram a moda pop do sertanejo universitário e soam enraizados nas tradições caipiras dos interiores do Brasil em sintonia com o espírito popular de músicas como as inéditas Pergunte ao dono do bar (Carlinhos Maia, Manoel Mello e Marquinhos Paz) e Do bar pra igreja (Maracaí, João Gustavo e Éder Brandão), tema levemente embebido no universo da música country norte-americana. Faixa previamente enviada às rádios sertanejas em novembro de 2015, Dona do meu destino (Zé Henrique, 2005) - música lançada nas vozes da dupla goiana Zé Henrique & Gabriel - mostrou que, a rigor, Bar do Leo - o 19º álbum da discografia solo de Leonardo - bebe muito da fonte de Cabaré. É fato que é dose ouvir Leonardo reviver Só um grande amor (Clive Davis e Graham Russell, 1980, em versão em português de Roberto Merli, 2009) - que vem a ser a versão brasileira de All out of love, balada da dupla Air Suply já revivida na mesma versão caipira pela dupla Rene e Ronaldo - no habitual tom lacrimejante. Tom acentuado na também destoante lembrança de Ternura (Somehow it got to be tomorrow today) (Estelle Levitt e Kenny Karnen em versão de Rossini Pinto, 1965), sucesso de Wanderléa na era da Jovem Guarda regravado por Leonardo com citação de Nossa canção (Luiz Ayrão, 1966), hit do Rei da juventude Roberto Carlos nas jovens tardes dominicais que paravam o Brasil há 50 anos. Mas nada provoca mais ressaca no Bar do Leo do que Bora tomar uma (Ray e Eduardo), faixa que vai na cola do sertanejo moldado para as fugazes baladas dos dias de hoje. Em contrapartida, as entradas de Prazer por prazer (Carlos Randall e Danimar, 1995) - música que deu título a um álbum lançado pela dupla Christian & Ralf há 21 anos - e Linda, linda (José Fernandez, 1976) no cardápio do Bar do Leo tornam o disco indicado para quem adora curtir canções e dores na mesa de um botequim.

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  2. Nem perco o meu tempo ouvindo isso...

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  3. Esse daí já teve alguma dignidade, mas desceu o nível absurdamente. Cabaré, bar... "Ótimas" apologias...

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  4. O álcool é uma droga pavorosa,a música sertaneja...também.

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