Título: Tunguele
Artista: Grazie Wirtti
Gravadora: Borandá
Cotação: * * * 1/2
♪ Apesar da proximidade geográfica do Brasil com países como Argentina, Chile, Peru e Uruguai, o intercâmbio musical entre estes países sempre foi rarefeito, ocasional, em que pesem conexões com artistas como a cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009). Milton Nascimento foi um dos poucos a promover a unidade musical sul-latino-americana na discografia que gravou a partir da segunda metade da década de 1970. Por isso, faz sentido a presença de Milton no primeiro álbum da cantora gaúcha Grazie Wirtti, Tunguele, disco que investe na interação musical entre países da América Latina. A voz do cantor ressoa celestial nos vocais que valorizam Memórias de Valparaíso, música feita pelo compositor e baixista Guto Wirtti - irmão de Grazie - em tributo ao poeta chileno Pablo Neruda (1904 - 1973). Nascida e criada na cidade gaúcha de Santa Maria (RS), no extremo sul do Brasil, Grazie - há nove anos radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) - expõe em Tunguele a vivência portenha (já que morou por três anos na Argentina, país representado no repertório por Fuimos, parceria de José Dames com Homero Manzi) e, sobretudo, a influência musical latino-americana que absorveu na infância vivida com o pai, o músico tradicionalista Antonio Gringo. Essa influência caseira justifica o registro em Tunguele de Arriba quemando el sol (1965), libelo antiguerra, um dos títulos mais conhecidos do politizado cancioneiro da compositora chilena Violeta Parra (1917 - 1967). A percussão calorosa de Fabrício Reis ajuda Grazie a conservar a chama do tema. Tunguele é disco impregnado da lírica e melancólica alma musical sul-americana. Com voz grave e encorpada, Grazie parece espalhar o tempo e o vento gaúcho enquanto desbrava a melodia a letra de Campo aberto (Guto Wirtti). A bela voz da cantora também cai bem em Madreselvas, canção peruana de autoria desconhecida. Madreselvas é a composição mais bonita dentre as 11 gravadas por Grazie em Tunguele, cuja música-título - da lavra do compositor uruguaio Eduardo Mateo (1940 - 1990) - ergue a ponte que religa a África à América do Sul. Mateo também é o compositor de outra música do disco, Esa tristeza (2008), título póstumo do cancioneiro do artista uruguaio. Além de canção do uruguaio Jorge Drexler (Don de fluir, de 2004), Grazie revive tema da folclorista peruana María Isabel Granda Larco (1920 - 1983), conhecida como Chabuca Granda e representada em Tunguele por Cardo o ceniza, música composta em 1966 em tributo a Violeta Parra. Gravado em estúdio de Araras (RJ), sob direção musical de Guto Wirtti, Tunguele é disco que mescla cantos em português e espanhol com sotaque que soará difícil para ouvidos brasileiros distantes do universo musical de países como o Peru. Nem todo o repertório cativa. Mas Tunguele é um disco que merece atenção porque há alma nas composições e na voz quente de Grazzie Wirti.
3 comentários:
♪ Apesar da proximidade geográfica do Brasil com países como Argentina, Chile, Peru e Uruguai, o intercâmbio musical entre estes países sempre foi rarefeito, ocasional, em que pesem conexões com artistas como a cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009). Milton Nascimento foi um dos poucos a promover a unidade musical sul-latino-americana na discografia que gravou a partir da segunda metade da década de 1970. Por isso, faz sentido a presença de Milton no primeiro álbum da cantora gaúcha Grazie Wirtti, Tunguele, disco que investe na interação musical entre países da América Latina. A voz do cantor ressoa celestial nos vocais que valorizam Memórias de Valparaíso, música feita pelo compositor e baixista Guto Wirtti - irmão de Grazie - em tributo ao poeta chileno Pablo Neruda (1904 - 1973). Nascida e criada na cidade gaúcha de Santa Maria (RS), no extremo sul do Brasil, Grazie - há nove anos radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) - expõe em Tunguele a vivência portenha (já que morou por três anos na Argentina, país representado no repertório por Fuimos, parceria de José Dames com Homero Manzi) e, sobretudo, a influência musical latino-americana que absorveu na infância vivida com o pai, o músico tradicionalista Antonio Gringo. Essa influência caseira justifica o registro em Tunguele de Arriba quemando el sol (1965), libelo antiguerra, um dos títulos mais conhecidos do politizado cancioneiro da compositora chilena Violeta Parra (1917 - 1967). A percussão calorosa de Fabrício Reis ajuda Grazie a conservar a chama do tema. Tunguele é disco impregnado da lírica e melancólica alma musical sul-americana. Com voz grave e encorpada, Grazie parece espalhar o tempo e o vento gaúcho enquanto desbrava a melodia a letra de Campo aberto (Guto Wirtti). A bela voz da cantora também cai bem em Madreselvas, canção peruana de autoria desconhecida. Madreselvas é a composição mais bonita dentre as 11 gravadas por Grazie em Tunguele, cuja música-título - da lavra do compositor uruguaio Eduardo Mateo (1940 - 1990) - ergue a ponte que religa a África à América do Sul. Mateo também é o compositor de outra música do disco, Esa tristeza (2008), título póstumo do cancioneiro do artista uruguaio. Além de canção do uruguaio Jorge Drexler (Don de fluir, de 2004), Grazie revive tema da folclorista peruana María Isabel Granda Larco (1920 - 1983), conhecida como Chabuca Granda e representada em Tunguele por Cardo o ceniza, música composta em 1966 em tributo a Violeta Parra. Gravado em estúdio de Araras (RJ), sob direção musical de Guto Wirtti, Tunguele é disco que mescla cantos em português e espanhol com sotaque que soará difícil para ouvidos brasileiros distantes do universo musical de países como o Peru. Nem todo o repertório cativa. Mas Tunguele é um disco que merece atenção porque há alma nas composições e na voz quente de Grazzie Wirti.
alguém vai ouvir isso?
Claro que vou ouvir e pela mostra posso afirmar que vou gostar muito. Lindas canções e belíssima voz. Aguardando ansiosa pelo lançamento do CD, ao qual, certamente, comparecerei.
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