Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Feito com Barenbein, 'Indivíduo lugar' cava espaço para canto de Joana Flor

Resenha de álbum
Título: Indivíduo lugar
Artista: Joana Flor
Gravadora: Genesis / Tratore
Cotação: * * * 1/2

Cantora e compositora carioca que se radicou em 2004 na cidade de São Paulo (SP), onde formou o já dissolvido trio Joana Flor e seus Dois Maridos, Joana Flor promove o primeiro álbum solo neste primeiro semestre de 2016. Indivíduo lugar chegou a rigor ao mercado fonográfico em 2015 - nas plataformas digitais e em edição física em CD distribuída via Tratore - após os EPs independentes Viva (2012) e Em progresso (2014). Ainda com frescor, o CD - que tem status de álbum, embora tangencie o formato de EP por ter somente oito faixas - chama atenção de cara por destacar na ficha técnica, como coprodutor, o nome de Manoel Barenbein. Sim, Joana Flor formatou Indivíduo lugar com  o produtor do mítico álbum Tropicália ou Panis et Circensis (Philips, 1968), o disco-manifesto do movimento arquitetado por Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1967. Curiosamente, é com samba de compositor contemporâneo de Caetano e Gil, mas nada associado à Tropicália, que Flor desabrocha na abertura de Indivíduo lugar, disco que alinha quatro releituras na primeira metade e quatro músicas autorais no que pode ser entendido como espécie de lado B do álbum. Só que o samba lírico de Chico Buarque, A rita (1966), ganha a atitude incisiva do rock. As guitarras tocadas pela própria Joana Flor se afinam com o canto mais raivoso do que lamentoso da intérprete na letra que se queixa da partida da Rita. É com as armas desse rock e com o toque áspero da guitarra que Flor também dispara abordagem de Feito gente, música de Walter Franco que abriu o segundo álbum do inquieto artista, Revolver (Continental, 1975). Ainda como intérprete, Joana Flor aborda Samba erudito (Paulo Vanzolini, 1967) na cadência bonita do gênero, atravessada intencionalmente pelo toque amaxixado do piano de Matheus Alvisi. Com maior ousadia estilística e menor poder de sedução, Flor envolve o samba-rock Zamba ben (Marku Ribas, 1973) - grafado equivocadamente como Zamba Bem na contracapa e no encarte do disco - em clima de bossa nova. Do lote de canções autorais, menos cativantes do que as músicas alheias, a já gravada Sine qua non (Joana Flor, 2012) ganha levada de samba-rock. Mas é Cores (Joana Flor, 2015) - um xote ambientado em atmosfera de fado pelo toque da guitarra portuguesa de Vinicius Almeida - o título mais reluzente do lote autoral completado com Nuvens (Joana Flor, 2015) e com Película (Joana Flor, 2015), música cantada em espanhol. No todo, Indivíduo lugar cava bom espaço para a voz de Joana Flor - mais como intérprete estilosa e criativa de músicas alheias do que como compositora.

2 comentários:

Luca disse...

se tem produção do Barembeim tenho que ouvir

Anônimo disse...

Caro Mauro, agradecemos seus comentários precisos e bem estruturados. Porém (ah, porém!) gostaria de informá-lo que a obra do saudoso Marku Ribas, em seu contrato de edição de 1976, está grafada como "Zamba Bem". este o motivo de constar assim na contra-capa do citado CD.